Bruno Lima Rocha
Bruno Lima Rocha Beaklini é jornalista formado pela UFRJ, doutor e mestre em ciência política pela UFRGS, professor de relações internacionais. Editor do portal Estratégia & Análise (no ar desde setembro 2005), comentarista de portais nacionais e internacionais, produtor de canal estrangeiro e editor do Radiojornal dos Trabalhadores.
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O sionismo bolsonarista e a defesa do Apartheid Israelense, por Bruno Beaklini

No caso brasileiro, parece que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), também conhecido como Bananinha segundo o próprio vice-presidente da república, se coloca como porta-voz oficioso dos criminosos de lesa humanidade.

Jair Bolsonaro e Benjamin Netanyahu. | Foto: Palácio do Planalto

do Monitor do Oriente Médio

O sionismo bolsonarista e a defesa do Apartheid Israelense

por Bruno Beaklini

Desde a sexta-feira dia sete de maio, com o avanço da repressão colonial na Al Quds ocupada e o esforço do invasor em promover a limpeza étnica no bairro de Sheikh Jarrah, a heroica resistência palestina vem contando com um forte apoio comunicacional. Como era esperado, no intuito de justificar o indefensável, ao invés de se afirmarem simplesmente como são – uma entidade colonialista e racista – redes de apoio do Apartheid Israelense se portam de forma mais agressiva. É como se fosse possível haver alguma virtude naquilo que é pura covardia e crueldade.

Nos países ocidentalizados, Brasil incluído, a pressão nas redes sociais vem aumentando. Contas de comunicadores foram bloqueadas por alguns dias ou em definitivo. Na batalha da internet, vários comunicadores digitais são alvos de perseguição. No caso brasileiro, parece que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), também conhecido como Bananinha segundo o próprio vice-presidente da república, se coloca como porta-voz oficioso dos criminosos de lesa humanidade.

A semana que inicia na segunda dez de maio foi de seguidas derrotas para o governo da extrema direita brasileira aliada e defensora do sionismo. Neste discurso na Câmara o líder da fracassada e caríssima excursão para a Entidade Sionista em busca do tal do “spray nasal” afirma que as pessoas deveriam se “colocar no lugar de quem reside em Israel”. Acusa de “terroristas” a partidos palestinos legítimos como Hamas e Jihad Islâmica e afirma que mais de um milhão de árabes residem naquilo que denominamos de Territórios Ocupados em 1948. Tem o cinismo de afirmar esta sociedade como “democrática” e defende o “direito a defesa por parte de Tel Aviv”. Ao afirmar que “Israel respeita a liberdade religiosa”, não cita os ataques das forças de ocupação na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém e menos ainda ao intento de incendiar Al Aqsa.

Na quarta feira 12 de maio a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN, da Câmara dos Deputados) retirou de pauta a famigerada mensagem 371 que permitira o intercâmbio de “segurança e defesa” com o Estado de Israel. Demonstrando muita irritação, o filho 03 do presidente que como militar quase foi expulso do Exército, atribuiu a vitória tática da comunidade árabe aos partidos de esquerda. Prometeu retomar a pressão em quinze dias após seu discurso. Ou seja, em uma única fala, “Bananinha” reivindica o direito ao extermínio de árabes-palestinos e acusa o golpe porque sofreu fragorosa derrota política.

Na mesma quarta-feira 12 de maio, o ex-secretário de comunicação da Presidência da república, Fábio Wajngarten, prestou depoimento para a CPI da Covid no Senado. O advogado e especialista em marketing digital foi um leal defensor das posturas do presidente contra as medidas sanitárias na pandemia, chegando ao cúmulo de postar lemas do Holocausto como “O Trabalho Liberta” ainda quando exercia cargo no primeiro escalão do governo da extrema direita e aliada do sionismo. Em sua fala inicial, Wajngarten se disse oriundo de uma sólida formação familiar judaica (até aí algo elogiável, pois uma boa parte da militância de esquerda não sionista tem essa mesma formação) e que se aconselha “espiritualmente” com o “bispo” Edir Macedo (autoproclamado bispo, líder da Igreja Universal) e também com o “missionário” RR Soares. Nenhuma surpresa pelo campo de alianças; surpreende mesmo é a franqueza. Wajngarten também fez parte da tenebrosa viagem em busca da “cura nasal” produzida durante o “governo” do gabinete conjunto do corrupto Bibi Netanyahu e do carniceiro de Gaza, o esteticamente plausível Benny Gantz.

Wajngarten e Eduardo Bolsonaro são sionistas muito convictos, na amargura de seus “intelectos”, aplicam a leitura “sincera” da direita republicana dos Estados Unidos, onde o duplo pacto neoconservador (neocon) e teleevangelista (telecon) opera como a ponta de lança da Doutrina Wolfovitz). Israel é o bastião do imperialismo, e isso não é chavão. A acima citada doutrina do Império ainda quer um século de guerra no Oriente Médio. A administração Joe Biden não cortou um centavo da “ajuda militar” média de 10 milhões de dólares diários para “salvar Israel”. Quem vai salvar a entidade colonial de si mesma? E quem salvará o Brasil do neopentecostalismo sionista?

Certamente Jair Bolsonaro, o presidente que foi parlamentar por 28 anos e nunca emplacou um mísero projeto legislativo que preste, é parte da desgraça e não da redenção. Em sua conta no Twitter , o pai do vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos, conhecido como 04 ou Carluxo) afirma que: “- É absolutamente injustificável o lançamento indiscriminado de foguetes contra o território israelense. – A ofensiva provocada por militantes que controlam a Faixa de Gaza e a reação israelense já deixaram mortos e feridos de ambos os lados”.

Ao contrário de vários líderes mundiais, Bolsonaro joga gasolina batizada no Sistema Internacional e não quer distensão alguma. É como o cínico reconhecimento da administração Biden afirmando o “direito a defesa por parte de Israel”, mas silenciando quanto às causas da heroica resistência através da artilharia de Gaza. Os brimos e brimas da faixa litorânea cercada foram solidários com o povo palestino reprimido em Jerusalém. É o sagrado direito de defender seus conterrâneos, unificando o país dividido e ocupado com um gesto de luta. É de duvidar que os mais de seis mil militares profissionais brasileiros em desvio de função ocupando cargos na administração federal sob “governo” do Jair (aquele que se disse Messias, mas não coveiro) tivessem dez por cento tanto da coragem como da capacidade operacional de centenas de fedayins e fedayinas. Também é tarefa ingrata esperar um gesto de grandeza de Bolsonaro.

A irresponsável e desumana propaganda sionista foi faturada no sábado, 15 de maio, dia da Catástrofe do Povo Palestino, da tragédia que se abateu sobre o Mundo Árabe. As organizações palestinas convocadas pela briosa Juventude Sanaud receberam o apoio de parcelas significativas de nossa colônia e de partidos de esquerda para fazer atos públicos importantes em cidades do Brasil. Na mesma data e hora, o protofascismo sionista foi às ruas para xingar a CPI da Covid, ofender parlamentares e defender Israel!

Bandeiras do Apartheid Israelense foram vistas nas convocatórias da extrema direita, como vêm sendo observadas desde a campanha de 2018 e em especial nos atos antidemocráticos do primeiro semestre da pandemia em 2020. “Aqui se faz e aqui se paga”. A família Bolsonaro e seus asseclas se colocam a serviço da limpeza étnica na Palestina Ocupada e recebe apoio do sionismo.

Falando em “se colocar a serviço”, o tal do spray nasal resulta em outro fracasso. O Itamaraty admitiu que a viagem já aqui citada da comitiva da extrema direita para Israel, “em meio à pandemia, não resultou na assinatura de um acordo por escrito de cooperação com o hospital Ichilov para o desenvolvimento ou importação de um tratamento contra a covid-19 conhecido como spray nasal. Tampouco houve a assinatura de um convênio final com outra entidade israelense, o Instituto Weizmann” .

O quadro é esse. Jerusalém está sob a limpeza étnica e Gaza sofrendo guerra de extermínio. No Brasil o governo federal é capturado pela extrema direita sionista, defendem de forma incondicional as chacinas aqui (como a do Jacarezinho) como na Cisjordânia e silenciam sobre os pogroms contra árabes em cidades dos Territórios Ocupados em 1948.

Ajudar a transformar esta realidade apoiando a heroica resistência palestina é a maior tarefa para os 18 milhões de árabes descendentes no Brasil.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Bruno Lima Rocha

Bruno Lima Rocha Beaklini é jornalista formado pela UFRJ, doutor e mestre em ciência política pela UFRGS, professor de relações internacionais. Editor do portal Estratégia & Análise (no ar desde setembro 2005), comentarista de portais nacionais e internacionais, produtor de canal estrangeiro e editor do Radiojornal dos Trabalhadores.

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