O dantesco episódio do Riocentro e sua debochada conclusão final

Recordações da ditadura: o dantesco episódio do Riocentro e sua debochada conclusão final

Entre os episódios inacreditáveis por que passamos durante a ditadura militar, que tem sido recordados nos dias atuais, um deles é o da bomba do Riocentro, uma das tentativas criminosas mais hediondas e cuja apuração foi uma das mais notórias patifarias impingidas a nação.

Trata-se da tentativa feita por militares do DOI CODI do Rio de levar para dentro do Riocentro lotado, onde 20 mil pessoas comemoravam o 1º de Maio, uma bomba de alto poder explosivo. Se a insanidade tivesse surtido efeito não seriam apenas os atingidos diretamente, algumas dezenas, que seriam mortos ou estropiados, mas quiçá milhares, pois evidente que a explosão provocaria pânico e o público correria para as saídas existentes. Na operação os militares usaram cerca de cinco carros roubados, com placas falsificadas. Também suas identidades eram falsas, ou seja, sabiam que praticavam um crime até mesmo para as leis que impunham ao país. No entanto, a bomba explodiu no colo de um sargento e matou-o, assim como feriu o capitão que estava a seu lado em um dos referidos veículos. Parece mesmo intervenção e justiça divina.

Com a explosão, imediatamente os militares cercaram o local e depois se arvoraram em investigadores do fato. A conclusão de um inquérito policial militar foi que terroristas de esquerda tinham jogado a bomba dentro do carro, empurrada goela abaixo da nação, como se ela fosse feita de indigentes mentais. Ao crime da “comunidade de informação” e do DOI CODI, somou-se o das altas esferas, coronéis e generais, demonstrando que era tudo uma coisa só.


De certo modo, o episódio e a conclusão oficial, acabaram tendo um lado muito positivo.  Demonstram até onde estava indo a bestialidade, o deboche, a insanidade, a boçalidade, a arrogância, o descontrole do regime. Pode-se comparar com o que se conta de Nero, que pôs fogo em Roma para seu deleite e depois acusou os cristãos pelo fato. Ninguém ousou contestar. Episódios imorredouros que retratam realidades vividas.

O do Riocentro não pode ser excluído das explicações que certos militares dão sobre a conduta das armas na época: estavam salvando o país do comunismo. Para isso serviria a morte dos milhares de jovens que queriam ouvir Chico Buarque e Caetano ou subversivos que apenas comemoravam o Dia do Trabalhador, um dia subversivo por si mesmo?

É certo que a impunidade dos autores do crime continua até hoje. A sociedade não teve forças para apurar e punir. O capitão que dirigia o carro continuou prestigiado e até foi promovido a coronel. Mas os militares em geral continuam punidos pela memória do fato e das conclusões a que chegaram. É como se ainda concordassem com o ocorrido ou pelo menos com a proteção dos seus autores, ao contrário dos argentinos, que resolveram lavar a roupa suja. O cadáver continua insepulto e deve cheirar cada vez pior. A história pelo menos, está fazendo justiça, deixando claro o que era o regime.

 

Redação

9 Comentários

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  1. Sem esquecer do caso Para-sar

    A insanidade de alguns militares chegou a tal ponto que planejaram a explosão do gasômetro do Rio de Janeiro.Felizmente o plano foi denunciado – e assim abortado – pelo, então, capitão da Aeronáutica Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho.

  2. Sem esquecer do caso Para-sar

    A insanidade de alguns militares chegou a tal ponto que planejaram a explosão do gasômetro do Rio de Janeiro.Felizmente o plano foi denunciado – e assim abortado – pelo, então, capitão da Aeronáutica Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho.

  3. engana-se quem pensa que está tudo acabado…

    estaria, sem dúvida alguma, se tivessem sido punitos exemplarmente conforme mandava as leis internacionais

     

    bestas humanas são criadas para fazer mau sempre e não para repousar………………….

     

    deixaram seguidores

    1. Por falar em bestas

      Realmente bestas humanas, mas para não generalizar vamos dar nomes aos bois (ou bestas). Inicialmente o militar designado para investigar o caso foi o coronel Luís Antônio do Prado Ribeiro. Ele quase que imediatamente convenceu-se que os passageiros do carro eram os autores do atentado, ai acabou renunciando à presidência do inquérito, certamente por pressão de membros da “comunidade de informação”. Em seu lugar assumiu o coronel Job Lorena de Santanna. Esse nome não pode ser esquecido nunca. Esse foi o pulha, o crápula que aceitou forjar um inquérito e apresentar um resultado risível, que ninguém acreditou.

  4. Militares Tentaram Matar Artistas no Riocentro

    A bomba colocada atrás do palco não explodiu

    Reportagem do Programa Arquivo N da TV Globo

    [video:http://youtu.be/587i3vQyeH0%5D

    [video:http://youtu.be/GFGpaurvCt8%5D

    Novas provas levaram o MPF a denunciar 6 pessoas por envolvimento no atentado. Viúva do sargento morto declara que sofreu ameaças dos militares.

    A semana foi de revelações sobre um dos episódios mais dramáticos da nossa história: o atentado a bomba no Riocentro, em 1981, época do regime militar.  O alvo era um show em homenagem ao Dia do Trabalho, onde se apresentavam artistas como Chico Buarque, Elba Ramalho, Gonzaguinha e Fágner.

    REPORTAGEM VEICULADA PELO FANTÁSTICO DA TV GLOBO NO DIA 23/02/2014

    Envolvido no atentado diz que intenção dos militares era matar astros da música brasileira em 1981.

    Mais uma revelação das novas investigações: quem deu a informação ao Ministério Público foi um ex-delegado de polícia, Cláudio Guerra.

    A função dele era prender no Riocentro pessoas falsamente falsamente ligadas à explosão. No depoimento, ele revela a existência de mais uma bomba e um novo alvo.

    Ministério Público Federal: O senhor falou que tinha uma bomba que seria para o palco.
    Cláudio Guerra: Seria colocado no palco, justamente pra atingir. A comoção seria a morte de artistas mesmo.

    Nenhuma bomba explodiu no palco. Outra foi atirada na casa de força do Riocentro, para cortar a luz e causar pânico nas mais de 20 mil pessoas que assistiam ao show. Mas não deu certo.

    Só nos primeiros meses de 1980, foram 46 explosões atribuídas aos militares. Boa parte dos atentados foi contra bancas de jornal que vendiam publicações consideradas subversivas.

    E uma bomba enviada à sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio matou a secretária Lyda Monteiro. São casos ainda sem solução.

    Nilton Cerqueira era comandante da PM do Rio e teria suspendido o policiamento no dia do show. Newton Cruz, que ainda foi denunciado por favorecimento, chefiava o Serviço Nacional de Informações. Segundo o Ministério Público, ele soube do atentado com antecedência e nada fez para impedir.

    Os outros denunciados são o major Divany, por fraude processual e o general reformado Edson Sá Rocha, acusado de ter defendido um plano de atentado um anos antes, também no Riocentro. Ele foi o único que se recusou a responder as perguntas do Ministério Público.

    Créditos: Globo com fotos da Internet

    http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/02/envolvido-no-atentado-no-riocentro-diz-que-intencao-dos-militares-era-matar-astros-da-musica-brasileira.html

  5. O amigo disse no texto  que a

    O amigo disse no texto  que a sociedade não teve forças para punir os responsá veis quem disse que a sociedade quer isso? a sociedade apóia  o que aconteceu. Os militares no Brasil são intocáveis essa é a diferença comparada a outros  países do Cone Sul.

  6. As questões pendentes de vida

    As questões pendentes de vida pessoal a gente sempre ignora mas acho que não foram e não são ignoradas:

    Como o Coronel Job conviveu com a esposa e filhos depois do relatório? Recusou-se a comentar?

    Como o coronel wilson (letra minúscula) se relaciona hoje com os que sabem a cagada, literal, feita? Será que é permitido aos alunos do colégio onde dá aulas questioná-lo? Como seus amigos o vêem? Falam alguma coisa por trás? A vida segue, até mesmo para os bárbaros.

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