Erros cometidos por críticos e defensores do sistema prisional

Defensor público pede “um passo além das falas ingênuas” em direção a um discurso racional sobre a essência humana
 
 
Jornal GGN – No artigo à seguir, o defensor público Bruno Bracco avalia os erros de análise cometidos tanto pelos críticos dos direitos humanos quanto pelos defensores de direitos humanos ao discutir a realidade do sistema prisional brasileiro. 
 
“Já conversei incontáveis vezes com réus e presos. Já participei de grupos de diálogo na prisão. E, na imensa maioria dos casos, não me senti conversando com uma angelical vítima do sistema. Não me senti conversando com um ser humano em essência bom, apenas capturado por um sistema opressor. Na imensa maioria das vezes, vi, no olhar do réu e do preso, um misto de medo, violência e hipocrisia. Nada disso é bom”, ressalta. 
 
Bracco segue ponderando que é preciso “dar um passo além das falas ingênuas”, construindo um discurso racional que enxergue que em quase todos os casos, “o preso não é essencialmente bom”. É preciso, portanto, atacar a essência do problema: o próprio ser humano, e a partir daí perseguir a justa medida.  
 
Justificando
 
Bruno Amabile Bracco
 
Sobre presos, direitos humanos e a nossa podridão
 
I. A ingênua ideia do bom preso
 
Existe uma incompreensão generalizada sobre um ponto essencial relacionado à defesa dos direitos humanos, em especial da população carcerária. É uma incompreensão filosófica, ou mesmo espiritual, que, eu ouso afirmar, atinge não apenas os críticos de qualquer ideia relativa a direitos humanos, mas atinge também – e isso é o mais preocupante – seus defensores.
 
De um lado, os críticos de qualquer ideia sobre direitos humanos partem do seguinte pressuposto: há pessoas boas e pessoas ruins. As pessoas boas merecem recompensas: uma vida confortável, feliz e segura, protegida das maldades perpetradas pelos desviantes – que, de seu turno, por serem essencialmente maus, merecem punições doloridas. Punições, neste cenário, devem ser doloridas. Uma cela espaçosa e refeições razoavelmente variadas e nutritivas não fazem qualquer sentido. Apenas o sofrimento faz sentido. A morte talvez faça sentido. Conforto, jamais.
 
De outro lado, os defensores dos direitos humanos muitas vezes partem do pressuposto de que os criminalmente condenados ou processados são, na realidade, vítimas de um sistema socioeconômico opressor. Na essência, são pessoas boas, como eu e você. Mas estão imersos em uma engrenagem cruelmente ardilosa, que injustamente distribui seus bens, promove a ostentação e, para coroar a tragédia, escolhe punir severamente apenas as camadas sociais mais vulneráveis. São, enfim, pessoas boas, que, porém, trituradas por uma engrenagem opressora, recebem o rótulo de maus.
 
Diante dessa defesa da bondade natural dos criminalmente processados ou condenados, o crítico dos direitos humanos rebate. “Gostou? Leva para casa!” Já escutei isso algumas dezenas de vezes. “Podemos criar uma nova espécie de pena: o réu vai para a casa do Defensor Público”. Este meu pequeno texto é minha tentativa de responder não apenas ao crítico dos direitos humanos, mas, sobretudo, ao seu defensor.
 
Já conversei incontáveis vezes com réus e presos. Já participei de grupos de diálogo na prisão. E, na imensa maioria dos casos, não me senti conversando com uma angelical vítima do sistema. Não me senti conversando com um ser humano em essência bom, apenas capturado por um sistema opressor. Na imensa maioria das vezes, vi, no olhar do réu e do preso, um misto de medo, violência e hipocrisia. Nada disso é bom.
 
O discurso do defensor dos direitos humanos que parta do pressuposto de que o preso é essencialmente bom é um discurso natimorto. Ninguém vai escutar isso, porque é um discurso construído sobre pilares frágeis. É ingenuidade idealista de quem nunca abriu verdadeiramente os olhos à natureza do mundo. Porque o preso não é bom.
 
E nada pode ser mais pernicioso para a própria ideia de direitos humanos do que defender que o preso é essencialmente bom e, portanto, merece ser tratado dignamente. Ninguém quer ouvir uma barbaridade dessas. É uma afronta à inteligência do interlocutor.
 
É preciso urgentemente dar um passo além de falas ingênuas.
 
Na quase totalidade dos casos, o preso não é essencialmente bom. Seu olhar irradia medo, violência e hipocrisia. É muito bonito defender ou imaginar o contrário, mas, infelizmente, o mundo é certamente um lugar menos bonito do que gostaríamos que fosse.
 
É preciso urgentemente que se insista em um outro discurso. Um discurso verdadeiro em sua crueza. Um discurso que diga: na quase totalidade dos casos, o preso não é essencialmente bom. Seu olhar irradia medo, violência e hipocrisia. Isso porque, na quase totalidade dos casos, o ser humano não é essencialmente bom. Nosso olhar irradia medo, violência e hipocrisia.
 
Ingênuo e hipócrita é dizer: o preso é tão bom quanto eu e você. Apenas é oprimido pelo sistema.
 
Cruelmente verdadeiro é dizer: o preso é podre. Podre como todo ser humano. Podre como eu e você.
 
E é nessa podridão sem máscaras que nós todos, sem absolutamente qualquer exceção, podemos reivindicar que nossos direitos humanos sejam protegidos e preservados.
 
II. Mas…
 
“Mas”, o crítico dos direitos humanos pode argumentar em autodefesa, “se somos tão podres assim, por que estamos aqui, soltos? Não mato, não roubo, não estupro. Estou livre porque ele é pior do que eu”.
 
Por que estamos soltos? Pois bem. Posso pensar em ao menos uma dezena de respostas possíveis.
 
Porque não fomos pegos quando dirigimos embriagados – ou o risco indiscriminado à vida que dirigir embriagado apresenta é realmente algo mais aceitável do que o comércio ilegal de drogas? Porque simplesmente dirigir em alta velocidade não é crime. Porque nossos pequenos delitos não interessam ao sistema punitivo. Porque talvez sejamos parte de uma camada social para a qual a fome raramente é realidade de fato presente. Porque outros caminhos nos pareceram mais convidativos do que o da criminalidade. Porque nossos eventuais grandes delitos – desvio de verbas, sonegação fiscal etc. – dificilmente de fato chegam às malhas punitivas. Porque temos mais a perder do que quase todos os presos. A Criminologia Crítica teria, certamente, mais uma infinidade de possíveis respostas.
 
Mas, na realidade, embora todas essas respostas tenham algo de verdadeiro, nenhuma delas me interessa muito. Passam-me a impressão de que não estamos de fato atacando a essência do problema, que é a essência do ser humano.
 
Para mim, a melhor resposta é uma proposta, que muito raramente é bem aceita por seja lá quem for. Para entender a podridão do ser humano de forma direta e inquestionável, nada se compara a olhar para si.
 
Um olhar atento basta. Um olhar sem a hipocrisia que tantas vezes dá as cartas em nossas vidas.
 
Quantas vezes não ouvi histórias sobre atitudes terríveis tomadas apenas por vaidade – atitudes de pessoas muito moralistas, algumas das quais ferrenhas defensoras dos direitos humanos? E não é a vaidade que guia nossos passos, dia e noite? Não é por uma imensa vaidade que agimos e sofremos, dia após dia, em busca de destaque? Pois é isso a vaidade: desejo incessante de destacar-se dos demais. Não apenas ser melhor, mas parecer melhor. A qualquer custo. Jamais a vaidade foi tão evidente quanto em tempos de redes sociais: não porque causam a vaidade, mas porque iluminam o que sempre existiu. O Velho Testamento bíblico, escrito em tempos imemoriais, já dizia: tudo debaixo dos céus é apenas vaidade e aflição de espírito.
 
Esta vaidade é a essência mais profunda que nos torna podres – a todos nós. Esse desejo intenso de destaque à custa dos outros. Essa falta absoluta de compaixão: seja pelo companheiro de trabalho que luta pelo mesmo posto que você, seja pela senhora cujo celular eu gostaria que fosse meu. O homem tomado pelo medo teme perder o que tem: sua posição, suas posses, suas conquistas. A mulher violenta quer, de maneira abrupta e poderosa, conquistar ou reaver o que considera devido: seja um carro que jamais pôde obter por meios legais, seja sua honra por qualquer razão ferida; seja o saciar da sede de justiça, seja a paz da vingança consumada. A vaidade é o constante desejo de estar acima – e todo medo e toda violência talvez se relacionem em alguma medida à vaidade.
 
Vaidosos, temerosos e potencialmente violentos: eis todos nós. A raiva que irrompe quando alguém ousa fechar-nos a passagem no trânsito é, em essência, a mesma que irrompe ao ofendido numa mesa de bar que, abruptamente, crava uma garrafa quebrada no peito do ofensor. Condenamos facilmente o outro. Não olhamos para os incontáveis delitos que, em pensamentos logo ignorados, desejamos cometer rigorosamente todos os dias, todas as horas. Não olhamos para o ódio que a todo tempo brota em nós.
 
Nem para a nossa inveja potencialmente assassina. Não olhamos para o fato de que compartilhamos, todos nós, uma insaciável sede por posições sempre mais altas e por jamais sermos diminuídos. Não olhamos para a nossa desoladora incapacidade de verdadeiramente amar. Carregamos em nosso coração a mesma vaidade que todo ser humano carrega. Carregamos o mesmo ódio do mais terrível homicida. E se, por medo de Deus, do Estado ou das repercussões sociais, exteriorizamos nossa violência muito menos do que poderíamos, ou exteriorizamos apenas de maneiras veladas e inconfessas, isso não nos faz santos ou bons. Isso só nos faz covardemente hipócritas.
 
E negar tudo o que está sendo aqui dito é nova covardia. É a covardia de negar-se a olhar decididamente para si e ter, como já disse Carnelutti, a experiência penal mais profunda – que é dizer, do âmago de nosso ser, que Judas é nosso irmão. Somos vilipendiadores dos bens mais preciosos da vida, porque seguimos vivendo imersos em vaidade e aflição de espírito. Seguimos vivendo imersos em medo e violência.
 
E assim seguiremos, enquanto a hipocrisia reinar em nosso ser – hipocrisia que, aqui, talvez diga: de fato, o ser humano talvez seja mesmo assim… Mas sinceramente não me vejo assim. Sei das minhas virtudes e da minha generosidade. Poucas vezes fiz mal a alguém. Sim: vai por aqui, quase sempre, nossa hipocrisia. Superá-la é ter a verdadeira experiência penal de Carnelutti. Superá-la talvez seja abrir caminho para que, em nossa alma, algo verdadeiramente bom nasça.
 
Mas, antes disso…
 
Quando, enfim, olho para um preso ou um réu, em geral vejo medo, violência e hipocrisia. Porque o preso não é bom. O preso é podre. Podre como é o ser humano. Podre como somos eu e você. E, mesmo assim, temos direitos indeléveis. Temos direitos humanos. E apenas assumindo, sem máscaras, nossa cruel realidade, poderemos de fato compreender que nossa dignidade – a dignidade de absolutamente todos nós – está ainda além da nossa podridão, do nosso medo, da nossa violência e da nossa diária hipocrisia.
 
Bruno Amábile Bracco é Mestre e Doutorando em Criminologia pela USP, Defensor Público do Estado de SP, autor do livro “Carl Jung e o Direito Penal”.
Redação

22 Comentários

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  1. O cara conhece a alma humana

    O cara conhece a alma humana e os fatos, pensa e expressa-se de maneira racional e sem pieguismo. Muito bom o texto, ou melhor ótimo.

  2. Discurso moralista e tolo. Nao existe “essência” humana

    OK para que os presos nao sao essencialmente bons, como NINGUÉM é. Nisso concordo. Mas nao existe essência humana, os humanos nem mesmo sao guiados sobretudo por seus instintos e sim por suas circunstâncias E valores culturais criados durante a educaçao.Quem nunca foi amado e protegido na infância, ao contrário sempre foi repelido, quem nao teve o básico para a sobrevivênvia e sempre viu outros tendo, é natural que esteja cheio de raiva e revolta e odeie a humanidade (nao quero dizer que isso sempre aconteça, apenas que é normal que aconteça) E a questao de justiça nao é sobre se as pessoas sao boas ou más, isso é moralismo rastaquera. Mesmo os “maus” têm direito a um espaço decente, comida decente, acesso a defensores, etc.

  3. O camarada esta preocupado

    O camarada esta preocupado com a essencia humana. Eh brincadeira, hein? Ele coloca muito bem a dicotomia existente entre os defensores e os detratores dos direitos humanos. O problema eh que pra tentar se caracterizar como ‘isentao’, ele faz todo um esforço pra colocar os dois lados da dicotomia como sendo igualmente infantis. E ainda por cima esta mais preocupado com a essencia humana do que com as condiçoes de vida da populaçao presa. Na boa, pra quem se diz conhecer de perto o sistema carcerario brasileiro, fazer um texto desses colocando no mesmo balaio os defensores e os detratores dos direitos humanos, eh de uma canalhice a toda prova. Nao passa de um almofadinha sem noçao. 

  4. “Essência humana” – é pra rir?

    O Brasil tem grandes pesquisadores da questão criminal. Cientistas sociais de alto quilate, como Michel Misse, Roberto Kant de Lima, Sérgio Adorno, etc. Que analisam massas de dados empíricos, e por isso não precisam recorrer a argumentos de autoridade idiotas, nem a bonecos de palha para caricaturizar opiniões alheis (por sinal, muito fácil de fazer, pois já são opiniões perseguidas e criminalizadas pela mídia.

    Aí o Jornal GGN me publica esse tipo de asneira. “Essência humana”, mas não naquele conceito sofisticado que usava Marx nos seus “Manuscritos”. O sujeito acha que conhece “essência humana” porque “olhou nos olhos do preso”. Gente, o que essse cara está fazendo na defensoria? Manda para lecionar psiquiatria e psicologia em Oxford. Temos um gênio incompreendido da Mente Humana aqui.

  5. A questão não é de essência, mas de ambiente social

    Está comprovado empiricamente que a criminalidade se vincula muito mais ao ambiente social do que a uma suposta essência humana. Isso não significa dizer que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe, mas sim que um contingente de indivíduos, minoritário, mas relativamente grande pode, sob determinada circustância social, tender para o crime. Essa circusntância é a desigualdade.

    A criminalidade é maior em sociedades desiguais e menor em sociedades mais igualitárias: Suécia (muito rica) e Cuba (pobre) quase não têm criminalidade: em comum, são igualitárias. Brasil, África do Sul e EUA têm alta criminalidade, pois são países desiguais.

    Parece que a criminalidade não é, então, a manifestação de uma certa “essência humana”, mas sim a manifestação, por parte de alguns indivíduos, de uma revolta inconsciente contra o sistema social injusto. Por ser inconsciente esta revolta é irracional, violenta e indiscriminada, atingindo, muitas vezes, as pessoas mais vulneráveis: velhos, mulheres, deficientes e crianças.

    O pivete escolhe roubar exatamente a bolsa da velhinha indefesa, numa ironia trágica do sistema social predatório: o injustiçado agride exatamente o mais vulnerável. É como se a lei da selva retornasse às sociedades desiguais, numa espécie de darwinismo social que corrompe a sociabilidade humana. Observe-se que estas sociedade tendem também a ter mais corrupção em suas altas esferas políticas e econômicas.

    E quando se decide punir a criminalidade com encarceramento em massa, como nos EUA e Brasil, enjaulando imensos contigentes de pessoas, cria-se, na prisão, um ambiente coletivo de extrema tensão, perfeito para aflorar e se desenvolver os piores sentimentos e comportamentos humnaos: medo, abandono, hipocrisia, violência, ódio, cinismo.

     

     

  6. Que lixo. Então não se pode

    Que lixo. Então não se pode olhar para uma pessoa prisioneira do medo, da vaidade, da violência e ver que outra educação teria guiado aquela pessoa para outro conjunto de valores que a fizesse se comportar de modo diverso? Que o sistema que a prendeu é o mesmo sistema que multiplica, valoriza  e instila esse comportamento?

    Se o camarada vai raciocinar por achismos está aqui o meu achismo “provando” exatamente o contrário.

  7. Um assunto tão importante tão mal abordado

    vivemos em um momento no qual a questão prisional ganha importância política. A política da Guerra às Drogas encabeçada pelos Estados Unidos e seguida pelo Brasil resulta em aprisionamento em massa e recrudescimento tanto dos policiais, como dos criminosos, cuja vítima é sempre a população. Se isso não fosse suficiente, as políticas neoliberais retiram do estado muitas de suas funções, mantendo apenas aquelas que consideram as exercidas pelos ocupantes das “carreiras típicas de Estado”, composta pelas áreas fiscal, judiciária e policial, ou militar.

    O resultado disso é o encarceramamento de percentuais enormes da população dos países que adotaram essas medidas e, ao invés de diminuir, a violência ela só aumenta. Está provado que quanto mais pessoas ingressarem na convivência da  cultura criminosa que se cria nas prisões, mais o crime e a violência se tornam presentes na sociedade.

    Existem, no entanto, países que adotaram estratégias diferentes, ao classificarem o problema da dependência química como um problema de saúde e não um problema policial. Os resultados foram muito interessantes. Os dois exemplos mais conhecidos são da Suécia e o da Holanda, onde o número de presos diminuiu drasticamente, a ponto das cadeias ficarem ociosas e precisarem ser transformadas em bibliotecas. Enfim era algo baseado em experiências concretas, estatísticas e dados oficiais  eu esperava encontrar aqui. Ao invés disso, aparece este texto que tem a infantilidade de uma redação de oitava série, com generalizações pseudofilosóficas, visando definir a natureza humana.

  8. Não tão rápido…

    Achei o texto muito interessante, e parabenizo o autor pela coragem de tratar o assunto nos termos em que tratou.

    Não posso deixar de comentar a repulsa ao texto expressa nos comentários. Ou os críticos repassam a “cartilha da defesa dos direitos humanos”, ou então insurgem-se contra a idéia de “essência humana”. Apesar de negarem com veemência a possibilidade ontológica da essência humana, não argumentam e nem contextualizam. É como a velha querela sobre a existência de Deus: é impossível se provar que existe na mesma medida em que é impossível se provar que inexiste.

    Apesar disso, em dois importantíssimos momentos da filosofia temos como fundante a noção de essência: com Aristóteles e seu εἶδος (eidos) e com Descartes e sua forma, herdada da tradição escolástica. Ambos, até hoje atuais em certa medida, são essencialistas. Se olharmos para as tradições não-ocidentais, verificaremos que a absoluta maioria destas reconhece uma essência humana, isto é, um conjunto de universalia partilhados por todos os seres humanos.

    O conceito de ser-humano muda radicalmente a partir das narrativas das ciências humanas modernas para explicar a sociedade e o indivíduo. A vulgata do pensamento social desde então tem sido a de um ser-humano que originalmente consiste em uma massa amorfa, e que é “moldado” durante sua vida por estruturas às quais esse homem é passivo. Do marxismo ao behaviorismo, a idéia de um homem que não tem essência nem natureza, mas é “forjado” nas limitações dos estímulos ambientais, de cunho psicológico e social. Como sabemos, é dessa linhagem epistemológica que nasceram grandes ideologias do século XX, que até hoje subsistem da esquerda à direita.

    Com isso, não pretendo desqualificar as ciências humanas, ou declarar que a “essência humana” existe ou não, mas sim alertar para a pressa e superficialidade com que muitos camaradas tratam questões antigas e complexas.

    1. A pior superficialidade é a pretensiosa…

      Realmente, existe essência porque há grandes autores que disseram isso (e há muito tempo, rs). Ora, ora. Escolha melhores pretextos para mostrar erudiçao.

      1. Lúcida, assim não…

        Ah, a interpretação de texto… Eu não afirmei a existência ou inexistência de nada, simplesmente apresentei sucintamente uma discussão sobre essência como eu a vejo.

        Mas no Mediocristão o negócio é assim: não adianta falar, precisa desenhar. E mesmo assim vai chegar gente com argumento chulé desqualificando o que seja… A pessoa se dá ao trabalho de responder sem entender o que está escrito e, consequentemente, sem entrar na discussão.

        Me iludi muito ao achar que alguém retrucaria na mesma moeda… Mas parece que argumento filosófico não cola, o que está em alta é argumento de boteco.

        Se quiser achar que estou sendo pretensioso, não titubeie, já estamos no reino do achismo. Agora, a verdade é dura…

        1. Nao enrole. Vc criticou os que disseram X, donde defendeu nao X

          E foi super pretensioso no texto todo. E mais ainda agora, chamando os argumentos dos outros de argumentos chulé e dizendo que ninguém entendeu o texto e/ou o que vc disse, vc, tao “alto nível”, que usa “argumentos filosóficos” (quais? só vi citaçoes, o que é bem diferente de argumentos…). E se acha que o Blog é o Mediocristao, podia nos dar o prazer da sua ausência. Passe bem.

           

          1. E por aí vamos…

            Eu tentei fazer uma colocação centrada nas idéias, e rapidinho tudo descambou para o pessoal.

            No texto há argumento sim, mas precisa desenhar: a ideia de essência existe desde a antiguidade no pensamento humano, e foi colocada de lado após a derrota da metafísica no plano filosófico, a partir de quando tem início a construção das ciências humanas com uma nova concepção de ser-humano, o “sujeito sujeitado”. É esse o argumento.

            Mas ficou chato agora para discutir as ideias, porque o debate já descambou para o plano pessoal, né?

            “E se acha que o Blog é o Mediocristao, podia nos dar o prazer da sua ausência.” – Olha, eu escrevo o que eu penso, e penso que o debate se dá na maior parte das vezes num pântano de mediocridade, sim. Se esse diagnóstico é pretensioso, então ótimo, eu sou um ser-humano horrível, pretensioso. Mas esse é o meu diagnóstico. Adoraria ser contrariado, mas estou aguardando. Agora, me explique, o que é o “prazer da ausência”? Criar uma bolha confortável é exatamente um sintoma de mediocridade, intolerância ou alienação, ou tudo isso junto. Desculpe incomodar, mas só queria colocar um argumento que eu pensei que contribuiria para a discussão, mas agora tenho a sensação que o buraco é mais embaixo.

            Hoje em dia tá foda discutir qualquer coisa, sempre tem alguém na espreita para antagonizar, ao invés de debater.

            E disse Jesus Cristo: “não jogai perólas aos porcos”. Puta cara pretensioso, não?

          2. Passe bem também

            Obrigado por me julgar, do começo ao fim. Você deve ser uma pessoa muito evoluída, moralmente superior. Eu, panaca que sou, só agradeço.

          3. Cara de pau pouca é bobagem mesmo.

            Vc se põe num pedestal, deprecia tudo o que os outros disseram, e eu é quem me acho moralmente superior? Ora, ora, compre um espelho, vc está precisando de um.

          4. Meta a cara… para levar tapas

            Fora quando eu fui arrogante com você, eu critiquei o ambiente das discussões em termos genéricos (ou seja, não se aplica a todos, mas a quem a carapuça servir). Eu não sei tudo, e inclusive o que sei aprendi com os outros. Por isso, tenho consciência que o que os outros dizem tem valor, e que existem outras pessoas que sabem mais que eu. Mas me desculpe, estava me referindo às postagens dessa página especificamente. Posso ter me expressado mal, pois não sou advogado nem diplomata, mas realmente acho que há problemas nas argumentações.

            Mas afinal, além das agressões gratuitas, o que ganhamos com isso?

            Aposto que você deve ser uma pessoa adorável na vida real, mas na internet, quem somos nós? Talvez por isso seja tão difícil ter uma discussão, porque aqui não existe aquele “outro”, que te olha nos olhos, reprova na expressão facial, interpela no ato.

            Mas te juro, apesar de ter ficado puto por postar idéias gerais e receber uma réplica implicante sobre detalhes do discurso (como se eu tivesse escrito tudo isso só para depreciar os outros) vou tentar me policiar nos comentários, porque a implicância besta nesse espaço é imensa. Não agredi ninguém em específico, e sempre vem alguém me agredir. Mas é a vida…

          5. Numa boa, acho q vc devia se perguntar

            O que está fazendo que provoca uma reaçao irritada nos outros. Releia seus comentários, desde o primeiro. Talvez na calma vc comece a entender como soa pretensioso e arrogante, mesmo se nao quer isso. Numa boa.

    2. O que importa a natureza

      O que importa a natureza humana meu caro? Como o camarada acima colocou, podia ser o proprio demonio, precisa ser tratado com o minimo de dignidade. Nao adianta vir com textao citando latim e tudo mais, eh bem simples.

  9. Discordo em parte

    Concordo que muitos dos presidiários estão realmente num estágio de maldade inenarrável. Mas discordo que por isto não devam ser tratados com o mínimo de Dignidade. Mesmo que eles fossem secretários de Lúcifer, ( se é que isto fosse  possível ) ainda assim teríamos o dever de tratá-los com Dignidade. Se não for por eles, então pelo menos por nossas consciências,

     

    ———-

    Agora discordo que eles sejam tão maus como eu ou você, ou que a espécie humana seja ” má “. Se todas as pessoas que o autor do texto conhece são ” maus ” então o ambiente social  dele é preocupante.

    Desconhece o autor do texto que o ser humano tem níveis Evolutivos, que podemos evoluir, ou involuir, conforme o nosso livre arbítrio.

    No estado de menor evolução, o ser humano é o bom selvagem. No maior estágio de involução, ele se torna pior do que um animal, uma criatura realmente demoníaca, movida pelo ódio, pelo medo,  e pelos sentimentos baixos, E no Estado de maior Evolução, o ser humano se torna um Iluminado, com serenidade Perfeita, Pleno de Paz Interior.

    O medo nos olhos dos presidiários indica falta de fé, de Convicção. Um Iluminado tem antes de mais nada uma Convicção inabalável, que lhe garante a serenidade.

    ————

  10. Salvação?

    Resumindo:

    A essência salva quem já está salvo, ou seja, serão salvos do crime quem tem boa essência, quem não é capaz de externar a maldade intrínseca, a ponto de cometer atos em desatino total – crimes.

    E o que diria o autor do texto sobre os doentes psíquicos que cometem crimes? Certamente, por ter uma essência má,  acumula a doença mental ou, ao contrário, porque tem uma doença mental, logo, possui uma essência má? Assim,nessa vertente de raciocínio, esse pobre diabo não teria caminhos, possibilidades, alternativas  – fatalmente, seria criminoso em potencial?

    Pelo visto, a considerar a essência como algo tão determinante, somos induzidos a concluir que são infrutíferas as ações humanas, individuais ou coletivas, quer sejam educacionais, familiares, científicas, religiosas, políticas, econômicas, etc, etc…

    É muito determinismo para uma época que tem se traduzido em atos de tantos autoritarismos, egoísmos, rótulos…enfim, tudo “delivery”… Se descoberto o crime, consequentemente, a essência humana pode ser diagnosticada, classificada! Pronto! 

    A história humana tem se encarregado de contradizer, negar, surpreender, alterar, modificar, acelerar, desacelerar, contestar, confirmar, incluir, excluir…

    Fato é que  “DE PERTO, NINGUÉM É NORMAL!”  Faz parte da condição humana – uns mais, outros menos!

    Só depende da distância!

     

  11. O ser humano nasce naturalmente mau

    Alguém já viu algum bebê ceder voluntariamente sua mamadeira a outro? O ser humano nasce naturalmente mau, dotado apenas dos instintos animais de sobrevivência (aquilo que em nosso meio chamamos a lei do mais forte) e são as mediações necessárias à vida em sociedade que o tornam bom. Mas se, por algum motivo, essas mediações falham, é então restabelecida a lei do mais forte, o instinto primordial do ser humano naturalmente mau.

    A falha dessas mediações chama-se a impunidade, que é a verdadeira e única causa do crime. Mas responder porque existe a impunidade é mais complicado, e é nesse ponto que nascem toda sorte de falácias, como a de responsabilizar a desigualdade social pelo crime. Parece fazer sentido: os países muito desiguais, como o Brasil, têm um índice de criminalidade muito superior ao de países muito igualitários, como a Suécia. Mas o Brasil também é muito mais pobre que a Suécia, e isso se traduz em poucos recursos para prevenir e combater o crime, poucas cadeias que ficam superlotadas, poucos policiais nas ruas, etc. Se a comparação é feita com outros países pobres, fica mais complicado. A Índia é tão desigual quanto o Brasil, e tem um índice de criminalidade muito inferior. Cuba é igualtária e tem muito menos crimes do que o Brasil. Mas o que há para roubar em Cuba? Só se pode roubar de quem possui alguma coisa, e em Cuba apenas o Estado é proprietário, então todos roubam o Estado: operários desviam ítens das fábricas, balconistas desviam mercadorias das lojas, médicos desviam medicamentos dos hospitais, e tudo vai parar no mercado negro. Quando acaba o comunismo, toda essa podriqueira vem à tona, as máfias mostram a cara, e é então que se vê a “baixa criminalidade” que supostamente existe nos igualitários países comunistas. Foi assim que aconteceu na ex-URSS.

    Na realidade, impunidade e desigualdade social são parte de uma síndrome mais ampla, de pobreza e precariedade. Onde essa síndrome persiste, o crime tende a tornar-se um negócio que compensa, já que os ganhos superam os riscos. Os criminosos são basicamente profissionais. Já onde não existe essa síndrome, como na Suécia, os poucos criminosos existentes têm o perfil de sociopatas, amadores que cometem crimes por prazer pessoal, e não visando um ganho. É nesse ponto que surge a ilusão de que todos os criminosos poderiam ser tratados como doentes, mito que remete ao “bom selvagem” rousseaniano: o ser humano supostamente nasce naturalmente saudável (bom), mas se torna mau (criminoso) se perde essa saúde, então deve ser “curado”. Essa premissa não se aplica ao criminoso profissional, que não deseja ser curado.

    Como também é simplista acreditar que é a falta de uma educação adequada que faz o criminoso. Mais do que os professores, é o convívio social que faz a educação, e um jovem que olhando a sua volta vê professores apanhando dos alunos, colegas traficantes ganhando muito mais dinheiro do que colegas que trabalham e se vão presos, logo estão de volta, só pode concluir que o crime compensa. A única maneira de inverter essa mensagem é tornar os riscos superiores aos ganhos, aumentando as penalidades, de modo que os ganhos deixem de compensar as perdas. Em suma, acabando com a impunidade, a verdadeira e única causa do crime. O mais é bla-bla-bla.

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