Fora da lei, fazendeiros expulsam índios de acampamento

Jornal GGN – Agindo acima da lei, um grupo de 150 fazendeiros aterrorizou e expulsou sete famílias indígenas de um espaço de terra no Paraná, na fronteira com o Paraguai. Um fazendeiro local reivindica a propriedade. Os Guarani dizem que se trata de território tradicional, pertencente à Usina de Itaipu. O terreno está em processo de identificação pela Funai.

O ataque foi organizado na página de Facebook da “Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade”. O grupo foi até o acampamento empunhando facões. De acordo com um indígena, os fazendeiros dispararam tiros e rojões para intimidar as famílias, que juntaram seus pertences e deixaram a área. A Polícia Federal chegou a ir até o local, mas disse que não poderia garantir a segurança dos indígenas.

Os barracos de lona que serviam de casa foram queimados pelos ruralistas. Animais de estimação foram afugentados, galinhas foram mortas. Os fazendeiros comemoraram o sucesso da missão. Nenhuma ordem de reintegração de posse, nenhuma determinação judicial, foi expedida para validar a ação.

Do Conselho Indigenista Missionário

Fazendeiros expulsam Avá Guarani de terra reivindicada como indígena no Paraná

Nem reintegração de posse, nem polícia: cerca de 150 fazendeiros expulsaram um grupo de sete famílias Ava Guarani, em Guaíra (PR), fronteira com o Paraguai, na última quarta, 8. Na madrugada de segunda, 6, os indígenas haviam ocupado uma área de mata, cuja propriedade é reivindicada por um fazendeiro local. Segundo os indígenas, a área pertence à Usina de Itaipu. A terra está em processo de identificação pela Fundação Nacional do Índio (Funai), e é reivindicada como território tradicional pelos Guarani.

Na manhã de quarta-feira, 8, fazendeiros, através da página de Facebook da Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade (Ongdip), publicaram um alerta aos proprietários da região para que todos se reunissem às duas da tarde do mesmo dia, para impedir a “invasão na propriedade”, conforme o chamado (veja na imagem abaixo).

O resultado: o grupo de pessoas arregimentadas pelos ruralistas – algumas delas empunhando facões – foi ao exato local em que estavam acampadas as famílias. Segundo um indígena, foram disparados três tiros para o ar, além de rojões e gritos para intimidá-los. Considerando a hipótese de conflito, a Polícia Federal foi ao local, mas teria afirmado aos indígenas que não poderia garantir sua segurança. Sob pressão, as famílias juntaram seus pertences e retiraram-se da área (abaixo e no topo, foto da ação tirada por uma indígena).

Depois de atearem fogo aos barracos de lona nos quais as famílias indígenas haviam se instalado, os ruralistas comemoraram a expulsão dos indígenas. Há relatos de que, durante a ação, animais de estimação dos Guarani teriam sido afugentados e galinhas, mortas.

Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Sul afirma que a ação dos fazendeiros “denota um extremo ódio contra aquela pequena comunidade” e alerta para o “clima de perseguição e criminalização contra os grupos mais vulneráveis – em especial os indígenas e quilombolas”.

“O acampamento foi invadido sem haver determinação judicial para que se procedesse à desocupação da área – e, ainda que houvesse uma ordem judicial, os indivíduos que lá estavam não são autorizados a executá-la”, afirma o Cimi – Regional Sul sobre o caso.

Clique aqui para ler a nota na íntegra.

Histórico

Em meados dos anos 2000, um grupo de famílias já havia ocupado a área. Contudo, foram retirados pela prefeitura e enviados para a Terra Indígena Marrecas, do povo Kaingang, localizada no centro do Paraná, a mais de 400km de Guaíra. Pela distinção interétnica, as famílias foram deixando a reserva e migrando para outros territórios, como o sul do Mato Grosso do Sul, onde têm parentes Guarani Ñandeva.

As retomadas na região de Guaíra e Terra Roxa têm permitido o retorno de algumas famílias à região. Parte delas decide reocupar antigos territórios que consideram seus, como é o caso da mata localizada na APP, às margens do rio Paraná.

Os indígenas explicam que a falta de terra é agradava pelo cumprimento parcial de um acordo realizado entre os Avá Guarani e a Usina de Itaipu. A usina teria se comprometido a comprar sete hectares de terra para que as famílias do tekoha Mirim pudessem viver em mínimas condições de moradia, até que os estudos para a demarcação de seus territórios tradicionais na região sejam concluídos. 

A empresa, no entanto, cedeu aos indígenas uma área de apenas dois hectares, onde construiu um conjunto habitacional de alvenaria. Neste espaço extremamente reduzido, onde é impossível plantar, vivem atualmente cerca de 25 famílias.

Em função da situação de confinamento e do descumprimento do acordo pela Usina, algumas das famílias seguiram na madrugada de domingo para segunda, 6, para viver em sua mata tradicional, acompanhadas por parentes vindos de outro tekoha próximo e também ligados tradicionalmente à área. Começaram a erguer suas casas, o que acabou chamando a atenção dos ruralistas da região. Ao redor da área ocupada, há uma série de terras arrendadas para a monocultura do milho e da soja.

Após a expulsão, a página ruralista postou fotos da ação, agradecendo aos indivíduos que participaram da ação contra os indígenas e afirmando que se houver “qualquer nova invasão, vamos precisar de uma participação maior no local, para a pressão dos agricultores ser maior e assim ter mais força”.

Ainda nesta semana, os indígenas aguardam uma reunião com representantes da Usina de Itaipu, para tratar sobre o acordo que foi descumprido pelo empreendimento.

 

Redação

2 Comentários

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  1. Tradição, familia, propriedade e violência

    Se são capazes de extrema violência com os que consideram inferiores a eles e suas familias, não surpreendem que ajam da mesma forma com os indios, que sempre desprezaram e tratam como lixo. A bem da verdade, o Brazil sempre os tratou como lixo, com desprezo e persegue o extermio do povo indigeno. E estão conseguindo, se não pelo genocidio direto, mas através da desintegração de indigenas que acabam se instalando nas periferias das cidades e começam a viver um outro inferno.

  2. O ‘ESTADO QUE NÃO É NAÇÃO’

    Triste é o país que permite o uso do Estado Nacional para servir de instrumento da crueldade mercenária excludente e da espoliação das populações vulneráveis. Pobre é o povo incapaz de perceber e de obstar a usurpação de direitos constitucionais e os abusos de poder dos poderosos impunes e sem noção. Frágeis são os princípios éticos de muitos e também as instituições democráticas no ‘Estado que não é Nação’.

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