Ainda sobre as mulheres… e a Disney, por Matê da Luz

por Matê da Luz

Um dos argumentos que estão sempre presentes nas rodas e discussões quando se trata de origens na vida das mulheres são os filmes da Disney. Quem nunca se comparou às princesas, seja pra alegar um contexto opressor ou um desejo semi-inquestionável? Pois é, a cabeça humana tem dessas complexidades e, assim sendo, fico extremamente animada quando encontro possibilidades de ressignificação. 

É verdade que a própria Disney apresenta, atualmente, princesas mais interessantes pro contexto de libertação da mulher, como Valente, Mullan e a mais recente Moana, entre outras. De toda forma, ainda são personagens que trazem estigmas machistas que passam – ou não – desaperebidos pela grande maioria dos pais, uma gente cansada demais pra fazer boas escolhas pros futuros adultos que serão essas crianças. Mas, enfim, essa é uma crítica pra outro post. 

Aqui, compartilho o artigo que apresenta a versão original de oito dos contos de fadas mais tradicionais antes da releitura “romantizada” da Disney. De cair o queixo, não acha? 

1 – A Pequena Sereia
Na história original de Hans Christian, a sereia faz um acordo com um bruxo do mar que oferece condições bizarras. Ao invés de perder a voz, Ariel tem a língua cortada. Além disso, as novas pernas da sereia fazem-a sentir uma dor terrível, como se andasse em cima de facas afiadas. Para piorar, ela precisa conseguir o beijo verdadeiro, senão morrerá. Porém, o príncipe se casa com outra mulher. No fim, Ariel se joga no mar e se transforma em espuma.

2 – Cinderela
Na versão original o esforço das irmãs para conseguir calçar o sapatinho de cristal vai muito além do que você imagina. Uma delas corta os dedos do pé e a outra corta o calcanhar na tentativa de casar com o príncipe. Ele, por sua vez, é avisado de que o sapatinho está repleto de sangue e não aceita nenhuma das duas como esposa. Além disso, as irmãs têm os olhos furados por aqueles simpáticos passarinhos que ajudam Cinderela no filme da Disney.

3 – Pocahontas
Ela realmente existiu, foi uma índia que mais tarde viria a se casar com o inglês John Rolfe. Pocahontas realmente salvou a vida de John Smith, que seria executado pelo seu pai em 1607, após ser capturado. Mas, ao contrário do que dizem os romances, Pocahontas e Smith nunca se apaixonaram. Smith serviu como um tutor da língua e dos costumes ingleses para a índia, que mais tarde seria presa pelos colonos e só libertada com a condição de casar-se com um dos mais importantes comerciantes ingleses do setor do tabaco.

4 – Branca de Neve
Na história dos irmãos Grimm, a rainha não faz ideia de que Branca de Neve sobrevive após comer a maçã envenenada. Na verdade, Branca de Neve fica engasgada com um pedaço de maçã e asfixia. Ela não acorda com um beijo: o pedaço de maçã sai da garganta da Branca de Neve após a carruagem usada pelo príncipe para carregar a moça tropeçar. Enfim, o príncipe pede a moça em casamento e convida a rainha má para a festa. Lá, a rainha é condenada a dançar até a morte usando sapatos quentes.

 

5 – Rapunzel
Na versão original, o príncipe é cego e fica vagando pela floresta sozinho. Ele ouve a voz de Rapunzel, que por sua vez tinha dado a luz a gêmeos desde que esteve presa na torre. Eles se encontram e Rapunzel restaura a visão do príncipe com suas lágrimas.

6 – A Bela e a Fera
Em uma das primeiras versões, de Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, Bela tem duas irmãs malvadas e invejosas. A Fera, que tecnicamente mantinha Bela em cativeiro, mas a tratava como uma rainha, deixou que ela visitasse sua casa por um dia. As irmãs, percebendo que Bela ganhava presentes e um ótimo tratamento da Fera, tentaram atrasar o retorno da moça, afim de deixar a Fera furiosa e isso resultasse na morte de Bela.

7 – A Bela Adormecida
A primeira versão, Sol, Lua e Tália, escrito por Giambattista Basile, tem um desfecho bem diferente do que conhecemos. A menina tinha o destino ameaçado por uma farpa de linho, segundo os sábios homens do reino. O pai ordena que nenhum linho seja trazido para sua casa, porém anos mais tarde a profecia se cumpre e uma farpa de linho entra sob a unha da moça e ela cai no chão aparentemente morta. Incapaz de suportar a ideia de enterrar sua filha, o senhor coloca Tália em uma de suas propriedades rurais.
Algum tempo depois, um rei encontra Tália e tenta acordá-la. Sem sucesso, ele estupra a moça e a deixa lá. Ainda em seu sono profundo, nove meses depois, Tália dá a luz a gêmeos, um menino e uma menina. Um dia, a menina não consegue encontrar o seio de sua mãe, começa a chupar o dedo de Tália e acaba tirando a farpa de linho. Tália desperta imediatamente. Ela dá os nomes de “Sol” e “Lua” a seus filhos. O rei reencontra Tália e as duas crianças e a esposa do rei fica furiosa ao saber de toda a história.
A rainha tenta matar as duas crianças e alimentar o rei com elas. O rei descobre, fica furioso e manda matar a esposa.
No fim, Tália e o rei se casam e todos vivem felizes para sempre, ainda que a moça saiba que foi estuprada pelo rei.

8 – Chapeuzinho Vermelho
Na versão de Perrault, o lobo mata, mas não devora a vovó. Quando Chapeuzinho chega na casa, o lobo fantasiado oferece carne da avó para a garota comer. Ela come toda a carne, e ainda bebe uma taça de vinho (que era na verdade o sangue da avó). Depois, quando chama a garota para a cama, ele pede a Chapeuzinho que fique nua antes de se deitar. O lobo devora a Chapeuzinho.

 

Mariana A. Nassif

6 Comentários

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  1. Tradução de tudo…

    As histórias criam uma situação de cinismo entre as mulheres e do homem salvador de tudo.

    Poderiam criar um conto sobre o impeachment da Dilma, traição das mulheres e o homem salvador.

  2. Boa parte dessas histórias

    Boa parte dessas histórias tem o objetivo de amedrontar as mulheres para que não fiquem com qualquer homem. Outras, mais ainda, falam de costumes da época – como o pé pequeno da Cinderela.

    Com o tempo estas foram depuradas para adequar-se a tempos menos, digamos, brutos.

  3. São muitas as camadas de

    São muitas as camadas de ideologia que os realizadores desses filmes sobrepõem às histórias originais, a ponto de desfigurá-las completamente. Quando se trata de ridicularizar outros povos, então… é só comparar as histórias de Aladdin no original e na versão dos EUA, ainda mais quando se considera a relação dos EUA com os povos árabes. O sultão, segundo a Disney, é um babaca mimado; o vizir, ridículo tirano; o gênio, então, de terrível – como todos os “ifrits” de contos árabes – vira um propagandista do próprio parque Disney… Sobre a princesa, na verdade chamada Badr e não Jasmin, bem… é tanta diferença…

    Vale a pena dar uma procurada na história original e até conhecer a versão direta do árabe feita por Mamede Mustafa Jarouche, da USP.

  4. Para além do bem e do mau….

    Esses contos tinham sua moralidade para sua época. Como mais da metade das crianças que nasciam, morriam, não havia apego aos filhos e nem existiam a infância e a adolescência tal como a conhecemos. Hoje tal “violência” nos choca, apesar do mundo extremamente violento em que vivemos… são os paradoxos de cada época. Quanto ao papel da mulher, muito mudou e pelo que vemos no mundo, ainda tem muito a mudar.

    Agora, para muito além da Disney e dos desenhos, ha filmes otimos para as crianças. Meu filho desde os cinco anos que gostou muito de Jacques Tati, de Chaplin, as adaptações de Jules Vernes, tantos e bons velhos filmes……..

  5. Dois contos atuais

    A princesa e o sapo

    Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã. Então, a rã pulou para o seu colo e disse:

    – Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre…

    E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava:

    – Nem fo….den…do!

    FIM

    ***

     

    Era uma vez uma linda moça que perguntou a um lindo rapaz:- Você quer casar comigo?

    Ele respondeu: NÃO!

    E a moça viveu feliz para sempre, foi viajar, fez compras, conheceu muitos outros rapazes, visitou muitos lugares, foi morar na praia, comprou  carro, mobiliou sua casa, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava nada, bebia cerveja com @s amig@s sempre que estava com vontade e ninguém mandava nela.

    O rapaz ficou barrigudo, careca, o pinto caiu, a bunda murchou, ficou sozinho e pobre, pois não se constrói nada sem uma mulher.

    FIM

    ***

    Ambos contos são atribuídos ao Luís F. Veríssimo. Se são realmente dele é o que menos importta 😉

     

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