O choque político de Temer no Itamaraty de Bolsonaro, por Hussein Kalout

Jornal GGN – “A amorfa política externa do país” do segundo ano de governo Bolsonaro conseguiu ser “muito pior do que a diplomacia” do ano passado, analisou o cientista político Hussein Kalout, em artigo para o Estadão, nesta segunda (14).

Professor de Relações Internacionais e Pesquisador da Universidade Harvard, Kalout foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República entre 2016 e 2018, durante o governo de Dilma Rousseff.

Neste cenário em que vivemos, não é de assustar que a tomada do ex-vice e empossado à Presidência pós impeachment, Michel Temer, ao cargo geraria comemoração pela simples saída de Ernesto Araújo do Itamaraty.

Nas palavras do professor, seria “um baile de arromba” entre diplomatas, militares, empresários e quase todo o Brasil.

Entretanto, a aventada troca para Temer não seria um cargo oferecido buscando, por parte do governo Bolsonaro, uma aliança com o democrata eleito nos EUA, Joe Biden. E sim uma aproximação, por parte do mandatário, do MDB, um dos principais e maiores partidos do Congresso e de governos locais, como aliado do governo.

E se for essa a intenção, “a equação não fecha”, apontou Kalout. “A despeito do ex-presidente Temer ser figura de proa do MDB e a sua palavra possui latitude e peso, é difícil crer que o MDB integraria o governo de Bolsonaro com apenas um único ministério e com a pasta das relações exteriores como aceno. Os mais inocentes no jogo da política diriam que seria subestimar os objetivos do partido e a inteligência de suas lideranças.”

Para isso, seria preciso “mudanças estruturais no discurso e no conteúdo” da atual política externa do governo Bolsonaro. “Estaria Bolsonaro disposto a abrir mão da diplomacia paramentada pelo desvario do terraplanismo, empenhada no combate quixotesco contra o chamado marxismo cultural e comprometida com a cruzada imaginária contra o globalismo?”, questionou.

“Isso implicaria afastar o olavismo do epicentro decisório dos temas afeitos à política exterior. O que significa, em miúdos, o desmantelamento do tripé condutor da moribunda diplomacia bolsonarista”, respondeu.

Mencionando ainda a “sua perniciosa política de destruição ambiental” e “os injustificáveis ataques” com a China, para o cientista político, logo, são inúmeros os empecilhos para a opção Temer no Itamaraty.

“A julgar pelas características do presidente e do ex-presidente e pelas diferenças abissais de suas respectivas mentalidades e visões de mundo, essa harmonização será muito difícil de ser alcançada – e isso sem contar a exposição ao risco de sair escorraçado no final como ocorreu com vários ministros desse governo”, conclui.

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Redação

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