De Manuela para Marcela

Enviado por Vânia

por Manuela d’Ávila

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Cara Marcela, 

Quem me acompanha por aqui, ou na vida cotidiana, sabe o que eu penso sobre os cuidados e estímulos na Primeira infância. Tanto que decidimos, Duca e eu, ficar esse primeiro ano com Laura. Decidimos para tornar exclusiva a amamentação até o sexto mês, para prolongar a amamentação por mais tempo (Laura ainda mama com 1a1m), para curtirmos nossa pequena. 

Porém, isso só foi possível pois Duca é um artista que, normalmente, não trabalha durante os dias em que eu trabalho. Isso só foi possível porque nós dois não temos jornadas equivalentes de trabalho, não somos “CLT”, pois eu posso viajar para o interior com Laura. Isso só foi possível porque nós somos dois, não sou sozinha nessa aventura. Isso só é possível porque eu tive acesso a toda informação sobre a importância da amamentação e,também, porque não ouvi de uma creche que era impossível armazenar leite materno ou que meu leite é fraco. 

Mas, escrevo apenas para dizer que sim, o programa Criança Feliz, coordenado por ti, Marcela, pode ser importante. 

PORÉM, são muitos os poréns. 

Não vou falar sobre a volta do primeiro damismo, esse papel secundário, decorativo, destinado a ti e a todas as mulheres nesse governo golpista. 

Quero falar sobre maternidade, sobre não termos receitas, sobre criação com apego, sobre violência obstétrica, sobre creches, educação infantil, horário de atendimento em postos de saúde. Quero falar sobre licença maternidade de quatro meses e paternidade… bem, ser apenas licença hospitalar! 

A absoluta maioria das mulheres, Marcela, torce pra conseguir uma vaga em creche quando o bebê tem 100 dias para fazer a adaptação nos últimos 20 da licença. Outras, passam o dia angustiadas, pois deixam uma “vizinha” cuidando do bebê em ambientes não adequados. 

A média desmama aos 56 dias (aliás, por que você não falou em amamentação? A indústria não gosta?). Muitas mulheres são demitidas ao voltar. Ou pior: quando faltam o trabalho para pegar a ficha no posto de saúde. E seu marido, Marcela, ainda quer congelar os gastos em saúde e educação com a PEC 241. Imagina!!

Marcela, sei que muitas mulheres tornam-se empoderadas ao se depararem com a realidade. Vi isso acontecer muitas vezes nessas quase duas décadas de militância. Veja as crianças como se fossem o seu filho! Tu sabes que elas precisam, sim, de cuidados. E, para isso, precisam também do Estado. 

Esse Estado que seu marido quer “congelar”, destruir. Esses gastos públicos que ele quer congelar são a creche de um bebê igual ao Michelzinho. São a consulta pediátrica de uma bebê igual a Laura. 

Sabe, Marcela, é muito bom cuidar da Laura. Muitas mulheres, como você, optam por não trabalhar, eu as respeito. Outras, como eu, trabalham, estudam e cuidam dos filhos. Eu respeito a todas as nossas escolhas.

Porém, precisamos saber que para a imensa maioria não há escolha. A volta ao mercado de trabalho é uma imposição. E eu preciso te alertar: crianças não são felizes sozinhas. Crianças são cuidadas. Esses cuidados passam por mães e pais que não podem trabalhar doze horas por dia! Que não podem ter seus direitos submetidos a negociação em plena crise! Essas crianças serão felizes com educação e saúde públicas de qualidade. Se a crise aumenta, mais esses pais trabalham, se não há direitos trabalhistas, mais frágeis ainda são essas mães no mercado de trabalho, se hoje achamos ruim quatro meses de licença, podemos seguir o caminho dos EUA que, simplesmente, não a concedem. 

Marcela, vem com a gente lutar pela felicidade de nossas crianças. Vem com gente lutar contra a ampliação da jornada de trabalho, contra a PEC 241. Vem com a gente lutar por uma sociedade em que mulheres e homens possam cuidar mais de seus filhos.

Manuela d’Ávila

 

Redação

10 Comentários

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  1. ‘No Brasil, venceu o ridículo político’, diz Marcia Tiburi

    Para a filósofa e escritora Marcia Tiburi, o uso da imagem da primeira-dama, Marcela Temer, alçada nesta semana ao centro do palco no lançamento do programa Criança Feliz, serve para “enfeitar” o governo e “acobertar e desviar o olhar da população daquilo que realmente importa”. Em entrevista à Rádio Brasil Atual na manhã de hoje (7), Marcia afirma que “o ridículo político venceu” e que Temer “se esconde atrás da barra da saia de uma mocinha loira com quem ele casou”.

    “No Brasil, o ridículo político venceu. Não nas eleições, venceu na luta indigna que foi o golpe de estado, e esse golpe midiático continua”, diz a filósofa, que acredita que o povo brasileiro, acostumado a assistir telenovelas, vai acompanhar com o mesmo espírito a “primeira-dama fazendo sua pequena cena”.

    Em sua visão, o resgate do “primeiro-damismo”, o papel decorativo exercido pela mulher do presidente em questão, é símbolo de um governo arcaico e ultrapassado. “É a política ‘jeca’ que a gente tem hoje. Marcela Temer é o retorno daquilo que há de mais arcaico, cafona e jeca, do ponto de vista estético, mas que corresponde à ética e à política que está em jogo no Brasil, que é arcaica, ultrapassada e não condiz com o sentido da democracia.”

    Marcia Tiburi avalia que essa empreitada de comunicação pode representar “tiro no pé”, e lembra repercussão negativa de perfil da primeira-dama, publicado pela revista Veja, que cunhou a expressão ‘bela, recatada e do lar’ e virou motivo de piada na internet, e seu conteúdo repudiado por coletivos feministas. A medida também seria insuficiente para que o povo passe a respeitar e gostar da figura do presidente. “Temer quando se pronuncia leva a pecha de ridículo. Ele é o ridículo político.”

    http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/10/no-brasil-venceu-o-ridiculo-politico-diz-marcia-tiburi-9909.html

    1. “uso da imagem da

      “uso da imagem da primeira-dama, Marcela Temer, alçada nesta semana ao centro do palco no lançamento do programa Criança Feliz, serve para “enfeitar” o governo”:

      Gabi, me lembre em 2 anos se esse “Crianca (de 2 Milhoes de Dolares) Feliz” chegou a ser sequer digno de cheirar os peidos do “Brasil Sorridente”, por exemplo.

      Eh que eu me esqueco facinho facinho do futuro…

  2. Cara Manuela:  voce esta

    Cara Manuela:  voce esta falando a alguem que tem uma crianca muito feliz com 2 milhoes de reais inexplicados de bens e dinheiro.

    Perdeu seu tempo.

  3. Bravo!!!

    Antes de tudo FFFFFOOOOORRRRAAAA TTTEEEMMMEEERRR

    Pena que a bela recatada e encostada no marido não vai ler você Manuela, é claro que além de Caras ela só deve ler  O Pequeno Príncipe, se tanto…

    Parabéns pela carta e um forte abraço!

    FFFFFOOOORRRRAAA TTTEEEMMMEEEERRR

  4. Passatempo da “bela, recatada, e do lar”.

    Não vale a pena a Manuela gastar palavras com esta senhora. Ela vive uma vida nababesca com dinheiro público, como denunciou o espanhol “El País” , e não faz idéia acontece no Brasil real.

    As políticas sociais são de novo, passatempos de primeira-dama; ao invés de serem eixos da política governamental como foram nos governos petistas.

    Ao invés de direitos, benemerência.

    Do jeito que a elite gosta.

     

  5. De Manuela para Marcela

     

     

    “…Marcela amou-me durante 15 meses e 11 contos de réis. …”

     MACHADO DE ASSIS in Memórias Póstumas de Brás Cubas. 

  6. Manuela

    o hobby da bela recatada do lar é não trabalhar e cuidar do visual… do “look”, como damas como ela falam.

    Não nasceu para o trabalho, segundo ela mesma.

    Seu outro esporte recente, no alge do golpe de estado, foi chingar a Dilma, uma mãe-avó que com 68 anos, teria que ter um mínimo de solidadariedade por parte dela.

  7. Um gênio não suficientemente humano

    Animado de uma curiosidade descomunal, o imperador Frederico II de Svevia (1194-1250) reuniu uma corte com grandes poetas e cientistas do seu tempo. Federico II passava grande parte do dia tentando resolver questões muito sérias: como pode a Terra suportar o peso dos céus? Quantos são os céus? São habitados? Quem os governa? Onde estão localizados inferno, purgatório e paraíso celeste? Qual é a diferença entre a alma do defunto e a do espírito celeste? Quanto é grande a Terra e por que a água do mar é salgada? Como se formam os ventos? Como pode a Terra vomitar fogo como se vê na Sicilia, em Stromboli, em Lipari?
    A curiosidade desse imperador foi determinante para que médicos e farmacistas conquistassem importância social. Ele também elevou a status de ”cientista” o praticante de artes mecânicas, porque socialmente útil; chamou atenção para a necessidade de convalidar afirmações escritas ou faladas com base na experimentação: ”Daqui pra frente não aceita-se mais o papo de quem ouviu o galo cantar sem saber aonde e porque”. E partiu, ele mesmo, para experimentações in loco: uma delas foi observar moribundos para ”ver” a alma separando-se corpo. Um belo dia Fred embatucou-se: será que existe uma língua primigênia da humanidade? Se um bebê não ouvir alguma língua, que língua ele vai acabar falando nos primeiros anos?  Grego? Latim? Hebraico? Arabe? Para descobrir, deu ordens de separar um nascituro para ser tratado isolado sem jamais dirigirem palavras a ele ou perto dele e sem particulares carinhos e sons mimosos. O falimento foi completo porque o bebê não sobreviveu e nem mesmo os substitutos.
    Quem nos informa do malogro é Salimbene de Adam (1221-1288), frade franciscano nascido em Parma, autor de CRONICA, obra de vida religiosa e politica italiana de 1168 a 1287, um livro de 900 páginas rico de notícias e contos, considerado uma das fontes históricas mais interessantes do século XIII. Salimbene achou aquilo uma grande perda de tempo com o sacrifício de infelizes que morreram para provar que nenhum bebê sobrevive sem mimo, sem tapinhas nas mãos, sem afago, sem beijos nas bochechas, sem ouvir sons e palavras.

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