A OEA do B

Clique aqui para ler parte da cobertura da mídia sobre o encontro de Costa do Sauipe, que reuniu lideranças do continente.

De Nelson de Sá, em Toda Mídia, na Folha

A revista “Economist” fecha o ano com balanço da política externa brasileira a partir da cúpula na Bahia. Avalia que “o Brasil pode ser a potência em ascensão nas Américas, mas está descobrindo que a ambição diplomática pode causar ressentimento”. Da cúpula em que “pela primeira vez todos os países da América Latina e do Caribe se encontraram sem a presença dos Estados Unidos ou de europeus”, evidenciou-se “a mensagem: agora é o Brasil, com economia em crescimento e um presidente popular em Lula, e não os EUA a potência líder na região”.

Mas o ressentimento ressurgiu na “substância” do encontro, sem acordo sobre tarifas no Mercosul ou sobre o secretário-geral da Unasul. Por fim, avisou a revista, a estrela da Cúpula das Américas em abril será Barack Obama, também ele “um líder popular”. Quer dizer, “o Brasil se tornou de fato muito mais influente na região. Mas não é o único jogo na área”.

Comentário

Esse é o fato novo na diplomacia do continente. Historicamente, o Brasil sempre foi um braço diplomático dos Estados Unidos. Aproximou-se da Alemanha e da Itália no pré-Segunda Guerra. Depois, retomou as ligações com os Estados Unidos. As Forças Armadas trocaram a influência francesa pela americana. E a Guerra Fria foi pragmaticamente utilizada pelo país para conseguir apoio americano.

Claramente o Brasil se ofereceu para ser o país-chave do cone sul. O Acordo Militar com os americanos só não prosperou devido ao receio de provocar um desequilíbrio nas relações com o vizinho-adversário Argentina.

No governo JK houve a tentativa da Operação Panamericana, uma idéia do poeta Augusto Frederico Schmidt, de criar uma América Latina com liderança brasileira. Foi uma ofensiva meio destrambelhada, sem preparação prévia, que serviu mais ao marketing interno de JK. Mas casava perfeitamente com a auto-estima nacional do período e com a constatação de que, mais cedo ou mais tarde, caberia ao Brasil um papel muito mais relevante de liderança continental;.

Eixos de IntegraçãoA partir dos anos 90, com o Mercosul mas, especialmente, com o pouco analisado IIRSA (clique aqui) e o amadurecimentos do conceito de eixos de integração continental, observou-se outra dinâmica no continente.

Esse modelo de integração se acelerou com o fracasso do governo Menen-Cavallo, que afastou definitivamente a Argentina da órbita dos Estados Unidos.

A ascensão do Brasil como grande liderança não representa nenhum questionamento direto aos Estados Unidos, mas é decorrência do próprio desenvolvimento regional e do país.

Agora, com a chamada OEA do B, como fica? É uma montagem complexa, mas fundada em razões econômicas sólidas. Cada vez mais haverá a integração do continente, com obras de infra-estrutura, parcerias entre empresas, sinergia, integração entre as Forças Armadas.

Mas ainda se tem um continente com enormes desníveis e com uma retórica política pouco pragmática. O Itamarati tem uma visão clara sobre o papel do país na região, mas o que garante a liderança é o carisma de Lula, a maneira como conseguiu manter Hugo Chavez, Evo Morales sob controle, como se fosse um irmão mais velho, fruto da experiência que adquiriu administrando as diversas facções do PT.

A grande indagação: a idéia bolivariana sobreviverá sem a liderança moderadora de Lula?

É um bom tema para discussão.

Dá para entender a razão da minha irritação quando ouço cientistas políticas reduzindo uma situação complexa dessas à questão da auditoria da dívida externa pelo Equador?

Leia o noticiário dos jornais. Confira se o tema mereceu qualquer destaque maior na reunião.

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. “A grande indagação: a idéia
    “A grande indagação: a idéia bolivariana sobreviverá sem a liderança moderadora de Lula?”

    Acredito quer o Lula depois de 2010 (ou 2011 segundo o Boris Casoy) continuará sendo uma liderança, seja nacional, latino-americana ou mesmo internacional. Tenho para mim que entre 2010 e 2014 (2011 e 2016) deverá ocupar um posto de liderança e mediação em algum organismo internacional, provavelmente latino-americano, enquanto descansa para mais uma campanha eleitoral. Mas é só um palpite.

    Parabéns pelo novo site, um pouco colorido demais para o meu gosto, mas acho que estava muito acostumado com o layout antigo mais austero.

    Abraços,

  2. …governo Menen-Cavallo, que
    …governo Menen-Cavallo, que afastou definitivamente a Argentina da órbita dos Estados Unidos

    Não foi o Menen quem disse que as relações entre a Argentina e os EUA eram carnais?

  3. Nassif,
    parabéns pelo novo
    Nassif,
    parabéns pelo novo desenho do site., já fazia um tempo que eu nao acessava. Entretanto, li uma manchete no UOL dizendo que o Chavez quer reescrever a história de Simon Bolívar, que segundo elem foi morto por uma conspiração de países europeus e dos EUA (presidente Andrew Jackson). A notícia original está no El País……..

    Meus parabens ao Hugo Chavez, vai inaugurar a Holywood venezuelana (pretóleo até que nao falta né) e o filme de estréia será uma fusão entre
    “A lenda do tesouro perdido” e o “Código Da Vinci” (ahahahahahah)

    Para fechar: este é o perfil que nós queremos para uma OEA?

    Um forte abraço,

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