São Paulo instala Comissão da Verdade municipal

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O município de São Paulo foi sede de um dos mais relevantes órgãos de controle social e repressão institucionalizada, o Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo – Deops/SP. A duas quadras da antiga localização, a cidade abriga, a partir de hoje (25), órgão ainda mais importante: a Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo.

Estratégico, no Edifício Ramos de Azevedo, que abriga o Arquivo Histórico de São Paulo, os trabalhos da Comissão já contam com o acervo documental da prefeitura no mesmo prédio. Também foi ao seu lado que diversos militantes políticos foram presos no antigo Presídio Tiradentes.
 
Diante dos avanços já constatados pela Comissão Nacional da Verdade e a Estadual Rubens Paiva, esta unidade será responsável por esclarecer o papel desempenhado pela prefeitura e agentes públicos municipais durante o período de 1964 a 1988, quando São Paulo foi palco de graves violações dos direitos humanos na ditatura. O objetivo é garantir o direito à memória e à verdade. 
 
Estarão à frente, conduzindo os trabalhos, o jornalista Audálio Dantas, que recebeu o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU em 1981; o integrante do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça e ex-procurador do município Cesar Cordaro; o advogado Fermino Fecchio condecorado pelo Prêmio de Direitos Humanos Franz de Castro Holzwarth em 2003; o jornalista Fernando Morais, ex-deputado e ex-secretário da Cultura e da Educação do Estado (1988 e 1991), e a professora Teresa Lajolo, ex-vereadora relatora da CPI dos desaparecidos políticos no cemitério de Perus. 
 
As investigações irão apurar indícios de perseguição e demissão de funcionários por motivação política, a ocultação de pessoas em cemitérios públicos municipais e a censura e repressão a educadores da rede pública municipal, além de outras frentes.
 
“A cidade de São Paulo concentra cerca de 20% dos mortos e desaparecidos políticos registrados no Brasil; aqui operavam o DOPS e o DOI-CODI e aqui foi encontrada a vala clandestina de Perus. A Prefeitura de São Paulo tem o dever de criar sua própria Comissão da Verdade para entender como foi sua participação nesse processo todo de repressão”, disse o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili.
 
Peça Liberdade é PoucoDurante a cerimônia de abertura da Comissão, às 18h30 no Edifício Ramos de Azevedo, o prefeito Fernando Haddad nomeará os cinco membros e será apresentado um trecho da peça “Liberdade é pouco”, montagem da Cooperativa Paulista de Teatro, adaptada do roteiro censurado pela ditadura de Millôr Fernandes e Flávio Rangel.
 
 
 
Instalação da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo
Arquivo Histórico de São Paulo
Praça Coronel Fernando Prestes, 152, Bom Retiro
Dia 25/9, às 18h30
Entrada livre e gratuita
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Recentemente eu li na Folha

    Recentemente eu li na Folha ,pgn 3,em dias alternados, dois relatos distintos sobre a morte de JK.E os dois completamente antagônicos. Um dizia que foi acidente e outro que foi assassinato.

          Por isso que a tal ”’comissão da verdade” deixa ainda mais dúvidas do que existia,do que verdades.

                Não faz sentido mais uma comissão da verdade .Mais uma, eu escrevi.

                   Será que não há  nada mais relevante pros nobres parlamentares se interessarem?

     ps: Acabaram com um dos mais tradicionais restaurantes de SP: Gigeto.E ao lado e em frente, permanece a Família Mancini.

            Que tal uma comissão da verdade pra saber como tal despropósito aconteceu.?

                 Evidente que há cheiro de podre nessa decisão.

                     ps 2 :O Gigeto mudou=se pra rua 13 de maio( se não me engano) Mas perdeu-se a história que esse ponto de encontro, ou restaurante, tinha. Tornou=se apenas um local a mais,

                 Triste,Muito truste, É como se fosse um museu histórico ser destruido.

                      Façam um comissão da verdade sobre isso.

  2. em defesa do cientista-historiador da gema fora! pintos amestrad

    …haja verdade de verdade para atender todas as comissões comissionadas da verdade de cada um no seu viés teológico-político-ideológico…

    “A memória histórica não é reconstrução do passado, mas exploração do invisível”.

    “A memória histórica, contrariamente à memória individual, contrariamente à memória coletiva, coloca-se sob o signo da verdade”.

    “A história se esforça por estabelecer os fatos de maneira precisa e exata e por torná-los, na medida do possível, inteligíveis em sua sucessão e em seu condicionamento.”

    “O acontecimento histórico faz parte de um todo cujo significado não pode ser depreendido se não se leva em conta o que os atores humanos tinham no espírito quando intervinham para fazer e sofrer a história: seus objetivos, suas esperanças, suas ilusões, seus erros de interpretação. Nesse sentido, o testemunho dos atores, mesmo em suas distorções e às vezes graças a suas distorções, traz ao historiador uma dimensão que ele tem dificuldade de apreender se o afasta. Chega sempre um momento em que ele deve, para compreender, colocar-se na pele daqueles para os quais a sucessão dos acontecimentos não foi a história, mas o cotidiano dramático. Não se pode isolar o acontecimento de seu contexto e dos atores que o viveram. O acontecimento forma um bloco.”

    A Travessia das Fronteiras, de Jean-Pierre Vernant

  3. Já para a Comissão da Verdade

    Já para a Comissão da Verdade a ser instalada em Havana sugiro os nomes de Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino e Demetrio Magnoli para investigar os fuzilamentos, prisões, torturas e expulsões do Pais, incluindo a execução até hoje não explicada do General Ochoa,

    até então homem forte do regime.

  4. A nação que ver o futuro, não ficar olhando pelo retrovisor.

    É tanta Comissão da Verdade que daqui a pouco vai faltar Verdade pra todo mundo.

    Os Historiadores, de todas as matizes, esclarecerão ao longo do tempo a VERDADE. Pra que ficar gastando energia com essas Comissões da Verdade que nada mais é do que Comissões de Vingança.

     

     

     

  5. omo em são paulo

    omo em são paulo registrou-se um percentul alto de denúncias, creioque essa comissãoda verdsade seja importnt, historicamente.

    ressalto o historicamente.

    como deduzo da filosofia de walter benjamin,

    (que antecipou

      com os dados que tinha da evolução o nazismo)

    o que seriam as ruínas do holocausto),

    sem o entendimento da história, das suas ruínas,

    dos seus erros e equívocos,

    não teríamos como transformar o presente e o futuro.

     

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