A pastora-ministra é profissional em levar a política (da Direita) para dentro das igrejas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Damares Alves fala de aborto – uma de suas agendas prioritárias – com informações parciais e da perspectiva já repudiada pelo movimento feminista nas ruas

Jornal GGN – Presidente eleito, Jair Bolsonaro inaugurou a figura do “anti-ministério”. Agora o Brasil terá pastas voltadas contra sua própria existência. Aconteceu no Itamaraty, na Educação, mais recentemente no Meio Ambiente e, claro, nos Direitos Humanos fundido à antiga área de Políticas Para Mulheres e à Funai. Tudo delegado à pastora e advogada Damares Alves, que começou os trabalhos no “Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos” levantando a bandeira da “bolsa estupro” – uma agenda de Eduardo Cunha e baixo clero que levou milhares de feministas às ruas em 2015. Uma proposta que está na contramão das discussões mais avançadas sobre o aborto aqui e no resto do mundo.

Com Damares, o The Guardian já publicou que Bolsonaro praticamente “aboliu” os Direitos Humanos no País, substituindo o escopo técnico do ministério por “valores” da família conservadora. Valores que têm sido tabulados e disseminados em todo o território nacional, com atenção especial ao Nordeste, por lideranças religiosas que se profissionalizaram em levar a mensagem política da extrema-direita para dentro dos templos. Ironicamente, estas lideranças esperneiam em favor da “despolitização” de escolas e universidades.

Evangélica da Assembleia de Deus, a pastora-ministra (tudo indica que ela não deixará de ser uma coisa para ser outra), ao menos desde 2014, vai de igreja em igreja com o mesmo script. O GGN assistiu a mais de 4 horas de pregação com Damares para identificar o roteiro.

No começo, ela falava que a Nação estava “doente” (possível alusão à reeleição de Dilma Rousseff). Do impeachment para cá, diz que Jeová ouviu as preces dos fiéis e “sarou esta Terra” que ainda coloca suas crianças em risco com políticas públicas que sexualizam (com a “ideologia de gênero”) e geram “confusão espiritual” (com o ensino de religiões de matriz afro e indígena nas escolas). Cabe à Igreja Evangélica, portanto, “restaurar a Nação” nesses campos, protegendo os “príncipes e princesas” que vão governar no futuro. 

O objetivo de Damares é incitar o fiél a sair do lugar cômodo em que está inserido para participar da vida pública. Ela pastoreia o público-alvo dos parlamentares que militam no Congresso por Escola Sem Partido, o fim do aborto e outras agendas da extrema-direita, e ensina ao mesmo público – na maioria das vezes, mulheres – o que pensar em relação aos “inimigos” que ameaçam a segurança de seus filhos.

A título de exemplo: em uma de suas participações gravadas e divulgadas no Youtube, Damares disse que a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy gastou milhões de reais com uma política voltada à masturbação de bebês de menos de 1 ano nas creches públicas. No mesmo evento ela também insinuou que o “ponto G” na mulher é uma invenção do Ministério da Educação para incentivar a iniciação sexual precoce de meninas, e o resultado disso é uma epidemia de infecções vaginais nos locais que seguem a cartilha do MEC.

É de se imaginar que o kit gay e a mamadeira erótica que atribuíram à gestão de Fernando Haddad saíram de laboratórios da mesma estirpe.

Sobre o aborto, anunciado uma das prioridades de Damares no Ministério, a pastora já disse que são “mentirosos” os dados que apontam que milhares de brasileiras morrem todos os anos em decorrência do procedimento realizado de maneira clandestina. “Onde estão os túmulos?”, indagou. 

Para ela, não é questão de saúde pública, porque não é doença. Questão de saúde pública é febre amarela, dengue, malária.

Ela também já comparou a descriminalização do aborto à legalização da maconha, como se o lobby fosse apenas para enriquecer os cofres públicos com a regularização e taxação de impostos sobre as clínicas.

O que a Igreja precisa impedir, segundo ela, é que o Brasil vire os Estados Unidos, onde o aborto é permitido até no “nono mês” de gestação. Em verdade, a pastora leva a seu público informação pela metade ou menos.

Os Estados Unidos têm uma política fragmentada em relação ao aborto. Há estados com menos ou mais direitos para as mulheres, sendo que ter acesso ao procedimento se tornou cada vez mais difícil nos últimos anos na larga maioria dos Estados, justamente graças ao trabalho de lideranças religiosas junto aos políticos e à opinião pública. Clínicas foram e serão fechadas em várias regiões, obstáculos foram e serão colocados no caminho da mulher. O acesso já é privilégio de quem tem condições financeiras de transitar de um estado mais proibitivo para outro com menos restrições.

O documentário da Netflix Roe x Wade (o título é uma referência ao processo julgado na Suprema Corte dos Estados Unidos, em 1973, que virou o marco regulatório do aborto, e que Trump prometeu na campanha revogar, alterando primeiro a composição do tribunal) descreve bem a situação atual no País.

No Brasil, a discussão sobre a descriminalização do aborto como direito da mulher se dá no Supremo e de maneira mais limitada, até a 12ª semana de gestação.

Tudo indica que, no governo Bolsonaro, e com Damares, o Ministério que deveria participar do debate em defesa das mulheres só apoiará aquelas que, mesmo em caso de estupro, aceitariam levar a gravidez adiante, por questão religiosa, em troca de ajuda financeira do estuprador, se ele for localizado, ou do poder público. É esta a essência da chamada “bolsa estupro” que Cunha tentou mas não conseguiu aprovar, junto com outras medidas que dificultariam o acesso ao aborto já previsto em lei.

A propósito, Damares já falou de Cunha aos fiéis de sua Igreja. Disse ela que, apesar de preso por corrupção, o ex-deputado tentou fazer o bem no Congresso em pautas relacionadas à defesa da vida. É Deus atuando à própria maneira, disse, e não cabe a nós entender os instrumentos utilizados por Ele em seus planos.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

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  1. Foi isso aí que elegeram
    Pois foi exatamente isso que elegeram. Um crentismo priápico, ávido por experimentar sua própria “Idade Média”, e submeter a cultura a seus cultos, mas sobretudo a seus métodos: propina justificada na fé; liberdade à riqueza; distinção das pessoas pela fé ou falta dela; submissão de costumes conservadores: machismo, patriarcalismo, patrimonialismo abençoado, moralismo hipócrita.
    Isto está escancarado! A ministra pastora se diz “estigmatizada” ou “rotulada”, uma forma de tergiversar o evidente padrão de atuação ideológica (no sentido Chauiano).
    Mas não parece que aquela sociedade brasileira,de outubro,esteja agora, em dezembro ainda, disposta a aceitar o pacote todo da extrema direita. Esse governo promete ser é o fim melancólico desse pessoal, incluindo o alquebrado guru, que reside nos EU!

  2. Um governo de fanáticos

    O problema desse pessoal não é que eles sejam (apenas) enganadores e de comportamento ético duvidoso.

    Eles acreditam mesmo no que pregam e tem, de fato, o apoio de uma parcela importante da população. São fanáticos insanos que, ao mesmo tempo, alimentam e expressam o fanatismo de suas bases.

    A pastora louca, o chanceler tarja preta, o educador maluquete e o próprio Bozo acreditam mesmo nas sandices que afirmam e, por isto, não tem medo do ridículo. Mesmo porque encontram ressonância num público amplo.

    A eles se juntam Moro, que (malgrado sua parcialidade) acredita que a corrupção é de fato o maior mal do país e se crê o justiceiro que porá fim a ela, com altas doses de sadismo. Aliás, Moro é o sádico clássico que precisa recobrir sua perversão com o disfarce da justiça.

    A eles ainda se junta o fanático chicago boy Paulo Guedes, ressuscitado dos anos 90, os anos dourados do neoliberalismo, que crê piamente nas eficácia dos mercados desregulados e no estado mínimo (para os pobres), mesmo depois do desmentido factual e estrondoso de 2008!

    Ainda tem os generais linha-dura, ressentidos com os livros de história que chamam o seu movimento de golpe e ávidos disciplinar os malemolentes brasileiros de sanggue ruim.

    É um governo de fanáticos insanos e ressentidos por todos os lados que se olhe. Estão loucos para implantar, a ferro e fogo, a sua sharia, religiosa, judicial, disciplinar ou neoliberal. E, ao que parece, com o apoio da população frustrada e enraivecida, louca por espetáculos de sangue.

    Que os deuses tenham piedade de nós de 2019 em diante!

  3. O Brasil tem o que merece
    Se alguém acha que vem alguma coisa boa desse governo, é bom ja ir se desiludindo, já ir tirando o cavalinho da chuva.
    Só vem coisa ruim
    E aí eu pergunto de novo:
    – não foi o povo que votou nele? O pobre, o rico, o remediado?
    Essa é outra bomba que tá sendo ligada.
    Antes da eleição conversei com tanta gente, perdi amigos…foi feito uma lavagem cerebral pra ganhar essa eleição. Agora vão fazer outra: só que essa outra vai ser feita com todo mundo vendo, sentindo e sabendo, ou seja tem tudo pra dividir de uma vez por todas esse pedaço de terra de língua brasileira.
    Psicopatas e fanáticos conduzindo a pátria.
    E o pior psicopata é o astrólogo antibrasileiro…
    O Brasil tem o que merece.
    Não precisa de golpe.
    É só ter eleição.

  4. Essa tia eh o oh do

    Essa tia eh o oh do borogodoh, ate a vassoura dela deve voar pra longe dela.

    Ela e contra:

    -Masturbaçao de bebes

    -Mamadeira de piroca

    -Sexo com bicicletas

    -Ponto G que o ministerio da educaçao inventou

    -Viu Jesus no pe de goiaba

    -Cunha operador de Deus por linhas tortas

    Estou muito interessado em saber o que ela acha:

    -Sexo com melancia

    -Mascara de oxigenio de xota pra molecada com falta de ar

    -Bombinha contra asma em forma de cu pra criançada pensar que eh peido

    -Mamadeira em formato de bereta em vez de piroca

    -Papai Noel com peruca laranja

    -Comida com veneno

    -Arvore tem que derrubar eh coisa do capeta.

     

  5. Nome aos bois

    Fala sério!? Todo mundo sabe que o verdadeiro ministro da família é o Fabrício Queiroz. Aliás, ele  também responde pelos ministérios da fazenda, dos transportes, da pesca e da administração.

  6. A competência da Extrema direira

    Se tem um coisa que não podemos falar dessa extrema direita que chegou ao poder é de sua competência para doutrinar seu público e espalhar suas loucuras. Conseguem inventar e distorcer fatos de forma geniosa e conseguem escolher muito bem para quem e onde falar. Conseguem sintetizar as maiores barbaridades em conteúdo simples de fácil e rápida assimiliação até pelo mais ignorante dos indivíduos. Literalmente fazem o trabalho de formiguinha que  a esquerda deveria ter feito a muito tempo. Todo o problema agora se passa em como reverter esse quadro de insanidade e estúpidez que tomou conta da maioria da população. Ainda mantenho a opinião de que as esquerdas deverão mudar seu discurso tecnicista e adentrar no campo do inimigo usando um discurso agressivo de embate direto, assim com eles usam. Cada besteira que eles fizerem deve se transformar em uma afirmação agressiva contra eles e martelada a todo instante. Só assim vejo alguma luz no fundo do túnel.

  7. ….com essas políticas anti
    ….com essas políticas anti povo estão levando milhões de famílias a ter a rua como opção de moradia: assim é que irão “restaurar” a família……mas o povo etrá como diversão ouvir relatos sobre Jesus na goiabeira….rsss

    https://youtu.be/8tMNQtnZ6_4

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