A redenção do estuprador e a hipocrisia nacional

Por C.A.Pella , no Portal LN

Enquanto meus colegas estão tratando do aniversário da ditadura, prefiro vir aqui tratar da pesquisa do IPEA sobre estupro. A pesquisa publicada esta semana causou furor nas redes sociais, engatilhando manifestações como #nenhumamulhermerceserestuprada, com fotos “selfies” de mulheres (e homens) segurando cartazes com os dizeres “eu não mereço ser estuprada” , em apoio ao fim da “culpabilidade da vítima” nos casos de estupro.

O Deputado Federal Romário, em sua página do Facebook, publicou seu apoio às manifestações de repúdio à culpabilidade da vítima, demonstrada pela pesquisa, onde a maioria dos entrevistados diz concordar com o fato de que mulheres que se vestem com roupas curtas, ou se comportam mal, MERECEM ser atacadas.

Agora, o interessante aqui, não é tanto o apoio dado pelo Deputado Romário à causa, mas sim os comentários feitos em sua página sobre o assunto. No momento em que escrevo a postagem já teve mais de 14.700 “curtidas”.

Selecionei aqui algumas respostas que exemplificam a abordagem da pesquisa:

SOBRE A PESQUISA

“Me envergonha um deputado que sempre lutou contra a corrupção deste país ser conivente com tal FALSA pesquisa. Tal pesquisa foi comprovada que as perguntas aos entrevistados não foram essas e sem falar na tamanha farsa em si que é essa pesquisa pelo Ipea. ATÉ HOJE NÃO ENCONTREI UM HOMEM SE QUER QUE É A FAVOR DO ESTUPRO DA MULHER DEPENDENDO DE SUAS VESTES. E olha que já procurei em redes sociais, internet e em tudo quanto é lugar. Cadê esses 65% da população que ninguém vê?
Esta pesquisa nada mais é do que uma forma de ofuscar o escândalo das refinarias da presidenta Dilma. E parece que o governo está conseguindo fazer isso, infelizmente.
Sou machista, E SOU CONTRA QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.“

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“Se o fato de andar com pouca roupa fosse motivo de estupro, os Índios e os nativos estrupariam suas mulheres todos os dias, e sabemos no entanto que isto nao acontecia.
Estupradores sao criminosos, e nao se proteje criminoso nem com pesquisa dirigida. O IPEA à meu ver esta incitando a violencia contra a mulher divulgando e publicando um resultado sem nenhum teor produtivo para a nossa sociedade, haja vista que maioria das pessoas sao influenciadas e conduzidas por pesquisas.“

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“Essa pesquisa é mais falsa que nota de 3 REAIS! É um engodo pra desviar a atenção da CPI da PETROBRAS! 65% significam 2/3 da população brasileira, isto é, 2 de cada 3 brasileiros defendem o estupro? PQP! Não dá pra acreditar numa merda dessas…
Quantas pessoas vcs conhecem que defendem o estupro? Eu não defendo e vcs dois tb não, fazemos assim 3 pessoas! Tb não conheço NINGUÉM QUE DEFENDA UMA ABOMINAÇÃO DESSAS! Onde está a proporção que a pesquisa fala?
Fora que a maioria dos entrevistados (65%) eram mulheres, isto significa que mulheres defendem o estupro? Isso é machismo? Fala sério!“

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“A pesquisa retrata a realidade. Não se pode esconder o sol com a peneira. O corpo da mulher é o maior bem de consumo da socidesde atual. Assim como a super exposição de bens é um incentivo aos crimes patrimonial e financeiros e a recomendação da polícia e de evitar a ostentação o mesmo vale para os crimes sexuais seja de mulheres, crianças gays ou o diabo a quatro. Manifestações histéricas ou legislações mais duras não detém criminosos.“

SOBRE A MANIFESTAÇÃO DO EUNÃOMEREÇO…

“Mas as mulheres tiram fotos semi-nuas, pensem nisso. É um incentivo pro estuprador ir atrás“

SOBRE VESTIMENTA E COMPORTAMENTO SOCIAL DAS MULHERES

“acho que tem algumas mulheres que exagera tanto no comportamento como nas roupas e gosta de provocar, tipo ficar sem sultiã em qualquer lugar, cruza as perna mostrando a calcinha “qndo ta usando” etc … e tem marido e pai que é trocha e deixa … dessas vagabunda eu não tenho dó não, que se foda pra la, é isso que elas ta cassando mesmo se vestindo desse jeito, um frio de -10° e a praga ta de tomara que cai e uma saia que mais parece um cinto, azar é dela, lógico que roupa não justifica esse crime, minha tataravó pode sair nua que ninguém vai pega ela… esse país não tem segurança nem pra gnt descente quanto mais pra vagabunda … mais lamentável-mente esses vagabundo estrupa ate moças e mulheres descente, merecem a pena de morte.“

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“Concordo quando o Sr. deputado diz que um short curto, uma saia ou um vestido sensual não é motivo pra uma mulher estuprada. Agora uma micro saia, micro short ou micro vestido pode estimular desejo a ponto de cometer tal ato. O que falta a população ter educação para tal libertinagem”. Ser uma mulher linda sensual sem precisar algum tipo de roupa “micro” diminui a chance de tal ato covarde, agora querer ser atraente precisando mostrar o corpo através de mini roupa, o que o Sr. deputado acha que pode acontecer? A sociedade é mal educada e a mídia é grande culpada porque sensualidade a gente vê a qualquer hora do dia. Mulheres usem sua liberdade não pra mostrar o corpo o dia inteiro, mas para mostrarem a beleza. Beleza não precisa de roupas “micro”, mas de caráter e atitude! Usem a inteligência porque vocês são lindas por naturezas!”

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“concordo com o que dizem as placas q ninguem merece ser estrupada, mas que tem mulheres semi nuas na rua pedindo para serem estrupadas, tem sim e aos montes… isso é uma vergonha a sociedade achar que elas estao vestidas e nao dispertarem nenhum interesse sexual nos homens, ande vestidas q nunca acontecera com vcs!“

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“permita-me discordar de você querida… se você fica pelada na frente de um homem em situação não costumas, é claro que, se você tiver atrativos físicos, ele vai te olhar dos pés a cabeça e não vai ser como se fosse a irmã dele. Não é ser machista é ser realista. A natureza do homem é muito diferente a dá mulher e os entendidos de plantão que me tacharem de machista, é bom estudar a história da humanidade. indico um livro muito bom…”por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor”. Abraços e Paz.“

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“E as mulheres que vestem a burca, que também são violentadas e estupradas, ninguém fala, não é o habito que faz o monge“

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Agora a pérola mor: “Mulher que não se respeita merece pica mesmo. Sou MACHO e ninguem mandou ficar me provocando”

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Bom, chega de depoimentos né? Já dá pra perceber uma série de coisas nesta pequena seleção de pérolas da inteligência brasileira.

A primeira questão importante a ser realçada é a da paranoia de alguns setores da sociedade que acreditam que a pesquisa é uma cortina de fumaça para ocultar o escândalo da Petrobrás e desviar a atenção do público.

A segunda questão é a da interpretação da pesquisa.

Terceira: a forma como homens e mulheres encaram a moralidade e sua relação com o estupro.

A pesquisa foi encomendada ano passado, foram entrevistadas cerca de 4.000 pessoas e cerca de 65% dos entrevistados eram mulheres. As questões feitas e parcialmente divulgadas parecem ser: Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas? e Se as mulheres soubessem como se comportar haveria menos estupros?

Obviamente que as questões, se foram exatamente estas, são bastante capciosas, porque apresentam armadilhas retóricas em sua formulação. A primeira questão fala de ataque e não de estupro, a segunda questão levanta a opinião do entrevistado sugerindo um moderador moral, “se soubessem como se comportar”, ou seja, ela parte do pressuposto de que as mulheres “não sabem se comportar”. Pode-se criticar a pesquisa por estas armadilhas, por outro lado, para um bom intérprete, o fator tendencioso contido nas questões tem por objetivo testar a capacidade crítica do entrevistado. Alguém equilibrado, com alguma educação crítica perceberia no ato que a questão foi feita para “pegar” desprevenido aqueles que se baseiam exclusivamente pelo senso comum. Portanto, não é uma pesquisa que determina se a sociedade brasileira concorda ou não com o estupro, ou a violência sexual e sim, uma amostragem das condições em que a sociedade brasileira compreende o estupro, o papel do criminoso e da vítima.

Relatos de vítimas de estupro nos dão uma boa noção do que acontece no meio social e jurídico. No Brasil houve o caso absurdo de um homem absolvido do crime de estuprar três garotas de 12 anos, porque segundo a juíza, “elas já se prostituíam”, ou seja, a prostituta não tem o direito de dizer “não”.

http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/onde-e-que…

Voltando à pesquisa, seu objetivo é portanto, tirar uma média da opinião do brasileiro acerca das causas do estupro e da “culpabilidade da vítima”. Historicamente, o Brasil é um país que chegou atrasado nos direitos da mulher. Até a promulgação da constituição de 1988 havia por exemplo o artigo da “defesa da honra” quando um homem praticava um crime passional contra uma esposa adúltera. Havia também a lei de “devolução”, onde um homem que descobrisse logo após o casamento que a mulher não era virgem, podia simplesmente anular a união. Estes são exemplos da cultura jurídica tacanha que imperou neste país por todos os séculos desde seu descobrimento até 1988. De lá para cá, muita coisa mudou, mas não mudou ainda o suficiente, como mostra a pesquisa e como demonstrei aqui a partir das respostas dos internautas.

Para a maioria das pessoas que se manifestaram sobre o comportamento da mulher e sua relação com o estupro nesta pesquisa, parece escapar por completo a percepção de que o homem, como ser racional, é dotado de todas as ferramentas necessárias para o controle de seus impulsos sexuais. Para essa parcela da população, as vestimentas e o comportamento da mulher, simplesmente justifica que os homens, por “seus instintos naturais” percam o controle e estuprem. Escapa da percepção do senso comum que o controle dos instintos individuais é fundamental para que uma sociedade humana se constitua como tal. Assim, argumentos tais como “se ela não se respeita, por que eu vou respeitá-la?” invertem completamente os valores humanos. Neste argumento, é do comportamento humano se deixar levar pelo descontrole, pelo impulso, pois faz “parte do instinto do homem”, mas não é digno de respeito humano aquela que usa uma roupa indecente, ou se comporta de forma indecente, porque isso de certa forma dá margem para o descontrole.

Ou seja: a obrigação de manter o controle dos impulsos não é do indivíduo, mas da coletividade. É a coletividade das mulheres, neste caso, que deve controlar o impulso sexual dos homens, vestindo-se adequadamente e comportando-se adequadamente. O homem torna-se assim inocente e vítima nas situações em que a coletividade feminina falha em controlá-lo. É inocente porque não tem responsabilidade sobre uma força maior que é o  seu “impulso sexual” e é vítima porque é ele quem supostamente é atacado, quando diante de uma situação de “desrespeito”, onde a mulher lhe instiga o impulso usando roupas curtas, ou se comportando de forma provocativa.

Interessante a resposta de um dos internautas que diz que o corpo da mulher é um bem de consumo valorizado no Brasil. Se a coletividade incentiva a exposição da sexualidade feminina de forma cada vez mais ostensiva, podemos afirmar que a coletividade concorda com isso e que portanto não devia ser ofensivo usar um micro-shorts, uma micro-saia e não devia ser esse o motivo que leva o homem a perder seu controle. De fato não é. Se observarmos os casos de estupro relatados, há um universo de situações que destoam desta percepção da exposição do corpo como fator determinante. Casos de estupro em família, casos de estupro por ódio racial, de idosos, crianças, meninos, etc, que fogem desse padrão do senso comum. Também foge desse padrão os estupros cometidos em países onde as mulheres são oprimidas e só possuem uma única forma de se vestir e se comportar em público, mas aí estamos falando de outra cultura. Na cultura brasileira a sexualidade exacerbada que vemos na mídia, no consumo, nas festas populares, nos fenômenos de massa, é generalizada e tratada como algo natural. Em contradição direta com esse padrão, os casos de violência contra mulher (estupro, espancamento, abusos, assédios, assassinatos) são alarmantes para o século em que vivemos, com todo acesso que possuímos à informação e com todos os progressos feitos no sentindo da diversidade cultural e religiosa. Se há uma relação entre a sexualidade exacerbada e a violência contra a mulher, esta relação não é óbvia no Brasil, pois o mesmo homem que aplaude a exposição da bunda na televisão, pode ser o que espanca a esposa e a namorada, porque ela vestiu um shorts. Seria mais fácil compreender se estivéssemos numa sociedade que considera absurdo e repudia a exposição, por exemplo, da “mulata globeleza” nos comerciais televisivos da rede Bobo de televisão, durante a “sessão da tarde” para crianças e adolescentes. Se estivéssemos numa sociedade assim, a condenação aos shorts, mini-saias, mini-blusas e a relação entre estas “transgressões” e a violência sexual poderiam ser diretas, ou óbvias. Mas não é o caso. Vivemos numa sociedade que exporta a bunda das mulheres, que vende a imagem de sexo fácil, que instiga o turismo sexual, que celebra a nudez nas praias, nos carnavais e nos bailes funkcariocas. Chega a ser surpreendente que esta mesma sociedade responda às questões da pesquisa, da forma que o fez: relacionando a violência sexual com a forma da mulher se vestir ou se comportar.

O senso comum investigado nesta pesquisa expõe a contradição de uma sociedade que vende o sexo fácil e aceita a objetificação do corpo da mulher, ao mesmo tempo em que condena a mulher como culpada, ou cúmplice da violência sexual, porque ela expõe seu corpo como objeto. Nesta contradição os homens são redimidos do crime de estupro, pois pressupõe-se que diante da exposição ostensiva do corpo feminino, eles não tenham meios para se controlar. Assume-se a irracionalidade como um dado natural do homem, quando devia ser o contrário. Reflete sobretudo a miséria da educação do brasileiro em geral, que desconhece os fundamentos da cooperação social e a importância de se cultivar o intelecto, a racionalidade, que nos distingue dos animais selvagens.

Ao relacionar a violência sexual com vestimenta e comportamento, as pessoas que consideram estes fatores como “causas do estupro”, demonstram uma moralidade recalcada, um repúdio à objetificação do corpo da mulher, à celebração da sexualidade exacerbada. Digo recalcada, porque 66% dos entrevistados respondeu “sim”, ao mesmo tempo é a maioria da sociedade brasileira que consome os produtos sexuais à venda nas tv’s, rádios, revistas, internet e por aí vai. A contradição óbvia não pode ser compreendida pela lógica mais simples e precisa ser analisada a fundo pelas ciências humanas, para que possamos compreender a natureza da nossa hipocrisia.

 
Redação

11 Comentários

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  1. Aplicação da lei ‘vitima duas vezes’ mulher que sofre violência

    Aplicação da lei ‘vitima duas vezes’ mulher que sofre violência sexual

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140402_lei_violenciasexual_mdb.shtml

    Mulheres de saia (BBC)

     

    Aplicação da lei ‘vitima duas vezes’ mulher que sofre violência sexual

    Mariana Della Barba

    Da BBC Brasil em São Paulo

     

    Qual a influência da legislação brasileira na criação de um ambiente em que 65% dos ouvidos em uma pesquisa do Ipea acreditam que mulheres com roupas curtas merecem ser atacadas?

    Para especialistas ouvidas pela BBC Brasil, o problema não é a lei em si, mas sim sua interpretação e aplicação, que muitas vezes acabam fazendo mulheres que sofrem abusos sexuais serem vítimas duas vezes.

    Para a advogada Ana Gabriela Mendes Braga, pesquisadora do sistema de justiça criminal e professora da Faculdade de Direito da Unesp, o problema é que a lei é mal interpretada nas mais diversas instâncias, desde o delegado que recebe a denúncia até na sentença do juiz.

    Isso passa por policiais muitas vezes menosprezarem denúncias de mulheres vestindo roupas curtas, ou não levarem em consideração a humilhação (tanto no momento do abuso quanto da denúncia) vivida pela vítima; ou por parte da própria sociedade achar que, se ela não era “recatada”, está sujeita a sofrer violência verbal ou física.

    Segundo a pesquisadora, uma interpretação enviesada pode deixar a vítima desprotegida, seja no momento em que ela faz a denúncia e é mal recebida pelo policial ou quando seu caso é visto pelo delegado com desprezo e não é investigado – ou até mesmo na outa ponta do processo, quando a denúncia chega nas mãos de um juiz.

    “Há previsão legal específica para crimes sexuais, mas a leitura que se faz dessas leis podem ‘revitimizar’ a mulher que sofreu abuso e enfraquecer sua proteção”, diz.

    “O que está em jogo é o papel da mulher e, no caso, de vítima. Se ela rompe com o padrão esperado, ou seja, uma conduta recatada e uma moral sexual reprimida, muitas vezes ela não tem mais uma proteção legítima.”

     

    Profissionais preparados

    Segundo ela, um dos problemas é que as leis foram criadas por homens, não levando em conta as especifidades de gênero. “Para dar queixa de um crime sexual, por exemplo, a demanda dela não é só criminal, é também psicológica. Hoje, esse espaço de escuta existe, como as varas específicas de violência domésticas, mas ainda é insuficiente.”

    Além disso, Mendes Braga afirma que a criação de mecanismos de maior proteção, como essas varas e as delegacias especiais para mulheres, é louvável, mas insuficiente se as pessoas envolvidas não estiverem preparadas.

    “Há delegacias para mulheres em que a sensibilidade de delegada e as guardas não difere da dos funcionários de delegacias comuns.”

    Punição

    Na semana passada, um funcionário do aeroporto de Belém foi detido por filmar mulheres por baixo de seus vestidos. Ele pagou uma multa e não ficou preso, já que sua conduta é considerada uma contravenção (delito leve) e não um crime (delito grave).

    Esse caso, juntamente com outros semelhantes ocorridos no metrô de São Paulo e denunciados nas últimas semanas, suscitaram debates sobre se as penas deveriam ser mais severas.

    Para a pesquisadora da Unesp, mais punição não reduz o crime, porém colabora para criar um clima de justiça, mais propício para as denúncias. “Mas não é a pena que impacta, é a certeza da punição.”

    Já a historiadora Denise Bernuzzi, professora da PUC e especialista em relações entre o corpo e a cultura contemporânea, afirma que a impunidade de criminosos sexuais deteriora o processo democrático.

    Segundo ela, em uma democracia, a mentalidade machista vai naturalmente sendo reduzida e dando lugar a um pensamento igualitário. Denise afirma que aqui esse processo, que já é lentíssimo, ainda engatinha, visto que vivemos em uma democracia há pouco tempo.

    “Mas se houvesse uma punição mais efetiva, aliada à educação, isso certamente aceleraria essa mudança. No entanto, o que vem ocorrendo no Brasil, com a falta de vigilância da lei, acaba emperrando ainda mais o processo de ser ver uma mulher como igual”, diz

    “O que vemos ainda é uma sociedade senhorial, com ‘sinhô e sinhazinha’. Não somos só isso, mas também somos isso, sim. De um lado, um ‘sinhô’ que acha normal passar a mão em uma mulher, porque ela é dele. De outro, uma ‘sinhazinha’, que com um pouco de poder maltrata a empregada ou critica a vítima de estupro por usar roupas curtas.”

    Soluções

    Mendes Braga, a professora de direito, diz que um bom ponto de partida é ter matérias de tipificação de gênero nas faculdades de Direito e nas escolas da Defensoria Pública, Ministério Público e Magistratura.

    “Hoje há grupos de estudo do feminismo nas universidades, mas as essa discussão ainda não chegou no currículo formal, algo que certamente ajudaria na melhor interpretação da lei para as mulheres.”

    Para a historiadora Bernuzzi, é preciso praticar um treino democrático, seja na aplicação de leis, na relação com o governo ou com o marido. “Para se interiorizar que todos são realmente iguais do ponto de vista do Direito.”

     

     

  2. Não acredito nessa pesquisa

    Estão fazendo tempestade em copo dágua. Deve ser falta de assunto. Dias atrás, quando li a respeito, achei que havia algo errado. É impossível obter um resultado desses. Não tem lógica. A não ser que admitamos quer o Brasil ainda se encontra no período paleolítico. Incompetência do IPEA ou dos pesquisadores contratados. Pura bobagem.

  3. A meu ver essa pesquisa que

    Não vejo com redenção de estupradores. É um crime abominável.

    As pessoas que dizem que dependendo da roupa a pessoa mereça ser atacada estão apenas exercendo a sua imbecilidade diária, mais ou menos como comentaristas de grandes portais da internet quando comentam matérias sobre o Lula, por exemplo. Duvido que estas mesmas pessoas apoiassem estupros reais de pessoas conhecidas ou parentes, se estes estivessem com roupas supostamente não adequadas. Da mesma maneira que quem comenta absurdos na internet, se estivesse na frente de um juiz não diriam as mesmas coisas.  Estão pegando uma pesquisa e dando interpretação tendenciosa que não necessariamente corresponde à realidade.

    Continuando:

    Esse comentário diz bastante coisa:

    ““Se o fato de andar com pouca roupa fosse motivo de estupro, os Índios e os nativos estrupariam suas mulheres todos os dias, e sabemos no entanto que isto nao acontecia.
    Estupradores sao criminosos, e nao se proteje criminoso nem com pesquisa dirigida. O IPEA à meu ver esta incitando a violencia contra a mulher divulgando e publicando um resultado sem nenhum teor produtivo para a nossa sociedade, haja vista que maioria das pessoas sao influenciadas e conduzidas por pesquisas.“”

    Essa campanha contra o estupro tem foco  equivocado. Ela parte do pressuposto que estupros ocorrem apenas – ou em muito maior quantidade, como se o principal problema fosse este –  em mulheres atraentes e com vestimentas (ou falta delas) sexualizadas, digamos assim.

    Muito provavelmente o algoz prefira vítimas mais atraentes, é um fato. Mas dai a acreditar que só a questão da atração, e além, que as vestimentas causariam esta atração, é fator primordial para que ocorra o abuso, vai uma distância muito grande.

    É totalmente falso, a meu ver.

    A grande maioria dos estupros e abusos ou ocorrem em ambiente doméstico ou ocorre em locais ermos, aonde a vítima – quase que independente da vestimenta ou da suposta atração que cause – se encontra geralmente sozinha e com pouca gente ao redor. Por ex, uma mulher extremamente atraente poder ir sem roupas a uma praia com bastante gente que dificilmente será estuprada – e com certeza as outras mulheres que estarão na praia, não pensarão que ela mereceria o estupro, diferente do foi veiculado na pesquisa. Já uma mulher menos atraente com roupas mais convencionais, digamos assim, tem muito mais chance de sofrer o abuso se estiver em um local com pouco circulação de pessoas, à noite, por exemplo.

    Daí a quase dizer que toda mulher atraente que use roupas mais curtas seriam vítimas em potencial de QUALQUER HOMEM a linha passa a ser muito tênue.

    Na verdade é uma campanha ideológica, – provavelmente formulada por feministas com objetivos de discutir vestimenta feminina e não a questão do estupro e/ou abusos – ,  com pouquíssima eficácia em combater casos reais de abusos.

    Nada contra, cada um faz a campanha que quiser. Mas creio que os verdadeiros oprimidos não estão recebendo atenção não.

  4. Vergonha

    Li outro dia: “a coisa mais deprimente que essa pesquisa do IPEA revelou foi descobrir que o Brasil é uma grande caixa de comentários do G1”.

  5. Não digo que é falsa…

    Não digo que é falsa, mas está sendo divulgada se forma distorcida. Até duvido que o IPEA tenha feito uma divulgação descuidada, os caras são profissionais da Estatística. Pesquisas para medir essas variáveis latentes como machismo, misoginia, preconceito, são  mais sutis e usam uma série de perguntas para cercar o assunto. Certamente a pesquisa não perguntou assim na lata “você acha que mulheres com roupas provocantes devem ser estupradas ?” Pelo que vi muito tangencialmente, uma pergunta – de uma série –  era se a atitude das mulheres influenciava no estupro. “Atitude”, dependendo do sujeito entrevistado pode ser interpretada como muita coisa, não necessariamente um lugar comum de “aparência provocante”. Para qualquer análise séria, sem oba oba seria necessário ler as notas metodológicas desta pesquisa.

  6.   Que beleza de sociedade…

      Que beleza de sociedade… dá uma tristeza que só.

      Fruto e origem disso (inegável o efeito de feedback) sem dúvida é a pornorretrato da mulher na mídia. E não é só nos programas, não. É rara a propaganda em que a mulher não é a “boa” (mostrada como ‘comível’ ou prestes a ser ‘comida’), ou quase um animal doméstico. Já o homem… homem bom é o que está prestes a dominar, seja os filhos, seja as fêmeas, seja o resto do bando. Nossos ancestrais macacos, caso conhecessem o marketing, não fariam melhor. Aposto que isso faria estragos mesmo em um país escandinavo. Em um país com baixo índice de alfabetização funcional e histórico de violência social, então, é um massacre cultural.

      Pensando bem, 65% é até um índice baixo. Parabéns aos outros 35%.

    1. Meu caro, acho que voce está

      Meu caro, acho que voce está equivocado. Segundo dados da tal pesquisa, dois terços dos entrevistados são MULHERES e não HOMENS. Ou seja, quem afirmou essa bizarrice, em grande parte, foram mulheres, segundo essa estranha pesquisa.

      Faltou fazerem a pesquisa perguntando sobre homens também, evidentemente.

  7. A situação é ruim mesmo

    Tanto que a Globo reproduziu e divulgou os principais números da pesquisa em um diálogo recente de Virgilio e Helena na novela “Em Família”, novela na qual uma personagem foi vítima de estupro.

    Todo o apoio ao Romário em mais essa.

  8. Abominável

    Independentemente da maior ou menor veracidade da pesquisa é de causar náuseas o que a gente nos comentários.É engraçado, ou melhor, trágico que os que mais fazem gracinhas ou oposição ferrenha à pesquisa não se dão conta de que a estão endossando. A violência  contra a mulheer é um problema grave e todas as campanhas no sentido de combatê-la deveriam ser apoiadas sem hesitação.

    1. Quer dizer que mesmo se a

      Quer dizer que mesmo se a pesquisa tiver problemas todos temos que concordar com ela ? Eu hein…

      Liberdade de expressão é tudo poder ser discutido e inclusive contestado.

       A campanha tira o foco das principais vítimas, isso sim.

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