Autor de PL que criminaliza apologia à ditadura, vai convocar Alvim para a Comissão de Direitos Humanos

Alvim citou trechos de uma fala do ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, ao anunciar a liberação de R$ 20 milhões para o Prêmio Nacional das Artes.

Autor de PL que criminaliza apologia à ditadura, vai convocar Alvim para a Comissão de Direitos Humanos

por Nathalia Bignon

Se permanecer no cargo depois do tsunami de críticas provocado por seu pronunciamento recheado de apologia ao nazismo, o atual secretário de cultura do Governo Bolsonaro, Roberto Alvim, não deverá ter paz. Nesta sexta-feira (17), o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry afirmou que pedirá a convocação do secretário, para que ele preste esclarecimentos na Câmara dos Deputados.

Jerry, que é membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Casa, é autor de um projeto de lei que criminaliza a apologia ao retorno da ditadura militar, tortura ou a pregação de rupturas institucionais. Apresentado em março de 2019, às vésperas das festividades convocadas por Jair Bolsonaro para o aniversário de 55 anos do golpe militar, a proposição segue à espera do parecer do relator na Casa, deputado Túlio Gadelha (PDT-PE).

“Ou Jair Bolsonaro demite Roberto Alvim ou assume também escancaradamente sua face nazista. Em seu discurso, o secretário escancarou a propaganda nazista, citando e imitando Goebbels, o auxiliar de Hitler, o que é uma afronta a judeus e a todos os democratas. Um acinte que não pode passar impunemente. Silenciar diante da monstruosidade desse secretario é ser cúmplice dele. Vamos convoca-lo para prestar esclarecimentos tão logo retomemos os trabalhos. Deve explicações ao Brasil!

Veiculado na noite da última quinta-feira, Alvim citou trechos de uma fala do ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, ao anunciar a liberação de R$ 20 milhões para o Prêmio Nacional das Artes. Em um trecho do discurso, ambientado com as mesmas características do vídeo nazista, incluindo uma ópera de Richard Wagner, decisiva na vida de Hitler, ele cita que “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada”.

O discurso de Joseph Goebbels, proferido em 8 de maio de 1933, no hotel Kaiserhof, em Berlim, o ministro de Adolf Hitler dizia: “a arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.”

O discurso de Alvim levou a uma enorme onda de críticas na web, fazendo a hastag Goebbels ser uma das mais citadas no Twitter. Nesta manhã, o secretário usou suas redes sociais para se eximir de qualquer responsabilidade. Em um texto publicado no Twitter, ele afirmou que houve uma “coincidência retórica” e culpou a esquerda brasileira por produzir uma falácia quanto ao seu discurso.

Redação

1 Comentário

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  1. Nem se discute se a fala de Roberto Alvim foi mera coincidência, é óbvio que não foi. E é bom prestarmos atenção em medidas efetivamente nefastas mas que ganham menos visibilidade midiática. A menção ao conhecido discurso nazista, ainda mais trazida no fim-de-semana, serve perfeitamente como cortina de fumaça para ações mais nefastas que uma simples fala. Ser falado, ainda que mal-falado (ou especialmente se for mal-falado), é tática recorrente aqui e em outros países sob o golpe que os capitalistas estão atualmente tocando. Ou os capitalistas estão contando com nossa impotência para reação, e por isso tripudiam sobre ela, ou pior: contam com nossa cumplicidade eventualmente inconsciente já que muitos de nós só reclamam porque não estão no topo – muitos querem ou acham que precisam de poder e dinheiro – e não pela indecência e barbárie desse golpe. De qualquer forma, se não soubesse de sua impunidade, ainda que apenas temporária – Goebbels e Hitler também achavam que o III Reich era para ficar – o ministro não estaria zombando assim das nossas caras.

    Da próxima criemos mecanismos que impeçam a chegada de corjas da elite como essa à mídia e, consequentemente, ao poder.

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