A questão da exploração sexual infantil, segundo Luciana Temer

Ex-secretária de assistência social de SP comanda ONG contra exploração sexual, trazendo índices assustadores sobre Brasil 
Luciana Temer, coordenadora o Instituto Liberta. Foto: Pedro Garbellini
 
Jornal GGN – Luciana Temer, professora da Faculdade de Direito da PUC-SP e ex-secretária municipal de Assistência Social de São Paulo, destacando-se pela execução do programa “Braços Abertos” na gestão de Fernando Haddad, foi convidada pelo empresário Elie Horn, dono da incorporadora Cyrela, para coordenar o Instituto Liberta, organização não-governamental recém-criada para combater a exploração sexual de crianças e adolescentes. 
 
Em 2015, ao lado da esposa, Suzy Horn, o empresário anunciou que haviam decidido doar, em vida, 60% da fortuna para programas sociais. Eles se tornaram, também, os primeiros brasileiros incluídos no “The Giving Pledge”, programa criado pelos empresários Bill Gates e Warren Buffet, em 2010, uma espécie de clube que reúne ricos dispostos a investir, pelo menos, metade de suas fortunas em causas sociais. Para fazer parte do grupo é preciso ter um patrimônio igual ou superior a US$ 1 bilhão.

Em entrevista ao programa online Na sala de visitas com Luis Nassif, Luciana defendeu a importância do trabalho com foco na exploração sexual de crianças e adolescentes. Segundo dados das Nações Unidas (ONU), a cada hora 228 crianças são submetidas a esse tipo de trabalho na América Latina e no Caribe, com destaque para o Brasil que, na região, ocupa o primeiro lugar.
 

Todos os anos 500 mil crianças, entre sete e 14 anos, são vítimas da indústria sexual no país. Dado que, na avaliação de Luciana, é subestimado: 
 
“A parcela de casos denunciados é muito pequena. Então nós achamos que esse número é muito maior”, disse, completando que o tema da exploração sexual de seres humanos tão jovens é ainda pouco discutido no Brasil. 
 
“Fala-se muito em abuso, que é um conceito que todos entendem: o abuso é, normalmente, intrafamiliar. Enquanto que a exploração é, na verdade, o uso da criança e do adolescente para fins sexuais com remuneração. Então, quando uma pessoa vê uma menina com 16 ou 15 anos de shortinhos se oferecendo fala: ‘ah, a menina está querendo’. Essa é a mentalidade, mas essa menina começou aos sete anos”.
 
Ao ser questionada se a exploração sexual infantil está concentrado na região Nordeste, a coordenadora do Liberta destacou que esse tipo de abuso ocorre em todo o país, não apenas nas rotas turísticas, apontando que a região Sudeste ocupa a segunda colocação no número de casos. 
 
Na sua avaliação, a iniciação da vida sexual de crianças e adolescentes antes da maturidade física e intelectual deve ser contabilizada como uma grande “maldade” na vida desses jovens. 
 
“[Eles] perdem qualquer possibilidade de se sensibilizar com a questão sexual e, isso, é uma morte de uma parte da vida”, lembrando que, ao debater o tema na concepção do Instituto, com Elie Horn, ele comparou esse nível de exploração à mutilação genital feminina, realizada em muitos países da África e do Oriente Médio, só que a mutilação exercida sobre as jovens mulheres aqui é mental. 
 
“Essas meninas acabam engravidando muito precocemente, ficam doentes muito precocemente. Fatalmente abandonam a escola e têm filhos que vão ser fruto dessa lógica. Só tem uma forma de romper esse ciclo de miséria que é a educação. Mas se essa menina vai para este meio e abandona a escola, pronto! Esta criança está perdida”, explicou Luciana. 
 
Qual o perfil desses meninos e meninas explorados sexualmente? Segundo a ONU são, na maioria, pobres, negros e indígenas, fruto de lares desestruturados e jogados neste mercado de trabalho para melhorar a condição de vida. Muitos têm histórico de violência doméstica, sustentam algum vício ou a necessidade de atender algum apelo consumista. 
 
Luciana disse que o Instituto Liberta iniciará uma campanha massiva nos meios de comunicação em âmbito nacional. A organização assinou parcerias com outras entidades de proteção da criança, entre elas a Childhood Brasil, Abrinq e UNICEF, além do Ministério da Justiça por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente. 
 
“Nós acreditamos que o primeiro movimento é justamente acordar a sociedade para um problema que ela pensa que não existe”, completou. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=ZGxmMcAFj_A
A entrevista completa que Luciana Temer concedeu ao jornalista Luis Nassif você acompanha na próxima semana, aqui no GGN
 
 
 
Redação

3 Comentários

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  1. É mais grave do que se supõe

    Esta questão da exploração sexual infantil e adolescente é mais grave em dimensão e implicações do que imaginamos, com reflexos na cultura e no desenvolvimento social e mesmo econômico! Como diz o texto acima, não é um problema do nordeste ou norte pobres, destacando-se que o sudeste “rico” ocupa o segundo lugar. 

    1. É de fato uma questão muito

      É de fato uma questão muito mais grave em dimensão do que se imagina. E vai muito, muito além do norte/nordeste pobres e sudeste “rico” do Brasil. É mundial. Duvido, porém, que o programa patrocinado pelos bilionários Bill Gates e Warren Buffet consiga  ir além de ações pontuais no terceiro mundo. No primeiro mundo, tido como civilizado, esbarra numa rede composta figurões, gente de alta grife, totalmente blindados. 

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