Um resumo das relações comerciais entre Brasil e Venezuela

Sugerido por alfeu

Do Vermelho

Luciano Wexell Severo: Relações Brasil-Venezuela seguem aquecidas

A proposta deste pequeno artigo é apresentar uma visão bastante resumida das relações comerciais atuais entre o Brasil e a Venezuela. Aos interessados em aprofundar esta análise, sugerimos outro trabalho de nossa autoria, denominado “Os desdobramentos da entrada da Venezuela no Mercosul”, publicado em 2012.

Por Luciano Wexell Severo, especial para o Portal Vermelho

Já não é novidade afirmar que as economias do Brasil e da Venezuela aprofundaram seus laços de conexão durante os governos de Lula e de Chávez. O comércio binacional foi ampliado em mais de oito vezes, saltando de US$ 880 milhões em 2003 para US$ 6,3 bilhões em 2012. No mesmo período, as vendas brasileiras para o país vizinho aumentaram de US$ 600 milhões para US$ 5 bilhões. As compras, de US$ 275 milhões para US$ 1,3 bilhão. A assimetria do comércio apresentou considerável redução. Em 2007, para cada dólar importado o Brasil exportou 13,7 para a Venezuela. Em 2012, graças a esforços políticos e de inteligência comercial, intensificaram-se as compras brasileiras e esta relação caiu para quatro. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil (MDIC).

Nos últimos meses, existe uma matriz de opinião circulando na mídia hegemônica que sugere um esfriamento das relações entre os dois países. Isto se deve, especialmente, à redução de 15% no comércio binacional entre janeiro e junho de 2013, de US$ 2,9 bilhões para US$ 2,5 bilhões. Não obstante, podemos relativizar esta diminuição ao associá-la com a queda nas vendas brasileira de dois ou três produtos como Outros animais vivos da espécie bovina (-22%) e Outros pneus novos para ônibus e caminhões (-50%).

É verdade que desde 1999 a indústria venezuelana tem recebido um forte estímulo ao setor produtivo.

Este salto na produção interna ocorreu especialmente no chamado complexo proteico. Segundo o Ministério de Agricultura e Terras (MAT), a produção de frango aumentou 132%, enquanto a de carne vermelha cresceu 53%. Hoje, 95% do frango consumido no país são produzidos internamente. A carne suína é 100% nacional. No caso da carne de gado, 60% são gerados no país. Ainda de acordo com a instituição, “a produção atual supera o consumo de 1998. Ou seja, se atualmente houvesse o mesmo consumo daquele período, a Venezuela estaria exportando carne”. No mesmo período, entre 1998 e 2012, a produção de leite ampliou-se em 87% e a de cereais, em 68%.

No entanto, apesar das bem sucedidas iniciativas venezuelanas no sentido de garantir a sua soberania alimentar, o Brasil continua exportando muitos produtos do chamado complexo proteico para o país. Do total de vendas brasileiras até junho, mais de 40% foram carnes de gado e galinha, animais vivos, preparações para elaboração de bebidas e açucares de cana. Destaca-se o forte incremento das exportações de todos esses bens. No mesmo período do ano passado, os mesmos representavam 27% do total. De acordo com o Instituo Nacional de Estatísticas da Venezuela (INE), das importações venezuelanas totais de animais vivos, quase 65% são originados no Brasil. A participação brasileira chega perto dos 100% do açúcar de cana, 60% das carnes de galinha e 40% das carnes bovinas.

Os dados das importações brasileiras de produtos venezuelanos referentes ao mês de junho evidenciam que, em relação ao mesmo período do ano anterior, houve algumas mudanças a serem destacadas. Os principais produtos comprados pelo Brasil até a metade de 2013 foram naftas para petroquímica (43%), óleos brutos de petróleo (20%), coque de petróleo não calcinado (13%), metanol (5%), ureia (4%), energia elétrica (3,5%) e hulha betuminosa (2,5%). Até junho, estes sete artigos foram responsáveis por mais de 90% de todas as importações brasileiras. No ano passado, representaram 78%. A novidade são as compras do Brasil de óleos brutos de petróleo da PDVSA.

No caso da energia elétrica, desde 2006, as estatais Eletronorte do Brasil e Edelca da Venezuela selaram um importante acordo para a importação brasileira. Com isso, acabaram os apagões que afetavam parte da região norte do Brasil. As compras da energia proveniente da hidroelétrica de Guri, no estado Bolívar, aumentaram de US$ 18,7 milhões naquele ano para US$ 31,5 milhões em 2009 e para US$ 45,8 em 2012. Ou seja, as importações brasileiras de energia elétrica do país vizinho aumentaram quase 150% desde o início da cooperação. Esta iniciativa faz parte de um plano mais amplo de integração energética regional.

Ao mesmo tempo, segue ampliando-se a cooperação entre a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e o Consórcio Venezuelano das Indústrias Aeronáuticas e Serviços Aéreos (Conviasa). Como parte dos convênios bilaterais, em junho aterrissaram no Aeroporto Internacional “Simón Bolívar” de Maiquetía três novos aviões ERJ-190 produzidos no estado de São Paulo. Já somam seis as aeronaves brasileiras na frota da linha aérea bandeira venezuelana, que nasceu em 2004. A Conviasa mantém rotas para Argentina, Colômbia, Espanha e ilhas do Caribe, além de destinos nacionais. A empresa estuda comunicar Manaus a Caracas, eliminando o grande gargalo atual.

O BNDES confirmou financiamento para outras 14 unidades, totalizando cerca de US$ 1 bilhão. Além dessa iniciativa, o Banco financia no país caribenho a construção de um estaleiro e de uma importante siderúrgica. Ambas as obras são de propriedade do Estado venezuelano e fazem parte de um amplo projeto de industrialização nacional como forma de transcender a economia petroleira, rentista, improdutiva e importadora. A ampliação das linhas de metrô de Caracas também conta com recursos da instituição financeira brasileira.

Antes de concluir estas breves considerações, vale chamar a atenção para outro ponto relevante das relações comerciais binacionais: a fortíssima concentração dos negócios em poucas companhias.

Durante 2012, mais de 2500 empresas estabelecidas no Brasil realizaram exportações para a Venezuela. Deste total, 2050 (82%) venderam menos de US$ 1 milhão e apenas 18 (0,7% do total) exportaram mais de US$ 50 milhões. Entre as maiores vendedoras estão Kaiapós (gado vivo), Embraer (aeronaves), Sadia (carne de galinha), JBS (carne bovina), ED&F MAN (açúcar), Medabil (estruturas metálicas) e Toyota, Goodyear, Ford e Iveco (veículos e autopeças). No caso das empresas estabelecidas no Brasil que importaram da Venezuela, a concentração é ainda maior. Das 212, mais de 120 (57%) compraram menos de US$ 1 milhão e somente uma, a petroquímica Braskem, importou mais de US$ 50 milhões. Outras grandes compradoras foram Eletronorte, Petrobras, Votorantim e Basf.

* Professor do curso de Economia, Integração e Desenvolvimento da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Foi superintendente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Venezuela (CAMARABV).

Luis Nassif

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