As graves violações de direitos humanos na USP, por Márcia Basseto Paes

Volume sobre a AESI.

As graves violações de direitos humanos na USP:  IPMs, cassaçōes e um órgão de informação criado pelo reitor Miguel Reale

por Márcia Basseto Paes 

A Assessoria Especial de Serviço de Informações ( AESI)  tinha a função de monitorar ideologicamente funcionários, docentes e alunos. 

A Comissão da Verdade da USP entregou, oficialmente à reitoria, o relatório final sobre as graves violações dos direitos humanos na Universidade de São Paulo (1964-1985). Foram quatro anos de pesquisa, mais de 2.800 páginas escritas, centenas e centenas de documentos pesquisados e analisados, cerca de 50 depoimentos colhidos. 

Poderíamos ter avançado mais, mas todos os limites pessoais e financeiros foram esgotados. Eu tive o prazer de ser convidada para fazer parte dessa equipe relatora pela professora Janice Theodoro, também ex-presa política, como eu. Janice coordenou tudo com muita eficiência e jogo de cintura. O fato de termos sido vítimas e testemunhas das violações dos direitos humanos durante a ditadura civil -militar conferiu um tratamento ímpar a esse relatório.

Imperdíveis os depoimentos de Geraldinho Siqueira, que nos recebeu em meio à crise do golpe, de Ronaldo Almeida, Robson Corrêa De Camargo –   depoimento arrancado à fórceps -, do José Michellazzo e Pedro Rocha Filho, de Anita Fabbri, de Arnaldo Schreiner, e o impressionante depoimento do Piauí, o Herbert Willians Coutinho Mello.

Igualmente imperdíveis são os depoimentos do pessoal que morou no Crusp, na época da invasão, dos médicos e recém formados da Faculdade de Medicina que tiveram que sair do país em 1964, do prof. Boris Fausto e dos cassados, com destaque para a Professora Emília Viotti.

Do outro lado do balcão, o depoimento de ex-reitor António Hélio Guerra Vieira, responsável por queimar todo o arquivo da AESI, órgão criado na segunda gestão do ex-reitor Miguel Reale, durante a ditadura, para suprir o II Exército, Dops, Sni, Cenimar, Cisa  com as informações sobre professores, funcionários e alunos. Esta Assessoria Especial de Segurança e Informação ( AESI), chefiada por Krikor Tcherkesian, contratado por Miguel Reale e com livre entrada no Dops, enviava formulários com informações de pessoas candidatas a cargos ou renovações e pediam em documentos com timbre da reitoria informações sobre a conveniência ou não da contratação. Convidados como Michel Foucault e Jean-Pierre Vernant também tiveram suas fichas enviadas aos órgãos de segurança da ditadura civil-militar.

A AESI funcionou com toda a infraestrutura, em sala ao lado da reitoria, de 1972 a 1982.

A equipe responsável pela produção do relatório executou um trabalho exaustivo, mas com a ciência que não se esgotou.

Conseguimos tirar um pouco da sujeira que estava embaixo do tapete.

Necessário sublinhar a magistral coordenação da Prof. Janice Theodoro da Silva. Carregou o piano, o pianista, o palco, o backstage, a plateia e um tanto mais. A ela agradeço meu envolvimento como uma das relatoras.

São 11 volumes que estão à disposição dos leitores em formato digital pdf. Participei de nove deles, ativamente, e colaborei com os outros. A exígua, porém competente, equipe de relatores, revisores e pesquisadores foi completada por Alynne Nayara Ferreira Nunes, Beatriz Correia Camargo, Carlos Batistella, Evelyn Lauro, João Rezende, Mônica Kalil, Fernanda Sousa, Nathalia Regina Pinto, Roberta Astolfi, Carolina Bissoto, Pedro Stevolo e Thiago da Fonseca. 

 

Agora é divulgar.

1964-1985: anos de perseguição na USP

 

 

Redação

2 Comentários

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  1. as….

    Graves Violações dos Direitos Humanos não é Pedro Franco de Campos da USP, então Secretário de Antonio Fleury da OAB, Comandantes-em-Chefe das Forças Policiais Paulistas, autorizarem o Massacre do Carandiru? E todos hipócritas companheiros ideologizados, aceitarem a omissão das suas participações no massacre? Que revelador !!! Quanto a USP, Direitos Humanos é ter Creche para Funcionárias e Alunas. E mais sgurança contra assaltos e estupros, enquanto paga salários e beneficios de mais de 100 mil reais a alguns. Dallari poderia explicar melhor o assunto, se este não for censurado. Juntamente com os últimos Reitores, que só chegam ao Câmpus de helicóptero. Já que irão gastar um fortuna colocando muros de vidro na lateral da Raia Olimpica, onde o pária do Governador Mario Covas, colocou um muro para cercar a Universidade, por que não melhoram a saída mais vistosa da Cidade Universitária, que fica para a Marginal Pinheiros, e construir uma passarela ao lado do viadutto que dá acesso a Estação de Trens, do outro lado do rio, com cobertura e iluminação. Os milhares de Funcionários e Alunos, principalmente Alunas e Funcionárias, agradecerão pela maior segurança. E pela proteção do frio e da chuva quando atravessam aquela pinguela. Isto também são Direitos Humanos.       

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