Sobre o conceito de stalinismo na obra Slavoj Žižek, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Sobre o conceito de stalinismo na obra Slavoj Žižek

por Fábio de Oliveira Ribeiro

O título desse texto foi criticado: ‘Slavo Zizek e a ascensão do stalinismo no Brasil, por Fábio de Oliveira Ribeiro, por isso resolvi voltar ao assunto.

Qual o conceito de stalinismo na obra de Slavoj Žižek?

Na obra citada por mim no texto cujo título foi criticado, Žižek enfatiza a vigilância permanente.

“… quem é obcecado por complôs é o líder moderno. É por isso que a fórmula perfeita do stalinismo, sistema da hermenêutica paranóica permanente, é ‘governar é interpretar’”. (Mitologia, Loucura e Riso – A subjetividade no idealismo alemão, Markus Gabriel e Slavoj Žižek, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2012, p. 19).

Segundo Žižek, o stalinismo se caracterizaria, portanto, pela paranóia do controle absoluto. O Estado não vigia aquilo que o cidadão diz, mas também o que ele pensa. Os stalinistas acreditam que pensar é muito perigoso, algo potencialmente contra-revolucionário. A permanência da revolução demanda não só obediência, mas principalmente a crença de que o stalinismo é o único regime político capaz de proporcionar a felicidade. A infelicidade decorrente da repressão seria, assim, um dano colateral que deve ser aceito e tolerado por todos os cidadãos queiram ou não.   

Quando governar é interpretar, a linguagem assume uma dimensão quase mística. Ela não é apenas um instrumento de comunicação. Ela é o local onde a sedição se instala. É através dela que a desobediência se espalha. Controlar a linguagem supõe não somente reprimir o que é dito, mas principalmente o que o cidadão diz para si mesmo. O crime de opinião é, portanto, um corolário do stalinismo. No limite, o Direito Penal stalinista permite a a criação de “regras de engajamento flexíveis” e a punição de “intenções hostis” como deseja o general Augusto Heleno. 

Em outra outra de sua autoria, Žižek retoma essa questão explicando as diferenças entre o antigo stalinismo e aquele que pretende se impor na atualidade:

“…com exceção do auge dos expurgos stalinistas, quando de fato todos podiam ser considerados culpados, agora todos realmente sabem quando estão fazendo algo que incomoda aos que estão no poder. A função de proibir as proibições, portanto, não é dar origem a medos ‘irracionais’, mas deixar os potenciais dissidentes (os que acham que podem continuar a atividade crítica, já que não estão desrespeitando nenhuma lei, apenas fazendo o que a lei lhes garante – liberdade de opinião, etc.) saberem que, se irritarem demais os que estão no poder, podem ser punidos segundo o capricho destes: ‘Não nos provoque, podemos fazer o que quisermos com você, aqui nenhuma lei o protege!’. Na ex-Iugoslávia, o infame art. 133 do Código Penal sempre podia ser invocado para processar escritores e jornalistas. Ele criminalizava qualquer texto  que apresentasse incorretamente as realização da revolução socialista ou pudesse provocar tensão e descontentamento público em virtude da forma como tratasse tópicos políticos, sociais e outros. É óbvio que esta última categoria não só é infinitamente plástica como convenientemente autorreferente: o próprio fato de alguém ser acusado pelos que estão no poder não deixa óbvio que [ele] ‘provocou tensão e descontentamento público’? Naqueles anos lembro-me de ter perguntado a um político esloveno como ele justificava essa lei. Ele apenas sorriu e, com uma piscadela, disse: ‘Ora, precisamos ter alguma ferramenta para, quando quisermos, impor disciplina àqueles que nos incomodam…’ ” (Em defesa das causas perdidas, Slavoj Žižek, Boitempo editorial, São Paulo, 2011, p. 208)

Extremamente didático, esse fragmento expõe como o stalinismo se expande publicamente mediante a negação do Direito tal como nós o conhecemos. Num Estado de Direito, o cidadão não precisa ter medo de pensar e de se manifestar, pois ele sabe que poderá opor seu direito à liberdade de consciência e de expressão a qualquer um que deseje controlar o debate público. Num Estado stalinista, aqueles que exercem o poder criam normas para possibilitar a censura. Sendo o crime de mera conduta (provocar tensão e descontentamento público, como constava no art. 133 do Código Penal da Iugoslávia) a acusação equivalia à prova do crime, razão pela qual a condenação poderia ser imposta por mera convicção.

Lula foi denunciado porque Deltan Delagnol estava convicto de que ele havia cometido o crime que lhe foi imputado. A convicção fundamentou a condenação, pois Sérgio Moro deu mais valor ao PowerPoint de Delagnol do que à certidão do cartório provando que o Triplex pertence à construtora. O TRF-4 validou essa condenação. Portanto, me parece que já estamos vivendo num Estado stalinista. A aprovação de uma Lei para punir severamente as Fake News apenas e tão somente aprofundará a natureza totalitária do novo regime, colocando nas mãos dos novos donos do poder uma ferramenta para, quando quiserem, impor disciplina àqueles que os incomodarem.

“…somente no stalinismo as pessoas são escravizadas em nome da ideologia que afirma que todo poder é delas. A primeira coisa que nos espanta no discurso stalinista é sua natureza contagiante: a maneira como (quase) todo mundo gosta de imitá-lo zombeteiramente, usar seus termos em contextos políticos diferentes, etc., em contraste óbvio com o fascismo. Mas isso não é tudo: na última década, assistimos, na maioria dos países pós-comunistas, a um processo de invenção de uma tradição comunista.” (A visão em paralaxe, Slavoj Žižek, Boitempo editorial, São Paulo, 2008, p. 382)

No Brasil pós-golpe de 2016, o discurso jurídico e democrático é zombeteiramente utilizado por jornalistas, políticos e até juristas comprometidos com a escravização do povo pelo neoliberalismo. Dilma Rousseff foi deposta por ter cometido o crime de dar “pedaladas fiscais”, mas as “pedaladas fiscais” dadas por Michel Temer (antes e depois do golpe) são discursivamente legitimadas como se fossem necessárias e até desejadas.

A presidenta do STF age de maneira imoral (Carmem Lúcia recebeu em reunião privada o presidente que está sendo criminalmente investigado), mas isso foi descrito por alguns jornalistas como se fosse absolutamente natural. No limite os ideólogos do stalinismo canarinho dizem que o princípio da moralidade foi respeitado, pois o usurpador ainda não existe uma sentença condenatória imutável contra Michel Temer. Defendida no caso usurpador, a presunção de inocência é ferozmente atacada quando Lula entra na discussão. No caso dele, nem mesmo o advogado que ele contratou deve ser recebido no recinto do Tribunal pela presidente do STF.

Há dois anos a democracia eletiva perdeu seu conteúdo, pois o plano de governo imposto à nação (com o uso do poder que é do povo) foi derrotado nas eleições. O vice-presidente não traiu apenas Dilma Rousseff, ele traiu inclusive e principalmente os eleitores que votaram no programa desenvolvimentista inclusivo do PT. Mesmo assim, os juristas, jornalistas e políticos golpistas insistem que não estamos vivendo numa tirania, ou seja, sob um governo cujo programa não foi aprovado nas eleições e sim escolhido apenas por aqueles que assaltaram o poder.

Não por acaso a “tradição democrática” do golpe de 2016 se afirma mediante a referência constante à “revolução de 1964”. A negação real da democracia nos dois momentos foram unidas para se impor sob uma retórica que se apropria do discurso democrático e o utiliza de maneira contagiante. O golpe de 1964 novamente virou “revolução”, para que o golpe de 2016 seja nomeado como “processo de impedimento”.

“O abismo de Žižek pode ser mais bem compreendido em termos da noção lacaniana paradoxal de que as proibições e desejos reais são camuflados e expressos por fantasias licenciosas. No tempo de Stalin, explica ele, não apenas era proibido criticar Stalin como também era proibido admitir publicamente que você não tinha a permissão de criticar Stalin. As regras reais eram ocultas pela aparente liberdade e pela expectativa de que você pudesse não querer quebrá-las de modo algum. O poder funciona nessas formas estranhas e insidiosas, afirma ele, e por isso algumas vezes pode ser derrubado.” (Slavoj Žižek – por Jennifer Wallace, in Previsões – 30 grandes pensadores investigam o futuro, Record, Rio de Janeiro – São Paulo, 2001, p. 437)

No Brasil pós-golpe de 2016 a Constituição Federal supostamente continua em vigor, mas o que legitima o regime são as exceções. Os desvios discursivos se encarregam de disfarçar os abusos políticos. Mas não só isso. Eles também irão legitimar as perseguições policiais como se o art. 133 do Código Penal da Iugoslávia já estivesse em vigor no Brasil.  Quem ousar revelar a natureza desviante do novo regime (como aquele professor da UFBA) ou será processado pelo CNJ (caso dos juízes que publicamente se colocaram contra o golpe). Eu mesmo já fui incomodado pelo novo DOPS federal.

Com estas considerações dou por encerrado o debate que foi levantado pelos comentaristas. O título que escolhi não está errado, pois se levarmos em conta a obra de Slavoj Žižek é perfeitamente possível falar na ascensão do stalinismo no Brasil.

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

29 Comentários

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  1. Sobre….

    Cachorro atrás do rabo. O Brasil e sua Bipolaridade. E pensar que “Stalinismo’ era a menina dos olhos da Utopia e Ideologia vigente destes 40 anos do Pós Anistia de 79? Surreal. Agora é usado por seus Fanáticos como peça de acusação e de demérito. O que Carlos Prestes, Idolo Esquerdopata, de Quartéis e do Stalisnimo pensaria disto? E tem gente que diz não entender a Latrina/2018?!! Pobre país limitado.  

    1. Na boa, mano… Você precisa

      Na boa, mano… Você precisa urgentemente trocar de fornecedor. A maconha que você está fumando foi colhida na década de 1950 e processada na década de 1960. Ela está estragada, fazendo você surtar geral.

  2. Paranóica é a visão de alguns do stalinismo

    Quem acreditar piamente no que se propaga a respeito do stalinismo, vai acabar achando que Hitler estava certo e deveria ter ganho a guerra contra ele. 

    Se nos dias de HOJE, com toda a comunicação que se tem no mundo, as pessoas NÃO conhecem NADA de verdade sobre Bashar al-assad e o que acontece na Síria, por exemplo, é brincadeira acreditar em tudo que se diz do stalinismo. 

  3. Vamos jogar Calvinbol?

    Bom texto.

    O “stalinismo moderno” adapta-se as múltiplas possibilidades conferidas pela era digital.

    Mas eu tenho apenas um pequeno reparo a obra de Zizeck:

    Ele imagina que haja algum Estado de Direito onde a antítese do “stalinismo” se realize, ou seja, um Estado de Direito onde o pressuposto da condenação seja um fato provável e imputável a alguém.

    Não concordo.

    Todos os estamentos normativos, sem exceção, buscam a exacerbação hermenêutica constante.

    Pelo menos, os estamentos integrados ao sistema capitalista.

    A base do sistema capitailista é a negação do trabalhador de si mesmo como classe, embora sua condição de classe seja imanente ao capitalismo.

    Ele (trabalhador) é a causa e sua submissão é o fim em si do capital, e ao mesmo tempo, como classe, é a antítese dele.

    Qual a saída? 

    Desumanizar o trabalhador pelos sistemas ideológicos de controle, mormente, os aparatos legais-policiais-judiciais.

    E para fazer funcionar um sistema econômico com tal premissa, todas as leis de direito material e processuais vão derivar dela, ou seja, te culpar pelo seu lugar no mundo, e não pelos seus atos.

    O Estado de Direito no sistema capitalista, em minha rasa opinião, é mero acidente (falha) da “matrix”.

     

    A ilustração do pensamento de Zizeck, mais ou menos isso:

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    1. “O “stalinismo moderno”

      “O “stalinismo moderno” adapta-se as múltiplas possibilidades conferidas pela era digital.

      Mas eu tenho apenas um pequeno reparo a obra de Zizeck:

      Ele imagina que haja algum Estado de Direito onde a antítese do “stalinismo” se realize, ou seja, um Estado de Direito onde o pressuposto da condenação seja um fato provável e imputável a alguém.”

      Assim como o stalinismo promovia exclusão social e repressão política na URSS, o capitalismo fazia o mesmo do outro lado da Cortina de Ferro. Impossível esquecer a violência policial e econômica sistemática praticada contra os negros norte-americanos nos EUA pelo suposto Estado de Direito. 

      Durante a Guerra Fria cada modelo (comunismo e capitalismo) se opunha ao adversário se considerando virtuoso e ideal. Mas ambos continham características (frisei esta palavra por causa do comentário impertinente de outro comentarista) semelhantes. 

      Quando a desemelhança entre ambos os regimes deixou de pautar o debate (desmoronamento dos Estados comunistas, fim da URSS), passamos a usar um sistema binário para criticar a realidade. Mas não fazemos mais referência a um outro real (o inimigo) e sim a um outro ideal (o Estado de Direito que de fato nunca existiu nem mesmo no Ocidente).

      O idealismo, porém, nunca se sustenta quanto observamos pacientemente os fatos. 

      Sua observação, portanto, é muito pertinente. Parece que todos nós (Zizec incluso) estamos condenados a criticar a realidade (nesse caso a realidade stalinista) usando como referência um Estado ou uma sociedade ideal. 

      1. Infelizmente, é mais que isso.

        Zizeck em sua obra (Vivendo no dim dos tempos) nos leva a exacerbação dessa lógica:

        Ele diz que nosso crítica da realidade tendo como base a sociedade ideal é falsa, porque ela toma como base a referência de uuma sociedade ideal cujos pressupostos estão colocados dentro da sociedade imperfeita (capitalista) que desejamos querer superar.

        O dilema de Lula entre ser ou não ser republicano, obedecer ou não ao judiciário, enfim, reformar dentro dos limites impostos é exemplo clássico disso.

        Não é só a redução boba que ele mesmo faz de negar ser marxista ou “de esquerda”.

        Essa (auto) denominação já avisa desde sempre que ele está disposto apenas a tentar superar o aparente caos da desigualdade contentando-se com alguma desigualdade que seja suportável, porque tal desigualdade (suportável) é uma sentença perpétua, ainda que consigamos superar o modo capitalista!

        Aí volta o dilema, o paradoxo da esquerda: a desigualdade econômica capitalista (liberdade sem pão) ou a desigualdade política (pão sem liberdade).

        Zizeck denuncia que esse dilema é falso, porque nossa noção de liberdade (e de economia) ainda se baseia nos moldes ideológicos capitalistas.

        Como acontece da China, o mais bem sucedido modelo de antítese dos EUA, mas que é um tipo de EUA sem o modelo bipartidário de lá, e que só existe (a China) em razão da existência do outro (EUA) e não como superação dele!

         

  4. Anarquia e paranóia
     

    As interpretações sobre a paranóia estalinista são variadas. Duas variáveis precisam ser consideradas.

    A primeira é a ingovernabilidade na União Soviética. Devemos considerar o tamanho do território, suas peculiaridades locais, bem como a inépcia da burocracia desde a Revolução de 17.

    A segunda variável corresponde às ameaças reais. Desde a Revolução houve grupos contrários a ela, bem como facções que fizeram parte da Revolução. E todas as interferências externas. A Primeira Guerra entregou um país em colapso, e a Segunda devastou sua população e economia.

    Considerando isso tudo, é quase um milagre que Stálin tenha mantido o poder. Esse “milagre” se fundamenta numa interpretação simples da situação: o estado da nação era de quase anarquia. Os banhos de sangue promovidos em seu governo derivam dessa anarquia: na incapacidade de centralizar a ordem, Stálin delegou aos líderes locais e regionais autoridade para estabilizar o sistema a qualquer preço.

    Ou seja, os expurgos internos ao partido, e a eliminação dos rivais, em todas as esferas e níveis, é mais fruto do descontrole central do que pela centralização do comando.

    Não é difícil supor que a Revolução de 17 foi um evento tão radical que sua estabilização, com duas guerras mundias entremeadas, tenha levado 30 anos.

     

     

    1. Cá estamos discutindo apenas

      Cá estamos discutindo apenas o conceito de stalinismo na obra de Slavoj Žižek. As demais variáveis podem e devem ser discutidas em outro lugar. 

      1. Censura?

        Em respeito ao livre pensamento e à liberdade de expressão cada um pode participar do debate da maneira que melhor lhe aprouver. Pelo que sei não há censura no blog e quem quiser sair 360º da pauta não está proibido, pelo que sei.

  5. Conceituação através de características. Pior a emenda que……

    Conceituação através de características. Pior a emenda que o soneto.

    O texto, apesar de procurar de forma honesta trazer luz a um problema surgido na discussão de um texto anterior, ao meu juízo, piora a situação no lugar de melhorar.

    O primeiro grande problema é que há uma confusão enorme e do que se chama definição com o que é uma característica de qualquer coisa.

    O erro pode ser explicado pelo significado das palavras Definição e Característica.

    Definição é uma explicação clara e concisa de alguma coisa, é o significado.

    Característica é um elemento que ajuda na construção de uma ideia, conceito e da noção de alguém ou alguma coisa.

    Pelo caminho adotado onde através de uma característica procura-se dizer que está definindo algo, é extremamente equivocado. Vou colocar um exemplo quase que anedótico do que se pode chegar ao definir algo através de uma característica:

    Uma vaca é um quadrúpede. Isto é uma característica dos bovinos, mas não uma definição, pois se fosse assim seria possível se dizer que um cão e um gato são vacas!

    O segundo problema, bem mais grave do que a confusão entre característica e conceito, é que se definindo processos sociais por características pode-se chegar as belas confusões que a direita pretende instalar nas mentes mais primárias e confusas que, por exemplo, nazismo é de esquerda.

    Ou seja, como diria minha querida e amada avó: Pior a emenda que o soneto.

     

    1. Bom debate.

      Parece óbvio a qualquer um que vacas são quadrúpedes, e nem todos os quadrúpedes serão vacas, assim como nem todo totalitarismo é stalinista.

      Puxar para esse lado é, na minha rasa e colher suja que aqui introduzo, focar nos aspectos periféricos da questão!

      Não me pareceu que o autor do texto (Zizeck) ou o autor do texto no blog tenham pretendido isso.

      Citar Zizeck nem é uma referência positiva, uma vez que ele apanha de todos os lados.

      Mas o fato é que sua (de Zizeck) explicação sobre a gênese dos movimentos históricos autoritários, e a passagem da hermenêutica de meio a fim em si é muito boa, e serve sim para determinar uma característica comum a todos os autoritarismo, chegando perto de uma conceituação comum a todos:

      Reiventam regras enquanto o jogo é jogado.

      Claro que o governo temer não é (e nunca poderia) ser igualado ou mesmo comparado ao stalinismo, historicamente isso é impossível.

      Mas o conjunto semiótico estabelecido pela mídia, a definição de culpa baseada subjetivamente (no sujeito do processo) e não objetivamente (ser ou não culpado), a permanente mudança de regras que valem para uns e não para os demais, a apreensão e inversão de conceitos (revolução, democracia, “intervenção”) e seu uso como instrumentos de legitimação de ações que são justamente o contrário (semiótica novamente) são características que aproximam o atual momento dos dias stalinistas, ainda que tenhamos a (falsa) impressão de que (ainda) gozamos de algum tipo de liberdade.

      A própria concepção da esquerda em se (auto) censurar, sequer se permitindo debater variáveis dentro dos trilemas nos quais estamos encalacrados (a questão Lula, por exemplo), nos assemelha com o que aconteceu a partir da acensão do regime de 1917, ou pelo menos, é herança daquele modelo.

      Que se diga, por rigor conceitual, stanilismo só vai haver um, mas  método autoritário presente nele permanece bem atual, e infelizmente, parece que foi aperfeiçoado pelos neoliberais, e ainda contamina boa parte da esquerda!

       

       

    2. Então tá. 
      Se você realmente

      Então tá. 

      Se você realmente fosse um especialista em sonetos teria vertido sem comentário em versos alexandrinos.

      Por que você não fez isso?

      O seu suposto rigor científico fez-me rir.

      Continue, please.

       

  6. Desculpem-me, mas a petulância muitas vezes é fruto……

    Desculpem-me, mas a petulância muitas vezes é fruto da ignorância.

    Os Biógrafos de Stalin de todas as tendências, tanto de direita como de esquerda, tem dificuldade de definir o que é que chamam de Stalinismo, principalmente, porque talvez o Stalinismo como ideologia no senso estrito da palavra, não existe.

    Ou seja, o stalinismo simplesmente é um período estremamente confuso e conflituado da história da União Soviética em que Stalin governou de uma forma personalista e com oscilações na política externa e interna da mesma.

    Para entendermos o que este período, o Stalinismo, compreende seria necessário dividi-lo em múltiplas etapas que vão desde a continuidade do Leninismo, do período dos grandes expurgos, a segunda guerra mundial, a guerra fria durante a reconstrução da União Soviética no pós-guerra e um outro, mais ignorado por conveniências políticas dos detratores de Stalin, da guerra-fria onde a União Soviética começa a se firmar como uma potência tecnológica-industrial.

    Ou seja, querer numa frase parcial de um autor, definir o Stalinismo é antes de ser uma petulância é uma ignorância.

    1. Slavoj Žižek é ignorante e

      Slavoj Žižek é ignorante e petulante? 

      OK

      Ficarei bem em companhia dele.

      Fique você em companhia dos biógrafos de Stalin. 

      1. Meu caro, petulante e ignorante seria eu se dissesse isto de….

        Meu caro, petulante e ignorante seria eu se dissesse isto de Slavoj Žižek, posso até dizer (que não foi o caso), acho que …… penso que….. o autor; Slavoj Žižek interpretou, correlacionou, escreveu fora de seu contexto o seguinte, mas jamais usarei estes termos para um pensador da dimensão deŽižek. Meu caro, o meu senso de ridículo me impede sair das minhas chinelas.

    2. Bem…

      Se consideradas as variáveis expostas por você, nenhuma marcação de eras na História poderá assim ser colocada!

      O Getulismo, o Lulismo, o Bonapartismo e nem o Nazismo, haja vista que, dialeticamente, cada movimento desses taz em si, como afirmação da “nova verdade” histórica e negação da “anterior”, traços e características daquilo que supera.

      O fato de termos em alguns cantos remotos relações de produção que se parecem com as feudais não invalida chamarmos de capitalismo o todo no qual essa parte se insere.

      Ainda que o bolsobosta use uma narrativa nazista, tê-lo no poder não implicará na ascensão de um tipo de nazismo brasileiro.

      Se não existisse Stálin, óbvio e ululante, não faria sentido falar em stalinismo!

      Se não existisse o partido nazista alemão não usaríamos o termo nazismo, embora o antissemtisimo e as matanças e diásporas judias não fossem novidade para a Europa até 1933. E mesmo depois de 1945.

      Delimitamos essas “eras” para dar um sentido pedagógico e palpável a série de acontecimentos, mas sobretudo para reconhecer que sem a figura central, os eventos poderiam ter acontecido de forma distinta, ainda que já conheçamos a sua forma na realidade (o fato).

      Zizeck fala em transcedência histórica, pelo que pude entender do que li dele.

      Esses personagens e seus feitos vão muito além do tempo no qual se inserem, reificando uma parte do próprio caminhar histórico!

      O método empregado hoje pelos donos do capital (e do mundo) aproxima-se daqueles empregados pelo stalinismo (e por vários regimes de exceção), gostemos ou não da associção.

  7. É muito fácil tangenciar as discussões para obter os resultados.

    Se colocarmos a frase do autor na seguinte forma:

    ““O abismo de Žižek pode ser mais bem compreendido em termos da noção lacaniana paradoxal de que as proibições e desejos reais são camuflados e expressos por fantasias licenciosas. No tempo de ……, explica ele, não apenas era proibido criticar …… como também era proibido admitir publicamente que você não tinha a permissão de criticar ……. As regras reais eram ocultas pela aparente liberdade e pela expectativa de que você pudesse não querer quebrá-las de modo algum. O poder funciona nessas formas estranhas e insidiosas, afirma ele, e por isso algumas vezes pode ser derrubado.”

    E substituirmos os pontinhos por diversos nomes, a frase fará sentido para vários atores. Pré e pós Stalin, o que não estou negando, porém no momento que é possível se colocar diferentes nomes em eras pré e pós Stalin, o que está se caracterizando não é o Stalinismo, mas uma forma que foi adotada por Stalin e mais o nome colocado nos …….

    E esta é a minha posição contra o texto, não é uma crítica a Stalin ser um dos nomes possíveis de serem colocados nos ……. é simplesmente a definição de um período da União Soviética como sendo o único em que existe este comportamento, e a definição do Stalinismo como tal.

    1. Uai.

      Mas por obtermos resultados eles sempre serão os mesmos caso as causas sejam as mesmas?

      Não, pelo menos para Zizeck isso é um erro chamado de teleologismo!

      Então, ainda que a substituição dos nomes nos levem a conclusão de que métodos autoritários possam ser aplicados a qualqquer era histórica, o fato é que a denominação dessa era só faz sentido tendo o nome próprio (a era em si) como referência (e ao fato em si).

      Então, nesse nosso debate, como foi proposto pelo autor (do textono blog) e por Zizeck, só tem sentido falar em Stálin, e a partir dele, voltando para ele.

      Isso parece que ficou bem claro no texto do autor (no blog), não?

      Ou seja, ainda que não digamos que temer é uma reedição do stanilismo (isso não foi , de fato, dito), é correto dizer que ele age como se fosse (método) uma “filial histórica” desse modelo, ao menos no que tange o aparato midiático e judicial.

      Digamos que sua colocação da unicidade do stalinismo em seu tempo histórico é quase chover no molhado!

    2. “O abismo de Žižek pode ser

      “O abismo de Žižek pode ser mais bem compreendido em termos da noção lacaniana paradoxal de que as proibições e desejos reais são camuflados e expressos por fantasias licenciosas. No tempo de Stalin, explica ele, não apenas era proibido criticar Stalin como também era proibido admitir publicamente que você não tinha a permissão de criticar Stalin. As regras reais eram ocultas pela aparente liberdade e pela expectativa de que você pudesse não querer quebrá-las de modo algum. O poder funciona nessas formas estranhas e insidiosas, afirma ele, e por isso algumas vezes pode ser derrubado.” (Slavoj Žižek – por Jennifer Wallace, in Previsões – 30 grandes pensadores investigam o futuro, Record, Rio de Janeiro – São Paulo, 2001, p. 437)

      Alto lá.

      Agora você está sendo desleal.

      A frase que você destacou não é minha.

      Ela é de Jennifer Wallace, autora do texto encartado no livro que foi transcrito e citado por mim.

       

       

  8. O medo da esquerda!

    Embora o debate aqui esteja (ainda) em bom nível, parece claro que se estabeleu uma rusga entre dois bons contendores.

    Eu vejo por trás desse debate muito mais.

    Pode ser paranoia ou “viagem” minha. 

    Mas acho que vale a pena dissertar sobre minha rasa compreensão!

    A esquerda brasileira sofre um estranho paradoxo:

    Contamina-se dos métodos stalinistas mas tenta (auto) expurgar essa herança ao mesmo tempo que reivindica os “benefícios” conferidos a população soviética pós 1917.

    Dilemas que enfrentamos quando somos chamados a falar sobre o próprio Stálin, a dinastia Castro, ou a atual situação do modelo chinês.

    Zizeck pode estar certo ou errado sobre muita coisa (e está), mas ele tem apanhado muito por ousar dar um viés (psic)analítico a esse trauma da esquerda, que se resumiria em:

    Como enfrentar a questão que teremos que ser (em algum momento) autoritários, nos diferenciando dos regimes autoritários capitalistas?

    No entanto, ele nos prega uma peça quando nos leva a crer que seja essa a questão, quando na verdade é:

    Teremos que ser autoritários em algum momento para fazer valer a concepção de mundo que nos é cara?

    E se formos, tal concepção de mundo vale a supressão daquilo que entendemos por liberdade, já que nossa noção de liberdade só existe em função do modo capitalista de ser?

    Pois é…

    Claro que entendemos que Lênin poderia ter originado outros tipos de lideranças, e que entre tais lideranças não estivesse Stálin e eu consequente legado!

    Mas o fato que não muda é: Foi tal modelo e circunstâncias históricas revolucionárias que possibilitaram a ascensão de Stálin!

    E aí?

    O problema central é que a esquerda ainda raciocina com base em um ingrediente judaico-cristão-capitalista: A culpa!

    E a culpa nos sistemas judaico-cristãos-capitalistas está impregnada no que você é, e não no que você faz!

    Stálin, nem Castro, nem Mao abdicaram desse método de controle!

    Para se livrar da culpa, temos que nos livrar da própria noção que temos de nós mesmos!

    Aí reside o “perigo” revolucionário, mas que também pode ser “reacionário”.

    Talvez por isso estejamos atolados ideologicamente desde a queda do muro de Berlim!

    Quem sabe?

    1. Stálin x Fidel

      Considerar que o regime cubano é uma repetição do stalinista, ou mais, que a personalidade ou a liderança de Fidel Castro foi similar à de Stálin, é um total contrassenso, uma falta de critério na análise dos fatos históricos ou resultado do próprio desconhecimento da história.

      1. Bem…

        Com certeza eu posso desconhecer muita coisa, como dito por você.

        Mas leia com mais atenção e me aponte onde eu disse o que você disse que eu disse.

        Por óbvio, e nem precisava você me dizer isso, Fidel e Stálin são diferentes, mas deixar de entender traços comuns de autoritarismo entre eles é, por mais paradoxal que seja, estar totalmente despreparado até para defender (Fidel) e seus cacoetes autoritários herdados do stalinismo.

        Mas se isso te satisfaz: “Oh, não é que tens razão”.

        Viu, você ganhou o debate com três linhas!

        Parabéns!

  9. A tolice (esperta) da esquerda!

    Outro exemplo clássico de como o “stalinismo moderno” atinge a esquerda é a questão da lava jato.

    Li, ouvi e vi um sem número de pessoas bem intencionadas, inclusive aqui no blog, nomes de vulto (uns oportunistas como Tarso Genro e Olívio Dutra, e outros de forma honesta) argumentando que se a farsa jato operasse tanto contra os “maus feitos” do PT como de seus antagonistas, aí tudo bem, estaríamos de frente com o necessária expurgo da corrupção do sistema político representativo brasileiro.

    Quanta tolice.

    Como vítimas (outros nem tanto com vítimas, mas como cínicos cúmplices) da visão stalinista moderna, querem nos fazer crer que pode haver um sistema judicial que haja de forma equânime, e pior, se agisse assim, poderia nos trazer à tona um sistema político representativo a salvo da captura pelos donos do poder, ou pelo menos com menos assédio, como nas chamadas “civilizações mais avançadas”.

    Quanta tolice: eles só mudam o nome das regras para que pecado pareça virtude! E mais: diminuem suas desigualdades internas (justamente o que enfraquece o jogo institucional) a partir do parasitismo e do patrocínio das desigualdades em outros locais.

    O alemão honesto da Siemens (ou aparentemente mais honesto) só o é porque aqui deita e rola!

    Os EUA, bem mais espertos, antes de caírem nesse truque, legalizam a sacanagem, porque sabem antes de mais nada que ela é a própria essência do sistema o qual são os donos (o capitalismo).

    Claro que nem todos aderem a essa patacoada de forma incauta.

    Alguns de nós (da chamada esquerda) usam esse falso paradoxo para auferir alguns pontinhos de vantagem comparativa na luta política.

    O psol é craque nisso, um stalinismo moderno de sinal trocado!!!

    Mas o resultado é soma zero, sempre!

    Esse debate aqui se insere nessa tolice e na tolice que se acha esperta.

    1. “Esse debate aqui se insere

      “Esse debate aqui se insere nessa tolice e na tolice que se acha esperta.”

      Se o debate realizado aqui é uma tolice você deveria se recusar a participar dele, meu caro.

      Ao participar do debate você apenas e tão somente demonstrou ser ignorante (você certamente ignora o princípio aristotélico da não contradição) ou tolo (você conhece o princípio, mas não o entendeu ou, pior, não foi capaz de respeitá-lo).

       

       

       

      1. Ops!

        Meu filho, abaixe a guarda, ninguém aqui te fará mal algum! (risos).

        Olhe bem a minha frase “(…)”Esse debate aqui se insere nessa tolice e na tolice que se acha esperta.”

        Uai, parece límpido e cristalino que não classifiquei o debate de tolo ou tolo metido a esperto, até porque, como você bem observou, fiz parte dele.

        O que classifiquei como tolo ou tolo com vestes de esperteza são os que não enxergam as armadilhas do novo stalinismo (que não foi o seu caso).

        Talvez o entendimento incorreto se dê porque eu deveria dizer é que os tolos é que estão inseridos nesse debate, sem perceber muito bem o que fazem aqui, ou tentando distorcer o seu real sentido!

        Não temo suas grosserias, e bem poderia mandar-lhe às favas (até porque, o debate prescinde de você), mas vou lhe dar outra chance (risos).

        Acalme-se. Respire fundo.

        Recomponha-se.

  10. O problema é se o socialismo q queremos tem q ser estalinista…

    Sei que isso vale apenas para parte da discussao que se estabeleceu entre os comentadores, nao para o próprio texto do tópico, mas esse é o aspecto que me interessa. 

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