Aranha, em entrevista, fala do racismo dentro e fora do campo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O goleiro Aranha disparou no programa Fantástico, da Rede Globo, “eu tenho dó dela”, sobre a jovem que o ofendeu em jogo. “Às vezes a gente deixa passar, finge que não ouve, mas por dentro dói”, completa ele. Aranha é goleiro do Santos e desabafou no programa sobre as ofensas sofridas na fatídica partida.

Com 33 anos de idade e 15 de futebol profissional, ele se sentiu acuado no estádio ao ser ofendido por torcedores do Grêmio, no dia 28 de agosto. Cinco agressores foram identificados até agora e a jovem Patrícia Moreira acabou se tornando a bandeira negativa do ato de racismo da torcida.

Segundo Aranha, os torcedores iam até a ‘muretinha’, como se fossem saltar em cima dele, e ele estava preparado para o ‘o que der e vier’. Ele achou que iriam atacar pois demonstravam muita raiva, estavam muito nervosos. Mas, como já fez muitas vezes ali mesmo, “a gente escuta e finge que não ouve”.

No dia 28, no entanto, Aranha não fingiu. Quando começaram a imitar o som de macaco, ele não aguentou e falou, “ah, vou ter que estourar, é agora, não tem jeito”. Segundo ele, às vezes é preciso dar uma de louco, “senão ninguém presta atenção, ninguém te escuta”.

O goleiro diz já ter passado por esta situação antes, “no futebol isso, infelizmente, é normal”. Afirma ele que o problema é de todos, diferente do que se faz normalmente, quando os próprios ofendidos, os clubes e “todo mundo”, afirmam que não representam os torcedores, que são uma minoria. “Mas a minoria manda? Se tinha duas mil pessoas ali atrás e cinco estavam tomando essa atitude, por que as outras pessoas não cobraram delas uma postura melhor?”, questionou ele.

O Grêmio, que ainda pode ser punido com a exclusão da Copa do Brasil, já identificou cinco agressores até agora. A moça Patrícia Moreira entre eles.

Ao ser indagado o que achou de Patrícia, quando ouviu ela gritando ‘macaco’ e aquela imagem fechada nela, Aranha disparou, “tenho dó dela” e completou, “como ser humano e pelas consequências”. Patrícia perdeu o emprego, a casa dela foi apedrejada e ela deve depor na polícia de Porto Alegre.

Aranha diz que o rap o ajudou a enfrentar preconceitos. “Eu tive a felicidade de aprender muito com o rap, porque esse pessoal, como sempre, foi um pessoal sofrido e acusado e agredido”, disse ele ao Fantástico, “é um pessoal bem informado sobre política, sobre religião, sobre a sua história, a história de seu país”. “Como na periferia a gente ouve muito isso, porque é aquilo que está na nossa realidade, eu cresci preparado para esse tipo de situação”, afirmou ainda.

O goleiro disse que, fora dos estádios, também sofre com o racismo. “A gente vale o que tem, ou o nome que tem”, disse ele, “eu sei que muitas vezes eu não sou aceito, eu sou tolerado, porque eu sou goleiro do Santos, bicampeão mundial, porque eu tenho um carro bonito, porque eu compro isso, eu compro aquilo”, explicou, “então muitas vezes eu sou tolerado, não sou aceito”. Aranha conta que já morou em prédios onde não davam nem bom dia, e sua família é testemunha disso.

O enteado de Aranha, Bernardo, de 13 anos, se disse assustado e triste, “porque não esperava que esse pensamento ainda estava na cabeça das pessoas, pensava que tinha acabado”, lamentou. Diz ele que entrou em uma rede social para dar apoio ao pai, “eu fiquei quietinho, na minha, pensei em ir lá e escrever ‘eu já cansei disso, que isso é uma palhaçada e que eu tenho orgulho de ter um pai negro’”, conta. Depois telefonou para Aranha e disse, “força, pai, eu te amo”.

A mulher do goleiro, na entrevista, disse conversar antes com pois sabe que na escola vai ter polêmica, na linha do “o que aconteceu com o seu pai”,  e se disse feliz pois são maduros, “o futebol amadureceu até os meus filhos”, completou.

Após o episódio, Aranha citou Martin Luther King em seu comunicado, famoso ativista americano assassinado em 1968 que lutou pela igualdade racial. Ele usou a famosa frase do ativista “I Have a Dream”, “que ele fala que tem um sonho que todas as pessoas fossem julgadas não pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter”, disse o jogador.

Perguntado sobre a melhor punição para que isso não voltasse a acontecer nos estádios, Aranha disse que a moça nunca mais vai pisar na Arena e que outras pessoas vão falar “se eu tomar uma atitude dessas, se eu for flagrado, eu nunca mais vou acompanhar o time que eu gosto”. Ele entende que o futebol está caminhando para um lado de empresa, de espetáculo, “mas as pessoas que vão assistir têm que se comportar como tal”. Para ele, a melhor punição é esta, a de que a pessoa nunca mais pisar no estádio, em um lugar público. Quanto à moça, ela o xingou, disse ele, “mas tinha vários outros negros ali”, finalizou.

Com informações do Fantástico e G1

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

16 Comentários

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  1. pobre Brasil

    Esta  muito claro  que  todo esse movimento de segregaçao racial é resultado das politicas discriminatórias do PT.

    Para dividir seus inimigos  separa descaradamento : o branco e o preto, o rico e o pobre, o homo do hetero, o nordestino do sulista.

    É resultado da politica do ..nós   contra  eles..

    Seja bem vinda MARINA.

    Vamos varrer  essa  corja do poder.

    Somos  todos iguais ..até  petistas e não  petistas.

    Acorda Brasil

    1. lineu no país errado

      lineu se voce tivesse falando dos estados unidosou europa até vai,mas falar que este governo ta segregando?

      ele esta incluindo meu filho e os sempre privilegiados nao vao gostar,mesmoganhando tambem.lineu nao demonstre

      ser tao acultural ou cego ou ignorante.

       

      1. Incluindo? rsssssss. É

        Incluindo? rsssssss. É obrigação do Estado incluir as pessoas incluindo a Educação que é um dever do Estado que não dá vagas para todos que querem estudar e acabam indo para Faculdade privado por  exemplo. Não dêem uma de pró partido não. E a Justiça deveria garantir a vaga grátis até mesmo em escolas privadas e o Estado pagar. A Constituição Federal tem a parte que diz que a Educação é um dever do Estado. Agora ser incluído por cotas não há meritocracia e isso não é bom. Eu sou a favor da inclusão de todos, que tenha vagas para todos em se tratando de qualquer Governo, é obrigação na Saúde, Educação. Não dá mais para o cidadão achar que Governo isso Governo aquele fez e que maravilha, já que é obrigação. 

    2. É isso aí, apoio Marina.

      É isso aí, apoio Marina. Marina é negra da Amazônia. Conviveu com certeza armonicamente com as pessoas de todas as raças do país e sem discriminar ninguém. Esse negócio de cotas não resolve o problema por que o racismo é falta de consciência. Consciência é aceitar o outro como ele é. E também se a Educação é um dever do Estado, por que tantos tem de pagar Faculdade por que falta vagas para todos?. Vergonha Dilma. 

      1. Você parece ter os mesmos

        Você parece ter os mesmos problemas de entendimento que a sua candidata. Cotas não são para acabar com racismo, mas para diminuir desigualdades de condições e oportunidades, desigualdades estas que não foram criadas por Deus, como acredita sua candidata, mas por seres humanos interessados em explorar uns aos outros. Em nenhum país do mundo, seja ele capitalista, comunista, tribal, liberal, o escambau, o racismo e o preconeito acabaram, mas as vítimas de racismo e preconceito tiveram seus direitos reconhecidos em muitos deles. Vergonha mesmo é não saber diferenciar as coisas e jogar tudo no mesmo balaio e viver a repetir clichês que uma emissora de tv dita para você. Onde é que falta vagas para todos? De que todos você fala? Você quer vagas no ensino superior para 200 milhões de brasileiros? Acorda, pois foram os governos petistas que promoveram a política de aumento de vagas no ensino superior. Mas fica tarnquilo, que sua candidata vai tratar de diminuí-las, pois o programa de governo dela é neoliberal; você sabe o que isso significa?

  2. Alvíssaras!

    Um jogador negro de futebol consciente das coisas da vida? Oba! Vou mandar essa entrevista para Neymar e Ronaldinho Gaúcho, dois inúteis que em nada contribuem para a conscientização dos jovens brasileiros. Não sabem nem quem foi Martin Luther King e quem é e o que fez Muhammad Ali!

  3.  Dizem que a moça não é

     Dizem que a moça não é racista- vários amigos comprovam isso.

          Mas a psicologia diz: Tudo aquilo que vc fala alcoolizado ou drogado,vc pensou enquanto sóbrio.

                 E adrenalina de uma partida de futebol,não é  quase uma droga ? –Muitas x pior.

                Pois é…

                       No mínimo dos mínimos,segundo a psicologia,uma racista enrustida.

  4. A pessoa vai ao estádio para gritar frases racistas

    É muita falta de consciência. Ao invés de aproveitar o jogo, vibrar com a disputa, com os grandes lances e torcer de forma saudável, vai para humilhar os outros. Isso é um negócio de débil mental infeliz. Tenho pena nenhuma dessa menina e dos seus colegas racistas. Quero mais é que ela seja condenada pelo que fez. Inadmissível no mundo de hoje alguém achar que ser racista é algo normal ou tolerável. Não, não é. Fez porque quis intencionalmente ofender, imputando qualidades negativas ao Aranha por ele ser negro. Vergonhoso isso.

  5. Racismo nao se cura com leis,

    Racismo nao se cura com leis, a doenca eh do intimo das pessoas. Faco parte de quem concorda com Morgan Freeman e Thomas Sowell, para acabar com racismo temos que deixar de falar que tudo eh racismo. 

    Tudo bem, ser chamado de macaco pela torcida “da nos nervos”, mas o Aranha poderia ter feito uma limonada, fosse ele mais espirituoso, poderia ter feito um “coracaozinho de mao” ou mandar um beijinho de ombro para a vagaba sem  nocao e torcida do tricolor da Azenha. Teria muito mais influencia contra o racismo que essa barrafunda que o fato ocasionou nas redes sociais, que queiram ou nao, sao refletetores do pensamento medio brasileiro.

    Em tempo: fosse eu o Aranha, insinuaria a genitalia para a torcido do GFPA.

     

  6. O racismo no futebol

    O racismo no futebol brasileiro eh tao evidente que salta aos olhos. Barbosa nao passou o calvario de sua vida por nao defender a bola de Giccia, mas simplesmente (acho eu) porque era negro. Afinal, sempre foi nosso pensamento, o goalkeeper (e juiz tambem) eh uma funcao muito importante para deixar na mao de negros. 

    Foi assim durante toda a minha vida de acompanhar futebol, dos anos antigos 70s, goleiros negros so me lembro de Neneca do Guarani de Campinas, Manga (acho que era pardo) e Rubao do Metropol. Agora recentemente, ainda bem, surgiu uma grande geracao de goleiros negros, Dida, Edson Bastos, Aranha, aquele do framengo, e mais um monte.

  7. Assunto esgotado

    Esse assunto tomou uma dimensão além do esperado. O Grêmio já pediu desculpas públicas, já baniu eles de assistir jogos. A policia foi acionada e está sendo eficiente, mas do que prender bandidos e ladrões. Foi uma vergonha sem tamanho para o povo gaúcho. 

    Esses racistas ficaram marcados para o resto de suas vidas, as suas atitudes custarão caro a eles por muitos anos, Vão responder processo e podem dormir uns anos no xilindró, o que acho justo para outros racistas serem mais comedidos. Mas chega! 

    O racismo em uma sociedade multiracial como a nossa é um fator que teremos que conviver e punir, nunca será extinto só minimizado. Existem leis para isso.

    Agora vamos arrumar outros assuntos que estão presentes no dia a dia.

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