O vermelho do Brasil e o Centro de Estudos Marechal Horta Barbosa, por Álvaro Miranda

Se o cerne é vermelho, podemos assumir essa potência do nó na madeira, ser fogo que fica, ninguém mais apaga, como diz o samba cantado por João Nogueira

O vermelho do Brasil e o Centro de Estudos Marechal Horta Barbosa

por Álvaro Miranda

Muita gente não sabe, mas o Brasil nasceu “vermelho” como terra promissora de todos os futuros não previstos. Metáforas à parte, trata-se do pau brasil, a árvore que despertou interesse aos invasores portugueses do século XVI por suas propriedades e o cerne de sua madeira.

Minha paixão pela bandeira, hino e cores nacionais, que aos poucos vamos recuperando das mãos dos fascistas, não me impede de ser crítico em relação ao ufanismo vazio do céu azul sempre estrelado, como se não houvesse nuvens de obscurantismo, incêndio e destruição de nossas verdes matas e rapinagem do amarelo de nossas riquezas.

Para não dizer do lema positivista, que, se fosse sincero, serviria para bradar contra a anarquia capitalista de devastação nacional. E se o vermelho não está na nossa bandeira, também não consta o negro do petróleo, cujo pré-sal acabou sendo um dos “nós” do golpe de 2016 e essa nuvem obscurantista que tomou conta do país de lá para cá.

Como escreveu Hegel em relação ao conhecimento, a progressão da ciência se faz sempre com retorno ao fundamento. E este não é fixo nem saudosista, mas sim, no caso, a necessária reflexão em constante movimento com base na etimologia da palavra Brasil. Nossa bandeira embute esse sangue vermelho circulando com energia imanente ao fundamento e ao seu futuro: brasilaçu, brasilete, ibirapiranga, ibirapitá, arubatã.

Para quem lê esse texto como provocação, isso mesmo, pode crer que é mesmo – mas não para sugerir e assumir um suposto vermelho soviético ou chinês, mas sim um vermelho brasileiro – e com Marx verde e amarelo. Sim, Marx, porque impossível pensarmos o Brasil fora de uma totalidade de fenômenos da expansão e transformação capitalista.

Somente percebendo a totalidade conflituosa da geopolítica podemos construir a soberania nacional e empreender o desenvolvimento econômico. Trata-se de injetar materialismo histórico na veia contra o obscurantismo. E lembrando Lukács, compreender o Brasil como complexo contraditório dentro de um complexo maior de invasões, crises, colonização, imperialismo, divisão internacional do trabalho e despedaçamento social.

Arejamos a memória em relação ao pau brasil e a potência de sua metáfora em reunião recente com pesquisadores que estão criando o Centro de Estudos do Nacionalismo Marechal Horta Barbosa. O nome é em homenagem a esse herói militar que liderou a campanha “O petróleo é Nosso” e que culminou na criação da Petrobras em 1953 por Getúlio Vargas.

O novo centro de estudos será vinculado ao Núcleo de Estudos Avançados (NEA) do Instituto de Estudos Estratégicos (INEST), da Universidade Federal Fluminense (UFF). A ideia é formar uma comunidade de pesquisa voltada para o aprofundamento da análise, do conhecimento histórico e da divulgação das teorias explicativas do nacionalismo. Nélson Werneck Sodré, Alberto Methol Ferré e José Comblin são três referências iniciais para o início dessa jornada.

Aliás, dispensam comentários essas referências se comparadas aos militares que toparam se alinhar ao projeto ultraliberal do atual desgoverno. Nélson Werneck Sodré e Alberto Methol desenvolveram suas teorias e pesquisas sobre o que se poderia denominar, respectivamente, de “nacionalismo brasileiro” e “nacionalismo íbero-americano”, conforme lembra o coordenador no novo centro de estudos, Helid Raphael.

 José Comblin propõe em sua obra reflexões sobre o nacionalismo em termos mais amplos e genéricos, confrontando suas ideias sobre o nacionalismo nos países latino-americanos com os nacionalismos dos países centrais. Isso, porém, sem deixar de conferir especial atenção ao caso brasileiro. 

A criação do novo centro de estudos é uma iniciativa do Professor Emérito da UFF Eurico de Lima Figueiredo, coordenador do Núcleo de Estudos Avançados (NEA) do Instituto de Estudos Estratégicos (INEST), da Universidade Federal Fluminense. Constatou-se a necessidade de se realizar estudos relativos ao nacionalismo no âmbito do INEST, assim como no de instituições universitárias no Brasil e no exterior, principalmente, entre os países vizinhos do Prata.

O CENMHB reúne pesquisadores originários de diversas instituições brasileiras e argentinas, como a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade de São Paulo (USP) Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), a Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ), a Universidade de Buenos Aires (UBA), a Universidade Nacional de Lanus (UNL) e a Universidade Nacional de Rosario (UNR).

Se o cerne é vermelho, podemos assumir essa potência do nó na madeira, ser fogo que fica, ninguém mais apaga, como diz o samba cantado por João Nogueira. Aqui também como metáfora, porém, do fulgor das ideias e não como passagem da “boiada” que destrói. Afinal, bem sabemos quantos nós o Brasil precisa desatar para alcançarmos nossa verdadeira soberania nacional. Está nas nossas mãos e, no embalo da prosódia, podemos reafirmar, como diria Emicida: “é nóis!”

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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