Uma das maiores angústias das famílias das vítimas dos Crimes de Maio, que deixaram 564 mortos no estado de São Paulo em maio de 2006, é a falta de investigação e julgamento e condenação de responsáveis pelos homicídios. Hoje, os crimes completam dez anos com apenas dois policiais condenados.
“Eles não puniram os policiais porque as punições foram dadas para as famílias e para as mães que perderam seus filhos. A segurança pública do nosso país e do estado de São Paulo tem modelo de encarceramento em massa, o extermínio gritante e assustador e tortura, principalmente a psicológica. Enquanto tivermos esse modelo, não conseguiremos lavar nossas feridas”, disse Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio e mãe de Edson Rogério, gari morto durante os ataques.
Para o procurador de Justiça Criminal Márcio Sérgio Christino, membro do Conselho Superior do Ministério Público, as investigações para crimes cometidos por uma organização criminosa são conduzidas de forma diferente daqueles com possível participação de policiais.
“A investigação sobre uma organização criminosa é uma. Está se investigando um organismo que tem um chefe, um executor. Isso você rastreia, intercepta, prende, faz delação premiada. Esse é um tipo de investigação. Quando você fala das mortes, você vê essas mortes debitadas muito mais a iniciativas individuais, individualizadas, de um grupo de homens sem que se tenha uma ligação macro. Ou seja, todos os atentados foram praticados pela organização criminosa”, disse o procurador à Agência Brasil.
“Supondo que tenha sido a Polícia Militar: o que o PM Santana fez, não tem nenhuma ligação ou vínculo com o que o PM de Taubaté fez, com o que do Ipiranga fez, com o que o do centro fez porque eles não se comunicam e muito menos tem a mesma oportunidade de ação. É diferente um crime organizado, pega um ato e você desmembra em vários e diversos crimes individuais. [Nos demais casos] não se consegue nem dizer quantos foram esclarecidos ou quantos não porque não se consegue sequer fazer o vínculo”, disse.
Para o defensor público Antonio José Maffezoli Leite, as investigações não foram conduzidas da forma correta. “O que aconteceu naqueles 11 dias não é uma situação normal de violência urbana, algum assalto no farol que deu errado. Alguém tem que ser responsável por isso. Os ataques do PCC não eram porque eles foram cessados. Eles eram específicos, voltados para bombas em prédios públicos ou assassinatos de agentes públicos, seguranças de presídios ou policiais. O PCC não saiu atirando a esmo na cidade, não é nem prática do crime organizado”.
Procurada pela Agência Brasil, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo negou, em nota, que as investigações tenham sido falhas. “As mortes ocorridas em maio de 2006 foram investigadas pela Polícia Civil e pela Corregedoria da PM. Todas as ocorrências de morte foram apuradas, à época, com rigor, assim como as denúncias de eventuais homicídios que poderiam ter policiais como autores”, diz a nota.
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