Jornalista relata racismo em shopping em São Paulo

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Foto: Jose Reynaldo da Fonseca
 
Jornal GGN – Por meio de seu perfil no Facebook, o jornalista Enio Squeff relatou um caso de racismo ocorrido no Shopping Pátio Higienópolis, localizado em bairro nobre da cidade de São Paulo.
 
Enio conta que estava com seu filho Raul, um garoto negro de 7 anos de idade, quando foi abordado por uma segurança e questionado se o garoto estaria o incomodando. A funcionária tinha ordens de não permitir que ““pedintes crianças” molestar a quem quer que fosse no Shopping”, disse Squeff.
 
 “Estamos falando de uma criança de sete anos, confundida com um mendigo, vestindo agasalho de um dos colégios mais importantes de São Paulo. Ela não viu a roupa, só a pele”, afirmou o jornalista para o jornal O Globo. 

 
Ele também conta que a segurança pediu desculpas e mencionou o fato de que ela também era negra. “Quando ela diz que é negra, sei que ela não fez (a abordagem) por espontânea vontade, mas sim por seguir ordens”, disse o jornalista.
 
Por meio de nota, o shopping afirmou que “reforça que todos os frequentadores são sempre bem-vindos, sem qualquer distinção”.
 
Leia o relato de Enio Squeff abaixo: 
 
“Na sexta-feira passada, lá pelas 18 e 40, enquanto tomava chá com meu filho de sete anos no Shopping Higienópolis, fui surpreendido por uma segurança mulher que me perguntou se a criança, à minha frente, estava me incomodando. Surpreso, inquiri-a sobre razão de seu questionamento. Ela explicitou: tinha ordens de não deixar “pedintes crianças” molestar a quem quer que fosse no Shopping.
 
Não precisou explicar mais nada. Apontei para meu filho e lhe perguntei se ela o considerava um pedinte por ser negro. Meu filho é negro; e estava com um abrigo do colégio Sion. Como eu lhe questionasse para o fato de ela ver pele e não o uniforme, quem se chocou, então, assustada, foi a moça travestida de segurança. Eu que a desculpasse, ela não tinha tido a intenção de me ofender. Para corroborar a extensão de seu pedido de perdão, afirmou-me que ela também era negra -,e sua pele não a desmentia; mas que recebia ordens.
 
“Na sexta-feira passada, lá pelas 18 e 40, enquanto tomava chá com meu filho de sete anos no Shopping Higienópolis, fui surpreendido por uma segurança mulher que me perguntou se a criança, à minha frente, estava me incomodando. Surpreso, inquiri-a sobre razão de seu questionamento. Ela explicitou: tinha ordens de não deixar “pedintes crianças” molestar a quem quer que fosse no Shopping.
 
Não precisou explicar mais nada. Apontei para meu filho e lhe perguntei se ela o considerava um pedinte por ser negro. Meu filho é negro; e estava com um abrigo do colégio Sion. Como eu lhe questionasse para o fato de ela ver pele e não o uniforme, quem se chocou, então, assustada, foi a moça travestida de segurança. Eu que a desculpasse, ela não tinha tido a intenção de me ofender. Para corroborar a extensão de seu pedido de perdão, afirmou-me que ela também era negra -,e sua pele não a desmentia; mas que recebia ordens.
 
Insisti: com o que a direção do Shopping tinha lhe dado ordens de expulsar meninos negros do sagrado local de Higienópolis, era isso? Não prossegui. Ao seu terceiro ou quarto pedido de desculpas, disse-lhe que que se alguém devia desculpas era ela para si mesma e para sua família. Ficava evidente que obedecia ordens (foi essa a justificativa dos carrascos que massacraram judeus na Alemanha, mas isso seria ir longe demais). E que se era para encobrir o racismo de seus patrões – ela que se assumisse na culpa que ela via imputada na pele de meu filho.
 
Confesso, porém, e em suma, que no mesmo instante, tive pena da moça: se fosse à auditoria do Shopping Higienópolis (parece que eles têm isso por lá), é claro que ela engrossaria a lista de desempregados do país. E aí, então, ela seria duplamente punida: não apenas por ter atentado contra uma criança negra, mas por se ter flagrado num racismo duplamente condenável por ser ela mesma negra, num ato discriminatório que ela entranhou em si, como parte do seu trabalho.
 
Lamentável – mas talvez explicável. Os capitães do mato vicejam no terreno fértil do racismo, que, por sua vez, se escora na extrema direita. Não é por nada, aliás, que 70% dos jovens assassinados no Brasil, sejam negros.
 
Enfim, são esses os tempos, mas também este o país…”
 
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Redação

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  1. É o plano

    Nenhum senhor de escravo encostou um dedo em qualquer negro escravizado nas Américas. Era trabalho sujo, indigno, de gente menorizada no sistema. 

  2. Através de mecanismo

    Através de mecanismo semelhante a abominável rede Globo e seus satélites não menos monstruosos e fascistas fazem com que um grande contingente da população brasileira lute e se oponha visceralmente contra seus próprios interesses e contra sua própria cidadania. O câncer do racismo é apenas parte do grande tumor maligno que se alastra pela sociedade brasileira. Estas pequenas tragédias do quotidiano, muitas vezes nem percebidas pelos circunstantes, reunidas ao muito que há por detrás delas, desembocam no comportamento insano e canalha de imensa parcela da sociedade, que aplaude Bolsonaro e o degenerado atorzinho de estorietas de michês que se arrogou o direito de dizer ao ministro golpista o que deve ser feito com a educação no Brasil. Para quem não sabe, a função de Capitão do Mato, quase sempre, foi exercida por negros libertos, tornados algozes de sua própria gente. É necessário que a sociedade brasileira, neste momento trágico que vivemos, adquira consciência e decida se quer realmente seguir por esse caminho asqueroso que vem trilhando já há quinhentos anos. Seria o momento de acordar e tomar um rumo mais digno, menos inumano.

  3. Sem surpresas
    Casos assim eu ja tive com a policia 3 vezes em que dirigindo meu carro fui abordado nas 3 vezes com armas em punho apontadas para mim e aos gritos de “para,encosta”.E isto é os recentes,não vou prolongar os da minha vida.Se antes desta faceta facista sair do armario o racismo ja campeava o pais,com o incentivo do estado e da midia,a certeza da impunidade o racismo aumentou exponencialmente e é as caras,não ha mais o minimo pudor.

  4. As abordagens da polícia

    Na minha juventude varávamos a madrugada, eu e um grupo de amigos/vizinhos, nas festinhas de aniversário dos colegas de bairro, voltando a pé pra casa das farras depois de passar o último ônibus, ou simplesmente conversando na rua, na porta da casa de alguém da turma.

    Nossa galera tinha 6 membros. 5 eram brancos e o Xande era negro. Não só negro, mas um negão, com 1,90 de altura. Xande era músico, baterista e tecladista, de todos nós foi o 1° a aprender inglês, só pra curtir com propriedade o rock europeu. Foi também o cara que me apresentou The Beatles, me emprestando o seu exemplar de Rubber Soul. Ninguém sabia o que era Kraftwerk e ele já conhecia a discografia inteira dos caras. Acho que foi comprador do 1° álbum do Plebe Rude vendido no estado do Pará. Quando a gente vinha com a última novidade das rádios ele já tinha ouvido até cansar.

    Quando estávamos os 5 brancos andando pelas ruas as viaturas de ronda da polícia passavam e não paravam. Quando o Xande estava com a gente invariavelmente paravam. Todo mundo era parado e submetido àquele ritual ignóbil e prepotente do baculejo: mão na parede (ou na cabeça), abre a perna, “cadê os documentos?”. Como se a minha carteira de identidade trouxesse escrito se eu estava fazendo algo errado ou não…

    Xande reagia com enfado a essas abordagens. Mal a viatura dava um toque de sirene e ele já se colocava em posição de baculejo, com uma expressão no rosto que misturava “saco!” com “lá vem esses caras de novo…”.

    Anos se passaram, até que vim embora pra Brasília, sem nunca ter sido baculejado pela polícia. À exceção daqueles dias em que o Xande estava comigo…

  5. Racismo e preconceito social juntos

    Higienópolis é racista sim e a maioria de seus frequentadores judeus e não judeus ricos e de classe média alta também. Negro entra lá se for negro aparentando ser rico como delegados de terno e gravata e membros da Policia Federal (cada vez com menos negros em suas fileiras), atores, etc. Negro pobre não. A coisa ali é dupla: racismo e preconceito social associados. Sei porque morei por lá um tempo e vi cenas impagáveis; Uma delas um cachorro  sentado numa cadeira ao lado de sua dona no café logo à entrada do shopping com ela beijando-o na boca. Outra, um cachorro cagando tranquilamente no meio da passagem de pedestres com sua dona sorrindo sem que nenhum segurança se atrevesse a falar com ela, branca e bem vestida, que não limpou a sujeira.Cachorros podem circular a vontade com seus donos brancos e bem vestidos, negrinhos não. Meninos negros que se atrevem a entrar até por curiosidade pois as portas estão abertas são imediatamente instados a se retirar porque, claro, na cabeça de boa parte dos que lá estão, além de negros, eles são pobres. Vi isso muitas vezes. Portanto, nenhuma surpresa se o filho do Squeff por ser negro e menino mesmo com uniforme do Sion que a segurança certamente nem sabe o que é foi logo identificado como perturbador da ordem.

  6. Servidão e Obediência

    Em quê essa moça, segurança do Shopping Higienópolis, difere dos PMs ?

    Recomendo, para reflexão, assistir na Netflix ao documentário “O Experimento de Milgran” – um experimento sobre a obediência.

  7. Eu, muito à contragosto, só

    Eu, muito à contragosto, só entrei em um shopping de lojas “de grife” (argh!) uma vez. Foi no tal Village Mall, na Barra da Tijuca, Rio. Fui na loja da Asics à procura de um tênis pra voltar a correr.

    Entrei e saí em menos de dez minutos, pois os tênis Asics são muito estreitos para o meu pé (mesmo números acima); e os de caixa mais larga não chegam ao Brasil.

    Não censuro quem vai, nem vou criticar os tais “rolezinhos”. Mas eu não dou moral nenhuma, não rendo homenagem nenhuma a esses “templos” do consumo e a tantas outras baixarias consumistas: eles não gostam de mim; eu não gosto deles; logo, cada um na sua: ponto.

    Aliás, a palavra “chique”, para mim, não é nenhum elogio.

  8. Racismo institucional é isso…

    Esse relato é um caso exemplar, ocorrido aqui em São Paulo.

    Eis que essa institucionalidade ensina a pretos discriminarem e tratarem mal a outros pretos/pardos,  em ´cumprimento´ de ordens de seus patrões que baixam regras racistas e estúpidas que violam a dignidade humana!

    Quem não foi uma criança de cor, jamais saberá o que significa isso! Jamais saberá ler o olhar de desprezo. O olhar de desconfiança! A exclusão nas festas escolares.

    Paul Sartre já dizia nos anos 1960: ” Nós, intelectuais brancos temos o dever da solidariedade anti-racista, porém, jamais saberemos a dimensão do sentimento das vítimas do racismo.”

    Feministas brancas denunciam a qualquer um afrodescendente de assédio e violência sexual, sem qualquer responsabilidade de investigação.

    A polícia civil, o ministério público e a Justiça promovem custosos processos penais – por vários anos – e condenam a pretos e pardos – sem qualquer fundamento legal, apenas pela presunção de que se está sendo acusados é por que é culpado.

    A polícia militar, recruta muitos pretos e pardos – um dos poucos empregos de ascenção social que lhes confere poder e autoridade – mas que são treinados para o cumprimento do papel sujo: são maioria nas repressões de movimentos sociais. No patrulhamento das periferias e são amestrados para a execução de jovens pobres nas periferias urbanas.

    A mesma lógica escravista – da alforria – especialmente utilizada pelos portugueses, mais que em qualquer outra sociedade escravista: o alforriado era um cidadão de 2a classe que tinha por missão defender os interesses dos senhores de escravos, sob pena inclusive de ser revogada a alforria o que se estendia a sua prole.

    Ainda como herança escravista, temos hoje, 70% dos pobres são pretos e pardos, Po isso que 70% das vítimas das PMs são jovens de 16 a 30 anos, homens, de cor.

    Enfim… o racismo institucional é o que atua permanentemente na manutenção das estruturas sociais fundadas nas discriminações e exclusões em razão da cor da pele.

    Essa é uma luta que precisa ser sempre denunciada!

     

  9. Enio tem razão, são esses os tempos, este o país:
    Nassif, o xadrez da intolerância de há muito é jogado naquela banda da cidade, que desde o século XVI vem servindo à aristocracia paulistana. Doada pelo donatário Martin Afonso de Souza á Companhia de Jesus, essa antiga “sesmaria do Pacaembu” foi comprada e loteada em 1895 pelos capitalistas alemães Martinho Buchard e Victor Nothman, que trouxeram da França os projetos e materiais de construção de seus palacetes destinados à elite interessada em morar no prolongamento do espigão da Paulista, bem no alto do mar de morros ou colinas aonde se erguia a cidade, longe dos vales, das enchentes de seus mais de 230 córregos e rios e das epidemias de febre amarela, malária e tifo. Daí o nome Higienópolis, que concentrou uma classe média alta que antes ocupava o primeiro loteamento destinado aos mais ricos – o de Campos Elísios – e foi o berço da “revolução” de 32, contrária àquele Getúlio Vargas empenhado em criar direitos trabalhistas incompatíveis com a necessidade de dispor de pelo menos 15 serviçais para manter cada palacete ou mansão, além do necessário às industrias e grandes fazendas. Higienópolis foi a terra natal da TFP e de seu fundador, Plínio Correa de Oliveira, concentrando a maior colônia judaica endinheirada do continente, o maior número de milionários e os primeiros arranha-céus igualzinhos aos das maiores cidades americanas, quando terminou o ciclo europeu. Reunindo os principais colégios e universidades, ali nasceu a Semana de Arte Moderna de 22, mas também Cerqueira César, o empresário responsável pela introdução das garrafas e embalagens PET que nos assolam, bem como abrigou e abriga o maior número de personagens influentes da vida nacional, principalmente nas cercanias do shopping Higienópolis (entre os quais, FHC); além dos maiores defensores da cruzada contra os três “p” originais, pobres-putas-pretos. Ou quatro, se for levado em conta o pê daqueles que ali fundaram no Colégio Sion, em 1980, o PT. ‘Racistas, não; aqui o preto conhece o seu lugar’ – já ironizava uma das músicas mais cantadas nos corsos da avenida Angélica, segundo o jornal “O Pirralho” estampava em 1915, quando o desfile foi transferido para a avenida Paulista, préviamente molhada para evitar que do calçamento de terra batida surgisse concorrência à cocaína até então vendida livremente nas melhores boutiques e pharmacies, importada da Europa, sem qualquer resquício de crack, esse derivado desse pó que, agora refinado em Claudio, Minas Gerais (cada carregamento de 450 quilos de pasta base, como os encontrados no helicóptero do senador Perrela à caminho do aeroporto de Aécio Neves, dá origem a quase cinco toneladas de cocaína) inunda os principais centros urbanos do Sudeste brasileiro, transformando o centro paulistano, os Campos Elísios e outros vizinhos de Higienópolis em cracolândias, isto é, em locais de consumo de uma substância impregnada de solventes orgânicos altamente carcinogênicos e lesivos ao cérebro de seus usuários, geralmente pertencentes aos três pês em fase de extermínio pelos adeptos dessa intolerância transformada em bandeira eleitoral de aspirantes à presidência da República, tipo Bolsonaro.

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