Promotores do Rio de Janeiro: cancelem esse infeliz evento, por Roberto Tardelli

evento_mp_rj.jpg

Foto: Divulgação

Do Justificando

Carta aos Promotores e Procuradores do Rio de Janeiro: cancelem esse infeliz evento

por Roberto Tardelli

Promotores, Promotoras, Procuradores e Procuradores do Ministério Público do Rio de Janeiro,

Esse seminário é uma overdose de ódio e somente fará seus frequentadores, honestos e corretos, serem consumidos pela dependência do ódio. Sairão com suas mentes absolutamente fechadas pelo ódio. Os olhos serão crispados pelo ódio e nada mais conseguirão distinguir da realidade, além do ódio.

Conclamo aos que não se contaminaram para que desenvolvam todos os esforços que puderem para que esse seminário não ocorra.

Peço, suplico, aos promotores(as) de justiça e procuradores(as) de justiça cariocas e do Brasil, aqueles que ainda não estão tomados por essa dependência ao ódio, que lutem com as forças que dispuserem para que esse seminário não ocorra.

Peço, suplico, ao Ministério Público do Rio do Janeiro para que atente para sua vocação constitucional e cancele esse evento infeliz, que somente se prestará a alimentar a destruição, preconceitos e horrores dos quais precisamos nos livrar.

Cancelem isso, por Deus! Cancelem em nome de qualquer coisa, mas cancelem!

Pelos seus filhos, cancelem! Pelos nossos sonhos de cidadania, cancelem! Pelo que existe ainda de humanidade a percorrer vossas veias, cancelem!

Mas eu entendo. Se não cancelarem, eu entendo.

Nosso cérebro se desenvolveu para que passássemos o menos sofridamente possível por todas as crises que a evolução da espécie poderia trazer. Somos os mais numerosos na face desse pequeno globo perdido no éter certamente porque somos a espécie mais adaptada, aquela que soube superar todas as adversidades e espalhar-se por toda a extensão da Terra. Humanos, seres humanos, são encontrados em todos os cantos do planeta.

Dentre as milhares de razões, existe uma interessantíssima: o prazer, a chave do consumo de drogas, como cocaína, álcool, maconha, etc, ativaram nossa produção de serotoninas. Ficamos felizes, eufóricos, sentimo-nos gratificados, saciados, poderosos, criativos, etc. Não é por outra razão que os mitos do rock dos anos 60/70 entupiam-se de LSD e heroína, porque sentiam sua criatividade ultrapassar os limites humanos do instrumento.

O drama, a tragédia, a desgraça está em que essa relação droga & prazer é aprisionadora. Com o tempo, o que era para ser prazeroso torna-se desesperadamente sofrido, doloroso, angustiante, aterrorizante, nada mais que a frustração desse prazer fracassado.

Todavia, como nosso cérebro desaprendeu a viver sem ela, instalamos em nós o pior dos mundos: a angústia do prazer que jamais obteremos, mas que nos cobra a ingestão de mais e mais droga, porque nela se concentra nossa capacidade de viver e de não viver. Deve ser desesperador.

Quando vi o Ministério Público Carioca anunciar um seminário como esse, minha conclusão é só uma: há também uma doença, uma dependência institucional a um mal, que fez o mesmo estrago provocado pela droga, a doença do ódio, na sua face mais dura, de um ódio bruto, fisiológico, interno, marcadamente feroz.

Quando se começa a odiar, não uma pessoa que nos causou mal, o que seria compreensível, mas a odiar um segmento estereotipado de pessoas que associamos ao mal que combatemos, a primeira sensação euforizante que nos vem é a superioridade moral. Essa superioridade moral nos conduz a um patamar de meta-humanidade, em que somos mais e podemos mais do que aqueles que combatemos, em nome de sociedade, difusamente considerada, desfocadamente vista. A superioridade moral nos torna super-heróis; não nos submetemos à Lei, eis que somos a encarnação da lei e a que tornamos mutante, sempre a fazendo na forma como a que desejamos.

Nessa fase euforizante, a energia sobe a níveis que nunca víramos e passamos a nos deliciar com a sensação de onipotência, de força, de virilidade. O ódio nos dá tanta força que passamos a viver em função dele. A nossos inimigos, imprimimos uma negação sistemática de humanidade, até reduzi-los a dejetos ideológicos, a restolhos humanos, que podem ser empilhados em celas infectas e superlotadas, podem ser assassinados pelas forças policiais, alimentadas pelo mesmo ódio, podem ser mantidos a ferros pelo tempo que ódio desejar.

Quando o ódio se sobreleva, coisas ruins começam a acontecer e podem se tornar naturais e aceitas. Freud identificava nisso o que chamou de pulsão de morte e, sim, pode se tornar uma doença e se instalar em um grupo de pessoas ou em uma sociedade.

A doença do ódio o torna o centro gravitacional de nossas vidas. Tudo o que fizermos, será por ele; tudo o que fizermos, se justificará por ele. Tudo o que necessitarmos será para ele. Perderemos nossa capacidade de perceber e de avaliar outras coisas que existem e que podem substituir-se ao ódio: tudo que o contestar, será ameaçador e deverá ser destruído, para que o ódio possa prevalecer.

Antes que essa doença devaste uma instituição heróica, rogo para que os colegas – permitam-me chamá-los assim – não deixem que esse infeliz seminário se verifique. Se não for possível, passem longe dele; coloquem sinalizadores para que as pessoas fiquem longe.

O ódio é extremamente contagioso.

Roberto Tardelli é Advogado Sócio da Banca Tardelli, Giacon e Conway.

Assine

Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Tempo perdido. Os

    Tempo perdido. Os destinatários da súplica são todos vendidos. Além do ódio que disseminarão, há interesses escusos por trás.

  2. MP tem a ver com segurança

    MP tem a ver com segurança pública? Segurança pública é um direito pra quem, exatamente, na visão dos “nobres” procuradores cariocas? 

  3. Do Twitter

    Elika Takimoto:
    Convidar Kim Kataguiri para falar sobre segurança é o mesmo que me convidar para falar sobre felicidade no amor. Não sei em que ajudaremos.

    Renato Rovai:
    MP do Rio que nunca viu a corrupção de Cabral chama Kim pra dar aula de combate à corrupção. Faz sentido…

    Pedro Abrabovay:

    .

     

  4. Essa falsa associação de
    Essa falsa associação de dados que o catacoquinho usou é crime, caberia um processo das esquerdas mas as esquerdas nada fazem! Outro tosco, o Danilo gentalha deveria ser processado por assédio pois passou papel no saco e enviou para uma deputada mas as esquerdas deixam rolar! Tá foda! Não sou instituição não tenho advogados para prpcessalos

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador