Consórcio universitário e acesso ao ensino superior, por Edivaldo Dias de Oliveira

 
Por Edivaldo Dias de Oliveira
 
Prá quando Dilma voltar
 
Consórcio Universitário
 
Acesso à faculdade ao alcance de tod@s com mensalidades pagas desde a infância
 
1 – Imagine numa família pobre, ou não, que tenha a possibilidade de adquirir uma cota de consórcio, administrado e garantido pelo Governo Federal, que ao ser contemplado por sorteio ou lance garanta a sua criança o aceso a uma universidade quando chegar o momento, sem prejuízo dos programas até então adotados.
 
2 – Imagine na possibilidade desse consócio ser adquirido mesmo antes que a criança ponha os pés numa creche ou jardim de infância, tornando o custo da mensalidade totalmente suportável; dinheiro de pinga, de cigarro, de manicure,que se gasta num mês.

 
3 – Imagine que se possa fazer um lance pela aquisição desse bem e não sendo contemplado, o valor ofertado ou parte dele, possa ser depositado no Consórcio e ficar acumulado para o próximo lance,aumentando assim a possibilidade de aquisição por lance.
 
4 – Imagine no tamanho desse fundo a ser administrado pelo Governo Federal e Conselhos de Consociados, totalmente voltado para investimentos em educação. Não seria exagero afirmar que ele pode rivalizar com o FGTS.
 
5 – Imagine na cabeça dessas crianças, adolescentes, jovens, crescendo no interior das cidades pequenas, nas periferias das grandes cidades, com a firme convicção de que há um lugar reservado para ela em uma universidade, paga por seus pais.
 
6 – Imagine agora na universidade, pública ou privada, que soube por algum meio, que aquela criança que reside próximo a ela foi contemplada pelo Consócio Universitário e terá todo o curso que escolher pago pelo fundo criado, sem qualquer risco de inadimplência, o que não fariam para atrair esse cliente especial.
 
Depois desses seis pensamentos, você pensaria numa revolução? De que tipo?Uma revolução na educação, ou seria mais adequado se pensar numa revolução social, em que está presente não apenas os aspectos educacionais mas também cultural, moral, político e econômico? A mim, parece que a segunda alternativa é mais real, embora, para quem não conhece a fundo os processos revolucionários isso possa parecer assustador.
 
É um pouco isso o que foi feito nesses quase dezesseis anos de governo, garantindo o acesso às universidades da população mais carente. Um pouco apenas foi feito e vejam com que fúria reagem os habitantes da Casa Grande.
 
Sim, pois no fundo, após cavar mais fundo em minha análise sobre a quadra em que vivemos, cheguei a conclusão de que o que realmente está por trás de toda essa onda anti corrupção promovida pela Lava Jato e sua canalha, ou pelo menos um dos pilares que sustentam sua sanha persecutória contra nós petistas é nada menos do que o fato de Lula e Dilma ter aberto o acesso a educação universitária para grande parcela da população estudantil mais carente.
 
O que fizeram os dois? Meteram o pé na porta da Casa Grande, criando algumas rachaduras em suas estruturas, mas não a derrubaram. Essa iniciativa é que gerou a reação da direita, que agora chega a seu ápice, ao seu apogeu, com o golpitimam. Ora, quando o governo leva a formação universitária para milhares de pobres e pretos, os habitantes da Casa Grande sentem-se ameaçados de perderem postos antes ocupados quase que exclusivamente por seus filhos e parentes em tribunais, faculdades públicas e outras repartições, além de salas cirúrgicas, consultórios e grandes bancas de direito, pois nesses espaços, o máximo que os mais humildes conseguem atingir, via de regra, são cargos de serventuário, auxiliar de escritório, de enfermagem. Agora eles correm o risco de se depararem de forma corriqueira com delegados, promotores e juízes de outras estirpes que não a sua.
 
O que antes era uma notória exceção, em breve deve se tornar corriqueiro.Encontrar negros e pobres encastelados na presidência de tribunais, fóruns e outros equipamentos públicos.  Antes era até aceitável que um ou outro “dessa ralé” acendesse ao topo, era um motivo a mais para sustentar o discurso torpe e enviesado da meritocracia, mas agora, que se apropriam do que “é deles”, seus postos de trabalho, que querem acabar com “sua reserva de mercado” como não reagir a isso? Melhor, que tática utilizar para reagir a isso e ao mesmo tempo conquistar a simpatia da massa ignara?
 
Quer tática melhor que o discurso de “combate a corrupção” e sua eficácia milenar? Além do mais, já imaginou esses promotores e juízes, vindos de num sei onde, julgando coisas que dizem respeito a gente de da sua estirpe, como fazemos quando julgamos os interesses deles contra os dos nossos? É um perigo terrível.
 
O que Lula e Dilma iniciaram foi uma Revolução, não no sentido socialista do termo, mas dentro dos marcos do desenvolvimento brasileiro. O dois subverteram o princípio imortalizado no livro “O Gattopardo” de Tomasi diLampedusa, em que “tudo muda para continuar no mesmo lugar”. Os diversos programas de incentivo ao ingresso de estudantes pobres em Universidades cavaram fundo e balançaram as estruturas da Casa Grande e seus habitantes sentiram o golpe e estão reagindo para ela não cair e eles caírem com ela.
 
Espero que minha proposta contribua para colocá-la abaixo de uma vez por todas.
 
Mas você, esquerdista como eu, deve estar se perguntando: Ora, o que defendemos, e isso desde sempre, em qualquer programa minimamente comprometido com a parte mais sofrida da sociedade, é a gratuidade do ensino em todos os níveis e para todos. Mais do que a gratuidade, defendemos que todo o ensino seja público, essa é a nossa bandeira.
 
Agora me aparece esse um, propondo que os pobres arquem com o pagamento, mesmo que simbólico, em longas e suaves prestações, de acesso a universidade? Que reviravolta é essa em nossos princípios programáticos mais caros, ôxente?
 
Bem, esse um aqui vai te responder da seguinte forma; Ouviu falar em Deng Xiaoping? Foi quem substituiu Mao TséTung no comando da China com a morte deste último. Há uma frase de Deng, que ficou famosa, proferida no inicio de seu governo, que norteia até hoje todos os governos que lhe sucederam: “Não importa a cor do gato, importa que ele mate o rato”.
 
A frase foi dita para justificar a abertura da china para o ocidente, para o mercado. Naquela época o rato chinês era a estagnação, a recessão que ameaçava uma população faminta de, à época, quase um bilhão de pessoas e não é preciso dizer o que é capaz uma população dessas passando fome…
 
Pois muito bem, aqui o rato a ser caçado, acuado, e morto, é o rato do analfabetismo funcional, da falta de conhecimento formal, da falta de educação ou da má educação, do acesso a faculdade como elemento discricionário. Eu sei, o gato que apresento não é o gato ideal, o gato avermelhado que você, tanto quanto eu gostaria de colocar atrás do rato. Porem a questão principal que temos que responder com coragem, sem paixões ideológicas é: O gato ora apresentado tem ou não condições de matar o rato? Estou plenamente convencido que sim; quer me convencer do contrário?
 
É para mim inaceitável, embora compreensível, ver pessoas de minha classe social apoiando manifestações composta em sua esmagadora maioria por um mar de gente branca, que em nome de um falso e seletivo combate a corrupção, querem de verdade é o poder a qualquer custo, para tirar os pobres e pretos dos aeroportos e das faculdades e em nome desse desejo seqüestram a bandeira do Brasil e acusam a nós de serem antinacionais, logo nós, que fizemos esse país chegar em dezesseis anos onde nunca nenhum dirigente deles ousou chegar, pelo contrário, estão novamente ávidos para entregar nosso país e suas riquesas na bacia das almas ao capital norteamericano.
Redação

1 Comentário

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  1. A intenção pode ser boa,

    A intenção pode ser boa, mas… vamos dar mais um passo na financeirização da vida cotidiana? Mais um crédito contratado? Mais uma transformação de direito social a mercadoria comprada a prazo? De outro lado, embora o acesso a ensino superior seja relevante, o analfabetismo funcional e a desigualdade frente à escola começa mais embaixo. O drama dessa familia, induzida a criar tal poupança dirigida, seria este? Deixar de gastar em “pinga, manicure, cigarro” e gastar em credito educativo? Nao sei se a familia pobre gasta tanto em pinga, manicure e cigarro, mas alguns desses “superfluos” podem ser até essenciais para aguentar o tranco. Como diz o Chico Buarque, sem um trago e um cigarro, ninguem sergura esse rojão. Posso até pensar em deixar o pobre beber sua pinga e taxar o brandy ou o iate. Posso até pensar em formar esse ‘fundo’ de outro modo: eliminando as deduções fiscais em educação, saude e previdencia privada que, a rigor, só beneficiam os segmentos de renda acima da média. Se o problema é o financiamento, podemos começar por ai. E se o problema é colocar na frente da criança o estimulo de uma garantia de vaga futura, melhor garantir mesmo, fazendo com que ela tenha escola que preste desde a creche. A discussão é relevante e idéias heterodoxas são sempre provocadoras, mas seria bom examinar mais de perto.

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