Padre Júlio mostra que poder público ainda está longe de atender moradores de rua

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Foto: Divulgação

da Rede Brasil Atual

Padre Júlio mostra que poder público ainda está longe de atender moradores de rua

Programa “Entre Vistas” desta terça-feira, na TVT, traz o coordenador da Pastoral do Povo de Rua e defensor dos direitos humanos

São Paulo – A realidade dos moradores de rua, pouco conhecida do cidadão brasileiro, e ideias de políticas públicas mais consistentes para o atendimento dessa população estarão em debate no programa Entre Vistas desta terça-feira (18), na TVT. O convidado é o coordenador da Pastoral do Povo de Rua e defensor dos direitos humanos padre Júlio Lancellotti.

Uma das bandeiras preconizadas pelo padre é uma mudança completa no modelo de atuação do poder público, que atualmente, graças à burocracia, despende recursos sem que os benefícios efetivamente cheguem a quem precisa. É o caso da prefeitura de São Paulo que, lembra o padre, gasta cerca de R$ 1.500 por mês com cada morador, em uma capital que tem perto de 25 mil moradores de rua, “mas isso não chega na pessoa, o que chega é a salsicha”, afirma ao jornalista Juca Kfouri, que apresenta semanalmente o programa.

Padre Júlio defende, por exemplo, como modelo de política pública, a locação social – sistema em que a pessoa aluga uma habitação para pagar 10% do que ela ganha, e morar por quanto tempo precisar sem que o imóvel tenha de ser sua propriedade. “A locação social diminuiu a população de rua em 50% em Lisboa”, destaca o padre, referindo-se ao modelo que prosperou na Europa, sobretudo depois da 2ª Guerra Mundial, para atacar os graves problemas sociais que restaram do período.

“Nós estamos trabalhando por isso (locação social). A pessoa tem direito de morar sem ter o direito de propriedade. A propriedade não é dela, mas ela pode morar por tempo indeterminado, tendo a chave da sua porta e com autonomia para fazer sua comida, e organizar o seu espaço. E ela vai pagar 10% do que ela é capaz de ganhar em suas atividades, como a reciclagem, guardando carros, seja lá o que for. Esse é o melhor caminho, mas ele não anda”, afirma.

Indagado também quanto às perspectivas dos moradores de rua com o governo eleito de Jair Bolsonaro (PSL), de conservadorismo radical, o padre não mostra muitas esperanças. “Eu acredito que vai ser um processo longo e difícil. O próprio Papa Francisco chama a atenção para o descarte. Essa é uma população descartada e ela faz parte da lógica do sistema. Não se muda o resultado dessa lógica sem mudar o sistema. Enquanto estivermos nesse sistema socioeconômico e político, não muda a situação da população de rua”, afirma Júlio Lancellotti.

O padre também considera que um dos principais entraves para o atendimento à população de rua avançar está na cultura arraigada do neoliberalismo que, segundo ele, não é só uma questão econômica, política e social. “Ele é interiorizado, ele passa a ser cultural e pessoal. Isso hoje os cientistas sociais discutem muito, isso entrou nas pessoas. A população de rua causa uma repulsa, porque a vida dela é toda pública.”

O programa contou também com a participação da psicóloga e educadora social Luana Bottini, que atuou durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na prefeitura de São Paulo como coordenadora de Políticas para População em Situação de Rua; e Vera Marchioni, diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Confira o Entre Vistas desta terça:

https://www.youtube.com/watch?v=eX1zgdOAhGM width:690

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

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