Por antiambientalismo de Bolsonaro, Áustria veta acordo Mercosul-União Europeia

Decisão austríaca gera "fortes preocupações entre diplomatas brasileiros sobre a possibilidade de que Viena abra uma onda de rejeição pelo continente", diz Jamil Chade

Foto: Evaristo Sa/ AFP

Jornal GGN – O governo Bolsonaro conseguiu arruinar uma negociação de 20 anos para o Mercosul obter um acordo de livre comércio com a União Europeia. Nesta quarta-feira (18), o Parlamento da Áustria aprovou em peso uma moção contra a parceria comercial, obrigando o país a vetar o acordo no Conselho Europeu.

Apesar de ser uma negociação que dura duas décadas, quando a parceria comercial foi fechada, em junho deste ano, durante os eventos do G-20, em Osaka, o presidente Jair Bolsonaro anunciou como sendo um feito do seu governo. Mas, para vigorar, o acordo precisava ainda da ratificação de todos os países membros em seus respectivos parlamentos.

Segundo informações da Agência EFE, no parlamento austríaco, apenas o partido liberal Neos foi contra a moção, reivindicando algumas modificações no acordo. O partido conservador ÖVP, por sua vez, surpreendeu a todos apoiando em peso a proposta colocada no Parlamento pelos partidos da ala social-democrata.

O presidente do partido progressista SPÖ, Norbert Hofer considerou o veto como “um grande triunfo para os consumidores, meio ambiente, a proteção dos animais e os direitos humanos”.

A decisão da Áustria deve prejudicar mais a Alemanha, país que, apesar de sofrer ataques de Bolsonaro ao questionar a política ambientalista do presidente brasileiro, seria o maior beneficiado do acordo comercial e, por isso, não se manifestava no sentido de discordar do acordo União Europeia-Mercosul.

Até antes dos incêndios na Amazônia, apesar frequentes declarações anti-ambientalistas de Bolsonaro, a possibilidade de algum veto contra o acordo comercial era considerada baixa. Com a crise das queimadas, provocadas, ao que tudo indica, por agropecuaristas incentivados pela postura do presidente brasileiro, somada aos ataques de Bolsonaro contra lideranças europeias, começou a aumentar a pressão de organizações civis para que os países europeus não ratificassem o acordo.

Ainda em agosto, o presidente da França, Emmanuel Macron se manifestou contra a parceria Mercosul-UE, acusando Bolsonaro de ter mentido durante a cúpula do G-20 ao dizer que seu governo manteria os acordos internacionais pelo meio ambiente, um dos requisitos para selar a parceria Mercosul-UE.

“Tendo em conta a atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República observa que o presidente Bolsonaro mentiu para ele na cúpula [do G-20] de Osaka”, disse em nota do governo francês.

Na coluna desta quinta-feira (19) no UOL, o jornalista Jamil Chade ressalta que essa é a primeira vez na história que um acordo com o Brasil é vetado pelo parlamento de um país europeu.

Ele escreve ainda que a decisão tomada pelo Parlamento Austríaco, gerou “fortes preocupações entre diplomatas brasileiros sobre a possibilidade de que Viena abra uma onda de rejeição pelo continente”.

“Oficialmente, os austríacos vetaram o acordo sob o argumento de que as políticas ambientais de Jair Bolsonaro seriam inaceitáveis. No Parlamento, chamou a atenção o fato de que praticamente todos os partidos – de direita, extrema-direita e socialistas – apoiaram o veto ao tratado. A única exceção veio dos liberais. A moção, assim, pede que o governo de Viena veto, no Conselho Europeu, a aprovação do texto”, explica Chade.

O articulista ressalta, entretanto, que “diplomatas alertam que a crise ambiental pode estar sendo instrumentalizada”.

“Antes mesmo dos incêndios, o governo de Viena era um dos que mais resistia ao acordo com o Mercosul, alegando que não estaria disposto a abrir seu mercado agrícola. Ao lado da França, os austríacos chegaram a escrever uma carta para protestar contra o ritmo acelerado que a Comissão Europeia havia adotado no processo de diálogo”, pontua Chade trazendo uma fala de um diplomata brasileiro de alto escalão na Europa:

“Encontraram agora um motivo de forte apelo popular para justificar seu protecionismo”, comentou o representante da diplomacia brasileira.

O protecionismo desses países, entretanto, não teria encontrado justificativas suficientes não fossem as declarações pouco diplomáticas de Bolsonaro atacando lideranças europeias e a crise de queimadas na Amazônia, provocadas por produtores brasileiros.

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Redação

6 Comentários

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  1. Sem dúvida alguma não é a primeira vez que o Brasil se mete em confusões com o meio ambiente, ataque a índios, minorias, etc. Mas é a primeira vez que temos no governo um lider que hostiliza verbalmente (e por meio de ações) a esses segmentos da sociedade e é um risco real para a sustentabilidade nacional. Infelizmente está certo o parlamento austríaco.

  2. Em função da notória ineficiência da agricultura europeia em relação à nacional e do poder de pressão desse setor, desde que foi anunciado já apostei que esse acordo nunca será implementado. A história de defesa do meio-ambiente serve, como sempre, apenas de pretexto para gente do Primeiro Mundo tentar prejudicar os países menos desenvolvidos. Se achassem isso realmente fundamental estariam reflorestando seus países em enorme escala.

    1. AMÉM. Abandonemos amanhã mesmo, este Acordo que só beneficiou os Países Europeus. Usemos estrondoso Poderio AgroPecuário em Nosso próprio benefício. Precisamos vender COMIDA por que? É o Mundo quem precisa comer. Nós produzimos o Nosso. Água? Onde o Mundo conseguirá Água? Água para produzir COMIDA. Exportamos gratuitamente Nossa Água, quando vendemos de graça COMIDA. Comecemos a botar PREÇO e muito alto em BEM IMPRESCINDÍVEL !!! Alavanquemos NOSSA Indústria. Indústria Automobilística. Por que o Planeta não investe no renovável e limpo ÁLCOOL? E abrir outra vantagem espetacular ao Inigualável BRASIL? E o Brasil, por que não o faz? Por que desde a Ditadura Caudilhista Absolutista Esquerdopata Fascista, está destruindo e sabotando o Desenvolvimento da Nação mais rica do Planeta. E os Brasileiros não enxergam? Por que foram doutrinados durante 9 décadas, para isto !!!! As Elites que ascenderam juntamente ao Caudilho Fascista Assassino não estão se aguentando !!! E a CENSURA corre solta !!!! Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

  3. Provavelmente esse era o efeito pretendido por Bozonaro.
    Assinou e festejou o acordo sem saber o que era (nenhuma novidade).
    Trump mandou recado de que não gostou.
    Bozo passou à sabotagem do acordo.
    Para prevenir desencontros semelhantes, vai por o filho junto à Trump, para saber todos os desejos deste, imediatamente e sem intermediários.

  4. Se olharmos a história desta bizarra figura, podemos perceber que desde sempre (vivendo de dinheiro público) ele aprendeu que fazer confusão com excentricidade é uma esperteza desde seus tempos de cadete, pois:
    1) As pessoas ficam perplexas e o tratam condescendentemente, como um louco inimputável.
    2) Tem alta eficácia propagandística de si mesmo.
    3) Desvia e distrai de seus verdadeiros objetivos e de seu desprezo pelas coisas relevantes à sociedade.
    Não é difícil formar opinião sobre como esse adolinquente que rodeia os limites do banditismo e da sociopatia acaba se tornando um mito(sco) para mentes mais distraídas e desinformadas, atiçadas por um borbardeio tecno-científico de psicologia de massas, a seu favor (bozo-fascismo) ou contra linhas opostas (anti-petismo trabalhado similarmente há décadas).
    Dentre outras, é eminentemente um confusionista.
    O sucesso da idiotia terceirizada por interesses muito maiores.
    E não brasileiros.

  5. Isso, continuem com decisões ideológicas, enfraquecer a economia brasileira realmente é a melhor solução pra Amazônia (ironia). Enquanto a UE naufraga na crise, a gente vende gado pra China que é quem de fato dá as cartas do comércio atual junto com os EUA.

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