Militares são denunciados por mortes no Araguaia

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Dois militares do Exército, já na reserva, foram denunciados pelo Ministério Público Federal na Justiça Federal de Marabá, no Pará, em ação penal por crimes cometidos durante a Guerrilha do Araguaia. Major Asdrúbal, codinome de Lício Augusto Ribeiro Maciel, é acusado pelas mortes de André Grabois, João Gualberto Calatrone e Antônio Alfredo de Lima, além da ocultação dos cadáveres. Sebastião Curió, o mojor Curió, na época conhecido pelo codinome de doutor Luchini, foi denunciado pela ocultação dos cadáveres. Leia a matéria do jornal O Globo.

de O Globo

MPF denuncia militares por mortes e ocultação de cadáver no Araguaia

Lídio Maciel e Curió são acusados pela morte de três militantes da guerrilha

por Cleide Carvalho

SÃO PAULO – O Ministério Público Federal entrou na Justiça Federal em Marabá, no Pará, com ação penal contra dois militares do Exército, hoje na reserva, por crimes cometidos durante a Guerrilha do Araguaia. Lício Augusto Ribeiro Maciel, que na época era conhecido como major Asdrúbal, é acusado pelas mortes de André Grabois, João Gualberto Calatrone e Antônio Alfredo de Lima e pela ocultação dos cadáveres. Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, na época da guerrilha conhecido como “doutor Luchini“, foi denunciado pela ocultação dos cadáveres.

O MPF denunciou Maciel por homicídio qualificado, por terem sido praticados com emboscada e por motivo torpe. Considerou ainda como agravantes dos crimes o abuso de autoridade e a violação a deveres inerentes aos cargos dos militares Os procuradores também pediram à Justiça Federal que ambos sejam condenados a ressarcir danos em quantia equivalente à indenização paga aos familiares das vítimas pela União. O valor deve ser atualizado durante o processo judicial.

Na ação, o MPF pede que sejam condenados à perda dos cargos públicos, com o cancelamento das aposentadorias, além de terem de devolver medalhas e condecorações recebidas.

As mortes ocorreram em 13 de outubro de 1973 em São Domingos do Araguaia, no sudeste do Pará. Maciel comandou o grupo militar de combate à guerrilha. Os militares emboscaram os militantes enquanto eles estavam levantando acampamento em um sítio. De acordo com o MPF, a emboscada, as mortes e as ocultações dos cadáveres descritas na ação do estão comprovadas por documentos e inúmeros depoimentos prestados por diversas testemunhas ao MPF e a outras instituições.

Na ação, os procuradores citam o depoimento do próprio Maciel, que descreveu a primeira execução: “Os meus companheiros, que chegavam, acertariam o André, caso eu tivesse errado, o que era muito difícil, pois estava a um metro e meio, dois metros dele”. Uma testemunha afirmou ao MPF que os militantes foram “pegos de surpresa, não tendo tempo para reação”, pois o Exército chegou atirando com metralhadora.

Orientados por Maciel, um grupo de militares enterrou os corpos em valas abertas em outro sítio de São Domingos do Araguaia, indicado por um guia local, denominado “mateiro”. Houve outras ocultações. Entre agosto de 1974 e 1976, as ossadas foram removidas para outros lugares durante a “Operação Limpeza”, destinada a encobrir os vestígios das ações de repressão aos guerrilheiros do Araguaia, que se opunham ao regime militar.

A ocultação dos corpos ficou sob a coordenação de Sebastião Curió, apontado como um dos poucos que tem conhecimento dos locais onde foram enterradas as ossadas. “Nessa operação, Sebastião Curió foi o responsável por coordenar a retirada dos corpos das covas e locais nos quais originariamente foram deixados, posteriormente enterrando-os ou de alguma forma ocultando-os em locais diversos, até então não conhecidos”, registra a denúncia.

“O crime foi cometido por motivo torpe, consistente na busca pela preservação do poder usurpado no golpe de 1964, mediante violência e uso do aparato estatal para reprimir e eliminar opositores do regime e garantir a impunidade dos autores de homicídios, torturas, sequestros e ocultações de cadáver”, diz a ação, que é assinada pelos procuradores Tiago Modesto Rabelo, Ivan Cláudio Marx, Andréa Costa de Brito, Lilian Miranda Machado, Sérgio Gardenghi Suiama e Antônio do Passo Cabral, da Força Tarefa Araguaia, constituída pela Procuradoria Geral da República.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Sebastião Curió
    Meu sobrenome é Luchini, e eu gostaria de saber de onde esse infeliz e assassino do Sebastião Curió foi buscar esse codinome, para se esconder das torturas e mortes por ele praticadas. Nenhum membro das famílias Luchini no Brasil e exterior merece ser confundido com esse verme.

    1. O infeliz Curió ofende o nome do pássaro

      Nos tempos da ditadura, quem se opunha a ela, às vezes escolhia como nomes de guerra os nomes de seus adversários para, no caso de serem presos, dificultar sua verdadeira identificação. Já os infelizes, escolhem por ódio ou escárnio. 

  2. Guerrilha

    Realmente o que me espanta, é que se fosse o inverso, os guerrilheiros tivessem pego e Exército Brasileiro de emboscada, e éra para  isto que estavam lá no Araguaia, e tivessem matado todos, não precisariam responder por seus atos. Assim como aconteceu na União Soviética ou em Cuba, onde quem era inimigo e perdeu a Guerra, foi fuzilado ou mandado para morrer nos Urais, pergunto: alguma família Cubana, em que seu pai era Soldado de Fullgencio Batista, está recebendo pensão por seu ente querido ser fuzilado pelo estado??????  Alguém da Rússia, recebe pensão, por ter perdido um pai, marido , para a revolução?????? Éra guerra que estava em curso, e me admiro de um órgão tão respeitado como o ministério público, se deixar  levar emocionalmente por uma minoria que hoje acha que seus atos foram todos justos, e estão aí hoje achacando o Brasil, eram  atos de Guerra, na época,  onde quem não mata morre, então que assumam a consequência de seus atos na época, e não achem que são heróis, pois se tivessem vencido, eu é meus filhos , provavelmente estariamos andando com carros de 1950 , 1960 e meus tios, que moram no sítio, estariam plantando Banana a enchada , e não com um trator moderno como os que existem hoje. 

     

    1. Guerra coisa nenhuma.

      O que me espanta é ver sua estupidez sem limites. Guerra se dá entre duas forças antagônicas relativamente semelhantes em poder de força. O que esses bandidos que o sr. defende fizeram tem outro nome. 

  3. Viva Genoino!

    Os crimes de farda fizeram escola em nossa terra.

    Como é tradição de nossas instituições, certos bandidos sairão impunes. São especiais.

    Está explicada a fúria com que o poder armado ou togado abate seus inimigos hoje.

  4. Complexa postura de todos. Quem escolhe um lado, tem plena ciencia do que está fazendo. Em guerra existe somente um vencedor. O mais importante disso tudo é que, só sabemos o que é ser vitima de baixa de guerra (social ou militar) quando vivenciamos. Tive tio e primos mortos por esses tais guerrilheiros simplesmente por acharem que meu tio era militar. Mortos a sangue frio. Sofremos consequencias disso. Sou militar, venho de familia militar e sei como são as coisas. Engraçado que ninguem reclama das baixas ocorridos no Complexo do Alemão quando entramos para tentar instaurar a ordem. Porque ? Porque o exercito neste caso também não foi responsabilizado? Porque quando o problema é vivido por nós escolhemos lados. Não importa o nome da ação e sim o ato.

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