Maju faz um discurso histórico contra o racismo, por Maurício Stycer

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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JNMariaJuliaCoutinho2

do UOL

Maria Julia Coutinho faz um discurso histórico contra o racismo

por Mauricio Stycer

Vítima de ofensas racistas, a jornalista Maria Julia Coutinho ganhou o direito de falar, ao vivo, no “Jornal Nacional”, sobre a agressão que sofreu. Por 70 segundos, nesta sexta-feira (03), a “moça do tempo” do principal telejornal do país fez um discurso, a meu ver, histórico. Firme, mas sem levantar a voz, indignada, mas altamente didática, ela representou milhões de pessoas que enfrentam dramas semelhantes no cotidiano, mas não dispõem de um palco com este alcance. Reproduzo a íntegra do que disse.

“Estava todo mundo preocupado. Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos corredores. Mas a verdade é o seguinte, gente. Eu já lido com essa questão do preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo, que é o mais importante. Eu cresci em uma família muito consciente, de pais militantes, que sempre me orientaram. Eu sei dos meus direitos. Acho importante essas medidas legais serem tomadas, até para evitar novos ataques a mim e a outras pessoas. Isso é muito importante. E quero manifestar a felicidade que fiquei, porque é uma minoria que fez isso. Eu fiquei muito feliz com a manifestação de carinho, Recebi milhares de e-mails, de mensagens. Isso é o mais importante. A militância que faço é com o meu trabalho, sempre bem feito, com muito carinho, com muita dedicação, com muita competência, que é o mais importante. Os preconceituosos ladram, mas a caravana passa.”

Atualizado às 13h: Em mensagem postada no início da tarde em seu perfil no Facebook, Maria Julia classificou os ataques que sofreu como “uma tempestade de burrice” e informou que medidas judiciais “já estão sendo tomadas”.

“Recebi uma chuva de amor, rajadas de solidariedade me ajudaram a ficar de pé e raios de carinho me aqueceram. Que tempo bom! (aqui essa expressão cabe kkk). Obrigada por todas as mensagens. A respeito da tempestade de burrice que desabou sobre minha cabeça, já disse o que tinha que ser dito ontem no JN. Agora basta. As medidas legais já estão sendo tomadas. Repito: minha militância é fazer meu trabalho bem feito, sem esmorecer, nem perder a serenidade. Os preconceituosos ladram, mas a caravana passa. Beijos”.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. A origem e a banalidade do mal.

    Que a nossa solidariedade a Majú não nos cegue, não nos faça perder de vista quem é que sempre apoiou e apoia toda forma de repressão à luta de negros e movimentos populares, pela democracia e justiça social.

    A luta pela democracia mais ampla sempre teve um poderoso inimigo que todas as noites entram em nossas salas para destilar ódio e preconceito dissimulado; que simula uma crise e nos faz acreditar numa balela chamada meritocracia.

    São os Marinhos, os Kamel, os Bonner, os grandes inspiradores deste e de outros tipos de preconceitos e violências contra pretos, putas (Lembram do Boninho atirando ovos podres na meninas que faziam ponto em copacabana?), petistas, (Hei Dilma, Vai tomar no Cú, lembram?).

    Tudo isso vem de lá, do Jardin Botânico. A Majú entrou lá por mérito sim, mas tambem como estratégia de marketing da empresa para apagar sua imagem já bem desgastada entre as várias minorias.

    Seu chefe Ali Kamel ,poderoso diretor de jornalismo da emissora, escreveu um celebrado livro entre os de sua iguala,   contra a política de cotas chamado “Não existe racismo no Brasil” ou coisa assim.

    Seria bom chamá-lo ao JN para nos dizer que a ação contra Majú é um caso isolado, sem importancia.

    “O mal se corta pela raiz”, diz o ditado. Nas Organizações Globo males como esse é regado e muito bem, pelos profissionais mais bem pagos da emissora, sejam eles jornalistas, apresentadores, comentarista e articulistas de todas as formas de mídia do grupo.

    Fique esperta Majú, acorda povo!

     

    Edivaldo Dias de Oliveira

     

  2. De mnha parte, ela e todos

    De mnha parte, ela e todos que sofrem discriminações, só tenho amor pra dar, e muita solidariedade, além de um grande conselho: jamais troque o choro pelo riso porque você é poderosa; nasceu com uma luz tão grande que quando fala e rir a gente tem gosto de ver sua boca e sua expressão belíssima. Seu rosto, nem falar: é todo uma escultura.

    Como sou nordestina, tenho mais força a dar a quem passa por esses problemas. Mas eu também nunca, jamais, me vi mal por ser nordestina. Nem digo que tenho orgulho, nem digo nada sobre isso, apenas não nasci noutra região, e pronto. Não tenham orgulho da negritude, nem deixe de tê-lo, seja você independente de qualquer raça, credo, gênero, o escambau, e siga a vida, sorrindo, e mostrando capacidade e qualificação pro que der e vier. Nada é fácil pra quem tem que lutar muito, mas quem encontra tudo na mão também não pode sentir o gosto da vitória consquistada. 

    Também sou Maju, e tô com inveja da sua cara linda, que vi melhor nas últimas fotos.

     

    1. é a velha máxima…

      ” pimenta no c…… dos  outros  é refresco !!  “

      Me  solidarizo com a brava jornalista (companheira de bancada  de Heródoto Barbero),  mas, para o ” Alá o Camelo”….nada  como um dia  após o outro !!!!

  3. Dúvida

    Fico com uma pulguinha me incomodando… A Globo desesperada por audiência, com o fora do Zeca Camargo…. Com uma imagem de forçar ódio e negtivismo… será mesmo que esse ataque foi ORIGINAL? Quero dizer: Globo através de sua funcionária ganhou holofotes e posou de vítiima…. Os ataques se não estou enganada foram em UM UNICO DIA e seguidos (meio insistente) não parecem naturais… ao acaso… ou mesmo genuínos… Não sei explicar algo parece fora do lugar meio forçado. Sim, sou contra racismo, mas nesse caso fico na dúvida se não foi forjado para dar audiência e ares de vítima à Globo.

    1. Concordo

      Não tenho dúvidas que isso é armação da Globo, que está promovendo a Maju há tempos. Ela quer dar novas caras à rede Globo, se reaproximar mais da população. A internet tem revelado o que a Globo realmente foi nesses tempos todos, desde a ditadura, e a imagem dela se queima cada vez mais, inevitavelmente. 

      A Globo tem uma central de inteligência que calcula cada passo da emissora. E ela precisa de polêmicas, precisa chamar atenção para si, cada vez mais. Precisa estar na mente, no coração e na boca do povo, pois ela vem perdendo esse espaço gradualmente. É uma caminho sem volta esse desespero por chamar a atenção, enquanto apresentadores se envolvem em polêmicas ou viram memes por motivos engraçadinhos, repórteres e analistas se envolvem com política tentando interferir na área público para proteger seus interesses (o que faz desde a ditadura).

  4. Voltando ao assunto..

    Solidariedade à parte, na prática, a  toria é outra !!!    A imagem da equipe de “épouca” fala por si mesma !!!

    Só uma funcionária oriunda da “Senzala”  contra 99,9%  da “Casa Grande” !!!

    Sem palavras !!!

  5. Parteum

    Quando o garoto negro é arrancado da loja na Oscar Freire, vocês não são todos Maju. Quando a propaganda sugere que a garota negra precisou ser adotada pra ter acesso à educação e refrigerante, vocês não são todos Maju. Quando um apresentador em Black Face faz um Rap pra vender biscoitos, vocês não são todos Maju. Quando vocês dizem que tal pessoa tem cabelo “ruim”, vocês não são todos Maju.
    Quando vocês seguram suas bolsas no elevador do shopping, vocês não são todos Maju. Quando vocês não me cumprimentam no hall do prédio, ou trancam o portão ao me ver chegando, não são todos Maju. Quando vocês dizem que racismo não existe, e uma pessoa que “deu certo” como eu não deveria pensar ou falar sobre isso, vocês não são todos Maju. Quando, na minha própria agência bancária, demoro 10 minutos pra ser liberado na porta giratória, vocês não são todos Maju. Quando eu tento pegar táxi num ponto onde não me conhecem, vocês não são todos Maju. Quando a criança negra aparece bem menos na tela do comercial de suco, ou de fralda, vocês não são todos Maju. Quando eu sou o único pai “de cor” nas atividades da escola da minha filha, vocês não são todos Maju. Quando a família de negros que a TV apresenta, numa obra de ficção bem torta, é formada por bicheiros, beberrões, advogados corruptos e mulheres promíscuas, e vocês acham que esse é o toque de realidade da obra, vocês não são todos Maju. Quando insistem com as piadas de macaco, “preto” só é bom sambando e jogando bola, vocês não são todos Maju. Quando vocês acham mesmo que são todos lordes britânicos que magicamente apareceram num país da América latina e aqui vivem, vocês não são todos Maju. Quando não reconhecem os efeitos da escravidão sobre descendentes da diáspora africana, vocês não são todos Maju. Quando acham que nossas guias coloridas e o nosso batuque são uma afronta ao Deus — impávido colosso da imaginação de quem torceu textos bíblicos pra condicionar mentes, vocês não são todos Maju.

    VOCÊS NÃO SÃO TODOS MAJU.

     

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