Documentário mostra papel do futebol e da música na redemocratização

Sugerido por Tamára Baranov

Da Rede Brasil Atual

Documentário resgata política, futebol e rock’n’roll na ditadura

‘Democracia em Branco e Preto’, de Pedro Asbeg, conta como o esporte nacional e a música participaram da redemocratização do Brasil

Por Xandra Stefanel, especial para RBA

Filme extrapola as arquibancadas e mostra um fragmento do ambiente de decadência da ditadura

São Paulo – “Pra todos aqueles que lutaram desde 1964, que morreram, que sumiram, que foram torturados, presos e exilados, a Democracia Corintiana bateu o pênalti”, afirma o ex-jogador e hoje comentarista Walter Casagrande no documentário Democracia em Branco e Preto, que foi exibido na edição de 2014 da mostra competitiva do Festival É Tudo Verdade nos dias 5 e 6 de abril, no Rio de Janeiro, e 10 e 11, em São Paulo.

O longa-metragem dirigido por Pedro Asbeg numa co-produção entre a ESPN Brasil, a TV Zero e a Miração Filmes, chega às telas exatamente na época em que o Brasil relembra os 50 anos do golpe de 1964 e os 30 anos da campanha das Diretas Já, em 1984.

Por meio de entrevistas atuais e imagens de arquivo, o filme resgata a importância do movimento liderado por Sócrates, Casagrande, Vladimir e Zenon em um dos maiores e mais populares times do país, o Corinthians. Há 18 anos vivendo sob regime militar, Sócrates percebeu que poderia tentar fazer dentro do time o que a sociedade era proibida de fazer nas ruas: exercer a liberdade individual e democratizar o processo de tomada de decisões.

Assim nasceu a Democracia Corintiana, sistema, apoiado pelo então presidente Waldemar Pires, em que todos, dos dirigentes aos funcionários, passando pelos atletas, podiam opinar e até votar em torno de grandes decisões do time, desde horário do treino a novas contratações. Passaram a exercer dentro do time direito que lhes era negado como cidadãos. O movimento acabou incomodando os dirigentes de outras equipes (que ficaram temerosos que a “moda” pegasse) e especialmente os militares, que tentavam se manter no poder, apesar do crescente clamor popular por liberdade e democracia.

Na música, a MPB continuava usando metáforas e “frestas” para criticar o modelo vigente e resistir à censura, mas começaram a pipocar bandas de jovens que usavam o rock’n’roll como uma forma de questionar o status quo. Legião Urbana, Barão Vermelho, Titãs, Ultraje a Rigor e Blitz cantavam, cada um no seu estilo, as mudanças que queriam ver no país.

Não por acaso, jogadores do Corinthians e alguns desses músicos dividiram espaço com políticos nos palanques na campanha pelas Diretas Já. Democracia em Preto e Branco não é, portanto, um filme apenas para corintianos: é uma visão do efervescente ambiente de derrocada da ditadura, com espírito esportivo.

Além dos protagonistas do movimento, como Sócrates (em uma das últimas entrevistas que concedeu) e Casagrande, o documentário tem depoimentos de Lula, Fernando Henrique Cardoso, Marcelo Rubens Paiva, Marcelo Tas, Edgar Scandurra, Frejat, Serginho Groisman, Paulo Miklos, entre outros.

Redação

8 Comentários

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  1. O papel do futebol hoje…

    …parece ser o de desmoralizar as instituições democráticas e expor a hipocrisia brasileira ( vide a reação cínica da mídia com relação à decisão do Roubinho 2014).

    As vestais de nossa imprensa que vivem a bradar contra a corrupção foram extremamente brandas com o gol escandalosamente assinalado pelo Flamengo, que lhe deu o título. Nem pareciam os moralistas ”defensores” da Petrobrás. Péssimo exemplo para as novas gerações.

    O arqueiro do clube do Leblon tuitou que ”roubado é mais gostoso”. Houve oração no meio de campo agradecendo a Deus, que como todos sabem, é fiel.

    Deus já deve estar de saco cheio. Eu também. E nem sou Vasco.

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