A censura aos livros e a atuação das editoras na ditadura

Sugerido por Gunter Zibell – SP

Da Folha

Pesquisa aborda a atuação de editoras de oposição à ditadura
 
RAQUEL COZER

Com tantos recados políticos transmitidos via festivais de música na TV, tantas entrelinhas nos textos de jornais e revistas, e tantas peças e filmes contestadores, a produção de livros não foi das áreas intelectuais mais visadas no período da ditadura.

Se desde os anos 1960 filmes, discos e peças eram escrutinados, só em 1970 o Ministério da Justiça passou oficialmente a examinar livros, como relata Sandra Reimão em “Repressão e Resistência: Censura a Livros na Ditadura Militar” (Edusp, 2011).

No entanto, embora o alcance limitado de público reduzisse o interesse do Estado nessa área, as editoras que se opuseram ao regime deixaram seu legado no país.

Foi esse cenário que o historiador e editor Flamarion Maués investigou em seu mestrado na USP, apresentado em 2006, trabalho que originou o recém-lançado “Livros Contra a Ditadura: Editoras de Oposição no Brasil, 1974-1984” (Publisher).

Maués identificou 40 editoras de oposição no período, consideradas aí tanto as mais explícitas, com obras críticas à situação do país, como outras que ajudaram a colocar nas listas de mais vendidos, até o começo dos anos 1980, autores como Marx e Lênin.

Apenas oito das editoras levantadas por Maués poderiam ser consideradas médias ou grandes (Alfa-Omega, Brasiliense, Civilização Brasileira, Codecri, Global, Paz e Terra, Vozes e Zahar).

Das outras 32, pequenas ou micro, mais engajadas, saíram as três que estão no centro da pesquisa de Maués: a Ciências Humanas, ligada ao Partido Comunista, a Brasil Debates, ao Partido Comunista do Brasil, e a Kairós, ao grupo trotskista Libelu.

Estas publicavam e vendiam pouco, já que somavam às tradicionais dificuldades de distribuição das independentes o fato de atuarem de maneira semiclandestina.

O período subsequente à pesquisa, marcado por uma inflação alta e uma redução no interesse por obras políticas, levou à extinção muitas casas do período. Outras, como a Global e a L&PM, souberam explorar nichos para crescer, como os clássicos, no caso da primeira, e os livros de bolso, no da segunda.

Mas alguns sucessos, como “A Ilha” (Alfa-Omega, 1975), de Fernando Morais, e “O que É Isso, Companheiro?” (Codecri, 1979), de Fernando Gabeira, ambos hoje editados pela Companhia das Letras, deram o pontapé numa tendência ainda perceptível e vendável no mercado.

“Especialmente a partir da metade da década de 1970, passados os anos mais duros do regime, começam a florescer os chamados livros-reportagem, marcando o renascimento de um trabalho de levantar o tapete e mostrar o que estava escondido, e grandes relatos pessoais de impacto político”, diz o autor. 

 

Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Nao só editoras; livreiros também

    Nenhum intelectual do final dos anos 60 e anos 70 que more no Rio se esquecerá jamais de D. Vana, da Leonardo da Vinci. Ela importava livros políticos, dava financiamento, procurava coisas. D. Vana, que é viva ainda, acho (até a bem pouco atrás era) é uma instituiçao, e merece toda a nossa GRATIDAO. 

    1. Eu conheci D. Vana e a filha, Milena.

      Mas foi no começo dos anos 1990. 

      SIMPATISSÍSSIMAS! Um amor mesmo.

      O mesmo vale para o George (não sei se é funcionário ou da família.)

      E a Leonardo da Vinci é (ou era, não sei se ainda está na Rio Branco) um belíssimo ‘templo’, que lugar bonito!

      1. Nao conheci a filha, e o Jorge talvez, mas nao sabia o nome

        Quanto ao endereço, tinha mudado quando pegou fogo, mas foi para o mesmo prédio, acho, nao me lembro mais. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador