Comissão de Justiça e Paz repudia ação das polícias em Vitória

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Reprodução TV Gazeta

Jornal GGN – As Polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária Federal juntaram-se para uma megaoperação no Morro Jesus de Nazareth, em Vitória, no dia 17 último. O objeto era coibir traficantes e organizações criminosas, mas deixou refém toda a população. O saldo da ação de 380 policiais foi a apreensão de cinco armas e seis pessoas. Como suporte ao forte e armado contingente, juntou-se um helicóptero e uma lancha da PF.

Moradores se assustaram com a movimentação. “Foi irreal”, disse um morador, “foi um pouco exagerada a ação, você não vê mortes, trocas de tiros aqui em cima, os moradores são tranquilos”, completou.

A Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, soltou Nota Pública repudiando a ação dos policiais e no fato de terem transformado os moradores da região em “pretensos criminosos”, com suas casas invadidas por força de mandado de busca e apreensão “genérico e inconstitucional”.

Leia a nota a seguir.

Da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória

 “Que direito tens de esmagar e arruinar o meu povo? Onde pensais chegar moendo o rosto do pobre? (Isaías 3, 15)

NOTA PÚBLICA

A Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, na sua missão de defender incondicionalmente a vida, vem a público manifestar indignação e perplexidade com a recente operação policial realizada no Bairro de Jesus de Nazaré. Fazemos isso para reafirmar a opção preferencial da Igreja pelos pobres, consagrada em seus documentos oficiais, e por compreender que é no rosto do excluído que reconhecemos o rosto do Cristo sofredor (cf. Mt, 25, 31-46).

Segundo a imprensa local, a operação contou com a presença de 380 policiais oriundos das diversas Instituições Estaduais e Federais (PM, PC, PF, PRF) que atuam em território capixaba e se dirigiu indistintamente a todo território daquele Bairro. Cercados por terra, céu e mar, todos os moradores transformaram-se em pretensos criminosos e viram suas casas serem alvo de mandado de busca e apreensão genérico e anticonstitucional. O simples fato de residir em um Bairro de menor poder aquisitivo justificou a “fundada suspeita” de que todos ali estariam envolvidos na criminalidade. O aparato demasiadamente ostensivo e claramente desproporcional utilizado pelas forças de segurança para ao final prenderem 06(seis) pessoas é a evidência mais contundente de que o objetivo da operação foi, antes de tudo, simbólico. Ali se evidenciou sim o processo de criminalização da pobreza, que avança em acelerada marcha na sociedade brasileira.

Tal operação demonstra que o Governo não está preocupado em enfrentar as verdadeiras causas da violência e revela a verdadeira face, esvaziada de verdade, de seu principal projeto de “Ocupação Social” das periferias, tão alardeado nas mídias corporativas.

A ação espetaculosa das polícias no Bairro Jesus de Nazaré traz à luz a hipocrisia do sistema de segurança e justiça, quando imprime o rótulo da criminalidade indistintamente a toda a população de um bairro apenas pela sua classificação sócio-econômica, sem considerar que é nos bairros nobres da capital que vivem os que verdadeiramente se enriquecem com o tráfico no atacado, sonegação, fraudes em licitações, propinas e atividades mais rendosas do crime organizado. Ninguém poderia imaginar que uma operação como essa ocorresse em bairros nobres, até porque os criminosos que conseguem renda suficiente para viver nesses bairros compartilham o mesmo território de moradia com políticos, magistrados, proprietários de meios de comunicação, ocupantes de escalões superiores do poder público, grandes empresários, etc.

Portanto, acreditamos que a ação pirotécnica e aviltante das forças de segurança do Estado não teve como foco o verdadeiro combate à criminalidade, senão que apenas serviu para lançar uma cortina de fumaça diante da gravíssima crise pela qual atravessa a Segurança Pública do Espírito Santo desde a greve da polícia militar, que lançou o estado, em algumas regiões, a uma realidade de barbárie. E o bode expiatório acaba sempre sendo a população mais pobre e indefesa, que deveria ser protegida pelo Estado, nunca atacada e vilipendiada.

O enfrentamento e controle do crime não podem ser realizados usando como recurso o abuso, a prepotência e o arbítrio que negam o Estado Democrático de Direito, naturalizando o Estado como Violador dos Direitos Humanos e da Constituição da República Federativa do Brasil. Se as autoridades de segurança desejam mostrar serviço, deveriam começar por arrumar a própria casa, conferindo dignidade ao servidor policial, abstendo-se de práticas não republicanas e marcadas pelo caráter de pessoalidade, respeitando os textos da Constituição Federal e da Declaração Universal dos Direitos Humanos e entendendo, de uma vez por todas, que pobreza não é sinônimo de criminalidade e que questão social é bastante diferente de questão policial.

Como seguidores de Cristo, pugnamos que nossas autoridades se dediquem diuturnamente pela construção da paz que, sabemos, só será possível quando efetivamente houver justiça!

Vitória, 21 de Agosto de 2017.

COMISSÃO DE JUSTIÇA E PAZ DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. “O simples fato de residir em

    “O simples fato de residir em um Bairro de menor poder aquisitivo justificou a “fundada suspeita” de que todos ali estariam envolvidos na criminalidade.”

    Será que a polícia não sabe ou faz de conta que não sabe que os verdadeiros bandidos, aqueles reponsáveis diretos pela atual desgraça do país, não residem em favelas?

    Se procurarem nos palácios e prenderem os muitos bandidos que lá estão, tenho certeza de que muitos dos problemas do Brasil seriam resolvidos em pouco tempo.

    Isto vale tanto para o Espírito Santo quanto para todo o Brasil.

     

  2. Os moradores nas favelas que tem helicópteros e aviões…..

    Os moradores nas favelas que tem helicópteros e aviões para trazer meia tonelada de pasta básica de cocaina ou de maconha.

    Esta operação faz todo o sentido, só falta mostrar os helicópteros ou os aviões que eles apreenderam na favela.

  3. com a palavra, givaldo

    com a palavra, givaldo vieira, do PT, outrora vice do atual governador neoliberal que destruiu o ES. será que vai discursar no plenário da câmara (sim, hoje é dep.federal) contra o que apoiou em passado recente?

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