Alice já não fala mais de flores, por Arkx

por Arkx

afinal, o que Alice quer? o que desejam estas jovens mulheres na vanguarda do movimento de re-existência ao golpe?

o único tesão da Ex-querda parece ser sua ânsia em encontrar um homem para chamar de seu. um “grande líder” para encarnar a fantasia do “salvador da pátria”. um “cavaleiro encantado”  para nos salvar do cruel opressor: o “Primeiro Marido”. este quase “inefável” esposo de uma primeira dama bela, recatada e do lar.

mas é tão óbvio não ser isto o que estas mulheres querem! para elas, seu o lar é o mundo, seu recato a potência do útero e sua beleza a pintura de guerra. nenhuma delas nasceu mulher. estão se tornando.

– Não sei, disse Alice, hesitante. – Não quero ser prisioneira de ninguém. Quero ser uma Rainha.

– E será, quando tiver transposto o próximo riacho, disse o Cavaleiro Branco. – Vou levá-la em segurança até a orla do bosque… e depois tenho de voltar. É o fim do meu movimento.

neste tabuleiro de xadrez do golpe do impeachment, como fazer o peão branco vencer em onze lances? como as mulheres podem tornar-se? como a maioria pode deixar de ser minoritária para enfim assumir protagonismo? como fazer compreender ao Cavaleiro Branco seu movimento como mero coadjuvante?

Alice já não mais traz flores. aprendeu ser impossível seduzir a repressão com poesia.

há pessoas que anseiam pela servidão como se fosse a salvação. como é possível clamar: mais tortura, mais mortes, mais chacinas! como se chega ao ponto de querer a repressão não só para os outros, mas também para si próprio?

as massas não são enganadas, as massas desejam o fascismo. pois nada falta ao desejo. ele está sempre completo. quer apenas a si mesmo. se não cuidamos de o preencher por nossa própria iniciativa, ao se abdicar de travar nossas guerras de libertação, o recalque imposto pelo campo social nos domestica. pela castração nos tornamos apenas corpos dóceis, úteis e tristes.

no matriarcado de Pindorama, a alegria é a prova dos nove. por que lutar? porque é assim que se experimenta a felicidade. porque é a única maneira de se preencher o desejo com vida. porque é a forma de se continuar vivo. para que não sejamos zumbis vagando na anomia.

nossa história tem sido uma sucessão de modernizações conservadoras e transições tuteladas, o que nos mantém aprisionados entre dois mundos: um definitivamente morto e outro que luta por vir à luz.

o preço dos pactos palacianos é pago com banhos de sangue, massacres após massacres. Palmares e Canudos. Cabanos, Malês e Balaios. milhares de camponeses e índios “desaparecidos” pela Ditadura Civil-Militar. o atual genocídio do povo negro nas periferias. as perseguições e mortes no cotidianos de mulheres e trans-sexuais.

a oligarquia colonial e escravocrata cunhou a lenda de uma “cultura cordial”, de uma “sociedade pacífica” e de um “povo bovino”. ainda assim, se registrou mais mortes violentas no Brasil, 278.839 entre 2011 e 2015, do que na guerra civil na Síria, 256.124 no mesmo período.

não apenas estamos em guerra, como sempre estivemos em guerra. agora se tornou obscenamente flagrante com o golpeachment, a ancestral guerra da plutocracia contra o Povo e a Nação.

não será com flores que venceremos esta guerra. será com Justiça.

não haverá restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, sem se reconduzir a casta do Judiciário à sua condição constitucional de “servidores públicos”. sem a democratização do Judiciário, colocando-o sob controle da soberania popular, da qual todo poder emana.

– Primeiro a sentença… depois o veredito.

– Mas que absurdo!, Alice disse alto. – Que idéia, ter a sentença primeiro!

– Cale a boca!, disse a Rainha, virando um pimentão.

– Não calo!, retrucou Alice.

– Cortem-lhe a cabeça!, berrou a Rainha.

há um pólo fascista: a regressão do Brasil a um status pré revolução de 1930, condenando o país ao modelo liberal periférico, com sua completa subordinação à Tirania Financeira global;

há um pólo libertário: uma descentralizada e autônoma profusão de atos e manifestações de re-existência contra o golpe, a emergência de um novo tipo de militância já não mais separada de um novo tipo de vida.

há uma crise de lideranças: um impasse fatal em meio a uma perigosa travessia.

não há nenhuma pax capaz de reconstruir a Democracia e refundar a República, sem se erguer sobre uma pedra fundamental: a anulação do impeachment inconstitucional.

em 1917 no Rio Grande do Sul, num protesto durante o enterro de um trabalhador grevista, a cavalaria da Brigada Militar investiu contra os manifestantes. com apenas 15 anos, Espertirina Martins jogou contra os soldados um buquê de flores. escondido dentro dele uma bomba. com a explosão a repressão recuou.

foto: elzauer

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Redação

22 Comentários

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  1. A nossa atual Espertirina, não usa bombas, só flores mesmo.

    Numa nação que “abaixou a cabeça” para as atuais barbaridades ocorridas diariamente, incentivadas que são pelos “Secretários da Juventude” e afins, todos coxinhas que patrocinaram o maior golpe contra uma democracia da era moderna, as nossas esperanças, residem em jovens como a Ana Júlia, que egressa do meio estudantil, e decepcionada com os atuais políticos, e a falta de verdadeiros líderes entre estes, resolveram enfrentar as armas dos golpistas, com flores de verdade, pois com bombas escondidas dentro, como fez a gaucha Espertirina, a sociedade civil deseducada e despreparada para tomar o Poder, e governar para o povo, não os veria como libertadores, e sim como guerrilheiros.

    Como a República Judiciária do Paraná, através da 13@ Vara da Polícia Federal, está conseguindo “calar” alguns líderes políticos surgidos nas últimas décadas, como Dirceu, Genoíno, Lula, e outros menos famosos, resta-nos pouquíssimas esperanças, em jovens líderes de movimentos populares, como o Guilherme Boulos, e líderes estudantís, como esta menina Ana Júlia. 

    1. Alice já não fala mais de flores

      ->não os veria como libertadores, e sim como guerrilheiros.

      sem dúvida, meu caro. mas note que a “bomba” é uma metáfora da capacidade de luta desta juventude, não uma bomba literal. daí a foto com a jovem portando um cartaz denunciando o usurpador como “Lesa Pátria”!

      temos muito a nos reciclar com esta juventude. por outro lado, ela tem muito a se valer de nossa experiência de vida. é com esta sinergia que derrotaremos o golpe!

      abraços

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  2. rentismo USP café bandeirantes barbárie

    “há um pólo fascista: a regressão do Brasil a um status pré revolução de 1930”

    Valiosíssimo relembrar isto – citar o marco de 1930 tão próximo ao termo fascismo. 

    O centro do fascismo – ou da marcha para a barbárie – no Brasil, é São Paulo, mas esse facismo não tira sua substância (e novos recrutas) de um vazio ou de nichos isolados culturalmente do resto da população (paulista). 

    “Polo facista”; “rentismo”; “café”; “USP” “bandeirantes”, “barbárie” e “status pré-revolução de 1930”

    Um estudo que ligue o que esses termos representam histórica e simbolicamente nos permitiria entender porque São Paulo gerou um ambiente tão permissivo e nutritivo para o crescimento da intolerância que sempre irrompe quando a desigualdade de renda é reduzida. 

    A redução das diferenças é também uma redução da sensação de superioridade de certas classes;

    o ódio contra a diversidade sempre irrompe quando a sensação de superioridade é reduzida;

     

    há algo ligando essas duas coisas – descobrir o que é esse algo e situa-lo em nossas particularidades sociais e históricas é a chave pra saída 

    1. Alice já não fala mais de flores

      é a “raça Planaltina”, Ciro.

      este fascismo que agora se escancarou, sempre esteve por aqui. nunca fomos cordiais, pacíficos e muito menos um povo frouxo. somos é marcados profundamente pela escravidão. ou seja: a crença em existir uma raça inferior, que nem humana é.

      “São Paulo LTDA.” é a sucursal no Brasil da Tirania Financeira, cujo projeto para o mundo é o “Relatório Lugano”, o genocídio executado cientificamente a nível global.

      aqui os Borba Gatos e Anhangueras continuam promovendo e incitando os massacres, dentro e fora dos presídios: “vamos limpar! vamos limpar!”. higienizar o “lixo humano”. sanitizar esta “escória”.

      do meu ponto de vista, toda esta crise e sofrimento que agora passamos não terá sido em vão se, ao menos, reconhecermos que não haver a menor possibilidade de acordo com esta plutocracia. só Antropofagia nos une.

      grande abraço

      p.s.: existe uma análise do Francisco Oliveira a respeito. “A Questão Regional: A Hegemonia Inacabada”.

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  3. FLORES E CONSCIENTIZAÇÃO

    É o extremo da irresponsabilidade política vir dizer que não cabe mais falar em flores, e mais irresponsabilidade ainda é sugerir que bombas sejam solução para enfrentar a violência repressiva.

    O povo não é burro como pretendem alguns pseudo iluminados, e a grande maioria da população não deseja fascismo nenhum, pois sofre na pele as consequências do arbítrio e da discriminação, que são as marcas dos fascistas.

    Urge falar de flores, sim, e sem esquecer de debater os espinhos e as formas de manejo das plantas que compõem a sociedade, pois é o cultivo democrático da conscientização e do resgate da legalidade constitucional a única forma de reverter os retrocessos, para preservar e ampliar os direitos sociais. As flores sobrevivem aos dias sombrios.

    1. Alice já não fala mais de flores

      -> e mais irresponsabilidade ainda é sugerir que bombas sejam solução para enfrentar a violência repressiva.

      não será com flores que venceremos esta guerra. será com Justiça.

      exato a justiça que não temos, que sempre nos faltou. nenhum acordo nos salvará. ou conseguimos anular o impeachment, ou nunca seremos uma Nação.

      ->e a grande maioria da população não deseja fascismo nenhum,

      infelizmente deseja sim. faz parte de nossa cultura, erguida sobre o genocídio da escravidão. não vamos superar isto negando que existe. mais uma vez, a via de superação é a construção coletiva da cidadania e da Justiça. por isto os golpistas devem ser responsabilizados, ou nunca teremos Justiça.

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      1. CONSCIENTIZAÇÃO DA SOCIEDADE

        Justiça não é vingança e, portanto, não se faz com bombas, nem com frases de efeito, nem tampouco com artifícios de semi-ótica. Justiça se constrói com a conscientização da sociedade, e com a capacitação dos indivíduos para exercerem a cidadania, através do exercício democrático da pressão institucional, fundamentada nos princípios éticos e jurídicos. E falar de flores às vezes é necessário para colirir um pouco os tons pesados dos debates técnicos e filosóficos, bem como para preservar a sensibilidade humana e a capacidade de amar. ‘Hay que endurercer se sin perder la ternura’.

        É exatamente o inexorável repúdio à abjeta chaga histórica do genocídio escravocrata, e ao extermínio discriminatório, que sustenta a convicção popular avessa ao fascismo. Se muitos fascistoides conseguem apoio para exercer suas perfídias, é em razão do ilusionismo midiático e da falta de alternativas adequadas, que desmobiliza tantos.

        Responsabilizar os golpistas é algo indispensável, mas que só será feito de modo eficaz quando o avanço da conscientização resultar na construção coletiva de um projeto político que agregue força eleitoral suficiente para constituir maioria parlamentar. Então será possível sanear todas as superestruturas da sociedade, pela via democrática, a partir das urnas, pois todo poder deve emanar do povo. Consciência é liberdade.

        1. Alice já não fala mais de flores

          -> Responsabilizar os golpistas é algo indispensável, mas que só será feito de modo eficaz quando o avanço da conscientização resultar na construção coletiva de um projeto político que agregue força eleitoral suficiente para constituir maioria parlamentar.

          o que se denomina “Democracia”, de Democracia pouco, ou nada, tem. a mãe de todas as democracias modernas, a Democracia dos EUA, já é concebida com uma série de filtros para evitar até mesmo a soberania do voto popular. esta “Democracia” nada mais é do que um regime político voltado para proteger uma minoria de proprietários contra a maioria de trabalhadores e excluídos.

          portanto, só a ingenuidade, ou a má-fé, poderia levar a se supor que alguma mudança efetiva da sociedade, para atender as demandas da maioria, se dê através desta “Democracia dos Plutocratas”.

          nada é mais contrário aos interesses da maioria do que uma política focada na via parlamentar. é um caminho ilusório e fadado ao fracasso. a Democracia se constrói nas ruas, nas greves, nas ocupações e em todo tipo de ação direta. só através do poder popular uma sociedade de fato se democratiza.

          foi exatamente por isto que o PT nasce como partido eminentemente não parlamentar. a participação nas eleições é importante, mas secundária.

          se para responsabilizar os golpistas for necessário primeiro constituir maioria parlamentar destro deste regime falsamente democrático, o impeachment jamais será anulado, os golpistas não serão responsabilizados e pouco restará do Brasil e de seu povo.

          tupi or not tupi. that is the question.

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        2. “Responsabilizar os golpistas

          “Responsabilizar os golpistas é algo indispensável, mas que só será feito de modo eficaz quando o avanço da conscientização resultar na construção coletiva de um projeto político que agregue força eleitoral suficiente para constituir maioria parlamentar”

          Até hj não conseguimos maioria parlamentar para responsabilizar os golpistas…. DE 64. Para não ser injusto, digamos que no final da década de 80 daria para puni-los, mas Castelo Branco estava morto, Costa e Silva estava morto, Médici estava morto, Lacerda estava morto. Tinham sobrado no máximo uns 10% de golpistas vivos.

          Por que 2016 aconteceu ??? Por que os filhos e netos dos responsáveis por 64 viram que quase todo mundo que promoveu aquele golpe SE DEU BEM !!! NINGUÉM, ABSOLUTAMENTE NINGUÉM, foi punido ou foi para a cadeia. Quem foi punido e quem se deu mal foi na divisão do Butim. Dividir os lucros é muito mais perigoso para os golpistas do que o golpe em si.

          Responsabilizar os golpistas é insuficiente. Precisamos Puni-los. E nada de 30 anos no máximo com liberdade com 1/6 da pena não… Se temos golpe em 2016, é pq nenhum golpista de 64 foi punido. Alias, traição a patria no Brasil não é crime. A unica punição que vc recebe é virar nome de rua, de avenida, de escolas e hospitais, etc…

          Por que Temer, FHC e Hélio Bicudo dormem tranquilos ??? Pq sabe que “quando o avanço da conscientização resultar na construção coletiva de um projeto político que agregue força eleitoral suficiente para constituir maioria parlamentar”, ele estará MORTO já. E se duvidar, morto há um bom tempo.

          E de 20 a 30 anos depois de uma futura redemocartização, teremos outro golpe… por que não se os golpistas de 2016 se deram bem ???

          Quando esse dia chegar, os únicos golpistas que poderemos mandar para a cadeia serão o Fernando Feriado e o Kim Kataguiri(Com uma pena de 3 anos, saindo apos cumprirem 6 meses, evidente). O Aécio poderia estar até vivo, mas o tipo de vida que ele leva é capaz de não ir mto longe.

          Só uma turba furiosa pode punir os golpistas a tempo. Hélio Bicudo tem 94 anos. Esse aí é um que se não formos rápidos, vai morrer em paz e não vai ter o destino que merece. Quantas pessoas não perderam os empregos e tiveram suas vidas destruídas por Moro ??? Para no fim ele morrer em paz, ou fugir para Miami ???

           

           

    2. Não é possível conciliação

      Não é possível conciliação com quem não a quer. A elite brasileira mostrou que não aceita nenhum tipo de conciliação.

      Se a Ex-querda, como o Arkx chama fracassou, a esquerda do “Mais amô pu favo” e da ciranda fracassou mais ainda.

      Temos uma esquerda (A que o Arkx chama de ex-querda) tentando violentar a segunda lei da faça, esperando que um vidro temperado quebrado (Aquele que vira milhares de pedacinhos) se reconstitui sozinho, ou tenta colar, tem uma esquerda festiva, alheia as grandes questões da sociedade, que acha que o amor irá dobrar os fascistas. Os Fascistas só recuam e se dobram diante da força. Bundaços, vomitaços e cirandas não resolvem nada.

      1. Alice já não fala mais de flores

        e aí!

        sabe um dos maiores riscos que talvez estejamos correndo? é aparecer um populista nacionalista de Direita, tipo Trump!

        e não vai ser nenhum grotesco Bolsonaro. tampouco Ciro Gomes. nem mesmo alguém saído do fundamentalismo religioso. mas pode até ser um general preparado, ponderado, inteligente e carismático. um Geisel, mas com apelo popular.

        ou a Esquerda assume a iniciativa, apresenta propostas, lidera um movimento nas ruas, ou o que resta do tecido social brasileiro vai se decompor completamente. então, estarão dadas as condições para a via autocrática pela Direita.

        estive me informando de como foi que o Putin colocou de joelhos a oligarquia russa pró EUA. as semelhanças com o Brasil atual são estarrecedoras.

        abraços

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        1. Não tenho dúvida disso, mas

          Não tenho dúvida disso, mas apostaria em alguém que, se não for um fundamentalista religioso, será do meio evangélico. Não considero o Crivella um fundamentalista, acredito até que possa ser ele o nosso “outsider”.

          Quem faz trabalho de base no Brasil atualmente ?? Quem está infiltrado em cada biboca desse país ??? Outro dia eu fui comprar pão, e no caminho, descobri mais uma ingreja evangélica nova.

          Ninguém dá uma caminha de meia hora na rua no Rio de janeiro sem passar por pelo menos 10 igrejas evangélicas. Quanto mais pobre o bairro, mais igrejas.

          Os Evangélicos são uma força a espreita do fracasso desse governo. Considero-os hoje uma alternativa muito mais viável aos neoliberais do que a esquerda.

           

          1. Alice já não fala mais de flores

            -> Quem faz trabalho de base no Brasil atualmente ??

            -> Os Evangélicos são uma força a espreita do fracasso desse governo. Considero-os hoje uma alternativa muito mais viável aos neoliberais do que a esquerda.

            é verdade! é verdade!!

            ainda assim o fator Trump deve ser analisado e considerado. não sabemos ao certo o que o topetudo vai fazer. mas já sabemos bastante de como ele derrotou o establishment dos EUA: angariou os votos dos “perdedores” com a globalização, com a promessa de recuperação dos empregos.

            só que prá fazer isto vai ter que enfrentar Wall Street. daí agora os EUA experimentarem a desestabilização política interna que por tantas vzs patrocinaram pelo mundo afora.

            do mesmo modo, um outsider no Brasil teria que confrontar com os donos do dinheiro aqui. dadas as relações promíscuas da política da teologia da prosperidade com a plutocracia brasileira, principalmente os banqueiros por óbvios motivos, não seria provável que entrassem em choque, mesmo tático.

            veja como agora com os massacres nos presídios ficou tb ainda mais escancarada a ligação do governo usurpador com os cartéis do narcotráfico brasileiro.

            seja como for, o “outsider” Trump faz parte dos 1%. representa um racha na elite global. no Brasil, Marcelo Odebrecht está ainda na cadeia. e o vice Almte. condenado a “apenas” 43 anos. por isto o outsider aqui vai acabar sendo um militar. ou… alguém oriundo do aparelho do Estado, mas completamente sem rabo preso com ele.

            seja como for, o atual setor dominante já demonstrou não ter capacidade para resolver esta crise. não vai ser um caquético FHC (ouvi aqui do meu lado: “aquilo já é uma múmia viva…”), ou um Napoleão dos Pampas (Nélson Jobim). muito menos os meninos de Curitiba.

            divagações, meu caro. conjecturas.

             

             

          2. Alice já não fala mais de flores

            p.s.:

            este “outsider” tem que ser alguém que tenha um projeto de país e independência qto aos atuais oligarcas. alguém do próprio setor dominante que seja capaz de botar um rumo neste caos.

            daí a referência a Geisel, que sabia ser inviável a manutenção da Ditadura. estabeleceu o mapa do caminho da lenta, segura e gradual distensão. ao mesmo tempo formulou o II PND. uma saída autocrática à Direita. mas desta vez acrescida do populismo, da ampla participação popular – o que faltou a Geisel.

            foi este apoio popular o que possibilitou a vitória a Trump. e é como Putin conseguiu se firmar. foi assim tb que Hugo Chavez derrotou o golpe em 2002. o povo na rua apoiando Erdogan em 2016.

            pode mesmo ser alguém que consiga “capturar” a base evangélica, via uma bandeira de moralização da política, contra a corrupção generalizada, inclusive nas próprias igrejas neo pentecostais! mas sem estar submetido aos seus grupos dominantes de bispos.

            um dos fatores mais decisivos será as mudanças na geopolítica internacional. não interessa ao projeto de um mundo multipolar o enfraquecimento dos BRICS, via a destruição do Brasil. isto só é de interesse do Império do Caos.

            como vê, ainda mais conjecturas…

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    1. Alice já não fala mais de flores

      Paula Toller. lolitas.

       

      Toda menina já foi Lolita na vida

      Não por amor, mas por desejo de poder

       

      Preencho meu tempo

      com a sua vontade

      Preencho seu tempo

      com a minha idade

       

      Você pensou que me ensinava

      Bebia na fonte da juventude

      Mas era eu que bancava o jogo

      Mas era eu que possuía seu corpo

       

      Você pensou que se divertia

      sabia como me dominar

      mas era eu que sabia fingir

      mas era eu que te fazia sonhar

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=dEdCnM4Fg6o&index=9&list=RDHxqfazzi87k] [video:https://www.youtube.com/watch?v=dRmbgjJ6wfY].

  4. Discordo um pouco

    Eu concordo com sua premissa de que a violência imposta ao povo brasileiro merecia resposta à altura.

    Mas mandar menininhas de 15 anos para o moedor de carne? Mesmo?

    Eu vou para as ruas quando milhões – MILHÕES E MILHÕES E MILHÕES de brasileiros- forem para as ruas também, dessa vez REALMENTE querendo salvar o país. De outro modo, não vale a pena. É dar a vida (mesmo mediocre) a uma causa perdida. No thanks.

    Claro que ainda posso ir para o moedor de carne de qualquer outra forma, tenho consciência disso. Posso ser (ainda mais) perseguida e acabar demitida, por exemplo. Posso ser assassinada por alguém infinitamente mais miserável que eu. Etc.

    Mas não vou tentar salvar meu país se a maioria dos meus queridos conterrâneos não quiserem salvar também. Vou afundar junto com eles em silêncio bovino, decidi que vou ser parte dessa mediocridade toda, que aliás parece mais e mais inelutável.

    Você já parou para pensar quantas pessoas sabem minimamente o que aconteceu no Brasil no ano passado? A gravidade do que aconteceu? Pouquíssimas pessoas. Uma minoria. Uma minoria intelectualmente um pouco menos embotada. Quantos lêem o Nassif ou qualquer outro jornalista minimamente independente no Brasil? Uma minoria de pessoas em geral remediadas e inteligentes, que contrasta com a maioria imbecil e insensível.

    A MAIORIA repete os jargões da Globo e pronto. Os mais “sofisticados” repetem os jargões da Veja. Isso, REALMENTE, tem um peso. A lavagem cerebral é forte e o nível educacional é baixo. Por isso mesmo o esforço dos estudantes brasileiros é tocante – mas infelizmente inócuo.

    Ouço o que a maioria das pessoas tem a dizer. O que tenho ouvido nas ruas, nos parques, nos supermercados é a repetição do que a mídia quer que “pensem”. Nada mais. O negócio é quase sempre muito, muito pobre mesmo, encontrei raras (e marginalizadas) exceções para essa pobreza asfixiante e reinante.

    Claro, há a internet hoje, que pode até pôr em relativo risco a uniformidade de opinião e o consenso que a imprensa fabrica há séculos. Mas mesmo esse risco está sendo devidamente neutralizado, não sei se você tem percebido.

    Somos minoria, caro ARKX. Digo isso com o coração pesado. É verdade que eu tenho estado mais pessimista que o normal, mas ao mesmo tempo… não posso me importar tanto se a esmagadora maioria não se importa e é extremamente idiota, prefere acreditar no que lhe dizem incessantemente, do que na própria experiência vivida. Então é um pouco libertador não me importar tanto mais, apesar do coração pesado.

    No último ano eu obviamente me desiludi um pouco mais com este mundinho – o que é sempre risível pela infantilidade da coisa. No entanto, não acho que o povo brasileiro seja mais ou menos “fascista” que outros povos. O que acontece, como diria o grande Orwell, é que não há “Nada a temer do lado dos proletários. Abandonados a si mesmos, continuarão trabalhando, reproduzindo-se e morrendo de geração em geração, século após século, não apenas sem o menor impulso no sentido de rebelar-se, como incapazes de perceber que o mundo poderia ser diferente do que é.” (Orwell, 1984)

    “As massas nunca se revoltam por iniciativa própria” (Orwell, 1984). Historicamente, essa frase é correta. Então entendo seu desespero e o de tantos outros, o meu mesmo, pois pensei que uma situação economicamente muito ruim, mais a imposição de regime de trabalho brutal pudessem ligar o modo “fuck off” das pessoas. Acho que não funciona assim para todos. O ser humano se adapta rápido a quase tudo que é situação – o que pode ser bom ou extremamente ruim.

    Quanto a suas colocações sobre Trump, bem… até parentesco com Hillary ele tem. “Eles” lá daquele 1% em geral têm parentesco mais ou menos distante uns com os outros.

    Já disseram, mas eu repito: a política virou um teatro, ou melhor, um reality show vagabundo com o fim último de ferrar o povo – em todo o Planeta está ficando assim.O último presidente americano que genuinamente quis fazer algo por seu povo foi devidamente assassinado, a família toda está praticamente dizimada hoje. Nenhum herdeiro político de peso que eu saiba.

    Se Trump for tirado do poder por algum motivo inventado como Dilma ou for assassinado (e o assassinato não for um hoax com algum motivo espúrio, tipo causar uma guerra civil ou o que o valha), aí eu vou concordar que ele quis genuinamente fazer algo pelo povo do país dele. De outro modo, é só mais da mesma mediocridade.

    Quanto à Rússia como contrabalanço dessa porcaria toda… digamos que eu começo a concordar mais e mais com Orwell nesse quesito também. A Guerra Fria nós sabemos que teve muito de teatro, Hobsbawm explica melhor que ninguém isso.

    Quanto a mulheres e questões de gênero, eu não adoro o Pinker, mas você devia ler o que ele e, em geral, a Neurosciência tem falado sobre o assunto. Há muito de construção cultural em ser mulher ou homem, sabemos. Mas a biologia é um negócio bem forte também, não é algo desprezível.

    De todo modo, há mulheres valentes por aí, com alto senso moral, eu diria que a maioria é assim. Por isso mesmo há uma guerra sutil (ou não tão sutil) contra as mulheres em andamento. Afinal, em uma sociedade capitalista, gigante e complexa, quem precisaria mais de um Estado que ponha o ser humano em primeiro lugar do que as mães? Quem precisa de ajuda com educação, com formação de pessoas? No entanto, o mundo está cada vez mais anti-materno e o machismo está “alive and kicking”.

    Sem querer parecer condescendente, pois você é obviamente um ser humano inteligente – senão eu não perderia meu tempo te lendo -, sugiro que vc leia mais Orwell do que Foucault. Orwell não foi apurrinhado (talvez até assassinado) pelo serviço secreto inglês a troco de nada. Ele dizia umas verdades, ao invés de negar sua existência.

    1. Alice já não fala mais de flores

      oi!

      fui hoje ao cinema. assistir ao comentadíssimo “Eu, Daniel Blake”. achei uma boa porcaria. previsível e conformista. apático e derrotista. chato e sem vitalidade.

      mas no saguão de entrada das salas, tive o grande prazer de encontrar o Silvio Tendler. fiquei honrado dele ainda me reconhecer. chegou mesmo a revelar que estava tentando entrar em contato. gostaria que eu lhe repassasse as cenas que filmei no enterro do Glauber Rocha.

      sai da sessão com um pensamento fixo. foi como se o insistente espectro de Glauber Rocha estivesse gritando e sussurrando ao meu ouvido:

      “que é mais nobre para a alma: sofrer os dardos de um destino cruel, ou pegar em armas contra um mar de calamidades e contra elas lutar até dar-lhes fim.”

      logo mais à frente me deparei com um cara conhecido que sempre por ali está. vende DVD pirata. ele e seus fregueses, assim como outros vendedores ambulantes em torno, todos discutiam a situação do país.

      e eu querendo entrar na conversa. mas o maldito espectro de Glauber não me dava paz. sem deixar de me rondar, agora aos berros:

      “e é assim que a consciência nos transforma em covardes, é assim que a força inicial de nossas resoluções se debilita na pálida sombra do pensamento e é assim que as empreitadas de maior alento e importância deixam de ter o nome de ação.”

      quando enfim pude escutar com mais atenção aquele inflamado debate no meio da rua, ouvi claramente o camelô dizendo:

      “esse Sérgio Moro também é bandido. isto aí é uma guerra de facções. são tudo facções. brigando entre si para o quê? para roubar a gente! para roubar o povo!”

      aí agora leio este seu comentário sobre “menininhas de 15 anos” indo para o moedor de carne…

      bem… ir para o moedor de carne, vamos todos nós. ou como Daniel Blake, reclamando sozinho, sem nunca ser capaz de criar uma alternativa coletiva. ou… ou como mesmo?

      outra coisa, essas “menininhas de 15 anos”, essas maravilhosas lolitas, não apenas sabem muito bem o que querem. como muito tem a nos ensinar a todos.

      abração

      .

       

    2. Alice já não fala mais de flores

      ->Vou afundar junto com eles em silêncio bovino, decidi que vou ser parte dessa mediocridade toda, que aliás parece mais e mais inelutável.

      para que não haja qualquer dúvida, minha réplica anterior pode ser resumida assim:

      seria um despropósito total “afundar em silêncio bovino”. aliás, nem tente. vc não vai mesmo conseguir se mediocrizar assim.

      ..

      1. Obrigada

        Obrigada pela resposta cavalheira, ou seja, generosa.

         

        Vai parecer desculpa barata, mas escrevi meu comentário quando estava mais pra baixo que o normal. Então ele tem vastas contradições e evidentemente é derrotista e me faz parecer um clichê ambulante, com essa minha recente raiva do “povo braileiro” – que nem do povo brasileiro é. É apenas dos mesquinhos que habitam estas terras.

        O negócio é que olhei a foto da menina e pensei em tantas outras e outros que foram torturados e/ou morreram por isso aqui. Aquelas histórias tristes dos anos de chumbo por exemplo… valeu a pena? Vale a pena?

        Mas eu sei que a minha perspectiva é toda arrogante: é a perspectiva de quem ainda tem escolha. Quando eu não tiver mais, vamos ver. 

        Agora, o que me dá raiva mesmo é que tudo isso só ocorreu/está ocorrendo no país, porque nossa educação é um lixo. Não estou dizendo que não exista fascismo ou idiotia no mundo, mas pensemos no que aconteceria em qualquer país europeu se tentassem convencer a população de que quase não há mais água, mesmo chovendo? Ou mesmo com um dos maiores aquíferos no subsolo?

        Somente em um país como o Brasil a população toda de uma cidade se deixa convencer de que a água é escassa, mesmo chovendo todos os dias. A mídia reina em países como o nosso. E eu me lembro de que nossa mídia já foi um pouco melhor. Ou talvez eu fosse mais ingênua, não sei.

         

        sai da sessão com um pensamento fixo. foi como se o insistente espectro de Glauber Rocha estivesse gritando e sussurrando ao meu ouvido:

        “que é mais nobre para a alma: sofrer os dardos de um destino cruel, ou pegar em armas contra um mar de calamidades e contra elas lutar até dar-lhes fim.”

        Acho que a escolha é mais entre “sofrer” ou “pegar em armas contra um mar de calamidades e contra elas lutar mesmo sem dar-lhes fim”. 

        Você definitivamente me lembra alguém. Digo mais pelo seu modo de escrever, do que por sua foto.

        Aquela imagem do Dali… encontro-me lá no momento.

        Tudo de bom.

         

        1. Alice já não fala mais de flores

          -> Vai parecer desculpa barata, mas escrevi meu comentário quando estava mais pra baixo que o normal.

          no início do noite de ontem, 12/01, estive no centro do Rio de Janeiro numa reunião do Movimento pela Anulação do Impeachment. após o ato-debate de SP, as expectativas, não apenas minhas como de outros participantes, eram enormes.

          foi decepcionante constatar como muitos dos presentes, principalmente aqueles com vínculos estreitos com o PT, ainda estão em estado de negação da realidade.

          ao serem contestados com a argumentação de que uma volta de Dilma não pode apenas repetir os mesmos erros que ela cometera: o Plano Levy, seu inepto Ministro da Justiça, propor e sancionar a Lei Anti Terrorismo, as indicações para o STF, etc.. uma das veementes senhoras inacreditavelmente falou: “Não quero nem saber se a Dilma depois de voltar vai botar mais 20 Ministros de Direita no STF!” e puxou um coro de “Volta, Dilma”, que não empolgou mais do que uns  40% do auditório.

          este golpe está anunciado desde o Mensalão. a crise global de 2008 e Junho de 2013 foram dois momentos cruciais para as contra-medidas que evitariam o golpe. mas o governo e quase a totalidade da Esquerda seguiram em frente. direto para o golpe.

          então se vai todo empolgado a uma reunião, apenas para se verificar que os velhos erros ainda não foram superados.

          ao se ficar entre este pessoal, que ainda não querem acordar para o real de um golpe em muito gestado pelos erros do próprio governo e da Esquerda, e entre a grande massa brutalizada, só se vai ficar prá baixo mesmo.

          certo estão os secundaristas. sabem que sua única chance de sobreviver é construir uma alternativa.

          é como no filme “Eu, Daniel Blake”. o que Daniel Blake enfim deseja? apenas receber o seguro desemprego para continuar com sua vida triste e sem sentido?

          da contraposição entre Daniel Blake e outro filme em cartaz, “Capitão Fantástico”, há muitas lições e perspectivas de vida para serem avaliadas e adotadas.

          o que está acontecendo é o social e o individual estarem envoltos no mesmo impasse. é uma profunda crise geral.

          abraços

          vídeo: “Capitão Fantástico” – cremação

          [video:https://www.youtube.com/watch?v=3rdNdzzVkUU%5D.

  5. Alice já não fala mais de flores

    Julia_1984 para arkx_2017:

    -> O negócio é que olhei a foto da menina e pensei em tantas outras e outros que foram torturados e/ou morreram por isso aqui. Aquelas histórias tristes dos anos de chumbo por exemplo… valeu a pena? Vale a pena?

    como poderemos responder por uma vida que não a nossa? a única pergunta que deveríamos responder é: minha vida está valendo a pena?

    mas talvez o grande mistério da vida, seja que ela nada mais é do que as histórias que vivemos. e estas histórias são vividas para serem contadas.

    então, vem a parte mais misteriosa e fascinante. ao serem narradas, nossas histórias se entrelaçam com as histórias de quem ouve. já não são apenas nossas, do mesmo modo que as histórias das outras pessoas já não serão apenas delas.

    assim, quem somos nós para dizer se vale a pena…

    .

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