O neto 109, recuperado pelas Avós da Praça de Maio, se suicida

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Pablo Athanasiu Laschan não esteve presente na coletiva de imprensa em que se anunciou a recuperação de sua identidade, em agosto de 2013

Jornal GGN – Pablo Athanasiu Laschan, o neto recuperado 109, foi achado morto em um apartamento do bairro Constitución, em circunstâncias consideradas como de suicídio, e por ele as Avós da Praça de Maio expressaram seu pesar.

Fontes da organização confirmaram a morte, mas afirmaram que não tinham detalhes do que ocorreu à noite, em um apartamento do bairro Constitución.

Um comunicado da entidade, no entanto, expressou sua “profunda dor pela morte do neto recuperado Pablo Germán Athanasiu Laschan” e enviou seu “mais sentido pêsame à sua família”.

“O terrorismo de Estado deixou duras marcas em nossas famílias. Dia após dia as Avós lutamos amorosamente por reconstruir nossos laços rotos. Assim como celebramos a restituição de cada neto como se de cada uma de nós fosse, cada partida antecipada nos dói intensamente”, assinalou o comunicado.

Athanasiu Laschan tinha 39 anos e era filho de um casamento de militantes do ERP, que foi levado sequestrado junto de seus pais por um grupo paramilitar em 15 de abril de 1976 quando tinha somente cinco meses e meio.

Frida Laschan Mallado e Ángel Athanasiu Jara, cidadãos chilenos, eram militantes do Movimento da Esquerda Revolucionária (em espanhol MIR) e, em março de 1974, logo depois do golpe de Estado encabeçado por Augusto Pinochet, a mulher sofreu uma perseguição política até que se exilou em Buenos Aires.

Em Buenos Aires se reencontrou com seu parceiro, que havia escapado um tempo antes para a Argentina, e começaram a militar no PRT-ERP.

Viveram oito meses na Capital Federal e depois se mudaram para San Martín de los Andes, Neuquén, até meados de 1975, mas ante os avisos de que estavam sendo vigiados, decidiram voltar para Buenos Aires.

Em 29 de outubro de 1975 nasceu seu filho e em abril de 1976, o casal e o menino foram sequestrados do hotel em que viviam, em um ataque realizado por forças de segurança como parte da Operação Condor.

O menino foi registrado como filho natural com data de nascimento em 7 de janeiro de 1976 por um casal com estreita vinculação com o regime civil-militar, tanto é assim que seu apropriador hoje está detido por crimes de lesa humanidade.

Desde o sequestro dos pais e do filho, as famílias Athanasiu e Laschan realizaram diversas denúncias e, inclusive, viajaram a Buenos Aires para poder encontra-los. Eles buscaram, sem sucesso, em prisões, asilos e orfanatos.

Em 1982, a organização Avós da Praça de Maio apresentou denúncia por seu desaparecimento – foi uma das primeiras da Associação – perante o Tribunal Federal Número 1, atualmente a cargo da juíza Maria Romilda Servini de Cubría.

Em abril de 2013, frente às informações que indicavam que poderia ser filho de desaparecidos, e em colaboração com os Direitos Humanos do Ministério de Segurança Nacional, a instituição chegou ao jovem para convidá-lo a deixar sua amostra genética. Em agosto de 2013, a Comissão Nacional pelo Direito à Identidade (Conadi) confirmou sua identidade.

Com informações do La Capital e Infobae

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1. E pensar que hoje tem gente

    E pensar que hoje tem gente que acha legal tirar selfies com torturadores e assassinos da ditadura

     

     

     

     

    Morre mulher cuja imagem virou símbolo da luta contra ditadura militar

     

    Em 1979, a menina Rachel se recusou a cumprimentar o então presidente João Baptista Figueiredo

    Em 1979, a menina Rachel se recusou a cumprimentar o então presidente João Baptista Figueiredo

    Morreu no sábado (11), em Belo Horizonte, Rachel Clemens Coelho, 41, que virou símbolo da luta contra a ditadura militar (1964-1985) quando tinha apenas cinco anos.

    Em setembro de 1979, no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro, a garota se recusou a cumprimentar o então presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985), que visitava a capital mineira para lançamento do carro a álcool.

    O general-presidente tomou cafezinho no centro da cidade, fez um discurso, seguiu para o Palácio da Liberdade para almoçar com o governador Francelino Pereira (Arena) e autoridades do governo mineiro, tudo caminhando de acordo com o planejado.

    Mas, para surpresa de Figueiredo, ao dirigir seu cumprimento para a menina, ela o rejeitou e permaneceu de braços cruzados.

    O pai de Rachel era funcionário do DER (Departamento de Estradas e Rodagens) de Minas Gerais, tinha sido convidado para o almoço e levado a filha ao evento.

    A imagem do fotógrafo Guinaldo Nicolaevsky (1939-2009), militante de oposição ao regime militar, foi publicada por diversos jornais e revistas no Brasil e no exterior.

    Rachel Coelho morreu de parada cardíaca. Ela cresceu em Belo Horizonte, formou-se em comércio exterior, fez pós-graduação no Instituto Tecnológico da Aeronáutica e atuou profissionalmente em diversos países. Deixou uma filha, Clara.

    Em 2011, ao se lembrar do episódio, Rachel disse que, com apenas cinco anos, não tinha noção do que representava seu gesto.

    “Sou de uma época em que a criança era só criança e se preocupava mais em brincar e se divertir”, afirmou.

     

    1. Mas é preciso uma enorme dose de imaginação…

      Mas é preciso uma enorme dose de imaginação, bem como de mau gosto, para acreditar que o gesto de uma menina de cinco anos teve alguma conotação política. Uma criança de cinco anos sabe o que é ditadura? Com certeza ela se recusou a cumprimentar o presidente porque ficou assustada, já que não o conhecia.

  2. Poxa, que pena a morte desse

    Poxa, que pena a morte desse neto, deve ser duro para as Avós. Acompanho a saga delas e a cada neto encontrado, comemoro com um post no facebook. Não sabemos as sequelas que ficaram a esse rapaz com o que viveu ainda bebê e a dificuldade de descobrir sua identidade. Não me lembro mais os nomes, mas tivemos aqui no Brasil na época da ditadura o caso de um menininho que foi preso junto com os pais e que na vida adulta também se suicidou. Muito triste tudo isso. 

  3. A coisa mais desgraçada

    A coisa mais desgraçada dessas ditaduras foi a separação odiosa, sangrenta, e vil, que esses monstros faziam dos pais com os filhos. A Argentina se superou por levar recém-nascidos para outras famílias. Mas no Brasil fizeram também muitas atrocidades, como vi num vídeo um hoje homem feito dizer que assistiu sua mãe nua ser torturada. Como admitir que esses homens puderam agir dessa forma, percebendo salários por isso mesmo, e com todo o respaldo do Presidente da República.

    A História já foi contada em muitas partes, embora jamais possa ser narrada in totum, mas ela aflige quem já viveu aqueles anos de chumbo, e os que um dia ouviram falar pela boca dos seus pais, ou da de um professor que também seja a favor da democracia. No entanto, custa acreditar que muitos jovens e de meia-idade sequer querem ouvir falar sobre essa realidade, na medida em que estão, desde cedo, manipulados pelas mentiras que ouvem. Não é à toa que muitos saem hoje às ruas com cartazes pedindo a volta da ditadura. Imagine se um filho de Bolsonaro será capaz de se sensibiliar com a história dessas crianças. Os miliatares são, em maioria, a favor dessas atrocidades passadas porque em suas mentes permanecem a ideia de que tudo foi feito para que no Brasil não se instalasse o comunismo, e pronto, e acabou. Não imagino qual a respostas desses homens – meliantes – se o filho ou o neto perguntar se era necessário tirar os filhos dos pais, torturar, estuprar, desaparecer com os corpos. Não dá pra imaginar, mas todo militar, bem acomodado com suas ideologias fabricadas por seus superiores, devem usar seus filhos e netos como subalternos que eles foram nas tropas para seguir nas manipulações. 

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