O machismo sutil

Sugerido por Vânia

Da Carta Capital

O machismo sutil de quem nos cultua

Na luta feminista, há muito espaço para os homens. Mas alguns deles, tão convictos e extremados, querem… indicar-nos o caminho! 

Recebi recentemente algumas críticas, ao aproximar a cultura de estupro das ideias um tanto filóginas – a princípio – de autores conhecidos do atual jornalismo brasileiro. A filoginia pode parecer contrária ao machismo, uma vez que coloca as mulheres como objeto de admiração e amor. Se pensarmos um tiquinho, porém, é possível sacar de que maneira a filoginia pode ser absolutamente machista, e como o pensamento do machismo filógino compartilha as ideias mais básicas do que chamamos de “cultura do estupro”.

Vamos pensar por etapas, compreendendo essas definições todas. Vejam, o machismo é uma maneira de pensar que coloca os homens como detentores do poder sobre as mulheres. Até aí, imagino que não seja lá muito difícil entender, certo? Pois então; a filoginia seria um grande amor generalizado pelas mulheres. Vocês já devem ter lido textos como este, de Xico Sá, eeste, de André Forastieri, que exaltam qualidades das mulheres, nos elogiam e nos colocam numa posição quase de “seres sagrados” – como são as vacas, para os hindus.

O cavalheirismo, por exemplo – o homem pagar a conta da mulher num restaurante, quando saem como casal, ou abrir a porta do carro para que ela entre, ou afastar e aproximar cadeiras à mesa, etc – é uma confusa mistura dessas duas coisas. Tanto que a atitude é sempre extremamente polêmica, quando as feministas entram na conversa. É desse aparente conflito entre machismo e filoginia que surge a polêmica: amor e admiração não seriam bons? Será que as feministas são mesmo umas mal-amadas?
É justamente esse suposto conflito que precisamos desconstruir. A filoginia é em geral machista, mesmo que o machismo não seja sempre filógino. Eu diria que este é apenas um dos tipos de machismo que podemos identificar numa sociedade como a nossa: o machismo filógino.

Os textos linkados no segundo parágrafo são excelentes exemplos. Os machistas filóginos têm a plena convicção de que estão fazendo um bem, ao definirem publicamente o que é certo, errado, bom e ruim para as mulheres, e o que nós devemos ou não fazer. Usam seu privilégio de homens, numa sociedade estruturalmente machista, com intenções a princípio boas. Por exemplo, validar padrões estéticos diferentes dos mais aceitos (como nos textos citados). Mas reforçam o machismo, porque entendem que realmente teriam o poder de fazer essa validação. Nós mulheres, então, dependeríamos de sua aceitação para nos aceitarmos.

Além da heteronormatividade escancarada nesse tipo de pensamento, também é possível notar que – diferentemente do que qualquer feminismo possa jamais propor – o machismo filógino está baseado em conferir aos homens poder sobre as mulheres. Quando um homem qualquer defende que “as mulheres” façam, ou deixem de fazer, qualquer coisa, simplesmente porque acha que é melhor, esse homem está necessariamente sendo machista.

Isso não significa que não haja espaço para homens na luta feminista. Significa apenas que eles precisam se compreender nesta luta como coadjuvantes. Escutam, apoiam e adotam atitudes que possam conferir mais poder às mulheres com quem convivem e menos a eles mesmos. É só com uma vasta diminuição nas “chances de homens exercerem poder sobre mulheres” (como diria Foucault, para quem o poder não é um bem que se pode possuir) que ultrapassaremos, de vez, o machismo.

Por isso, caríssimos colunistas supracitados, nós feministas dizemos com clareza: guardem para si mesmos suas opiniões sobre as barrigas, bundas, magreza ou dobras de quaisquer mulheres. Vocês não estão em posição de nos dizer como nós devemos ou podemos ser, ou deixar de ser. Nem vocês, nem ninguém. A não ser que desejemos explicitamente ser machistas. Eu (por enquanto) duvido que vocês queiram.

Marília Moschkovich (@MariliaMoscou) é socióloga, militante feminista, jornalista iniciante e escritora; às segundas-feiras contribui com o Outras Palavras na coluna Mulher Alternativa. Seu blog pessoal é www.mariliamoscou.com.br/blog.

Redação

30 Comentários

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  1. Elogiar as mulheres é

    Elogiar as mulheres é machismo? Comparar gentilezas com estupro? Acho que algumas pessoas precisam sair do seu escaninho e dar um role. De repente alguns mundos se estreitaram tanto que precisam reperceber o universo em que vivem.

    1. Haja dificuldade de compreensao…

      O machismo está tao enraigado, que o Rafael nao é capaz de ver a diferença entre o que o texto chama de “machismo filógino” — e que eu sempre chamei de “machismo bocó” — e um verdadeiro elogio ou verdadeira gentileza.

      Gentileza nao depende de sexo. Pode ser delicado uma pessoa, de qualquer sexo, abrir a porta para uma outra, de qualquer sexo, se esta outra estiver, por ex, carregada de embrulhos. Pelo simples fato da primeira ser um homem e a segunda uma mulher é bobeira. Afastar a cadeira da mesa, por ex., só serve para confundir. Já me aconteceu muito, há mais tempo, quando isso acontecia mais, achar que o homem ia se sentar naquela cadeira e sentar noutra… Ou sair de um carro e me deparar com o homem que tinha dado a volta para me abrir a porta. Como se as mulheres fossem incapazes de afastar uma cadeira e abrir uma porta… 

      (É diferente de carregar algo pesado, viu, Aliança — ou outro troll que fala sistematicamente sobre isso. Ninguém duvida que homens, em geral, tenham mais força física que mulheres. Aí é pura solidariedade, como tb seria se uma mulher jovem fizesse o mesmo para um homem idoso). 

      E você, Rafael, é quem deveria perceber o universo em que vive. Conseguir olhar a questao do ponto de vista das mulheres, que estao cheias até as orelhas desse “machismo sutil”, sobretudo quando ele nao é tao sutil assim e se manifesta na forma de “piadinhas”, tao inocentes. 

  2. Esse posicionamento senil das

    Esse posicionamento senil das feministas as colocam  de forma anacrônica no século XXI. Enquanto elas acharem que o “mundo”  está contra elas, não perceberão que o homem, e não o macho, pode ser seu aliado. Enquanto isso, o tal mercadeo/capitalismo/sistema continua adorando ter mão de obra barata e farta.

    Uma coisa, dentre muitas outras, homens e mulheres, feministas ou não, podem fazer juntos discutir as condições de trabalho/salário e, sobretudo, jornada de trabalho de seis horas. Mulher cuida da criança e da casa de manhã e o homen  faz o mesmo à tarde. No minimo melhor qualidade de vida para ambos.  

    1. Chamar de “posicionamento senil” já mostra o machismo

      É muita falta de respeito pelo ponto de vista do outro. Achar que você tem a verdade sobre a questao, e desmerecer o que acham as próprias mulheres. 

      Quanto ao resto suas sugestoes sao até boas, mas uma coisa — lutar por melhores condiçoes de salário e jornada de trabalho — nao contraria a outra — denunciar o machismo entranhado na sociedade. 

      1. Anarquista “machismo” até

        Anarquista “machismo” até rima com “feminismo”. Em comum , dos dois, “feminismo” e “machismo” estão ausentes homens e mulheres – com suas idiossincrasias, fraquezas, qualidades e belezas. Enquanto esse debate for intermdiado pela dicotomia “feministas” versus  “machsitas” ele não vingará.

        Felizmente, as opiniões acima, não raro, são de feministas e, grosso modo, em absoluto, representa o que as mulheres , como um todo, pensam sobre o assunto.

        1. Dá até desânimo responder às mesmas incompreensoes várias vezes

          Feminismo e machismo nao sao opostos, como já foi dito aqui no Blog umas trilhoes de vezes. Deixa de má-fé, Orlando. E feministas sao mulheres, sabe (se bem que, felizmente, há sim homens feministas). Aposto que sabem muito mais das questoes das mulheres do que você. Arre! 

  3. claro, agora apenas as

    claro, agora apenas as mulheres podem ter opinião sobre as mulheres. Não tenho dúvida que tem muito panaca por aí que gosta de tirar uma onda com as feministas e faz o “elogio moderninho” quando na verdade quer apenas é sair bonito na foto, sem uma real reflexão sobre a igualdade dos gêneros.

    Um elogia lésbico das mulheres não poderia se encaixar nesta crítica? Se afinal tudo o que a mulher intencionar é “sair bem na foto” e conquistar alguns coraçõeszinhos amolecidos? Afinal, a relação de poder certamente não está apenas na dualidade homem x mulher, está sem dúvidas na homem x homem, mulher x homem, mulher x mulher. Mas ganha o nome de machismo apenas quando é heterossexual. Qual é o nome da relação de poder opressora que há quando uma mulher submete outra em função de seu gênero? E quando um homem vira transexual e submente outra mulher, ainda é machismo heteronormativo? Tenho dúvidas.

    1. Vc está enganado. Nao é machismo só quando é d homem p/ mulher

      O machismo está na ideologia sobre as diferenças de gênero entranhadas na sociedade, tanto em homens quanto em mulheres. E francamente, confundir elogios em geral com os casos que o texto cita revela muita dificuldade de compreensao. Veja a resposta ao Rafael, acima. 

      1. concordo plenamente que não

        concordo plenamente que não se pode confundir “elogio” com o tipo de coisa que se vê por aí na rua, no entanto isso sempre estará a critério daquele que o recebe.

        Já sobre a questão machismo e relação de gênero, acho inadmissível que as relações de poder e violência praticada entre mulheres homoafetivas seja colocado como um exemplo de machismo, o homem é a praga da humanidade e a causa de todos os seus males, e assim as mulheres seguem sendo coadjuvantes até nos seus sofrimentos e opressões.

  4. Os sofismas necessários para manter tudo como está
    Não demorou muito, pelo visto, para surgirem justificativas. Será mesmo tão dificil para se colocar no lugar do outro.

    Esse texto mostra a vontade de não ser cantadas toda a gora na rua. Qual seria a atitude do homem? Parar com isso. Mas ao contrário, resolvem chingar as mulheres.

    A um tempo atrás, me envolvi em um debate sovre o casamento gay, tentando mostrar como é somente Um direito a mais. No entanto, o cara ficou me respondendo sobre seu medo de ser cantado no banheiro.

    Ora, se não houvesse essa cultura, não haveria isso.

  5. Pink Bloc?

    A Vania tá que tá. Gosta de uma polêmica. Vai ter quebra-quebra nesse post, vai sobrar para as vidraças do blog do Nassif. Muito homem, principalmente os “mais antigos” não engole essa história de botar o cavalherismo no saco de gatos do machismo.

    Nesse quesito até estou bem na fita. Nunca lembro em abrir a porta, nem afastar cadeira. Só as vezes, quando estou muito afim da dita cuja. Mas confesso que não faz a menor diferença para o sucesso da empreitada. Agora, pagar conta, nem seu eu quisesse. Quem pode se dar a esse luxo na noite do Rio?

    Mas confesso minha ignorância. Não sabia que essa história de cavalheirismo era tão sério que agora tem nome científico, “filogenia”.

    No entanto não discordo do post. Nós não devemos nos meter, o movimento é delas. Só não abro mão de criticar o padrão de beleza feminina imposto pela mídia. Vou continuar elogiando umas celulites aqui e ali, uma barrigazinha, uns quilonhos a mais. E repúdio total ao silicone, lipo, botox, e pernas que parecem de jogador de futebol.

    Porque nós não podemos opinar sobre algo que nos interessa tanto? Sei que no final é a mulher que decide, o corpo é dela. Mas quero meu direito de meter o bedelho em assunto tão importante

    PS: apesar da polêmica, o post valeu pela aparente trégua entre a Vania e a Anarquista

     

     

  6. O sexo plural

    O sexo plural (São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 2006 )

    MARGARETH RAGO
    ESPECIAL PARA A FOLHA 

    Quando, em 1963, Betty Friedan publicou “A Mística Feminina”, em que denunciava as inúmeras estratégias de confinamento das mulheres na esfera doméstica e os mecanismos pelos quais sua identidade era vinculada estritamente à maternidade, estávamos longe de conhecer o significado da palavra filoginia, que indica o amor pelas mulheres. Naquela época, há apenas quatro décadas, a expressão “mulher pública” era sinônimo de prostituta, estando também longe de nomear a governante ou a cidadã comum.
    A experiência de viver em um mundo hostil à cultura feminina era bem conhecida pelas mulheres, porém poucas vezes fora transformada em grito de guerra. Se no início do século 20 um feminismo tímido trazia reivindicações pelos seus direitos civis, foi somente com a “segunda onda feminista”, desde os anos 60, que a luta se radicalizou, afetando todos os âmbitos da vida social, política e cultural. Percebemos, então, que mal escutávamos nossas próprias vozes.

    Feminismo e democracia
    No Brasil, essa luta se combinou com a resistência contra a ditadura militar e não tardou a encontrar um outro movimento das mulheres que, na periferia das cidades, exigiam melhores condições de vida, transporte e moradia para a população, esquecendo-se dos direitos específicos das mulheres propriamente.
    Desde então, o feminismo não cessou de ganhar espaço na vida cotidiana e no imaginário social, mesmo que muitos ainda o vejam como um movimento ultrapassado de mulheres “machas, feias e mal-amadas”, na expressão do escritor Oswald de Andrade, retomada pelos “rapazes” do “Pasquim”.
     

    O feminismo propõe a destruição da monarquia no pensamen- to e nas práticas sociais

    É verdade que, se consultarmos as estatísticas, ficaremos chocadas/os ao saber que uma em cada cinco mulheres, no país, sofre com a violência doméstica; que as mulheres têm baixíssima participação na política institucional; que o aborto ainda é considerado crime; e que a exploração sexual atinge em cheio também as crianças. Da cidade à política, não há dúvida de que o mundo continua pertencendo aos homens, que definem suas regras, quando conseguem escapar de suas guerras.
    Contudo, quando olhamos para outra direção, surpreendem-nos as crescentes conquistas feministas, a começar pela autonomia feminina. Está claro, hoje, que o feminismo libertou as mulheres da “mulher”, esse universal definido pela medicina vitoriana, que instituiu a inferioridade física, intelectual e moral do “sexo frágil” em relação ao homem, com base em sua constituição biológica.
    Mais que isso, porém, são notáveis suas contribuições no âmbito do pensamento, da ciência, da política, na interpretação da sexualidade e na construção de um novo código ético. A criação de uma área de “estudos feministas” em quase todas as universidades do Ocidente permitiu inovar profundamente não apenas em relação à visibilidade que ganham as mulheres nos processos históricos e sociais mas na crítica às narrativas universalizantes de interpretação do mundo.
    Percebeu-se, na prática, as limitações dos conceitos masculinos, inscritos na lógica da identidade, incapazes de dar conta da diferença, seja das práticas femininas, seja de outros grupos sexuais e étnicos.

    Contra a marginalização
    Na área política, o feminismo questionou os conceitos básicos que sustentam os princípios liberais, como o universalismo, a idéia de liberdade e igualdade originados a partir do contrato social, denunciando que este se constituiu a partir da exclusão de muitos e que, portanto, a construção de uma esfera pública autônoma só seria possível pela perspectiva da diferença, e não da igualdade. A crítica feminista promoveu um deslocamento radical de perspectiva ao colocar-se ao lado dos grupos sociais marginalizados -e não apenas das mulheres.
    Buscando a construção de um novo conceito de cidadania, a atuação das mulheres na esfera pública forçou a incorporação de novas demandas, levando a que se ampliasse seu espaço de representação nas últimas décadas.
    Criaram-se instituições especificamente voltadas para as questões femininas, para além dos espaços abertos nos movimentos sociais, nos sindicatos, nas centrais de trabalhadores e nos partidos, enquanto muitas questões privadas foram trazidas para a esfera pública.
    Ao assumirem publicamente a discussão de sua sexualidade, desde os anos 1970, as mulheres produziram uma profunda transformação na definição dos direitos de cidadania e promoveram importantes reflexões sobre os pressupostos hierárquicos que regem nossas definições e representações sexuais.
    É preciso levar em conta a tradição política autoritária do Brasil, onde nunca se formou uma clara noção de esfera pública moderna e de direitos do cidadão. As mulheres foram consideradas mais irracionais do que os homens pobres, além de mais sensuais do que as dos países de tradição puritana.
    Discutir a sexualidade no Brasil ganha importância pois, com base no argumento da “sensualidade tropical” como característica fundamental das brasileiras, das índias nuas às mulatas carnavalescas, justificou-se a dominação patriarcal e sua exclusão do mundo dos negócios e da política.
    O feminismo questionou essa leitura hierarquizadora e excludente da política, mostrando como se opera a exclusão social das mulheres e o silenciamento e a desqualificação de seus temas e questões. Lutou e luta para que as mulheres se reconheçam como sujeitos políticos, enquanto cidadãs com deveres e direitos a serem reconhecidos e criados.
    Ampliou, portanto, o conceito de cidadania, propondo uma nova concepção da prática política, exercida não apenas nos espaços institucionalizados, mas na própria vida cotidiana. Assim, afetou também outros grupos em luta pela cidadania.
    Finalmente, convergindo com outras correntes do pensamento crítico contemporâneo, como “o pensamento da diferença”, o feminismo revelou como a dominação se constitui muito mais sofisticadamente nas próprias formas culturais que instituem uma leitura da política e da vida em sociedade.
    Nesse sentido, longe de pretender destronar o “rei” para colocar em seu lugar uma “rainha”, o feminismo propôs a destruição da monarquia no pensamento e nas práticas sociais, inclusive no interior de si mesmo. Afinal, hoje as feministas dificilmente aceitariam falar em nome de um único feminismo, pluralizando, pois, suas definições e campos de atuação.
    Quando visitou o Brasil, nos inícios dos anos 70, Friedan foi recebida pela grande imprensa com adjetivos bem pouco elogiosos. Talvez seja o momento de agradecê-la por algum dia ter convulsionado nossos pequenos mundos, com a ousadia e a coragem que demandam as práticas da liberdade. 

    Margareth Rago é professora titular do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas (SP).

  7. “Vocês não estão em posição

    “Vocês não estão em posição de nos dizer como nós devemos ou podemos ser, ou deixar de ser. Nem vocês, nem ninguém.”

    Em uma sociedade em que padrões estéticos são impostos, em que meninas de 7, 8 anos de idade já se preocupam com peso e aparência, um sujeito aparece e diz, trocando em miúdos: mulheres, sejam como for, da forma que for, vcs são maravilhosas. Não se apeguem a padrões impostos etc etc.

    Aí vem uma feminista de butique acusar o cara de machista, pelo simples fato de ter externado sua opinião? É isso mesmo? O cara não tem o direito de se manifestar sobre o assunto? Ela interditou o debate, deslegitimando a opinião do sujeito não por ser pertinente ou impertinente, mas pelo fato de ele ser homem? Isso é proto-fascismo.

    ” (…) que exaltam qualidades das mulheres, nos elogiam e nos colocam numa posição quase de “seres sagrados” – como são as vacas, para os hindus.”

    Sério mesmo? Usar a vaca como comparação é desonestidade intelectual, para confundir o leitor incauto, ainda que em nível subconsciente. “Vaca” é, em regra, um xingamento em nossa cultura. Além do que, é uma comparação totalmente despropositada, pois ao que sei, hindus não namoram, casam e constituem famílias com vacas. Parece a comparação do reaça da Veja dos homossexuais com cabras.

    Enfim, lamentável que Carta Capital dê espaço a um texto tão raso quanto esse. Tão preconceituoso, sofismático e com um fino e falso verniz intelectual quanto textos machistas.

  8. O discurso que colou

    Parece que o discurso, sempre prá la de machista, da Skol colou: Redondo! O texto da Marília seria uma jóia se não fosse tão sério. Usar Foucault para criticar Xico Sá e André Forastieri me pareceu (eu disse PARECEU) excessivo.

    Confesso que também fui recém introduzido ao termo filógino. E olha que frequento vários círculos feministas. Para não ficar totalmente enquadrado no estereótipo, já que não há como fugir dele (é só ter nascido homem), só explico porque achei o texto redondo, ou circular. Vamos dar uma espiada no fecho do artigo:

    Vocês não estão em posição de nos dizer como nós devemos ou podemos ser, ou deixar de ser.

    Mas a Marília está em posição, de interpretar, e de nos dizer, não? Um remédio machista contra o machismo? Ligeiramente circular e autorreferente para quem busca a igualdade.

    1. Nao gosta de machismo filógino? Machismo bocó serve…

      Peço patente… (rs), já tenho o conceito há muito tempo, só que com nome popular. 

      1. Não gostei do machismo feminista…

        Pois é Analú, a falta de humor anda braba. Conseguir encaixar as duas críticas na “cultura do estupro” foi meio forçado.

        Será que ela nunca ouviu falar de sublimação? O André e o Xico inauguram, segundo Marília, o conceito de “estupro literário”…

        1. Sabe, eu acho mesmo q os homens nao conseguem entender isso

          Podem ter até boa vontade para entender, mas nao viveram isso desde a infância mais remota. Nao conseguem perceber o sentido disso para as mulheres. Eu concordo com o espírito do texto, um ou outro exagero à parte. Mas às vezes é mesmo necessário exagerar, tal a vontade de “nao ver e nao saber” que vigora. Os homens sabem o que é “sério” ou nao. Que as mulheres pensem diferente, ora é “posicionamento senil” como disse o cara (*******…) lá de cima. Nao é “falta de humor”. É que a pimenta é no nosso olho! E, como se sabe, pimenta nos olhos dos outros é refresco… 

          1. Alvo errado

            Analú,

            Você conhece minha posição em relação ao machismo. Já me coloquei até contra o Nassif por conta do mesmo tema. A história da pimenta, definitivamente, não é comigo.

            Insisto, é sim falta de humor. Existem alguns milhares de alvos para atingir, que merecem esta virulência e pedantismo, antes de chegar ao André e ao Xico. O que lemos, dão duas crônicas despretensiosas demais para serem levadas tão a sério. Não são tratados. Seriam melhor desconstruídas com um pingo de humor ou ironia. Daí a falta de humor, mesmo que corrosivo.

            Uma provocação. Nós homens, não entendemos: Curioso que a maioria de nós foi educado, de fato, pelas nossas mães… 

            PS Comentário de cima ou de baixo depende do tipo de ordenação escolhida. Naõ achava o do Orlando.

          2. Eu nao disse q vc é machista; apenas q é preciso viver na pele

            A dor da gente, só a gente mesma sente de verdade, Gilberto. Outros podem até imaginar, ser solidários, etc., mas saber mesmo qual é, só quem sente. Diga-se de passagem que há aspectos do machismo muito nocivos aos homens, e provavelmente eles saberao falar disso melhor que eu (a exigência de ter obrigatoriamente sucesso financeiro; a proibiçao da manifestaçao das emoçoes, homem nao chora; a necessidade de ser bruto entre os brutos, para nao parecer “mariquinha”; etc, etc e tal). Posso imaginar isso, ser solidária, etc., mas nao sao problemas que me afetam diretamente, nao posso saber o sentido deles do mesmo modo que se fosse comigo. 

            E nao vem com sofisma, Gilberto (essa de serem educados pelas maes… e daí? eu por acaso disse que só os homens sao machistas? ), isso nao é digno de você, que pode melhor que isso. 

            Li o texto do tópico só aqui, nao vi as crônicas que foram criticadas. Se elas pretendiam ensinar as mulheres a serem “feministas comme il faut” a autora a meu ver tem toda razao. Claro que há coisas mais sérias, há homens que violentam, matam, etc. Mas isso nem é preciso discutir, nao é mesmo? Pelo menos nao neste Blog, espero que nao tenhamos ainda chegado ao ponto em que haja brucutus que defendam isso. É justamente o machismo bocó que passa despercebido, e que é preciso por isso ser especialmente discutido. Se você conseguisse sentir como ele é IRRITANTE… 

          3. Não foi sofisma

            Analú,

            Acho na realidade cruel e contraditório mas, de fato, as mulheres são muitas vezes os vetores deste discurso. Não foi o caso da minha mãe, mas de algumas professoras do primário, com certeza.

            Penso que o discurso agressivo não produz os resultados esperados. Só reforçam as posições reacionárias. Mira-se no que se vê e acaba não se atingindo (modificando) nada. Principalmente num país com um enorme e vergonhoso índice de estupros, violência e homicídios contra a mulher como o Brasil. Acabar com esta violência é primordial e não acredito que os artigos citados contribuam, minimamente, para o aumento dela.

            A crítica da Marília Moschkovich, igualmente, de pouco serve para mudar o cenário da verdadeira e concreta violência cotidiana. É uma questão de prioridade. A dela, mais parece ser, a de se autopromover. 

          4. Ai Gil… Tá se pondo na posiç de ditar qual é o melhor feminism

            Francamente… Deixe cada um(a) falar do que sente, nao pretenda dar liçoes de feminismo a uma mulher. Defenda a sua visao sem diminuir a de outr@s, sobretudo se ess@s outr@s têm um acesso aos problemas mais direto que você. 

            Quanto à primeira parte do seu comentário, concordo, as maes e professoras sao ALGUNS dos vetores desse discurso. O vetor mais efetivo, porém, é o dos colegas. Que criança ou adolescente quer ser diferente? E brinquedos, desde a mais tenra infância (quao raros sao os parentes que dao bonecos aos meninos… que no entanto um dia serao pais, tanto quanto as meninas serao maes; meninos tb nao ganham panelinhas, coisas de casa em geral, que isso é coisa de mulher, né? ganham carros, armas…). E filmes. É toda uma cultura. 

  9. Por que seria errado agradar

    Por que seria errado agradar (pagando a conta ou abrindo a porta) uma mulher que se quer conquistar? Desde que, no caso de insucesso, o cavalheiro se torne um cavalo, não vejo motivos para tanto celeuma.

  10. Entendi o ponto de vista da

    Entendi o ponto de vista da autora. Namoraria tranquilamente uma garota que assim pensa, até porque nunca fui de abrir portas e afastar cadeiras, não por ser feminista, mas por achar um populismo descarado isto.

    Só que o que a articulista tem de considerar é que tem muita mulher por aí – a maioria, arriscaria dizer – que ainda adora e faz questão de cobrar cavalheirismo dos homens.

    Não cavalheirismo à moda arcaica, que seria pagar conta, buscar e levar em casa e obrigar a moça a deixar o emprego, mas se apegar a antigas ritualísticas, respeitando claro a posição de destaque e igualdade cada vez maior que as mulheres conquistaram na sociedade.

    A autora parece se arrogar a mandatária de todas as mulheres do mundo, mas esquece de dizer justamente que esta questão não é ponto pacífico nem entre as mulheres. Se as mulheres conseguiram se tornar Chefes de Estado e CEO’s, porque esta tradição então resiste em não morrer?

    “É porque é sutil”, diria ela. Só que, será?

    Não estou aqui nem para dar uma resposta pronta, mas tem muita mulher que é feminista, concordaria em 99% do que Marília escreve, mas justamente neste ponto seria levada a discordar. Isto a torna submissa? A articulista não incorre no mesmo vício a que critica, qual seja, padronizar o comportamento feminino?

    A Cynara Menezes já discutiu sobre isto, o que aliás recebeu como resposta uma enchurrada de críticas por considerarem o “machão” elogiado no seu texto um machista sutil: http://socialistamorena.cartacapital.com.br/o-machao-e-o-machista/

    Talvez esteja puxando sardinha mesmo pro meu lado, mas a postura mais aberta, flexível e plural de Cynara é muito mais palatável que este sectarismo que Marília mostra em seu texto. É um equívoco muito grande considerar qualquer crítica como “machismo empedernido”.

    Tudo é sujeito a críticas, inclusive a militância feminista. 

    PS: Xico Sá machista? Ok, se formos para este lado, “Olhos nos Olhos” do Chico Buarque é a música mais machista de todos os tempos pois, além de usar eu-lírico feminino (a articulista se irrita de dizerem como uma mulher deve agir, imagina se o caboclo se traveste poeticamente de mulher?), fez sucesso pois descreveu uma reação um tanto “padrão” da mulher rejeitada encontrando o ex-amado.

    E olha que nem mencionei Vinicius e seu “Samba da Benção”, que fala que mulher é todo perdão, mulher é feita apenas para amar e sofrer por seu amor..

  11. E como fica o velho e bom Vinicius nessa história?

    “Senão é como amar uma mulher só linda

    E daí? Uma mulher tem que ter

    Qualquer coisa além de beleza
    Qualquer coisa de triste
    Qualquer coisa que chora
    Qualquer coisa que sente saudade
    Um molejo de amor machucado
    Uma beleza que vem da tristeza
    De se saber mulher
    Feita apenas para amar
    Para sofrer pelo seu amor
    E pra ser só perdão”

     

    Trecho do “Samba da Benção”.

     

    1. Vc tem alguma dúvida d qe ele é machista? Simpático, tz, mas sim

      Imagina ser essa mulher aí dessa música, hem? Pimenta nos olhos dos outros é refresco mesmo. Feita só para amar, para sofrer pelo seu amor e ser só perdao? Aqui ó… (rs). Melhor a Amélia, pelo menos o autor nao tem aura de moderno 

      1. Certamente.
        Ele era um

        Certamente.

        Ele era um machista nada sutil, rs. Mas por outro lado em nada lembra o machão que quer deixar a mulher em casa e fica irritado quando ela roga por independência. 

        Ele era fruto do seu tempo.

        Quando vejo história de vida de avós, tio-avós, vejo como é que as mulheres aguentavam maridos tranqueiras, bebuns, mulherengos, etcétera. Claro que com o tempo, com a chegada da velhice, se transformaram num casal de velhinhos fofos, companheiros, etcétera, mas é isso aí mesmo. Mulher antes tinha que engolir cada sapo no casamento..

        Vinicius escreveu de uma forma romantizada, sem considerar o sofrimento que a mulher “puro perdão” passava, muito provavelmente pelo fato de ele próprio ter sido o homem tranqueira. E isso é um tanto contraditório. 

        Hoje em dia, só mãe Dinah para saber, mas dificilmente Vinicius escreveria a letra do Samba da Benção nestes termos. São outros tempos, outra dinâmica de relacionamentos, a mulher puro perdão já teria dado o troco ou o pé na bunda dele faz tempo.

        Só que não deixa de ser um belo de um registro poético. 

         

         

  12. dúvida

    Uma vez tentei explicar para uma amiga o porquê de não concordar em carregar os pertences dela pela universidade apenas pelo fato de “ser homem e ter que ser cavalheiro”. Meu argumento foi que eu podia ser gentil com ela, caso ela precisasse, assim como poderia ser gentil com colegas homens, se esses também precisassem da gentileza – e que ela poderia carregar as minhas coisas, se fosse necessário (de minha parte) e possível (da parte dela). Ela não se convenceu e passou a me achar um ‘hombre indelicado’, semi-brutamontes.

    Por coisas nessa linha, concordei com todo o post, mas um momento específico me inquietou. Não que discorde (ou concorde), mas simplesmente porque não entendi. O trecho é esse:

    “Quando um homem qualquer defende que “as mulheres” façam, ou deixem de fazer, qualquer coisa, simplesmente porque acha que é melhor, esse homem está necessariamente sendo machista”.

    Bem, em várias ocasiões eu defendo a liberdade feminina, censuro opiniões machistas e me coloco contra opressões de gênero advindas do machismo (contra mulheres, homossexuais, ou mesmo contra homens, que muitas vezes, por conta do machismo, são forçados a agir de determinadas formas por conta de convenções sociais). Essas atitudes de minha parte se enquadrariam no “machismo sutil” ao qual o post e a citação se referem?

    Abraços

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