Para as mulheres, Brasil não é melhor do que o Egito, por Maristela Schmidt

Jornal GGN – Em artigo no Justificando, a advogada e ativista Maristela Schmidt relata um assédio que sofreu nas ruas do Brasil. “Escutei um assovio e, logo, o refrão de uma música: ‘Luz na passarela que lá vem ela’. Me dei conta que a ‘modelo’ era eu, e a passarela era a calçada. Respirei fundo e continuei”.

Maristela compara o Brasil ao Egito, que tem um dos maiores índices do mundo de assédio sexual. “Pensei nas mulheres pelo mundo, nas ruas do Cairo, na praça Tahir, sendo hostilizadas, assediadas, molestadas e atacadas por indivíduos abomináveis travestidos de homens. Eu sou uma delas, pelo simples fato de ser mulher”.

Do Justificando

Um “fiu-fiu” que dói do Brasil ao Egito

Por Maristela Schmidt

Andava pela calçada, apressada para o compromisso. Cabeça baixa. Contava os passos. Escutei um assovio e, logo, o refrão de uma música: “Luz na passarela que lá vem ela”. Paralisada, pensei: será que a loira e a morena do Tchan estão por aqui?! Reconheci a letra que estourou nos anos 90 com a nova loira do Tchan. Levantei a cabeça, olhei para os lados e para trás. Nada. Elas não estavam ali. Voltei a pensar. Alguém revivendo o É o Tchan dos anos 90? Seria impossível. Numa época em que Anita, Ludmilla e Valesca Popozuda ecoam nos rádios, Compadre Washington e Beto Jamaica já eram.

Me dei conta que a “modelo” era eu, e a passarela era a calçada. Respirei fundo e continuei. A música entoava na batida dos meus passos.

Pior do que músicas, contorcidas de pescoços (para dar aquela olhadela nada discreta), expressões “gostosa” e “gatinha”, é o barulho (impossível de reproduzir, mesmo que por uma onomatopeia), que só eles conseguem fazer, seguido de um delííícia.

No mesmo instante, comparei-me às mulheres no Egito. Tinha acabado de assistir ao filme Cairo 678, o qual retrata o drama diário das mulheres na luta contra o assédio sexual. O país tem um dos maiores índices do mundo. Homens facilmente vão do assédio sexual ao estupro. Partem para o ataque como animais famintos.

Pensei nas mulheres pelo mundo, nas ruas do Cairo, na praça Tahir, sendo hostilizadas, assediadas, molestadas e atacadas por indivíduos abomináveis travestidos de homens. Eu sou uma delas, pelo simples fato de ser mulher.

Pelo que vemos, o Brasil não está muito diferente do Egito.

Maristela Telles Schmidt é advogada e ativista. Advogada da Missão Paz.

Redação

5 Comentários

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    1. Ah, quebrar as 2 pernas é pior q “só” uma, né?

      Mentalidade de jerico. Mesmo se for pior no Egito isso nao torna o assédio daqui justificável. Mas os machoes presentes reagem logo, né, como ousa uma mulher reclamar das “gracinhas” deles?

  1. Também acho que dileta

    Também acho que dileta articulista deveria respeitar um pouquinho mais o sofrimento de mulheres que têm de andar a não sei quantos metros atrás dos homens, que são infibuladas ou têm seus clitóris extirpados,que  valem menos que camelos, numa escala de valores  cujo fundamento é a utilidade, que têm de se cobrir de cabo a rabo, e por aí vai.

    1. Tá misturando várias realidades, só p/.negar o q a moça diz…

      Essas coisas que vc cita nao acontecem todas num mesmo país, e que eu saiba nao sao típicas do Egito. Ela falou de assédio sexual, nao disso. Mas vc logo saltou, né, defendendo o seu “sagrado direito” de importunar à vontade, ah, isso nao é grave… Ora, ora.

  2. O Islã não é a causa dos

    O Islã não é a causa dos abusos sexuais que ocorrem no mundo Árabe, mas sim, foi uma resposta ao problema, que já existia milênios antes de Maomé aparecer por aquelas bandas.

    Maomé, dizem, era um Príncipe muito progressista para a época, tentou outorgar leis limitando a poligamia, humanizando as prisões, proibindo os Juros, incentivando a cultura, valorizando a tolerância religiosa e acabando com a escravidão que existia em todo mundo Árabe. O resultado foi que a parte ligada ao rentismo da época deflagrou uma sangrenta guerra civil contra o Príncipe Maomé, que teve de fugir para o deserto, após deixar seu vizir no comando dos exércitos. Após a volta de Maomé, a guerra estava ganha, ele outorgou leis levemente progressistas para a época, temendo que o povo fizesse outra guerra, outra revolta.

    A poligamia, que Maomé queria proibir de vez, foi porém limitada apenas a quatro mulheres por homem, o que já era um avanço. Maomé mesmo, nunca foi poligamo. Mas depois da morte do Príncipe, revogaram tal lei desde que o homem pagasse uma quantia ao estado.

    A escravidão continuou existindo escondida, a despeito das leis e proibições de Maomé, inclusive escravidão sexual. Se uma mulher fosse raptada e levada para algum harém nos confins do país, as chances de encontrá-la de novo eram quase nulas. .

    A tolerância religiosa durou alguns séculos, mesmo após a morte do Profeta, mas depois no século XIX passaram a praticar a intolerância de novo. Para se ter uma idéia, na idade média, judeus fugiam da inquisição européia, achando refúgio no mundo Árabe.

    Uma a uma, as leis de Maomé foram sendo revogadas após a sua morte.

    Com um povo tão obstinado, e bruto, e aguerrido, assediando as mulheres, a reação da sociedade, foi se fechar mais em si, e no conservadorismo. Fizeram leis severíssimas contra os crimes de estupro. Mas não adiantou. Fizeram leis, proibindo a mulher de andar só nas ruas, para a proteção dela. Mas ainda haviam assédios. Por fim, vieram costumes, extremamente conservadores, em que as mulheres deveriam andar cobertas dos pés a cabeça de roupa preta, para que ninguém as identificassem. Parece ter surtido algum efeito, o que os olhos não vêem, o coração não cobiça. E havia a possibilidade da mulher se misturar na multidão, onde todas vestem preto, e fugir de um provável perseguidor.

    Essa é a história de um povo que lutou até a exaustão contra os abssédios  sexuais, e  no fim desistiu de focar na punição, e decidiu focar na proteção das vítimas, mulheres, com um conservadorismo extremo.

     

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