Demissão de chefe de combate à escravidão teria sido compra de votos a Temer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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André Roston, agora ex-chefe da Detrae/MTPS – Foto: Reprodução
 
Jornal GGN – O governo de Michel Temer resolveu demitir o chefe do combate à escravidão, André Roston, do cargo de coordenador da divisão de fiscalização para erradicação do trabalho escravo. A suspeita é de que o mandatário foi pressionado pela bancada ruralista, que integra a base de apoio de Temer no Congresso, a fazer a substituição em meio à tramitação da denúncia na Câmara.
 
A decisão foi assinada pelo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, em publicação no Diário Oficial da União desta terça-feira (10). As ações de fiscalização e de responsabilização de casos de emprego de trabalhadores em condições análogas à escravidão vinham incomodando parte dos parlamentares ruralistas, muitos alvos destas ações.
 
A relação entre a demissão de Roston com as pressões foi ditada pelo Painel da Folha, nesta terça-feira: o posto era uma das demandas de congressistas que ainda negociavam votos para barrar a segunda denúncia contra Michel Temer na Câmara.
 
Diversos sindicatos manifestaram-se em repúdio à demissão do chefe de combate à escravidão, entre eles o Sinait (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho), que denunciou “investigas políticas sobre a fiscalização, sempre com objetivos de enfraquecer, desestabilizar ou neutralizar ações que contrariem o poder econômico, incomodado com a ação dos auditores fiscais do trabalho”. 
 
“A exoneração de André Roston, que conseguia gerir o caos promovido pelo governo no combate ao trabalho escravo, diz muito. Escancara o descompromisso e a falta de vontade política com o enfrentamento à escravidão contemporânea”, completou o procurador Tiago Cavalcanti, chefe da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho.
 
A intenção, segundo a Coordenadoria, “é muito clara”: “mal lhe interessa [ao governo Temer] resgatar trabalhadores de situação de penúria e escravidão”.
 
Além da Coordenadoria Nacional, também emitiram nota conjunta pública a Coordenação Geral da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, a Comissão Pastoral da Terra, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, o Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e a ONG Repórter Brasil.
 
Em uníssono, afirmaram: “Testemunhas do trabalho sério, engajado e transparente realizado pela coordenação do combate ao trabalho escravo, estamos convictos de que a exoneração compromete a erradicação dessa violação aos direitos humanos e revela a inexistência de vontade política e o descompromisso do atual Governo com o enfrentamento do problema”.
 
Alertaram para as informações divulgadas no noticiário desta terça, de que a exoneração foi parte de uma negociata do governo peemedebista: “além de ter desagradado o Governo Federal ao informar a falta de recursos para o combate ao trabalho escravo em audiência pública realizada no Senado Federal, André Roston foi dispensado justamente durante a negociação de votos na Câmara dos Deputados para barrar a nova denúncia contra o Presidente da República Michel Temer”.
 
“No atual cenário de instabilidade política e de retrocessos sociais, o Governo ignora a diretriz de permanente avanço no combate ao trabalho escravo imposta pela sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos (que recentemente condenou o Brasil em um caso de trabalho escravo) e arruína uma política pública até então assumida como prioritária pelo Estado brasileiro”, completaram.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. É desanimador!

    Ele teve sorte de ter sido só demitido.

    Em campo, procuradores do trabalho estão sendo assassinados.

    Agora “Ministro do Trabalho” é administrador da escravidão.

     

     

  2. Hora do Coaching

    Sa carreira foi interrompidade de um GOLPE? Você não deve TEMER. Nestes tempos, não há piedade com TEMEROSOS, é preciso garra e persistência. Se o mercado não está aberto para a sua profissão e área de competência, não desamine, transforme seu hobby em profissão.

    Sugestões no link: https://www.youtube.com/watch?v=HGYy_G0w8JA

    Boa sorte, você irá precisar.

  3. Enquanto há tempo!

    Enquanto há tempo, é necessário que as pessoas de bem se unam para que retorne o bom senso no pais!

    Este pais está indo em direção ao buraco e por volta de 2020 vai aproximar do fundo!

    Isso se não houver mais uma nova denúncia que poderá custar os olhos da cara aos pagadores de impostos e deseoganização do que chamamos governo federal!

    Se nada for feito vamos inicialmente ver a violência explodindo, dai teremos uma guerra civil!

    Não dá para comprar democracia pela internet e pedir para entregar pelos correios!

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