Os EUA e a América Latina

Chamo a atenção, ainda, para a matéria “A luta pela influência na América Latina”, de Stephen Fidler, Financial Times, publicada pelo Valor.

A influência política de Washington na América Latina está declinando. Uma tendência que começou antes dos atentados terroristas de 2001 contra os EUA se acelerou desde então, à medida que o governo de George W. Bush procurava, com pouco sucesso, ampliar a influência do país em outros lugares. A pergunta, oito dias antes de Barack Obama se mudar para a Casa Branca, é se ele fará algo para reverter o quadro.

(…) Os EUA ainda são o mais poderoso vizinho nas redondezas: seu comércio exterior com a América Latina supera os US$ 500 bilhões anuais, mais de cinco vezes o da China. Mas a expansão da influência chinesa e russa, e de potências menores como o Irã, está desafiando o domínio dos EUA na região.

Como deverá reagir o governo Obama a esses recém-chegados? Em primeiro lugar, dizem especialistas em política externa, ele deve reconhecer que os motivos para a Rússia e a China ingressarem na América Latina contrastam.

No caso da Rússia, seu crescente envolvimento – que possui um forte componente militar e é em grande parte direcionado aos adversários dos EUA na região, como a Venezuela de Hugo Chávez – visa a desestabilizar Washington. A intervenção mais discreta da China, cuja orientação é em grande parte econômica, pretende obter o efeito oposto.

(…) Ainda assim, os EUA continuam sendo o país em que a China deposita seu maior interesse estratégico. Para Cynthia Watson, professora de estratégia na Escola Nacional de Guerra dos EUA, “Pequim não cruzará uma linha que ameace [os laços com os EUA] por temer que isso ponha em risco o crescimento econômico exigido para sustentar o monopólio político do Partido Comunista Chinês”.

Luis Nassif

9 Comentários

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  1. “…ampliar a influência do
    “…ampliar a influência do país em outros lugares” Espero que os USA continuem com essa tentativa de aumentar sua influencia ‘em outros lugares.’ Só assim a America Latina e o Brasil em particular terá condições de “respirar” e crescer. Foi o que aconteceu durante a 2ª Guerra, continuando com a guerra da Coreia e depois com a guerra do Vietnam. Depois disso o Brasil só voltou a crescer nos ultimos anos quando os USA nos “esqueceram” e foram para o Iraque e outros paises. Que mantenham distancia.
    Só que vai ser mais dificil pois seus paus-mandados, o pessoal do Plano Real, está começando/ameaçando voltar a atuar no país na esperança, talvez, de que o proximo presidente seja o Serra.

  2. Mestre Nassif,

    Na minha
    Mestre Nassif,

    Na minha opinião, um dos principais fatores que sustentam a hegemonia dos EUA junto aos países latino-americanos é a falta de segurança (e até mesmo, de credibilidade) demonstrada por seus concorrentes, notadamente a Rússia, um país onde praticamente todas as esferas de governo e também boa parte do empresariado reiteram o caráter instável e pouco confiável de seu relacionamento.

    Alguém precisaria traduzir o termo “fio-de-bigode” prá esssa gente…

  3. O pensador francês Guy Debord
    O pensador francês Guy Debord escreveu que “a crítica que atinge a verdade do espetáculo descobre-o como a negação visível da vida; como uma negação da vida que se tornou visível.” (1)

    A questão é: será que o próximo governo dos EUA será mais um evento da “Sociedade do Espetáculo”?

    A alternativa “sem brilho, nem miçangas” é enunciada, entre outros, por Marcio Pochmann (2):

    “Mesmo que a convergência entre segmentos tão heterogêneos [capital produtivo e estratos sociais organizados, como trabalhadores e seus sindicatos, associações de bairros e entidades típicas de classe média] seja de difícil viabilidade política, isso não significa, necessariamente, sua impossibilidade prática num ambiente tão hostil à organização regulada do capital produtivo e à estruturação de políticas universais de proteção social. Uma nova maioria política com esses propósitos parece estar em construção, já presente em algumas escalas localizadas, especialmente quando se trata de observar evidências factíveis e viáveis de políticas públicas compromissadas com a emancipação social, política e econômica. A ênfase na construção de uma nova agenda civilizatória deve ser perseguida, pois é ela que pode permitir a reconstrução da sociabilidade perdida, bem como liberar o homem do trabalho heterônomo no contexto das exigências da sociedade pós-industrial.”

    Infelizmente, ela é pouco provável. Conforme afirma Luiz Carlos Azenha (3), “as coisas caminham mais para um ‘cada um por si’. Até porque isso rende venda de armas e o complexo industrial militar sobre o qual nos alertou o presidente Dwight Einsenhower, em seu famoso discurso, está mais forte do que nunca.”

    Notas:

    (1) http://br.geocities.com/mcrost12/a_sociedade_do_espetaculo_1.htm

    (2) http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15478

    (3) http://www.viomundo.com.br/opiniao/dwight-eisenhower-tinha-razao-e-a-onu-acabou/

  4. Prezado Luís Nassif
    Tout
    Prezado Luís Nassif
    Tout s’explique
    Lançaram recentemente um Addendum do Zeitgeist que fala, especificamente, sobre a política corruptível de “assassinato econômico” adotada pelos Estados Unidos para com os países dominados e colonizados pelo império. Compõe-se dos relatos de John Perkins, um nacional dos Estados Unidos que trabalhou para as grandes empreiteiras daquele país, corrompendo governantes do terceiro mundo para que as firmas fizessem negócios da China. Ele conta como os serviços diplomáticos e de inteligência do grande país sem nome fazem para derrubar ou assassinar os governantes que não rezassem pela sua cartilha. John Perkins escreveu um livro: “Confessions of an Economic Hit Man”. O livro existe traduzido para o Português com o nome Confissões de um Assassino Econômico, embora uma tradução mais correta fosse Confissões de um Jagunço Econômico.

    No sítio abaixo, os dois filmes podem ser descarregados para DVD.

    http://www.zeitgeistmovie.com/

    Os filmes podem, também, ser vistos clicando-se nos seguintes atalhos:

    O filme com as 3 partes (122 min): http://video.google.com/videoplay?docid=-594683847743189197

    O Addendum (123 min): http://video.google.com/videoplay?docid=7065205277695921912

    O depoimento do John Perkins, The Hit Man, é polêmico e inacreditavelmente esclarecedor…

  5. Visão colonialista
    Visão colonialista permanece.Não importa o quanto o mundo” evolua”. A América Latina,corre , sim , o risco,de ser influenciada e dominada ideologicamente, pelo Brasil. Ideologia, de países emergentes:a terceira via. Há cinquenta anos, conhecida ,por “não alinhados”. Trata-se de uma revisão,e releitura da política de descolonização, que se iniciou naquelas décadas,e prossegue até os dias de hoje. Com os mesmos sacrifícios.

  6. puxa vida, até o Irã foi
    puxa vida, até o Irã foi considerado como potência, uma potênciazinha é verdade, que tem alguma influência na AL, realmente somos um grande quintal nas mentes das metropoles do 1º mundo!

  7. A matéria trata de um assunto
    A matéria trata de um assunto importante (a perda de influência dos EUA na América Latina), mas mistura assuntos. A presença de Irã e Rússia na América Latina deve-se apenas à Venezuela – que, inclusive, não é sequer grande parceira comercial desses dois países, apesar de toda a questão ideológica levantada. Chavez brinca de ser anti-imperialista, mas seus jogos tem um pouco de nostalgia e inconseqüência, sem representar perigo real.

    Por mais que a Venezuela tenha influência em países menores da região (como Bolívia, Nicarágua e Equador), a verdade é que o Brasil é, cada vez mais, a principal potência da América do Sul, com grande distância para Argentina, que já deixou de ‘lutar’ pela hegemonia e busca coordenar esforços com o Brasil. Considerando-se que o México, a outra grande potência econômica da América Latina, tem sua economia atrelada demais aos EUA para ter qualquer política externa diferente da que vem realizando há décadas, o Brasil é o único país que poderia trazer, de fato, dores de cabeça aos EUA. Politicamente, porém, o Brasil é um dos países mais moderados nas relações internacionais, e sua política externa é pragmática; mesmo quando vai a extremos de independência, não há viés de confronto.

    Economicamente é que a situação adquire outros contornos: os EUA ainda são o maior parceiro comercial do Brasil, mas sua participação relativa vem caindo desde os governos FHC. Atualmente, está um pouco acima da participação relativa da Argentina, por exemplo. A participação relativa da China, por outro lado, tem crescido constantemente, ocupando já o terceiro lugar nas relações comerciais brasileiras.

    Dá para perceber que o pragmatismo dos dois países, Brasil e China, vai fazer com que essas relações aumentem. Ao mesmo tempo, o Brasil vem, sistematicamente, aumentando o intercâmbio comercial no âmbito da América Latina (grande mercado para produtos manufaturados brasileiros). Se o protecionismo e o isolacionismo que têm sido recorrentes em governos democratas (mesmo que com Clinton tenha sido em menor escala) se manifestar no governo Obama, o Brasil vai ter uma janela de oportunidade para crescer mais ainda, com maior diversificação de parceiros comerciais. No ritmo em que se está indo, em poucos anos os EUA deixarão de ser o principal parceiro comercial do Brasil.

  8. O artigo esta exagerando a
    O artigo esta exagerando a influencia da Russia, China. A Russia nao tem bala nem para salvar seu satelite, a Bielorussia da crise. Na realidade, eles nao tem bala nem para salvar a si mesmos.

    Quanto a America Latina, ainda estamos muito longe de sermos levados a serio. Nao conseguimos nem financiar investimento nos paises vizinhos sem tomar tunga. A verdade eh que vamos ficando para tras e nao existe motivo algum para acharmos que vai mudar daqui para frente.

    Pessimista eu? Mais para realista. Se voce acha que estou errado, vai emprestar dinheiro para Argentina, investir no Equador, comprar terra no Paraguai, abrir fabrica na Venezuela!

  9. Nassif,
    Sera que não seria
    Nassif,
    Sera que não seria melhor deixar como esta a politica dos EEUU para com a América Latina? Ou seja, não olhar aqui pro lado de baixo do equador?
    Amazonia a parte e petróleo do pré sal a explorar,….já já estacionam a revivida 4ª frota em Fernando de Noronha e estacionam o 7º da Cavalaria em Assunção!
    Só pra pensar,…rico quando se interessa por pobre é sempre melhor ficar com as barbas de molho!
    Abraços
    Vitor

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