Ensino de crianças do Bolsa Família é retrato da pobreza no Brasil, com desafios e superações

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Ainda em meio aos boatos envolvendo o programa, Olavo de Carvalho, crítico do Bolsa Família, já teve familiares inscritos no benefício

Jornal GGN – Em contrapartida ao erro cometido por Jair Bolsonaro, nesta semana, em vídeo ao vivo, ao falar que crianças do Bolsa Família têm desenvolvimento intelectual de um terço em comparação aos demais estudantes, o coordenador da pesquisa citada teve que desmentir o dado. Além disso, cerca de 1000 estudantes medalhistas na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas (Obmep) no último ano faziam parte do Bolsa Família.

Em transmissão de vídeo feita por Bolsonaro, ao lado de seu filho, Eduardo, durante a viagem aos Estados Unidos, o mandatário citou o dado errado e não corrigiu depois. Isso porque o levantamento citado do Ministério da Cidadania constatou que os jovens tinham uma defasagem que correspondia a 65% da média, e não um terço da inteligência dos demais, como expôs Bolsonaro.

Bolsonaro na transmissão ao vivo – Foto: Reprodução

Como resposta à informação incorreta do mandatário, o coordenador do estudo Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), desmentiu Bolsonaro e explicou que o dado era completamente esperado, uma vez que é o retrato do acesso à educação das famílias mais pobres do país.

“O Bolsa Família atinge as famílias mais pobres do país. Pobreza está fortemente associada ao baixo desenvolvimento psicomotor, como mostram inúmeros estudos brasileiros e de outros países”, teve que esclarecer, em nota.

“Portanto, já era esperado que as crianças incluídas no Programa Criança Feliz apresentassem um desempenho inferior ao observado entre crianças de países de alta renda. Efetivamente, nosso resultado justifica a implantação de um programa como o Criança Feliz, pois se as crianças já apresentassem desenvolvimento adequado não seria necessário intervir”, continuou Victora.

Mas para além do estudo, que mostra uma diferença de somente 35% do quadro geral de todas as crianças do Bolsa Família em relação a todas as demais, outros dados já anteriormente divulgados comprovavam o esforço e os resultados positivos dos filhos de famílias que recebem o auxílio.

Um deles é o estudo do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), que mostrou que cerca de mil estudantes medalhistas na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas (Obmep) faziam parte do Bolsa Família [acesse aqui]. E dados anteriores [aqui] só mostram um aumento da conquista por parte desses estudantes.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social (MDS)
Isso porque em 2014, já era um total de 500 alunos beneficiários do Bolsa Família que ganharam medalhas. No ano seguinte, 2015, mais 613 estudantes receberam o reconhecimento. E em 2016, foram 542 que ganharam medalhas de ouro, prata e bronze na competição. Hoje, esse número supera as 1.288 medalhas de 999 estudantes que integram o programa.

 

Contradições: o caso da família de Olavo de Carvalho

Ainda em meio aos boatos envolvendo o programa de incentivo à famílias em situação de vulnerabilidade, outro crítico do Bolsa Família dentro do governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho, já foi alvo de polêmicas relacionadas ao programa.

No final do ano passado, reportagem do Catraca Livre [leia aqui] mostrava que a nora de Olavo de Carvalho foi inserida como uma das beneficiárias do Bolsa Família durante três anos, de 2013 a 2016, o que chegou a gerar uma investigação do Ministério Público Federal (MPF).

Stephanie Ferro, casada com Davi, filho do filósofo, foi a beneficiária do programa. A investigação foi arquivada porque a nora de Olavo não chegou a fazer saques do benefício. Após obter a aprovação do programa, Stephanie foi morar em Jericocoara, na pousada de sua mãe.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Trabalho na caixa, na periferia de Guarulhos, numa região extremamente pobre.
    Pagamos centenas de bolsas-familia por mês.
    Nunca encontrei, pessoalmente, em quase 16 anos quem não fosse digno de receber o benefício.
    E, mais, o bolsa família íntegra, une as famílias. São pobres que mantém a família unida e conseguem progresso aos poucos, em sua maioria.
    São crianças saudáveis e bonitas em quase sua totalidade.

  2. Tá, e quem vai fazer Jornalismo e mostrar como e nos países mais civilizados do que o nosso? Tenho uma sobrinha na Austrália, preferiu ter o filho por lá, pois o governo da uma ajuda até a criança completar cinco anos, e não é essa merreca, essa mixaria do bolsa família…..na época era muito mais do que ganhava a maioria dos trabalhadores brasileiros…..mas aí vão dizer que a população australiana é um sexto do nosso país, mas somos a nona econômia mundial, a Austrália é a décima terceira, na renda per capita a Austrália e décima primeira e o Brasil nem entra nas primeiras quinze posições…..

    Ou seja, somos roubados, espoliados por esses abutres do mercado……. ninguém se pergunta qual o interesse desses abutres na reforma da previdência, a ponto de querer derrubar um presidente?!??

    O povo não será livre enquanto não chutarem esses larápios, usurpadores da nação que se escondem sob esse engodo chamado mercado…..

    É urgente………..

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