Percival Maricato
Percival Maricato é advogado
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Tantas perguntas, nenhuma resposta, por Percival Maricato

 
Quais limites de dor pode suportar o ser humano? 180 horas sem sono, é possível? 57 sessões de afogamento seguidas, o sujeito sobrevive? E dias e dias nu, em uma geladeira, toda pintada de branco internamente, com som estridente elevadíssimo? E se sobreviver, após mais de um ano de variações nesses tratamentos, o que foi comum, consegue ficar intacto? Bom da cabeça?
 
Não são experiências feitas por médicos nazistas com prisioneiros em campos de concentração. Mengele e Cia sujeitavam os infelizes a baixas temperatura ou elevadas pressões, queimavam-nas com fogo, experimentos cuja observação, segundo ele, seriam úteis aos soldados alemães em situações onde isso ocorresse. Foram muitos deles condenados a morte ou a longas penas de prisões pelos aliados, após o fim da guerra.
 
As barbaridades acima são  torturas usadas pela CIA em mais de uma centena de prisioneiros de várias nações. Tem alguma diferença para as dos nazistas? Talvez pelo fato de tanto as prisões como os presídios, locais de tortura, terem sido clandestinas.

 
Alguém pode imaginar o que fariam nossas mídias se o autor das barbaridades cometidas por  americanos  fossem feitas por bolivarianos ou em Cuba. E se fossem, os presidentes desses países não seriam condenados pelo Tribunal Penal Internacional?  Saddan chegou a tanta crueldade? Por que não se fala em julgar Bush nesses tribunais, vez que se atribui a ele a ordem de usar a tortura nos interrogatórios, isso para não dizer que determinou a invasão de um país sob um falso pretexto (o Iraque foi invadido sob alegação que tinha armas de destruição em massa, o que até peroba do campo sabia que não era verdade).
 
No caso da CIA foi descoberto que quase 20% dos torturados eram inocentes e portanto a tortura criminosa, até se praticada por quem a admite, por “pragmatismo” (as informações justificam). Então comoo fica? Não haverá pelo menos uma indenizaçãozinha por dano moral? Tratamento psiquiátrico das vítimas? Quem são elas? Quem as prendeu? Quem as torturou? Serão processados?
 
Quem tem experiência em  processos de tortura sabe que o inocente é  triplamente supliciado. A uma por ser inocente, a duas porque não tem as respostas e assim não tem como escapar ao torturador, a três porque este, ante o silêncio do supliciado, aumentará a dose, vez que nesses casos sempre pensa que o inocente é um sujeito convicto, um quadro, talvez de direção da organização terrorista procurada, o sujeito que mais acumula informações.
 
Enfim, tanta tortura, tantas perguntas, nenhuma justiça, nenhuma resposta.
Percival Maricato

Percival Maricato é advogado

2 Comentários

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  1. alguns sugerem mudar as

    alguns sugerem mudar as perguntas, mas aí mesmo

    é que o problema não se resolve:

    apenas fugimos dele.

    o mais   deprimente é que países ditos civilizados e

    democráticos repítam essas torturas nazistas e não sejam

    condenados por tribunais internacionais.

    e continuem impunes exportandos suas “democracias”

    como esses ingredientes torturantes.

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