Sim, é deprimente, por Samuel Lourenço

Foto RBS (ligeiramente modificada)

Sim, é deprimente

por Samuel Lourenço

No interior da cela a visão é deprimente: o lugar é sombrio. Do lado de fora, no chamado “banho de sol”, é tudo fosco. O sol não brilha, até queima, esquenta e aumenta a luminosidade, mas brilho não há. Assim, o lugar torna-se deprimente.

Em algum lugar, tem uma televisão ligada. Programas culinários pela manhã,  alguns telejornais, outros desenhos. Poucos presos acompanham o que se passa na TV, salvo alguma reportagem sobre algum crime que rende midiaticamente. Daí tem espectador.

Dos presos, alguns estudam, outros trabalham, e a maioria não faz nada. Os que possuem a capacidade de leitura se esforça num livro de temática qualquer ou na Bíblia. Um radinho toca uma música, que por mais pop que seja, no fim mais se assemelha a uma marcha fúnebre.

Não tem jeito, não é romantismo ou compaixão,  é que, de fato, viver na prisão é algo deprimente. Tem dois mil presos na galeria, e tu não consegue ser amigo de 10 ou 5 presos apenas. É se isolar na multidão.

Olhem as filas de visita, que fenômeno horrorosos. Sobre sofrimento de mulheres e prisão, o efetivo de mulheres que sofrem com a violência da prisão, as visitantes é um número muito maior que as presas. Ou seja, o encarceramento feminino e a visitação feminina são violências das mais perversas contra a mulher no contexto da Justiça Criminal. Por fim, acabar com o encarceramento feminino é também propor o fim das condições humilhantes que essas mulheres passam no rito de visita, que não se resume a visita vexatória. A fila de visita é deprimente.

Observem os fóruns, as audiências, os júris… Que parada deprimente. O depoimento do réu é tomado como mentira, sempre. Uma vez, em juízo, quando confessei meu crime, o juiz chegou a cogitar que minha confissão era para encobrir alguém. Até a confissão,  de uma prisão em flagrante, foi vista com dúvida.

O pátio de visitação é o que ameniza, mas não deixa de ser deprimente. Comer em potes, comida vasculhada. Tem droga no bolo, no refrigerante, no feijão, no interior do osso da proteína. A mesa é de concreto, um pano de prato vira pano de mesa, o familiar às vezes nem come, preocupado, querendo que o preso coma aquilo tudo ou dê para algum conhecido que está na visita mas não tem o que comer. Pode ser menos, mas ainda assim é deprimente.

Não sei com quem se regozija com todo este sofrimento. Há quem faça relação com o crime cometido ou por sadismo, sequer façam relação: “se está lá, boa coisa não fez”.

Soltam fogos quando a pessoa vai presa, se alegram quando há projetos de lei que aumentam o tempo de cumprimento de pena. Recebem pensão mas destinam ódio ao Auxilio Reclusão, alcunham de “bolsa bandido”, e nem se dão ao esforço fé pesquisar como isso funciona.

Torcem por rebeliões,  festejam os massacres, se regozijam com motins. Concordam com a comida estragada, mesmo que processo de licitação para comida seja algo mais podre ainda.

Prisão, maldita prisão, seja no interior de uma cadeia ou no seio de uma sociedade… É deprimente. Sim, é deprimente.

 
Samuel Lourenço Filho

2 Comentários

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  1. The wall

    [video:https://youtu.be/HFJOvy_g7Sw%5D

    Trad:

    Há um monte de homens estranhos, nas celas do bloco dez
    Mas o mais estranho de todos
    Foi um amigo meu que gastava seu tempo
    Encarando o muro…
    Encarando o muro…

    Enquanto ele olhava para o muro
    Tão forte e alto
    Você podia ouvi-lo resmungar
    Ninguém jamais subiu naquele muro
    Mas eu vou ser o primeiro ..
    Eu vou ser o primeiro ..

    Bem, o diretor passou e disse o filho não tente
    Eu odiaria ver você cair
    Pois não há dúvida de que eles te levarão para fora
    Se você chegar a tocar o muro…
    Se você chegar tocar o muro…

    Bem um ano se foi desde de que ele fez sua tentativa
    Mas eu ainda me lembro
    O quanto ele se esforçou e a maneira como ele morreu
    Mas ele nunca superou o muro…
    Ele nunca superou esse muro…

    Bem, nunca houve um homem que conseguiu fazer isso
    Mas eu conheço um homem que tentou
    Os jornais locais chamaram aquilo de um plano de fuga
    Mas eu sei que foi suicídio…
    Eu sei que foi suicídio…

  2. sim,….

    40 anos redemocratas. Nossa Elite Progressista descobriu as Prisões Brasileiras? Por que será? Por que auto-proclamados ‘Honestos’, não eram do tamanho que pensavam ser? Antes tarde que nunca. Por que 40 anos de Politicas Socializantes não transformaram as Cadeias, em lugares mais humanizados, para se cumprir pena? Poderia ser como as norte-americanas, com bibliotecas, ginásio, academia de esportes, mas mesmo assim cadeias. Não tem problema algum. A maior parte da Sociedade não é contra todos estes benefícios e tentativas de ressocialização. Esta mentira e escapismo provém de cabeças esquerdopatas. Mas deves-se cumprir a pena. E a responsabilidade sobre tal consequência é de quem praticou o ato.    

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