Câmara vota amanhã a PEC 215

Jornal GGN – A PEC 215 volta amanhã, terça-feira (16), à pauta da Câmara dos Deputados. A proposta deve ser votada em comissão especial às 16h. O projeto quer entregar ao Poder Legislativo a responsabilidade de homologar terras indígenas. Atualmente, são órgãos do Poder Executivo que fazem a demarcação. Os povos indígenas vêm se posicionando contrários à medida.

Os interesses privados dos parlamentares que querem aprovar a PEC 215

Do CIMI

Amanhã, 16 de dezembro, uma das maiores ameaças aos direitos indígenas volta à pauta da Câmara dos Deputados. A Proposta de Emenda Constitucional 215 (PEC 215) tem votação prevista em comissão especial às 16hs dessa terça-feira. A principal mudança da PEC 215 é transferir a prerrogativa de homologar Terras Indígenas (TIs), Unidades de Conservação (UCs) e territórios quilombolas para o Poder Legislativo

Atualmente, essas áreas protegidas têm seu processo de reconhecimento, demarcação e homologação conduzido por órgãos do Poder Executivo. A assinatura final é da Presidência da República. Entre outras alterações, a PEC 215 visa condicionar as homologações à aprovação no Congresso Nacional. Na prática, essa mudança representaria a paralisação de todos os processos de criação desses territórios – instrumentos fundamentais para a garantia dos direitos de povos indígenas, comunidades tradicionais e para a preservação de biomas ameaçados como o Cerrado e a Amazônia. 

Uma análise sobre o financiamento das campanhas e a atuação de parte dos parlamentares que compõem a Comissão Especial na qual a PEC tramita, porém, revela que não é exatamente o interesse público que os move. Os principais articuladores da PEC215 tiveram suas campanhas financiadas por doações de empresas ligadas ao agronegócio e à mineração, grandes interessadas em dificultar a demarcação de novas áreas protegidas.

A indústria de mineração, por exemplo, está em uma corrida por novas fronteiras de exploração de jazidas, muitas das quais se encontram em plena floresta amazônica. Um estudo do Instituto Socioambiental aponta que existem mais de 4 mil processos minerários (pedidos de autorização para pesquisa e lavra) em áreas de Terras Indígenas. Ou seja, dificultar a criação de TIs significaria facilitar o acesso de grandes mineradoras a áreas ainda intocadas de floresta com alto valor comercial.

Assim como a mineração, o agronegócio também encontra nessas áreas uma barreira para sua expansão. Na Amazônia, por exemplo, o “arco do desmatamento”, onde a monocultura segue pressionando as bordas da floresta, é contido justamente por um cinturão de UCs e TIs. Por outro lado, os locais onde as áreas de floresta ainda estão desprotegidas são mais vulneráveis à ação de desmatadores, como madeireiros ilegais. Uma vez que a floresta é derrubada, ela perde seu valor comercial e passa a ser atraente para o agronegócio.

Rômulo Batista, da Campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil, acredita que a luta travada pelos defensores da PEC 215 se assemelha à votação do novo Código Florestal, em 2012. “Do ponto de vista do potencial de destruição, a PEC 215 tem tudo para ser uma reedição do novo Código Florestal. Até os argumentos falaciosos usados pela bancada ruralista são semelhantes, como a história de que estão defendendo o interesse dos pequenos agricultores, quando na verdade são grandes empresas as maiores interessadas”. 

Conheça abaixo os principais articuladores da PEC 215 no Congresso Nacional e seus respectivos financiadores. As informações foram retiradas do site República dos Ruralistas:

Nilson Leitão (PSDB/MT)

– Vice-presidente da Comissão Especial que analisa a PEC 215

– Recebeu doação da Agrimat Engenharia e Galvão Engenharia, empresas de engenharia agrícola

– Na última quarta-feira, chegou a expulsar indígenas da sessão da Comissão.

– Pediu a criação da CPI para investigar a Funai e o Incra

– Votou a favor da alteração do Código Florestal.

Luis Carlos Heinze (PP/RS)

– 2o Vice-presidente da Comissão Especial que analisa a PEC 215

– Recebeu doações da Bunge, Camil, Gerdau, JBS, Klabin, Cosan e Seara

– Foi eleito “Racista do Ano”, pela ONG britânica Survival International, por dizer em audiência pública que negros, homossexuais e indígenas representam “tudo que não presta”.

– Apoiou CPI da Funai

– Votou a favor da alteração do Código Florestal

– Votou contra a PEC do Trabalho Escravo

Junji Abe (PSD/SP)

– 3o Vice-presidente da Comissão Especial que analisa a PEC 215

– Recebeu doação da Suzano Papel e Celulose

– Votou a favor da alteração do Código Florestal

– Votou contra a PEC do Trabalho Escravo

Osmar Serraglio (PMDB/PR)

– Relator da Comissão Especial que analisa a PEC 215

– Recebeu doação da Klabin

– Engajado na mudança do procedimento de demarcação de terras indígenas

– Votou a favor da alteração do Código Florestal

Nelson Padovani (PSC/PR)

– Vice-relator da Comissão Especial que analisa a PEC 215

– Articulador de propostas que visam permitir a “concessão” de terras indígenas a produtores rurais

– Pediu a criação da CPI da Funai

– Votou a favor da alteração do Código Florestal

– Votou contra a PEC do Trabalho Escravo

Moreira Mendes (PSD/RO)

– Apoiador da PEC 215

– Recebeu doações da Bunge, Associação de Armas e Munições e Cosan

– Engajado na mudança dos procedimentos de demarcação de Terras Indígenas

– É o autor do projeto de lei que modifica o conceito de trabalho escravo (PL 3842/12)

– Defende que “terra indígena é a que estava ocupada até a Constituição de 88”

Redação

6 Comentários

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  1. Posição do Instituto Sociambiental sobre a PEC 215

    http://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-isa/relatorio-da-pec-215-e-uma-aberracao-anticonstitucional-e-anti-indigena

    Relatório da PEC 215 é uma aberração anticonstitucional e anti-indígena

    Leia o Editorial do ISA sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que atenta contra os direitos dos povos indígenas

    No apagar das luzes da legislatura, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) apresentou novo relatório sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215. Originalmente, o projeto pretendia transferir do Poder Executivo para o Legislativo a decisão final sobre a demarcação das Terras Indígenas (TIs). A proposta, em si, já é uma excrescência, pois viola o princípio da divisão de competências entre os poderes ao atribuir uma função administrativa a um Congresso que tem tido dificuldades para legislar, encontra-se pulverizado em dezenas de partidos e de grupos de interesse corporativos e não dispõe de representação indígena.

    Mas o relator foi muito além em seu novo parecer, incorporando outras propostas que transformam a PEC numa ampla grade de exceções de direitos, abrindo as TIs à implantação de todos os tipos de empreendimentos econômicos, obras de infraestrutura, assentamentos de não índios e, inclusive, exclusão de propriedades privadas ou ocupações consolidadas dessas terras. É como se ficassem anuladas todas as garantias introduzidas pelos constituintes no caput e nos sete parágrafos do artigo 231 da Constituição e demais dispositivos referentes aos direitos indígenas.

    Pior: o relatório incorpora um dispositivo de cunho retroativo, permitindo rever os limites de TIs já demarcadas, violentando direitos adquiridos e submetendo à mais completa insegurança jurídica tudo aquilo que o estado brasileiro fez nas últimas décadas para reparar as injustiças históricas praticadas contra os povos indígenas. Note-se que o deputado Serraglio, que também relatara a PEC na Comissão de Constituição e Justiça, havia, então, excluído de seu texto disposição similar por ser inconstitucional.

    Explica-se: o deputado não é um relator efetivo, mas, segundo escutas realizadas pelo Ministério Público Federal e a Polícia Federal, prestou-se a subscrever um parecer que pode ter sido elaborado por Rudy Maia Ferraz, advogado que prestou serviços remunerados para a Confederação Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) (saiba mais).

    Também cabe registrar que a comissão especial da PEC 215, dominada por ruralistas e que pretende aprovar esse espúrio relatório, não se prestou a consultar os índios, sujeitos fundamentais de direitos, no caso. Sua agenda priorizou audiências que se realizaram em sindicatos rurais patronais situados em regiões de conflito. Numa audiência realizada em Vicente Dutra (RS), em novembro, o deputado ruralista Luís Carlos Heinze (PP-RS) ofendeu índios, quilombolas e gays. O também ruralista Alceu Moreira (PMDB-RS) incentivou produtores rurais a usar segurança privada para expulsar indígenas das terras que consideram suas. Ambos são integrantes da comissão. Os discursos dos parlamentares foram registrados em vídeo (veja aqui).

    A audiência às partes interessadas é indispensável à tramitação de qualquer alteração à Constituição e, no caso, a exclusão dos índios violou, também, a exigência de consulta prévia aos povos indígenas e populações tradicionais prevista na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo próprio Congresso e que tem status de lei.

    O relatório Serraglio não se limita a ofender a Constituição no que tange aos direitos indígenas. Mesmo reconhecendo expressamente a impossibilidade de analisar outras PECs apensadas à 215, emite parecer favorável a elas, viabilizando a sua tramitação rumo ao plenário sem qualquer discussão e, mesmo, sem que os segmentos sociais ou agentes públicos respectivos tenham sequer conhecimento dessas outras alterações do texto constitucional que afetam, também violentamente, os direitos dos quilombolas e dos extrativistas, além de desorganizar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

    Embora a presidente Dilma Rousseff tenha reafirmado a sua oposição à PEC 215, o governo e suas lideranças na Câmara vêm assistindo passivamente a sinistra evolução da sua tramitação. Parecem não perceber que, além dos direitos fundamentais dos índios e das populações tradicionais, também estão em jogo passivos fiscais, potencialmente monumentais, implícitos em algumas das pretensões reacionárias incorporadas ao texto.

    Antes mesmo do relatório, a PEC 215 já havia sido objeto de questionamento no Supremo Tribunal Federal (STF), tendo o seu relator, ministro Roberto Barroso, evitado intervir em estágio ainda inicial do seu processo legislativo. Porém, mesmo não constando do texto por ele analisado as demais ilegalidades inseridas no atual relatório, não se furtou a antecipar um contundente juízo de mérito.

    “Essas considerações suscitam relevantes dúvidas quanto à validade, em tese, da PEC nº 215/2000, tendo em vista não só os direitos dos índios, mas também outro direito fundamental – a proteção aos direitos adquiridos (CF/88, art. 5º, XXXVI) – e, possivelmente, até a separação dos poderes, igualmente acolhida como cláusula pétrea (CF/88, arts 2º e 60, § 4º, III). Por todas essas razões, é plausível a alegação dos impetrantes de que a proposta impugnada não poderia ser objeto de deliberação”, diz Barroso.

    O ano de 2015 promete tensões inéditas. Se, em sua nova legislatura, o Congresso seguir se prestando à violação de direitos fundamentais, estará emitindo uma declaração de guerra contra populações indefesas e não representadas nas instâncias de decisão política, mas que estão conscientes dos seus direitos e não assistirão passivamente ao seu esbulho.

    PELA REJEIÇÃO DA PEC 215 E DEMAIS APENSADAS !!!

     

  2. PEC dos ruralistas engajados por si e os seus

    Nilson Leitão agindo em causa propria. Tem terras em MT (ele, seu irmão, toda familia) e sempre atuou pelos madereiros e latifundiarios. Eh so pesquisar, que se entende muito bem o que essa gente vai fazer no Congresso Nacional.

  3. Os ruralistas julgando se

    Os ruralistas julgando se índio tem direito a sua própria terra? Então tá, esses senhores “tomarão conta” das terras indígenas. Se  isso não for extermínio do índio é o quê? Roubo?O gilmarzão já tá coçando a mão.

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