Segurança que impediu menino negro de comer em shopping é afastado e MP abre inquérito

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O Ministério Público da Bahia decidiu investigar a responsabilidade do Shopping da Bahia “em possível prática de racismo institucional”, informa o Estadão nesta quinta (14). Segundo o portal, o Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (GEDHDIS) determinou um prazo de dez dias para que o estabelecimento preste esclarecimentos.
 
O inquérito foi instaurado a partir de um vídeo divulgado no Facebook por um jovem chamado Kaique, que expôs a resistência da equipe de segurança do Shopping em deixar que um menino negro almoçar na praça de alimentação. O jovem queria pagar a refeição da criança, mas um segurança, também negro, tentava impedir enquanto repetia: “Esse é o meu trabalho”. Em nota, o Shooping jogou a responsabilidade sobre o episódio no funcionário e informou que ele foi afastado da função para reciclagem.
 
Segundo o Estadão, “depois de instruído (por meio da coleta de informações e depoimentos), o procedimento poderá resultar em uma recomendação, Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ou até uma ação civil pública contra o shopping, inclusive por eventuais danos morais individuais ou coletivos decorrentes da atuação do segurança”, afirmou a promotora Lívia Vaz. Ela ainda explicou que a investigação na esfera civil não afasta a responsabilização criminal.
 
Veja, abaixo, o comunicado do Shopping da Bahia negando racismo institucional.
 
O Shopping da Bahia vem a público, mais uma vez, pedir desculpas pelo ocorrido. Após uma reunião nesta terça-feira, o empreendimento decidiu pelo afastamento do profissional de atividades relacionadas a atendimento ao público. Mesmo não tendo nenhuma orientação do shopping que suporte as ações tomadas pelo profissional, optamos por trabalhar a sua reabilitação. Além disso, ele foi advertido e segue para uma nova rodada de cursos e capacitações.
 
Reforçamos também que, neste momento, é necessário esclarecer diversos pontos que vem sendo abordados em torno do fato.
 
1 – Nossos seguranças recebem treinamentos periódicos, não apenas com conteúdo técnico, mas também conteúdo sobre o contexto social que vivemos. Em 2017, toda a equipe do empreendimento recebeu treinamento de autoridades nacionais em temas como racismo, diversidade e enfrentamento de temas de alta relevância para nossa operação. Entre os especialistas que estiveram com a nossa equipe, estão lideranças como o professor Hélio Santos, presidente do Instituto Brasileiro da Diversidade, e a vice-presidente do Fórum Nacional de Gestores LGBT, Bruna Lorrane. 
 
2 – Não há e nem nunca houve nenhuma orientação para uma abordagem que fosse além de coibir ações de comércio informal e de pessoas (crianças e adultos) que tentam abordar clientes com pedidos de dinheiro, alimentos ou produtos. A decisão do cliente é soberana e tem que ser respeitada, sem nenhuma ação violenta ou que gere constrangimento. Atuamos em parceria diária com órgãos como Conselho Tutelar, Juizado de Menores, Instituto IRIS, Polícias Civil e Militar, e a orientação é sempre pelo cumprimento da lei e respeito aos direitos humanos;
 
3 – O shopping repudia qualquer acusação de racismo institucional, e temos orgulho da nossa relação com o povo de Salvador, suas matrizes culturais, étnicas e sociais.
 
Encerramos, pedindo mais uma vez, desculpas e lamentando o ocorrido. As desculpas são direcionadas a todos os que se sentirem tristes e ofendidos com o fato, mas especialmente aos envolvidos e suas famílias.
 
https://www.youtube.com/watch?v=i0KFu3hr1pg
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

14 Comentários

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  1. O paradoxo é que o segurança

    O paradoxo é que o segurança é de classe baixa e sua família deve passar necessidades agora.

    O supervisor agiu correto.

  2. Essa á a filosofia dos

    Essa á a filosofia dos cheirosos que assumiram o controle do país. Preto, pobre e similares são considerados imundos e não podem participar do banquete. São tolerados apenas como serviçais. O pior é que grande parte das vítimas desse sistema maldito apoia a manutenção desses intocáveis no comando de nossas vidas.

  3. Parabéns ao rapaz por não se intimidar e ter compaixão

    Passei por situação semelhante. Estava lachando numa padaria e uma criança veio pedir alguma coisa para comer, levei ele dentro da padaria, falei para escolher o que queria comer, paguei e deixei ele la, que a garçonete iria servi-lo, seguindo o que ela me disse. Vinte minutos mais tarde, me dou conta que a criança ainda esta la dentro sem ser servida. Perguntei porque ele não tinha sido ainda servido e como a resposta foi de desdém, ai armei o barraco mesmo, sem gritos, mas bem firme na minha posição. Mandei devolver meu dinheiro, nunca mais voltei la e levei a criança para comer em outro lugar. 

  4. “Em nota, o Shooping jogou a

    “Em nota, o Shooping jogou a responsabilidade sobre o episódio no funcionário e informou que ele foi afastado da função para reciclagem.”

    Como diria o ditado: pobre que mata pobre, faz a alegria de um nobre.

    E assim, o pobre funcionário faz a alegria do gestor do fundo acionário do Shopping.

  5. BRASIL, ASSIM COMO MP, ESTADO DITATORIAL E FASCISTA

    Onde estava O MP : por este menino trabalhando de forma insalubre e condições analogas à escravidão?      Onde estava o MP: por este menino andando sozinho, em flagrante abandono de incapaz?    Onde estava o MP: por este menino trabalhando ao invés de estar numa escola?     Onde estava o MP: por este menino, sem verificar e cobrar do Conselho Tutelar, o Acompanhamento Familiar e Condições de Segurança a que este menor deve estar submetido?   Onde estava o MP: por este menino, sem cobrar o MP, o Poder Judiciário, o Conselho Tutelar, a Escola do bairro onde mora, a Família, as Forças Policiais, o Poder Público Municipal, Estadual, Federal que permitiu que esta criança chegasse à situação tão degradante, mesmo antes de tentar comprar um lanche em um shopping, sem a TUTELA OBRIGATÓRIA de todo ESTADO BRASILEIRO? Onde estava o canalha, calhorda, hipócrita, incompetente MINISTÉRIO PÙBLICO?      O Brasil é de muito fácil explicação. (P.S. E onde estava a Imprensa, agora, tão interessada?)

  6. não tem como dar certo

    Nassif,

    No RJ, zona sul e Centro da cidade, já vi inúmeros casos idênticos a este, e não apenas em shoping centers. Em comum, apenas a total idiferença de todos os que estavam próximos.

    Uma vez comprei um sanduíche e um suco para um menino numa padaria dita como conceituada, e o fulano da loja me aconselhou a não dar nada, pois o garoto tinha acabado de comer um doce, aí perguntei a ele se eu tinha pedido alguma opinião, ou seja, até o lojista se preocupava com o que o menino tinha comido.

    Onde eu moro, estes garotos sem nada de nada fazem parte da população invisível, se um negro está abraçado como uma loura todos olham, mas “sem dar bandeira”, tudo isto é ensinado diariamente para os filhos durante o jantar, até mesmo o ato de fingir que não viu mas vendo tudo.

    Estou longe de ser um bom samaritano, mas o que fazem aqui é revoltante. Quando falo ssobre o assunto logo ouço os malfeitos de diversos meninos de rua, um fato concreto, e logo comento sobre o estrago que a classe política comete sem dó nem piedade, apesar de muito bem remunerada, e dali em diante começam a aparecer os argumentos canalhas.

    Na minha cidade existem ao menos dois tipos de brasilsil, o dos que analisam o país a partir da Av.Atlântica, a maioria, e o dos que analisam o país de maneira sensata.

    Quando parte considerável da classe E vota em JDória, é sinal inequívoco que não tem como dar certo, infelizmente.  

  7. Sinceramente… Acho o pobre

    Sinceramente… Acho o pobre do segurança tão vítima quanto o menino; cada um ao seu modo, à mercê de uma estrutura social moedora de gente, desumanizadora. Uma lástima.

  8. CASTIGO merecido  ..ninguém

    CASTIGO merecido  ..ninguém pode valer-se de “ordens superiores” pra dar prosseguimento a crimes (ou a inventar tb)  ..aliás, tipo o que muito CAPANGA tem feito ao seguir “ordens” de SERGIO MORO

    O primeiro passo  foi dado  ..PUNIÇÂO pra este SEM VERGONHA do vigia

    o segundo passo, que agora o MP averigue  ..se o Shopping (fora a co responsabilidade) orientava seus funcionários pra tanto (ou mesmo a empresa terceirizada) ..se sim, que a JUSTIÇA lhes tome as CALÇAS e ajude pra que UM MILAGRE aconteça na vida dessa criança

  9. SEGURANÇA AFASTADO PARA RECICLAGEM

    Sempre imaginei que pessoas eram capacitadas. sempre achei que reciclagem era para lixo. Ou será que p shopping considera os funcionários lixo? 

  10. Fascismo é assim mesmo…

    O segurança é o modelo pronto e acabado do serviçal que não reconhece sua identidade social (tenho certeza que ele é pobre) e tem seu espírito envenenado por valores fascistas.

    A maioria dos seguranças, policiais, militares são doutrinados e têm seu espírito dominado para defender os privilégios dos ricos com uso de violência física se necessário. São seres humanos transformados em bio-robôs.

  11. Acorda, Galera!

    Nassif: esse segurança só seguiu ordens. Menino negro e pobre, em administração dos demoníacos, tem mais é que passar fome. Onde já se viu, querer comer em local frequantado pela raça superior dos partidários do PSDB/DEM/PPS? Essa povalha tá ficando cada vez mais ousada…

  12. Rolezinho

    O erro é do sistema, não do segurança. A sensação que o segurança sentiu, de que ali não é lugar de pobre (sim, pobre, porque se fosse preto e rico o segurança não diria nada) não foi ele que inventou. Na verdade todos nós sabemos dessa ordem. Se não soubéssemos não estranharíamos o episódio.

    Mas como não existe sistema sem pessoas, o erro é de todos os que reproduzem o exclusivismo do capitalismo, exclusivismo essse que em diferentes níveis ferra a todos nós. Só não ferra os tais dos 1%. Mas esse 1% não vai comer em praça de alimentação de shopping.

    Dá para mudar mas a gente tem medo…

     

  13. Moral da história
    Moral da história: Tenha sempre consciência de suas responsabilidades e do cumprimento da lei. “Foi o chefe que mandou” não é desculpa e se a casa cair ele vai ser o primeiro a dar no pé e te atirar aos leões.
    E, acima de tudo, TENHA BOM SENSO! PelamordeDeus, era uma cara pagando um almoço para uma criança…

  14. O Bicho
    O Bicho
    (Manoel Bandeira)

    Vi ontem um bicho
    Na imundície do pátio
    Catando comida entre os detritos.

    Quando achava alguma coisa,
    Não examinava nem cheirava:
    Engolia com voracidade.

    O bicho não era um cão,
    Não era um gato,
    Não era um rato.

    O bicho, meu Deus, era um homem.

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