“O idoso está no discurso, mas não está no orçamento”, diz especialista

Jornal GGN – Faltam recursos a serem gastos em ações e iniciativas dirigidas à população idosa do nosso país, avalia a vice-presidente do Conselho Estadual do Idoso, Juraci Fernandes de Almeida, que participou do programa “Brasilianas.org”, da TV Brasil. “Não existe verba. As políticas voltadas para o idoso não têm orçamento”, criticou. “Na verdade, o idoso está no discurso, mas não no orçamento”.

Para a especialista, todos os órgãos de Brasília precisam investir em políticas para os idosos. Ela também afirmou que o país ainda tem de avançar em setores como habitação e saúde. “Na educação, principalmente, nós não temos verba nenhuma que possa ser destinada para o segmento idoso”, afirmou Juraci.

Nos últimos anos, a expectativa de vida do brasileiro cresceu. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a estimativa chegou a 74,6 anos em 2012. Os homens devem viver, em média, 71 anos, enquanto entre as mulheres a esperança é maior, superando os 78 anos.

Ainda segundo o IBGE, a expectativa de vida da população vai aumentar cada vez mais, atingindo a faixa dos 80 anos em 2041. Para analisar os desafios do envelhecimento dos brasileiros, o jornalista Luis Nassif recebeu nos estúdios da TV Brasil um grupo de especialistas no tema. O debate foi transmitido na última segunda-feira (6).

Apoio à família

Além da escassez de recursos, Juraci destacou ainda a falta de apoio às famílias responsáveis pelos cuidados de parentes com idade avançada, fato que ela relacionou com os casos de maus tratos contra idosos “Hoje, infelizmente, é um número muito alto [de casos de maus tratos]. O Disque 100, de Direitos Humanos, que o diga”.

Também presente no debate, a diretora regional paulista da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), Maisa Kairalla, vê outro fator que pode dificultar ainda a relação entre o idoso e seus familiares, principalmente filhos, em breve: a crescente diferença de idade entre eles.

“O meu filho vai ser muito jovem quando eu for idosa. Os filhos nascem, hoje, com os pais muito mais velhos. Então, essa geração é que me preocupa bastante, porque não terá tempo, não terá [grande] número de pessoas, e você viverá velho muitos anos”, alertou. “E o jovem terá que trabalhar até os 70, 75 anos.”

Atualmente, a idade média com que as mulheres se tornam mães é 26,9 anos; elas vão ter 29,3 anos em 2030, segundo o IBGE. Além disso, no mesmo período, a quantidade média de filhos por mulher cairá de 1,77 para 1,50, segundo o instituto. Ou seja, pais mais velhos gerando cada vez menos filhos.

“Mas alguma coisa vai ter que mudar, porque é um exército de idosos para poucos jovens”, continuou Maisa, durante o debate na TV Brasil. Com o aumento constante da expectativa de vida, e a redução do número de filhos, a população brasileira tende a cair a partir de 2042, passando de 228,35 milhões para 228,34 no ano seguinte, mais uma vez de acordo com informações do IBGE. Em 2060, o instituto estima que o número de habitantes do território nacional terá diminuído para 218 milhões.

Redação

1 Comentário

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  1. Faltam recursos para as ILPIs

    As instituições de longa permanência de idosos, as ILPIs (os antigos abrigos) são a última política pública sem financiamento do Estado brasileiro. Na Europa cerca da 10% da população idosa vive em instituições de longa permanência, no Brasil este número gira entre 0,5 e 1%, isto significa que um número incalculável de situações extremas nem sequer chega ao conhecimento do poder público. A imensa maioria das casas filantrópicas não têm recursos sequer para pagar ao seu quadro de funcionários que vive cronicamente com os salários atrasados. Uma situação de vegonha nacional.

    O discurso oficial pretende responsabilizar as famílias… Noutros países os cuidadores familiares são remunerados pelo Estado, que considera a ação o seu dever, aqui a responsabilização é comumente uma ação do Ministério Público sobre a família. Por vezes o idoso que nunca viveu com a sua família de sangue, por motivos diversos, é levado por ordem judicial ou por recomendação do Ministério público a ser abrigado por pessoas com quem já não tem vínculos, a ruptura do vínculo familiar no passado, por dramática que tenha sido, normalmente não é considerada o que gera uma situação monstruosa. Outras vezes, chegado aos 80 anos, tem filhos que são eles próprios idosos, incapazes portanto de cuidar deles…uma situação kafkiana.

    O idoso pobre é uma minoria sem voz. Ele é o depositário físico do Brasil miserável onde viveu, por isto é comumente não alfabetizado, sequelado de doenças crônicas como a hipertensão ou o diabetes, desnutrido na juventude faz osteoporose mais precocemente que em outros países, tem uma saúde bucal deplorável e já está dispensado das suas obrigações eleitorais, o que o torna desinteressante para a política…

    Há por isto poucas ILPIs públicas, a maioria das que atende a população de baixa renda é filantrópica, uma obra de caridade ligada a alguma igreja. Não fosse por esta iniciativa nada existiria no Brasil como política de abrigamento para a terceira idade.

    Lamentavelmente o finaciamento das ILPIs é um dos poucos pontos em que nada mudou desde a era FHC. Eu tenho colaborado como médico com uma casa de idosos daqui de Natal, o Espaço Solidário. Confesso que não se cultiva na instituição esperanças que o governo federal assuma o financiamento desta política. Para mim esta é a única decepção que tenho com as políticas públicas dos últimos doze anos.

     

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