A cada 25 horas, uma pessoa LGBT morre vítima de violência no Brasil em 2016

O levantamento de mortes foi realizado pelo Grupo Gay da Bahia, com base em notícias e informações passadas por grupos e pessoas que conheciam as vítimas |Foto: Guilherme Santos/Sul21

Enviado por Alfeu

do Sul21

A cada 25 horas, uma pessoa LGBT morreu vítima de violência no Brasil em 2016

Fernanda Canofre

Os corpos de dois professores foram encontrados carbonizados em um porta-malas, em Santa Luz, na Bahia. Um homem de 34 anos morreu degolado e esquartejado, em Porto Velho, Rondônia. A 4.300 km dali, em Belém, capital do Pará, outro homem morreu com 80 facadas atravessadas no corpo. Mesmo Estado em que Brenda foi espancada e jogada do alto de uma passarela, na cidade de Castanha. Mesmo Pará onde um menino de 10 anos morreu violentado e espancado. No Paraná, uma menina trans de 14 anos foi encontrada morta a beira de um lago. Em Porto Alegre, um homem trans morreu com 17 tiros e terminou arrastado pelo carro de seus assassinos

Essas são apenas algumas das 343 mortes de pessoas LGBT registradas em 2016 no Brasil. Uma morte a cada 25 horas. Um ano em que os registros e a violência bateram recorde, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia que, há 37 anos, faz o trabalho de resgatar dados e informações nas cinco regiões do país para revelar até onde vai a homo-lesbo-transfobia – em 2015, haviam sido levantados 318 casos. O último relatório do GGB foi divulgado nesta segunda-feira (23).

Segundo o levantamento, os crimes contra LGBTs atingem todas as cores, idades e classes sociais. Dos dados levantados, 64% das vítimas eram brancas e 36% negras. A mais jovem tinha 10 anos, a mais velha 72. Mortes de pessoas entre 19 a 30 anos foram a maioria – 32% dos casos. Em seguida, menores de 18 anos – 20,6% dos casos. Vítimas já na terceira idade representaram 7,2% dos casos. O GGB aponta que os dados também denunciam a grande vulnerabilidade a que estão expostos adolescentes LGBT no país.

Fonte: Relatório 2016 – Assassinatos de LGBT no Brasil/Grupo Gay da Bahia

 

Quando se fala de vulnerabilidade, as travestis e transexuais seguem sendo a população que mais sofre violência. O relatório do Grupo Gay afirma que , proporcionalmente, uma mulher trans tem 14 vezes mais chance de ser assassinada do que um homem cisgênero gay. Comparado aos números dos Estados Unidos – que registrou no ano passado 21 trans assassinadas contra 144 no Brasil – o risco de brasileiras morrerem por morte violenta é 9 vezes maior. São elas também quem têm mais chance de morrer na rua, por arma de fogo ou espancamentos.

Os gays, por outro lado, são o grupo que registrou maior número de mortes em 2016: 173. Seguido por trans e travestis, com 144. Houve 10 vítimas identificadas como lésbicas, 4 bissexuais e 12 heterossexuais – pessoas em relacionamento com pessoas trans do sexo oposto ou que morreram por defender LGBTs, como foi o caso do ambulante assassinado no metrô de são Paulo, na noite de Natal.

Este ano, além dos homicídios, o grupo decidiu incluir na contagem os suicídios de pessoas LGBT, motivados pelo preconceito e discriminação contra identidade de gênero e/ou orientação sexual.

Sem estatísticas oficiais e sem punição

O relatório também chama a atenção para a falta de estatísticas e dados oficiais relativos a violência contra a população LGBT no país. As próprias polícias não possuem sistema ou protocolo para inserir termos relativos a sexualidade em seus boletins, o que dificulta o levantamento de dados e as investigações. O relatório aponta, por exemplo, que menos de 10% dos casos tiveram processo aberto para investigação e apenas 17% dos homicídios contabilizados tiveram o autor identificado. Ou seja, apenas em 60 casos.

“Tais números alarmantes são a ponta de um iceberg de violência e sangue, pois não havendo estatísticas governamentais sobre crimes de ódio, são sempre subnotificados já que nosso banco de dados se baseia em notícias publicadas na mídia, internet e informações pessoais”, explica o antropólogo Luiz Mott, que coordena o site Quem a Homotransfobia matou hoje?, responsável pelo levantamento de dados do relatório.

Fonte: Relatório 2016 – Assassinatos de LGBT no Brasil/Grupo Gay da Bahia

O documento do GGB aponta ainda que em pelo menos metade dos casos, as vítimas conheciam seus agressores: 34% morreram pelas mãos de companheiros ou ex-companheiros, 13% foram mortos por familiares. Por outro lado, “clientes, profissionais do sexo e desconhecidos em sexo casual foram responsáveis por 47,5% desses crimes de ódio”, diz o texto.

Com poucos avanços em políticas públicas – a lei de criminalização arquivada – e o reforço da onda reacionária no país, o relatório não parece otimista para 2017. Nos primeiros 22 dias do ano, 23 mortes de pessoas LGBT já foram contabilizadas pelo site responsável pelo relatório.

O informe na íntegra pode ser acessado aqui.

Fonte: Relatório 2016 – Assassinatos de LGBT no Brasil/Grupo Gay da Bahia

 

http://www.sul21.com.br/jornal/a-cada-25-horas-uma-pessoa-lgbt-morreu-vitima-de-violencia-no-brasil-em-2016/

 

Redação

3 Comentários

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  1. Presidencialismo, sistema que gera demagogia.

    Os países mais avançados nos direitos dos gays e afins são as monarquias parlamentaristas, pois as repúblicas não conseguem separar o Estado do Governo, gerando um natural populismo ocupado por demagogos, destruindo assim a unificação nacional, algo que só é garantido de vez com a separação entre o Chefe de Estado (IMPARCIAL, APARTIDÁRIO) e o Chefe de Governo, separação esta que só existe genuinamente na monarquia parlamentarista.

  2. Os meus mortos são mais importantes?

    Em cinco anos Brasil teve mais assassinatos que mortes na Siria.

    Em 2014/2015, em média anual, quase 60.000 assassinatos aconteceram no Brasil.

    Nem falar da turma degolada nas cadeias.

    Ou seja, 0,57% de assassinatos anuais (343/60.000) eram do segmento LGBT. Se a população LGBT no Brasil fosse maior que 0,57%, como alguns afirmam, então esta categoria está com sorte, no item de assassinatos.

    Um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos, ou seja, na medida em que morre um LGBT morrem quase 65 jovens negros no Brasil.

    1. Meu caro, não é essa a

      Meu caro, não é essa a questão. Não é uma disputa sobre quem morre mais.

      Este problema social apontado não é menos e nem mais relevante que outros conjuntos de crimes violentos no país. Porém, como deu pra notar, as motivações são por motivos torpes, cruéis, desumanizantes… o que se deseja com assasinatos homofóbicos não é apenas matar uma pessoa, é eliminar o que ela é  e representa.

      Indicar informações da violência que pessoas LGBTs sofrem nesse país, não é algo supérfluo. Bem como você notou lendo a notícia, dados oficias sobre isso são praticamente inexistentes, pois o Estado pensa como você: não há razão para se preocupar.

      Precisamos de informações, precisamos de políticas públicas, precisamos a partir disso, conscientizar. Estudar essa violência não tornará seu grupo “privilegiado”, mas sim visível.

      Informação e conhecimento nunca são de menos.

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