Nota Pública das entidades do Movimento Memória, Verdade e Justiça de repulsa à declaração de Jair Bolsonaro

É repugnante a declaração de Bolsonaro, que tripudia com uma situação dolorosa na vida de um filho que perdeu o pai durante a ditadura.

Nota Pública das entidades do Movimento Memória, Verdade e Justiça de repulsa à declaração de Jair Bolsonaro

A Rede Brasil Memória, Verdade e Justiça, através das entidades signatárias, vem a público repudiar veementemente o ataque perpetrado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, à memória de Fernando Santa Cruz, militante da resistência à ditadura militar, desaparecido após ser preso por agentes da repressão em fevereiro de 1974.
A declaração desprezível aconteceu no dia de hoje, quando, numa coletiva de imprensa, o presidente da República, com o intuito de atingir o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, foi mais uma vez torpe e repulsivo.
 Bolsonaro declarou para a imprensa que tem informação sobre o que aconteceu com Fernando.  “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele” (Folha de São Paulo, 29.07.2019)
Como outros brasileiros, Fernando Santa Cruz foi capturado e torturado até a morte; seu corpo, assim como de várias outras pessoas, entre homens e mulheres, nunca mais foi encontrado.
É repugnante a declaração de Bolsonaro, que tripudia com uma situação dolorosa na vida de um filho que perdeu o pai durante a ditadura.
 A mãe de Fernando Santa Cruz, dona Elzita, morreu sem saber o que acontece com seu filho. Ela viveu 105 anos esperando por uma informação.
               29 de julho de 2019
CENTRO DE DIREITOS HUMANOS E MEMÓRIA POPULAR DE FOZ DO IGUAÇU -PR
FÓRUM MEMÓRIA VERDADE E JUSTIÇA DO ES
COMISSÃO DE FAMILIARES DE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS
GRUPO TORTURA NUNCA MAIS DE SÃO PAULO
GRUPO TORTURA NUNCA MAIS DE FOZ DO IGUAÇU – PR
COMITÊ POPULAR DE SANTO MEMÓRIA VERDADE E JUSTIÇA
COMISSÃO DOS DIREITOS HUMANOS E LIBERDADE DE IMPRENSA DO SINDICATO DE JORNALISTAS PROFISSIONAIS NO ESTADO DE GOIÁS.
COMITÊ CARLOS DE RÉ DA VERDADE E JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL
COMITÊ M-V-J DO OESTE DO PR
COLETIVO CATARINENSE MEMORIA, VERDADE E JUSTIÇA
Redação

4 Comentários

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  1. Esse documento registra que apesar do fascismo, há resistência. É bom lembrar sempre de que essa forma de governo só vigorou e por pouco tempo, embutido em governos ditatoriais e sanguinários. O caminho pelo qual o presidente deste país infeliz – muito infeliz – quer enveredar é este, o do autoritarismo, do país sem regras, a não ser as que ele, o governo, determina. Com isso pactuam a grande mídia, o STF, os grandes grupos empresariais, sobretudo estrangeiros e os nossos banqueiros, coadjuvados pela parte ignorante da população. Bolsonaro torce por uma reação forte da população, para estabelecer o estado de exceção que almeja.

  2. https://ruymedeiros.blogspot.com/2019/07/fernando-santa-cruz-presente.html

    FERNANDO SANTA CRUZ, PRESENTE!

    Ruy Medeiros

    Há exatamente quatro meses, participei da banca da tese defendida por Gilneide de Oliveira Padre Lima: ‘Do corpo insepulto à luta por memória, verdade e justiça: um estudo do caso de Dinaelza Coqueiro’. A então doutoranda falou analiticamente do destino daquela conquistense nascida no São Sebastião, filha de Junília Soares Santana e Antônio Pereira Santana, vítima da ditadura militar, cujo corpo nunca foi devolvido à família, embora oficialmente tenha sido reconhecida morta. Seus restos estão desaparecidos. A covardia dos ditadores nunca os trouxe à luz do dia.
    A tese desdobra-se na análise do sofrimento dos pais, irmãos e amigos de Dinaelza, que não foi sepultada pelos seus, dela não se despediram, não velaram seu corpo, não lhe abraçaram despedidas, sequer foram informados que sua vida fora subtraída do mundo. O sofrimento. A busca. A angústia. A descrença. O conhecimento da perversidade. A dor sem cura. O vazio. Tal como ocorreu com a história de Fernando Santa Cruz, filho e pais.
    Agora, vejo e revejo rosto que fala a telespectadores de todo o Brasil, como se dirigisse aos incapacitados de pensar, como a desferir ódio, ironia e vingança contra pessoas que não querem à supressão da liberdade, nem a implantação da indignidade como forma de governo. São o rosto e a fala do Presidente. Como a demonstrar a naturalidade de como que trata do sofrimento alheio, numa das imagens está podando o cabelo, familiarmente. Fala de uma vítima ao filho dessa. Nas imagens, o presidente quer atingir um homem que os advogados elegeram para dirigir seu órgão de representação, mas também de fiscalização, defesa de prerrogativas, defesa dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito. Esse homem alvo do presidente é Felipe Santa Cruz, Presidente do Conselho Federal da OAB. Atinge a todos. Ao capitão presidente incomoda a independência de Felipe em relação aos governantes. Para atacá-lo, intimidá-lo e ofendê-lo, o Presidente Bolsonaro resolve dizer que sabe como morreu Fernando Santa Cruz, pai de Felipe, e oferece versão mentirosa sobre o assassinato frio e covarde deste por agentes da ditadura militar, que na fala presidencial foi transformada em justiçamento da Ação Popular contra o jovem militante. A fala cheira ameaça: significa revelar que tinha intimidade suficiente com pessoas implicadas nas prisões arbitrárias e mortes durante o regime militar. Daí é só tirar conclusão.
    Se o capitão sabia como foi assassinado Fernando deveria tê-lo revelado, no mínimo, à Comissão da Verdade constituída oficialmente muitos anos após a transição do regime.
    Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, pelo que se tem conhecimento, foi preso juntamente com Eduardo Colier Filho, também pernambucano, meu colega no Curso de Direito da UFBA, vigiado e depois perseguido intensamente após sua entrevista à revista ‘Liderança’, na qual ele declarou, referindo-se aos estudantes: ‘nós vamos acuar a ditadura em todas as ruas’. Em determinado momento, ficou difícil para Eduardo Colier Filho permanecer na Bahia e ele foi para o Rio de Janeiro, onde lutou e encontrou a morte. Seu corpo não foi devolvido ao choro dos pais.
    Imagino a dor de Felipe Santa Cruz ao perceber voz longínqua dos ditadores ecoar na garganta do Capitão e este, insensível, dizer saber como seu pai morreu. Dor e indignação. Mais que soco inglês na boca. Ferida triturada. Fernando era então jovem de 26 anos quando o assassinaram covardemente, em fevereiro de 1974. Jovem que tinha coragem e sonho para vivê-la.
    À agressão do presidente, Felipe Santa Cruz respondeu à altura. Replicou contra o ataque com nota pública virtuosa.
    Uma questão está posta: como fica a consciência da sociedade ao perceber que o Chefe de Estado se compraz em demostrar que sabia de um crime (é disso que se trata!) e não o revelou sequer tardiamente à Comissão da Verdade constituída oficialmente para investigar os atos do regime militar contra pessoas? Como fica essa consciência diante da ameaça que se esconde na expressão “eu sei como seu pai morreu”? Poucos sabiam detalhes dos porões onde os covardes do regime se homiziavam. Como fica o próprio direito ao asco diante de ofensas à memória dos que se foram para aprofundar as feridas dos que sofreram com a partida? Como fica a verdade?
    Receba meu abraço, Felipe Santa Cruz.
    Fernando Santa Cruz, PRESENTE.

  3. FERNANDO SANTA CRUZ, PRESENTE!

    Ruy Medeiros

    Há exatamente quatro meses, participei da banca da tese defendida por Gilneide de Oliveira Padre Lima: ‘Do corpo insepulto à luta por memória, verdade e justiça: um estudo do caso de Dinaelza Coqueiro’. A então doutoranda falou analiticamente do destino daquela conquistense nascida no São Sebastião, filha de Junília Soares Santana e Antônio Pereira Santana, vítima da ditadura militar, cujo corpo nunca foi devolvido à família, embora oficialmente tenha sido reconhecida morta. Seus restos estão desaparecidos. A covardia dos ditadores nunca os trouxe à luz do dia.
    A tese desdobra-se na análise do sofrimento dos pais, irmãos e amigos de Dinaelza, que não foi sepultada pelos seus, dela não se despediram, não velaram seu corpo, não lhe abraçaram despedidas, sequer foram informados que sua vida fora subtraída do mundo. O sofrimento. A busca. A angústia. A descrença. O conhecimento da perversidade. A dor sem cura. O vazio. Tal como ocorreu com a história de Fernando Santa Cruz, filho e pais.
    Agora, vejo e revejo rosto que fala a telespectadores de todo o Brasil, como se dirigisse aos incapacitados de pensar, como a desferir ódio, ironia e vingança contra pessoas que não querem à supressão da liberdade, nem a implantação da indignidade como forma de governo. São o rosto e a fala do Presidente. Como a demonstrar a naturalidade de como que trata do sofrimento alheio, numa das imagens está podando o cabelo, familiarmente. Fala de uma vítima ao filho dessa. Nas imagens, o presidente quer atingir um homem que os advogados elegeram para dirigir seu órgão de representação, mas também de fiscalização, defesa de prerrogativas, defesa dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito. Esse homem alvo do presidente é Felipe Santa Cruz, Presidente do Conselho Federal da OAB. Atinge a todos. Ao capitão presidente incomoda a independência de Felipe em relação aos governantes. Para atacá-lo, intimidá-lo e ofendê-lo, o Presidente Bolsonaro resolve dizer que sabe como morreu Fernando Santa Cruz, pai de Felipe, e oferece versão mentirosa sobre o assassinato frio e covarde deste por agentes da ditadura militar, que na fala presidencial foi transformada em justiçamento da Ação Popular contra o jovem militante. A fala cheira ameaça: significa revelar que tinha intimidade suficiente com pessoas implicadas nas prisões arbitrárias e mortes durante o regime militar. Daí é só tirar conclusão.
    Se o capitão sabia como foi assassinado Fernando deveria tê-lo revelado, no mínimo, à Comissão da Verdade constituída oficialmente muitos anos após a transição do regime.
    Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, pelo que se tem conhecimento, foi preso juntamente com Eduardo Colier Filho, também pernambucano, meu colega no Curso de Direito da UFBA, vigiado e depois perseguido intensamente após sua entrevista à revista ‘Liderança’, na qual ele declarou, referindo-se aos estudantes: ‘nós vamos acuar a ditadura em todas as ruas’. Em determinado momento, ficou difícil para Eduardo Colier Filho permanecer na Bahia e ele foi para o Rio de Janeiro, onde lutou e encontrou a morte. Seu corpo não foi devolvido ao choro dos pais.
    Imagino a dor de Felipe Santa Cruz ao perceber voz longínqua dos ditadores ecoar na garganta do Capitão e este, insensível, dizer saber como seu pai morreu. Dor e indignação. Mais que soco inglês na boca. Ferida triturada. Fernando era então jovem de 26 anos quando o assassinaram covardemente, em fevereiro de 1974. Jovem que tinha coragem e sonho para vivê-la.
    À agressão do presidente, Felipe Santa Cruz respondeu à altura. Replicou contra o ataque com nota pública virtuosa.
    Uma questão está posta: como fica a consciência da sociedade ao perceber que o Chefe de Estado se compraz em demostrar que sabia de um crime (é disso que se trata!) e não o revelou sequer tardiamente à Comissão da Verdade constituída oficialmente para investigar os atos do regime militar contra pessoas? Como fica essa consciência diante da ameaça que se esconde na expressão “eu sei como seu pai morreu”? Poucos sabiam detalhes dos porões onde os covardes do regime se homiziavam. Como fica o próprio direito ao asco diante de ofensas à memória dos que se foram para aprofundar as feridas dos que sofreram com a partida? Como fica a verdade?
    Receba meu abraço, Felipe Santa Cruz.
    Fernando Santa Cruz, PRESENTE.

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