Bolsonaro ou o desejo masoquista, por Durval Muniz

Foto: Agência Brasil
 
 
Por Durval Muniz de Albuquerque Jr.
 
Da Agência Saiba Mais
 
Muita gente ficou chocada com o que teria sido um dos grandes acontecimentos da semana: os aplausos entusiastas dos empresários reunidos na sede da Confederação Nacional da Indústria para o candidato a presidente Jair Bolsonaro. Mesmo diante do notório despreparo do postulante ao cargo máximo da República, suas bravatas e frases sem nenhum sentido ou cheia de preconceito e racismo como “não quero colocar um busto de Che Guevara no Palácio do Planalto” ou “hoje estão tirando a nossa alegria de viver, não podemos mais contar piadas sobre afrodescendentes, sobre cearenses, sobre goianos”, mereceram, da nata da burguesia, da dita elite empresarial brasileira, efusivos aplausos. Que a elite brasileira é autoritária e se identifica com o autoritarismo do capitão, não é novidade; que a elite brasileira é racista e que suas blagues em relação aos afrodescendentes são partilhadas por uma patota que se julga toda branca, não é de se estranhar; que os capitães de indústria brasileira sejam machistas, misóginos, homofóbicos em sua maioria, também não é notícia nova.
 
Mas, creio que mesmo assim, esse gesto de profundo significado simbólico e de enorme gravidade política: ver a elite empresarial de um país disposta a apoiar alguém que tem em sua ficha corrida o elogio à tortura, a suspeita de ter participado do plano que levaria a explosão de bombas de baixa intensidade para protestar contra os baixos salários dos militares, que quando na ativa foi diagnosticado em documentos do próprio Exército como alguém ambicioso e agressivo no trato com os camaradas a quem sempre queria liderar, como alguém a quem faltava lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos, merece a busca de explicações mais profundas, tanto do ponto de vista histórico, como do ponto de vista do funcionamento da vida psíquica, seja no plano individual, daqueles que a ele aderem e a ele desejam, como no plano coletivo, daqueles que a ele se dispõem a seguir e a ele se subordinar. Não há aqui qualquer contradição, pois, a vida psíquica, as subjetividades, seja dos indivíduos ou dos grupos, como os membros da CNI, se formam e se constituem historicamente e no interior de uma dada sociedade.
 
A subjetividade não é algo interno, fechada em si mesma, solipsista, ela é produto do processo de socialização, de humanização, que se dá no contato com os outros, com a cultura, os valores, as normas, as leis, encarnadas pelas instituições sociais e, elas, por seu turno, pelos indivíduos que as compõem. A atuação de nossa libido, de nossas pulsões instituais, de nosso corpo se dá no interior do social, na relação com os outros corpos, portanto, as nossas formações de desejo nascem dessas relações. O desejo por Bolsonaro, pelo que ele representa, pelo o que ele figura, nasce de processos históricos e sociais, individuais e coletivos, que eu tentarei minimamente abordar.
 
Leia o artigo na íntegra no http://www.saibamais.jor.br/bolsonaro-ou-o-desejo-masoquista/
Redação

11 Comentários

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  1. Seguindo as idéias de Bolsonaro

    Os industriais que aplaudem Bolsonaro devem aceitar que seus empregados, daqui pra frente, mudem as estratégias de reivindicação salarial.

    Como faria Bolsonaro, em vez de greves os empregados podem explodir bombas nas fábricas.

  2. FANATISMO FASCISTO-ESQUERDOPATA

    Mas esta não é a Elite que ascendeu juntamente com o Golpe? Golpe de 1930? Golpe Militar? Então não foi Inaugurada a República dos “Representantes do Povo” e não mais do Povo? As Ditaduras de Federações? CBF e OAB são a mesma coisa. E tem quem queira distinguí-las? Quartéis Militares não geraram as “Irmãs Siamesas” que compartilham do Poder em quase 1 século Ditatorial? Getúlio Vagas e Carlos Prestes? Duas faces da mesma moeda. Este Morde-Assopra foi política vitoriosa. Dura até hoje. Quartéis Militares sempre fizeram o ‘serviço’ para a Elite Aloprada, quando as coisas saiam do controle. Como agora por exemplo. A tal Elite Esquerdopata munida do Monopólio da Verdade e das Boas Intenções não tem um repertório mais digno que o de Bolsonaro, para colocá-lo fora da disputa do Poder? Afinal as Intenções Esquerdopatas  são sempre descompromissadas, sem interesses pessoais, sem a busca do vil capital e do lucro fácil. Não seria muito fácil constesta os Quartéis Militares? Ou é exatamente o contrário? Preservar os parceiros que sempre auxiliaram nas horas difíceis a controlar um Povo ancioso em buscar a Liberdade. Longe da ditadura fantasiada de democracia dos “Representantes do Povo”, seu Voto Obrigatório e sua Pseudo-Democracia sem Representação, nem representatividade? O Rei está nú. O Brasil é de muito fácil explicação.  

    1. Com voto não se resolve nada
       

      “Afinal, qual é a foto do brigadeiro que v. está escondendo?”

      Em resposta às indagações do capitão, segue foto misteriosa do brigadeiro escondido.

      Tradicional brigadeiro brasileiro isolado no fundo branco foto royalty-free

       

       

  3. BoçalNato é fácil de se

    BoçalNato é fácil de se explicar: homofóbicos, racistas, misóginos,etc, veem nesse sujeito uma identificação e uma forma de representação. Simples. O ódio que muitos carregam tem um representante. Infelizmente.

  4. acho que é mais simples abordar ( simplicidade é coisa difícil )

    1 – a nossa herança escravocrata; 2 – o nosso autoritarismo que põe em segundo plano a racionalidade, e, em primeiro, o coração (“o homemm cordial”), a emoção seja pra que lado for; 3 – a história dos partidos políticos no Brasil, o caudilhhismo, as leis que favorecem as hierarquias e oligarquias partidárias com seus acertos, e com seus erros (cujas autocríticas rejeitam e seus seguidores só enxergam a verdade e a luz, numa visão maniqueista, ou preto ou branco, sem nuances, ou é direita ou é esquerda. A mente colonizada de que fala Raízes do Brasil, Sérgio Buarque, e, atualmente, Mangabeirra Unger.

  5. Elite X Nós: outro maniqueismo

    a elite é autoritária. A população é autoritária. A elite é racista, homofóbica, etc etc e tal. Nós todos somos. (O artigo não diz o que concebe como elite. Ativistas sindicais e partidários pra mim são elite no sentido que detêm poder, se é decisivo e em que grau, são outros quinhentos). Nas assembléias, desde as de condominios, estão presentes os autoritarismos, as abstenções, a subserviência no comportamento “É melhor fechar os olhos pra não se incomodar”. Isso realimenta as demais elites.

  6. Santa idiotice, Batman.

    Sabem qual a principal chance do bolsopata?

    O desconhecimento e o monte de asneiras que se fala sobre ele, e pior, que o colocam como uma exceção no ethos poítico nacional.

    Mais ou menos como os imbecis europeus fizeram com Hitler e Mussolini, e talvez com a ascensão de todo e qualquer movimento autoritário de massas.

    Sim, o nome é esse, por mais que nossas idiossincrasias classe média nos digam o contrário: são movimentos de massa, que nunca deixaram de existir, mas que são contidos por doses cavalares de ação política e ideológica contra-hegemônica.

    Quando cochilamos, eles vêm e pronto. 

    Claro que não se trata apenas do refluxo dos setores progressistas que permitem que as forças mais violentas do espectro conservador assumam o protagonismo da História. 

    Boa parte desse sucesso também reside nas demandas do capital por associações com regimes que enquadrem os conflitos sociais, permitindo ao capitalismo a folga necessária para se reciclar e montar seus ciclos de expansão. 

    É uma dobradinha, portanto. Relação de causa e efeito recíprocas: o esmorecimento das esquerdas e a sede de sangue do capital.

    O nível endurecimento de regimes obedece, também, a questões históricas e atinentes a cada sociedade, mas de qualquer modo, os ciclos são perenes, seja com os gorilas fardados da América Latina, seja com o verniz parlamentar de Margaret, a Vaca de Ferro, e  sua dinastia conservadora na terra da Rainha.

    No entanto, uma olhada rápida na “evolução” da Humanidade vai nos mostrar que os chamados regimes democráticos, também conhecidos como estados de direito, são exceções e sempre assediados por toneladas de regras conservadoras destinadas a impedir que haja realmente alternância de poder.

    Vamos ao Brasil, e espero, de uma vez por outra, dar cabo dessa ilusão vendida aqui, por “democratas” de toda pele, como psicanalistas da democracia, sociólogos da democracia, jornalistas pela democracia, advogados pela democracia (esses são de matar de rir, porque o Direito é, por essência, conservador) e toda essa fauna confusa:

    – 1808: 

    Chega a Corte ao Brasil e inaugura-se a versão brasileira do Estado inquisidor-policial, com a fundação da Intendência Geral de Polícia, tendo como missão principal a contenção de negros que assustavam os brancos recém-chegados. Sabemos que essa visão permanece até hoje, e depois chamam os portugueses de burros;

    – 1822:

    “Conquistamos” a independência numa jogada de pai para filho, e tudo passa a ser mais ou menos assim na construção identitária desssa nação: negociata ao invés de conflito, herança e sobrenome como símbolo de distinção, enfim, sublimação de qualquer dissenso. A busca desesperada pelo centro que nunca existiu;

    – 1888:

    – “Abolição” a escravatura, fomos os últimos a reconhecer o flagelo da escravidão, e mesmo assim alguns estados da federação resistiram enquanto puderam. Nosso processo abolicionista é resultado da demanda inglesa. E até hoje não se completou, se considerarmos a situação das senzalas modernas.

    – 1889:

    República inaugurada sem qualquer traço de movimento político de massa. Um desacerto das elites que resolveram que o Imperador não era mais útil. Começa o protagonismo militar, ou melhor, assumem de vez quem é que vai agir em nome das elites;

    – 1930:

    Golpe chamado de revolução. Mais um desarranjo entre as elites, que arriscam no viés popularesco, pela primeira vez, começam a entender que no (novo) mundo que se mostra, as jogadas para golpear e assumir o governo passa por uma construção simbólica junto às massas, já que as novas tecnologias de comunicação começam a integrar a massa ignara.

    Não que isso signifique mais ou melhor informação, mas o fato é que o domínio ideológico assume novos contornos graças ao rádio, e depois, cinema, e por último, a TV.

    – 1937:

    Dispensa apresentações o Estado Novo: eis a nossa versão de movimento autoritário de massas!

    – 1945:

    Novo golpe militar. Assim como na volta da Guerra do Paraguai, os miitares elaboram a noção de quem morre pela pátria pode mandar em seus destinos civis e políticos.

    A tarefa é facilitada pelo ocaso do modelo autoritário de massas.

    – 1954/1958:

    Assassinato-suicídio de Getúlio, República do Galeão:

    Ao lado da intervenção militar direta, começa a rodar uma “nova tecnologia” de golpes, que é formulada nos gabinetes da CIA e do Departamento de Estado dos EUA e da Europa: O lawfare, a criminalização da política, o protagonismo judicial.

    De certo que as tentativas iniciais daquele tempo não se comparam às que estão em vigor hoje, mas é impossível deixar de reconhecer naquelas mais antigas alguns traços do que acontece hoje.

    A bem da verdade, nenhum regime autoritário ou decorrente de um golpe institucional e/ou militar prescinde do compadrio dos sistemas judiciários, não à toa mantidos intactos durante a vigência desses regimes.

    Mas novamente a diferença crucial talvez seja a comunicação de massas e a luta ideológica semiótica. Hoje, com as novas plataformas o alcance da criminalização da política assume formas impensáveis.

    – 1964:

    Como os meios de controle ideológico pareciam não conseguir detonar o projeto nacional-desenvolvimentista (capitalista, diga-se) de Jango, que ainda trazia algum legado do movimento autoritário de massas de Getúlio, uma grande sacada do movimento trabalhista, que venceu a guerra semiótica de então, quando capturou as coisas “boas” do getulismo e isolou seu legado sanguinário, recorreram a força pura e simples dos fuzis mesmo.

    No entanto, não foi só força, foi força e afago, morde e assopra. Uma pequena inclusão pelo consumo e criação de uma incipiente classe média (lembram de algo?), que gerou aceleração rápida do PIB, aprofundamento da política de subsituição de importações em detrimento da inovação industrial própria, avanço na infra-estrutura (lembram de algo?) e gestão econômica alinhada com os chefes capitalistas (lembra algo, modelo PT?).

    – 1985-1989:

    Transição. Resume em uma palavra: piada.

    Todos os aspectos cruciais continuaram (e continuam tutelados) pelas forças policiais e militares do Estado. Todos os direitos que poderiam significar alteração das desigualdades receberam o nome (piada novamente) de eficácia contida (algo como está escrito mas não vale porra nenhuma).

    As bases do uso da força como contenção política e de classes manteve-se inalterada.

    – 1992:

    Golpe contra Collor: a explosão mídia lawfare em seu debut.

    Novamente um movimento autoritário de conservador de massas, fomentado pelo complexo mídia-elites-judiciário, e que paradoxalmente contou com a adesão imbecil das esquerdas!

    E pior, nem souberam aproveitar o que poderiam: ajudaram a derrubar um presidente eleito por denúncias vergonhosas e nunca provadas, e sequer ocuparam parte do poder que ajudaram a golpear, negando-se a compor o governo Itamar, deixando espaço aberto para os neoliberais tucanos.

    Algo como: seguraram a vítima para ser esfaqueada, mas negaram-se a levar a parte dos pertences roubados.

    – 2015/2016:
     

    Golpe de Dilma: auto-explicativo. O ápice do movimento lawfare, que agora traz uma lógica invertida: se antes os militares estavam na frente, hoje são as togas, mas mesmo assim o estamento não prescinde dos cuturnos e fuzis.

    A intervenção militar no Rio é um aviso de quem é que pode mais e quem pode menos.

     

    Junto a tudo isso nós temos o verdadeiro espírito nacional:

    – País que mais mata preto e pobre;

    – Um dos maiores índices de violência doméstica;

    – O mais violento no trânsito;

    – Menor índice de resolução de crimes de mortes (de pretos e de pobres);

    – Judiciário mais caro do planeta;

    – A permanência do militarismo como pilar principal da segurança pública;

    – A existência de Inquéritos Policiais e as “autoridades”, os delegados de polícia;

    – Uma cumplicidade bovina com todo e qualquer golpe de estado desde 1889.

     

    E você ainda acham que bolsopata é uma aberração?

    Ora bolas, se ele melhorar um pouquinho as asneiras que fala, ganha fácil.

    Se Lula não puder, ele tem meu voto:

     

    E não porque o que ele fala está longe do que o ethos brasileiro pensa, mas sim pela hipocrisia reinante, porque ainda nos imaginamos algo como “civilizados”, pacíficos, democráticos.

    Vamos logo realizar nossa fantasia de poder sem meias palavras:

    Pan-brasilianismo para construção de nossa espaço vital, invadindo os vizinhos. Projeto nuclear para conter os EUA. Aliança com Rússia e China para dissuasão de intervenções dos EUA. Expansão do consumo. Investimento pesado em material militar. Pena de morte, leia-se oficial e judicial, claro, avançao sobre a fronteira verde da amazônia, exploração de cada riqueza mineral de lá, expulsão de índios, fim das reservas, e etc.

    Vamos lá, mãos à obra…rsrsrsrs.

     

     

    1. À sombra do triplex imemorial.

      Neanderthal, sua análise está quase perfeita, mas recheada de cinismo. Cinismo é um dos tipos de cafajestismo mais deploráveis que há. Se eu tiver de escolher entre Boçalnauro e Alckmin, o ladrão de merendas, vou pro Guarujá e justifico de lá.

      1. Bem vindo.

        Está aberta a sessão do clube dos cafajestes, com uma menção honrosa a você, o cafajeste em cima do muro, ou, o cínico omisso.

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