Curso que forma médicos usa machismo para explicar porque mulher “cheira a peixe podre”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Uma estudante de Medicina da Universidade Federal da Bahia denunciou nas redes sociais o conteúdo extremamente machista de material produzido pelo Medgrupo e vendido como curso preparatório para residência médica. Segundo os relatos de Heloísa Lopes Cohim, cartilhas adotadas no semestre de ginecologia e obstetrícia ensinam que mulheres com vida sexual ativa têm “cheiro de peixe podre”.  

Com ilustrações machistas, a cartilha também associa um relacionamento abusivo no passado da mulher ao comportamento “radical” daquela que decidiu curtir a vida de solteira, frequentar baladas e academias e não ter um parceiro fixo. O resultado disso é um “corrimento vaginal purulento”.

A estudante procurou o Medgrupo para questionar a necessidade dos comentários machistas para explicar quadros clínicos e a resposta da instituição foi que eles são “contra a agenda do politicamente correto.”

Por Tuka Pereira
 
Do Hypeness
 
Estudante de medicina faz depoimento poderoso denunciando o machismo em apostila de cursinho

Heloísa Lopes Cohim cursa o 8º semestre de Medicina na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e, ao utilizar algumas apostilas para estudar, se deparou com um conteúdo contendo trechos assustadoramente machistas. O material foi produzido pelo Medgrupo, cursinho para alunos de medicina, que possui filiais em 123 cidades no país.

Em um post no Facebook, a estudante comentou a respeito da abordagem utilizada para explicar sobre síndromes de transmissão sexual.

“Comecei a utilizar alguns módulos do Medgrupo cedidos por colegas já residentes para estudar os conteúdos. No entanto, tive o desprazer de ser exposta a casos clínicos com comentários machistas e ilustrações que expõem o corpo feminino de maneira vulgar“.

Um dos tópicos do material explica sobre uma doença chamada Vaginose Bacteriana e mostra a ilustração de uma mulher nua e de um homem tapando o próprio nariz. O texto que acompanha a imagem conta a história fictícia de Damila, uma mulher de 18 anos que não consegue ‘segurar’ namorado por possuir um odor vaginal semelhante a ‘peixe podre’. O texto ainda frisa o fato de a personagem ter tido relações sexuais com muitos homens.

Outras páginas da mesma apostila possuem conteúdo igualmente machista e mostram mais ilustrações sexualizadas de mulheres com textos explicativos completamente depreciativos.

Além do post na rede social, Heloísa ainda enviou um e-mail ao Medgrupo comentando sobre suas observações. A empresa respondeu afirmando ser contra a ‘agenda do politicamente correto’.

‘Somos contra a agenda do politicamente correto. Sugerimos a todos que não gostem deste estilo que não usem o nosso material, especialmente aqueles que não pagaram por ele“.

O post de Heloísa foi deletado do Facebook após ter sido denunciado, mas foi reproduzido na íntegra pela fanpage Artemis (abaixo).

“Prezados,

Sou acadêmica de medicina da Universidade Federal da Bahia e estou no 8º semestre. Na nossa grade curricular é neste semestre que temos contato com a ginecologia e a obstetrícia. Por conta disso, comecei a utilizar alguns módulos do MedGrupo cedidos por colegas já residentes para estudar os conteúdos.

No entanto, tive o desprazer, logo nas primeiras páginas do MED 2013: Síndromes de Transmissão Sexual, de ser exposta a casos clínicos com comentários machistas, e ilustrações que expõe o corpo feminino de maneira vulgar! Em certo caso, uma mulher era vítima de um relacionamento abusivo e, após traição e término do relacionamento, decidiu desfrutar da sua liberdade, tal cena é retratada com um desenho de uma mulher seminua fantasiada de “diabinha”.

Em outro caso, uma menina portadora de vaginosa bacteriana (um sofrimento, vale ressaltar) é retratada em um desenho de uma mulher seminua com vários peixes em cima do seu corpo e um homem de nariz tampado devido ao mal cheiro. Além disso, a última frase do caso relata que um dos testes necessários para o diagnóstico não foi realizado, porque o médico ficou “tão enjoado” que o diagnóstico era evidente.

Por fim, o último caso relata uma passista de escola de samba que era: ” charmosa, de muitos atributos e sempre disputada pelos gringos”. (turismo sexual?)

Gostaria de entender os objetivos de tais casos clínicos com tamanha falta de humanidade, bom senso e carregados de tanto machismo e julgamento.

Muitos jovens do Brasil tem acesso a esses conteúdos, ou seja, os senhores são formadores de opinião e devem se responsabilizar mais por isso.

Espero que as novas edições não apresentem tais absurdos.

Grata.”

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

22 Comentários

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  1. Socorro!

    Chocante. Putz, não da para acreditrar num lixo desses como material para residentes em obstetricia e ginecologia. Imagina cair nas mãos de um ginecologista com essa cabeça? Deu até medo. Politicamente é o……..! Por acaso, os garanhões são cheirosos? Vou parar por aqui, é muita estupidez para suportar apos séculos e séculos desse tipo de pensamento, sempre subjugando e diminuindo a mulher para que o patriarcado não mude.

  2. Peixe fresco tem cheiro de mulher sem vida sexual ativa?

    Pense num absurdo: No Ministério Público tem precedente:

    “Exame Nacional-Socialista da Doutrinação Sub-Marxista. Aprendam, jovens: mulher não nasce mulher, nasce uma baranga francesa que não toma banho, não usa sutiã e não se depila. Só depois é pervertida pelo capitalismo opressor e se torna mulher que toma banho, usa sutiã e se depila”. – Jorge Alberto Marun, Promotor de Justiça e Professor de Sorocaba

    Peixe podre cheira a homem com vida sexual ativa?

  3. Agora a moda é não ser

    Agora a moda é não ser politicamente correto, mesmo que para isso seja necessário ser mal educado ou vulgar. 

  4. Mulheres com vida sexual ativa são politicamente corretas?

    Mulheres que tem vida sexual ativa e não ‘seguram’ nenhum parceiro são, ou não, politicamente corretas na visão desses Abdelmassihs às avessas?

  5. Justificativa errada

    Isso nada tem a ver com ser “contra a agenda do politicamente correto”. É grosseria, estupidez e machismo retrógrado, pura e simplesmente. A turma do Medgrupo deve achar que os supremacistas brancos e neo-nazistas que violentaram Charlottesville na semana passada também são apenas contra o politicamente correto…

  6. Tenho 53 anos e nunca senti

    Tenho 53 anos e nunca senti cheiro de peixe-podre numa parceira. Muito pelo contrário, o delicioso aroma vaginal sempre me deixou excitado. Meu sistema ofativo vai muito bem obrigado.

    Não seria o caso de fazer um estudo sobre a disfunção olfativa do médico que elaborou a cartilha?

    Mas talvez a disfunção seja outra: cognitiva. 

    Nos filmes de época, como “O Ultimo Imperador” por exemplo,os médicos cheiram fezes para identificar doenças https://www.youtube.com/watch?v=5ok3EZnpaD4 . Desde que os exames laboratoriais foram inventados e aperfeiçoados esta prática caiu em desuso.

    A cartilha em questão (que sugere que o médico deve cheirar a vagina da mulher para saber se ela é ou não sexualmente ativa) demonstra um apego anacrônico a práticas médicas superadas. No século XIX a cartilha seria moderna, na atualidade ela é apenas produto de uma mentalidade obtusa, cretina e ultrapassada. 

    Suponho que este médico de direita é ligado a Michel Temer. Sendo assim, de acordo com a nova teoria podemos cheirar a 1ª dama para descobrir se ela é inativa ou se o usurpador é corno. 

     

  7. Quem acha que mulher que não reprime sua sexualidade cheira mal

    “Você pode ter razão. Mas quando a gente acha que absolutamente tudo cheira mal, é prudente checar o próprio nariz”. – Chico Pinheiro, Âncora do Jornal  “Bom dia, Brasil”

    Pego uma carona com o Chico Pinheiro para sugerir a quem sente cheiro de peixe em mulher que não reprime a própria sexualidade que é prudente checar o próprio nariz.

  8. Artigo sugerido por mim na semana passada: Feminismo é selvagem?

    Ao invés deste texto, GGN preferiu publicar artigo enviado por uma machista pseudoesquerdista que chama negros, mulheres e minorias em geral de vitimistas. O título dado ao artigo pelo bofe acima referido teve o seguinte título (re-intitulado pelo próprio)

    Feminismo e Paranóia Sexual. O título original era apenas Paranóia Sexual. 

    O texto que enviei e que foi escrito por um homem (sincero).

    *** 

    O feminismo é selvagem?

     

    Não entendo como, depois de séculos de maus tratos, as mulheres ainda continuem nos aguentando

    Não nos enganemos: nós, homens de minha geração, já nascemos machistas. Os da minha geração, os da anterior, e assim até o infinito. A culpa, claro, é de nossas mães, coisa que sei muito bem porque sou o único macho em uma casa com quatro fêmeas e minha mãe nunca me deixou lavar um pires que fosse, enquanto minhas irmãs sempre a ajudavam nas tarefas da casa (um beijo para você, mamãe!). Não sei como são os meninos de hoje em dia. A julgar pelo meu filho, são muito melhores do que nós; a julgar pelas estatísticas, iguais ou piores. Pelo menos dessa vez, as estatísticas estão realmente certas.

    Mas a verdade verdadeira é que a culpa de tudo isso não é de nossas mães (mais um beijo para você, mamãe!). Inacreditavelmente, desde o começo dos tempos, os homens temos visto as mulheres como seres inferiores,pouco mais do que bichinhos domésticos criados para tornar a nossa vida mais agradável; e isso não foi feito apenas pelos homens normais e comuns, mas também pelos mais sábios dos sábios que já existiram neste mundo. Claro que aqui também existem exceções. A mais conhecida é a de um antigo veterano de Lepanto chamado Miguel de Cervantes, que viu suas irmãs serem humilhadas e insultadas pelos estúpidos de plantão e recheou seus livros com mulheres valentes que não se cansam de denunciar os desaforos dos homens e de reivindicar sua dignidade e sua liberdade. Sim, isso é muito Dom Quixote, muito Dom Quixote. Mas o que ninguém diz é que, se Dom Quixote estivesse vivo, santificando todos os caminhos com a passagem majestosa de seu heroísmo (como disse Rubén Darío), não há nenhuma dúvida de que se dedicaria exclusivamente a perseguir por terra, mar e ar todos esses canalhas que maltratam e matam mulheres; e que, tendo-os captado, cortaria fora sem nenhuma hesitação os seus pintos e testículos e os enfiaria nas respectivas bocas, para em seguida lhes costurar os lábios com barbante e largá-los em plena aridez de Los Monegros para morrerem ao sol padecendo de terríveis tormentos. Isso é o que Dom Quixote faria, e Dom Quixote nunca se engana.

    Há coisas que eu não entendo. Não entendo como, depois de séculos e séculos de impiedosos maus tratos e exploração, as mulheres ainda continuam nos aguentando, amando e cuidando de nós. Não consigo entender como é possível que, enquanto covardes de merda matam mulheres indefesas todos os dias, não brote feito cogumelo uma porção de batalhões de mulheres armadas que imitem Dom Quixote e façam justiça com as próprias mãos, dedicando-se a cortar pintos e testículos e fazendo tudo o mais, inclusive a coisa do sol de Los Monegros. Mas o que eu não consigo entender de jeito nenhum é como, depois de ser governadas durante milênios por nós – essencialmente um bando de descerebrados embriagados de testosterona e ocupados apenas em beber cerveja e ver quem é mais macho, enquanto provocamos uma tragédia atrás da outra–, as mulheres não nos tenham vetado terminantemente o acesso ao poder nem nos tenham punido com a obrigação de permanecer de castigo ajoelhados durante os próximos três séculos. Em resumo: há quem pense que o feminismo tem se inclinado há algum tempo para o extremismo, indo longe demais; pois o que eu acho é que atualmente, e até segunda ordem, até mesmo a forma mais radical de feminismo é moderada demais.

    Há solução para o nosso milenar e vomitivo machismo estrutural? Em curto prazo, duvido, pelo menos no que me diz respeito. Mas também tenho observado que algumas coisas podem ser úteis: por exemplo, ter uma filha adolescente. Com efeito, um amigo meu tem uma, e, apavorado diante dos perigos que a cercam, criou uma Associação de Pais de Filhas cujo símbolo é uma tesoura de poda e cujo lema é o seguinte: “capar, capar, capar”. Esse é o caminho.

    Para finalizar. Isso tudo me ocorreu ao ler um maravilhoso romance em quadrinhos chamado Más vale Lola que mal acompañada [Antes Lola do que mal acompanhada, trocando, no dito popular, sola -só em espanhol – por Lola]. Ele tem como protagonista uma personagem chamada Lola Vendetta, que aparece na capa portando uma espada manchada com sangue quixotesco; seu lema: “O feminismo não deve ser sofrido, mas desfrutado”. Como todos os heróis, Lola Vendetta não tem idade; sua autora, Raquel Riba, tem 27 anos. Que Deus abençoe as duas, e você também, mamãe.

    Javier Cercas (Ibahernando, Cáceres, 1962) é professor de literatura espanhola na Universidade de Girona. Publicou vários livros de sucesso, entre eles “Soldados de Salamina’, adaptado para o cinema por David Trueba. Além de seu lado romancista, ele colabora regularmente com o EL PAÍs

     

     

  9. Por que as feministas são tão bravas?

    Ser mulher é carregar uma insígnia invisível de subgênero

    Recentemente, entrei no Facebook e vi uma amiga falando sobre um caso de tentativa de feminicídio. O cara tava puto porque a namorada engravidou, não queria abortar, ele estava de intercâmbio marcado e tentou arremessar a mulher na frente do ônibus. “Dói em mim, porque podia ter sido eu”, disse minha amiga, compartilhando a notícia.

    Tem uma parada muito doida na vida de toda mulher que passa a se identificar como feminista (e geralmente é essa parada que faz você passar a se ver como feminista), que é quando você percebe que as abusadas, as violentadas, as agredidas, as estupradas, as assediadas, assassinadas, escrotizadas, todas elas poderiam ter sido você. Porque você é mulher. E estatisticamente é isso que acontece com mulheres.

    Se você é mulher, você se fode na vida. E as outras mulheres se fodem igualzinho você. Têm oportunidades de emprego negadas, sofrem com maternidade compulsória, com cultura do estupro, com parceiros abusivos. Enfim, existe uma miríade de experiências que só são vividas em conjunto e tão intensamente por essa classe infeliz que conhecemos como mulheres. Há experiências específicas de alguns grupos de mulheres também, como mulheres negras, trans, mulheres gordas. Mas ser mulher é eternamente carregar uma insígnia invisível de subgênero.

     Ilustração por Cécile Dormeau.

    Se do lado de cá nós temos um monte de experiências repetidas e cotidianas, significa que do lado de lá existe um canavial de homem reproduzindo as mesmas atitudes tóxicas numa base diária. São muitos, muitos mesmo. Todo mundo teve um namorado abusivo, um tio que bate na esposa, um cara do trabalho que assedia colega, isso se não forem os três ao mesmo tempo. Ainda tô pra conhecer uma mulher que não tenha vivido de perto a violência de gênero.

    Partindo desse ponto, a gente obviamente tenta chamar atenção pro assunto. Porque metade da população mundial está sendo diariamente desrespeitada, violentada, essencialmente sendo tratada como subespécie. Ei, cara, cantada de rua é uma merda. Ei, você não pode chegar passando a mão na mina desse jeito só porque é carnaval. Ei, você não pode controlar o que sua namorada veste. A gente quer explicar pros caras como eles podem fazer pra diminuir essa quantidade absurda de abusos, microagressões e violências nas nossas vidas, porque bom, meio que depende deles, como causadores imediatos disso tudo.

     Gif maravilhoso por Cécile Dormeau.

    Alguns simplesmente estão cagando porque né, “problema seu, ninguém mandou nascer mulher, meu privilégio é uma delícia e eu vou sentar nele bem gostosinho porque o mundo me ensinou que meu ego e meu conforto estão acima de tudo”. Não exatamente nessas palavras, costuma vir naquela roupagem de “e a louça, já lavou?”, mas pra bom entendedor serve.

    Ainda assim, os que tentam ouvir o que a gente diz ou fingem que se importam, simplesmente não se enxergam nos agressores. Ou falham em associar suas condutas violentas com crimes hediondos como estupro ou feminicídio. Um homem acha absurda a ideia de uma mulher inocente sendo estuprada no meio da rua. Mas não acha que isso tem nada a ver com aquele dia que ele deu uns goró a mais praquela mina gostosa da faculdade pra ver se ela facilitava e, quando ela “fez charme”, ele deu uma forçada de barra.

    Depois de tantas conversas com tantos homens de tantos backgrounds diferentes, identifiquei que eles criam uma separação gigantesca entre a consumação da violência de gênero e o processo que leva até ela. É até fácil condenar um cara que bateu na namorada enxergando esse fato isoladamente, mas quando esse cara é um amigo que bebeu umas a mais e ficou puto com a parceira, os homens rapidamente saem em defesa dele. Porque ali eles já não enxergam mais a estatística de violência doméstica crescendo. Eles enxergam um brother que cometeu um erro, um caso isolado. E obviamente, pra eles é extremamente difícil (senão impossível) empatizar com a mulher em questão.

    Enquanto isso, do outro lado da história, mulheres vão se identificar com a essa garota agredida. E vão ficar putas, porque é a repetição de algo que já se passou com elas ou com alguma próxima. É mais uma menina apanhando, mais uma irmã, tia, colega, aluna. Algo contra o qual a gente luta todos os dias e mesmo assim continua se repetindo. Mais uma que provavelmente nem vai denunciar porque passar três quatro horas na Delegacia da Mulher sendo tratada de maneira questionável é humilhante demais.

     Ilustração por Cécile Dormeau.

    Só semana passada, fui assediada por um cara que insistiu várias vezes pra que eu beijasse ele; no dia seguinte, um cara numa festa puxou minha blusa “pra ver minha tatuagem” enquanto eu dançava; na manhã que seguiu, o cara sentado do meu lado no ônibus estava se masturbando. Para qualquer mulher, esses relatos são parte de um cotidiano de merda que é socialmente aceito porque o conforto dos homens importa mais do que a integridade física e moral das mulheres.

    Quando expomos esses relatos e buscamos chamar atenção pra um problema que é endêmico, somos tratadas como exageradas. Loucas. Temos nossa conduta moral questionada. Por uma classe de pessoas que simplesmente não consegue conceber o tamanho da merda que comete. Enquanto as mulheres criam empatia entre elas, porque todas um dia já foram vítimas da mesma coisa, os homens ainda estão presos na velha ladainha de isolar os atos cometidos por seus congêneres como incidentes, e não tratá-los como parte da epidemia que são. “Ah, mas nem todo cara é assim”. É de um bundamolismo colossal.

    Então, sim, nós feministas ficamos bravas, putas, possessas, pistolas, locas no jiraia de ter que lidar com esse tipo de raciocínio preguiçoso e covarde. São, sim, todos vocês. São teus amigos, teus parentes, teus colegas de trabalho, são vocês mesmos. Porque se acontece com todas nós todo santo dia, não tem como ser a mesma meia dúzia de filho da puta. Abram os olhos, façam um exercício de empatia. Que inferno, cacete.

    Este texto faz parte da iniciativa Mulheres que escrevem. Somos um projeto voltado para a escrita das mulheres, que visa debater não só questões da escrita, como visibilidade, abrir novos diálogos entre nós e criar um espaço seguro de conversa sobre os dilemas de sermos escritoras. Quer colaborar com a Mulheres que escrevem? Acesse esse link, conheça nossa iniciativa e descubra!https://medium.com/mulheres-que-escrevem/por-que-as-feministas-s%C3%A3o-t%C3%A3o-bravas-1cf33ce111c8 

     

  10. Oras…

    …não se trata de machismo, feminismo ou políticas corretas. É baixo nível, grosseria, vulgaridade simples dos elaboradores do material do curso. Não há como não ver isso na esterotipagem do gênero feminino.

    Não há de se imaginar um possível acadêmico de medicina sendo doutrinado por ilustradores de porno-mangás e pela redação de Rafinha Bastos. Por óbvio que que o material é bastante dispensável, além de falhar em sobriedade à pseuda instituição de ensino falta a esta também o mesmo que falta em suas apostilas ao responder dessa forma a uma crítica por mais civilidade de uma possível aluna. Por essas e outras entende-se o protestos aos médicos negros do +médicos pelo que suponho dessa mesma turma.

    Torço para que seja uma luta inglória desse estabelecimento contra a civilidade.

  11. Para além da importante…

    questão sobre esse machismo nojento, gostaria de expor minha preocupação com a qualidade de ensino. Que porcaria de profissionais estão sendo formados por APOSTILAS? E por apostilas cheias de DESENHOS como se destinassem a crianças? Esse baixo nível de ensino afeta as carreiras jurídicas a ponto de escancarrar essa tragédia nacional que vivemos.

  12. tem esta tambem….

    antiguinha mas so para provar o niver e a “reincidência” do tal do Medgroupo(Em Portugal o termo groupo designa uma mentira, partida, brincadeira)………

    Médica de família ‘dirige Chevette e namora Creisom’ em apostila para concurso…….

    Na apostila, Chávez e Morales seriam ‘heróis’ dos médicos da atenção básica……..

    Vai o link:

    http://noticias.r7.com/saude/medica-de-familia-dirige-chevette-e-namora-creisom-em-apostila-para-concurso-22092014

  13. Velhas modas nos obrigam a buscar o CORRETO em outros lugares.
    [E]sse pessoal que ataca minorias pra fazer piada precisa entender é que eles não estão transgredindo nada. Seus tataravôs já eram racistas, gente. Pode ter certeza que seus tataravôs já comparavam negros com macacos. Aposto como seus tataravôs já faziam gracinhas sobre a sorte que uma moça feia teve em ser estuprada. Vocês não são moderninhos, não são ousados, não são criativos. Vocês estão apenas seguindo uma tradição.

    Falar besteira, qualquer criança fala.

    Pessoa adulta é quem sabe que falar significa se abrir para a possibilidade de ouvir a resposta. Pessoa adulta é quem entende que ela tem a mesma liberdade de falar que as outras pessoas têm de criticá-la.

  14. A Ministra Carmem Lúcia não ‘segura’ nenhum parceiro

    A Ministra so $TF não tem atividade sexual ativa e é contra o posicionamento politicamente correto, pois, segundo a referida Ministra, ‘quem muitas vezes impede a liberdade da informação é o outro particular. Não é o estado como era antes, como é nas ditaduras. Hoje, você tem censuras estabelecidas, por algo que é extremamente contrário às liberdades em geral, que é o politicamente correto”.

    Mulher tem corrimento vaginal e, portanto, cheira a peixe podre, na visão dos elaboradores da apostila mencionada no texto que ora comento, porque tem relação sexual com vários parceiros ou tem relação com vários parceiros porque tem corrimento vaginal? O que fede mais: fezes ou corrimento vaginal? Porque muitas pessoas que tem relação anal ‘seguram’ um só parceiro?

  15. curso stand-up

    Entrem no perfil do FB dessa empresa, observem alguns vídeos e compreenderão, um pouco, o motivo de seus professores elaborarem uma apostila misógina e grotesca. Segue um modismo entre cursos para concursos em diversas áreas: aulas estilo “stand-up”, professores adultos com comportamento de adolescente saído de alguma comediota pornô-teen americana, valorização da decoreba. A tendência é o ruim sempre piorar, deu nisso.

    O mundo está virando um grande programa de auditório tamanha a estupidez das pessoas.

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