A alta das commodities e a balança comercial

Do Estadão

Commodities aliviam contas externas

Alta dos produtos brasileiros leva especialistas a reverem projeções para 2011, de déficit para superávit comercial de até US$ 26 bi 

17 de dezembro de 2010 | 0h 00

Raquel Landim – O Estado de S.Paulo

A disparada dos preços das commodities (matérias-primas), provocada pelo apetite dos asiáticos, promete salvar os resultados da balança comercial em 2011, o primeiro ano do governo de Dilma Rousseff. Os analistas, que chegaram a prever déficit, já falam em superávit entre US$ 14 bilhões e US$ 26 bilhões.

A projeção mais otimista é a da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A associação projeta saldo de US$ 26 bilhões no próximo ano, 50% a mais que os US$ 17,4 bilhões previstos para 2010. Pelo cálculo, as exportações subiriam 13%, para US$ 225,8 bilhões, enquanto as importações avançariam 9,5%, para US$ 199,7 bilhões.

Seis”Se isso se confirmar, será consequência apenas do mercado internacional. Não se deve a nenhuma ação tomada pelo governo”, disse José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB. Conforme reportagem do Estado, o pacote do governo de incentivo às exportações foi um fracasso e apenas uma das sete iniciativas saiu do papel.

O Bradesco também revisou ontem sua projeção de saldo de US$ 8,3 bilhões para US$ 14,1 bilhões em 2011. A avaliação do banco é de que os preços de exportação vão subir razoavelmente, graças ao bom desempenho da economia chinesa.

Para a Tendências Consultoria, o superávit da balança pode chegar a US$ 18 bilhões em 2011, repetindo o desempenho deste ano. “O cenário externo está favorável para a exportação brasileira. A China vai continuar crescendo forte e a Índia começa a despontar como comprador de commodities do Brasil”, disse o economista André Sacconato.

Além do bom desempenho das commodities, as previsões otimistas para o saldo da balança contam com uma desaceleração da economia brasileira. A expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça mais de 7% este ano e cerca de 5% em 2011.

Para os analistas, o pacote de restrição do crédito, uma eventual alta da taxa de juros, e as promessas de ajuste fiscal devem diminuir o ritmo de crescimento do consumo, afetando a demanda por produtos importados. Neste ano, a explosão de importações provoca fortes reclamações da indústria.

Essa visão, no entanto, ainda não é consenso. Segundo o boletim Focus, os analistas de mercado preveem, em média, superávit de US$ 8 bilhões em 2011. Alguns especialistas estão ainda mais pessimistas. O Itaú Unibanco projeta saldo de US$ 1 bilhões, enquanto a MB Associados espera US$ 2,7 bilhões.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, as importações vão continuar avançando mais rápido que as exportações por causa do câmbio valorizado e do crescimento brasileiro acima da média mundial.

“As importações vão acelerar, porque os efeitos são defasados. A capacidade ociosa da economia estará ainda mais apertada, o que impulsiona as compras externas”, diz Darwin Dib, economista do Itaú Unibanco. 

País ganhará US$ 38 bi com minério

Reajuste do preço do minério, principal produto brasileiro de exportação, deve garantir mais US$ 9 bilhões ao saldo comercial em 2011

17 de dezembro de 2010 | 0h 00

Raquel Landim – O Estado de S.Paulo

Apenas o minério de ferro promete contribuir com US$ 9,36 bilhões a mais do que em 2010 para o saldo da balança comercial no próximo ano. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta um aumento de 32,7% das exportações do produto, para US$ 37,95 bilhões.

Pelo cálculo, o preço médio do minério de ferro exportado subiria de US$ 90 por tonelada este ano para US$ 115 por tonelada em 2011. O minério é hoje o principal produto da pauta de exportação brasileira.

A projeção considera um aumento de apenas 4% nos preços em relação ao praticado no quarto trimestre deste ano. A Vale já sinalizou que a alta pode chegar a 8% apenas no primeiro trimestre. Se seguir neste ritmo, a contribuição pode ser ainda maior.

O bônus das commodities para a balança comercial brasileira não vai se restringir a esse produto. Soja, petróleo e carnes também prometem contribuir. O País deve exportar US$ 13,34 bilhões em soja em grão, US$ 2,3 bilhões a mais que em 2010.

“As exportações de commodities refletem o que ocorre no cenário internacional. Qualquer mudança pode tornar o Brasil vulnerável”, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio exterior do Brasil (AEB). Ele não prevê uma recuperação significativa nas exportações de manufaturados.

China. O forte aumento do preço das matérias-primas está sendo provocado pela demanda asiática, principalmente da China. De acordo com o departamento econômico do Bradesco, as perspectivas para a economia chinesa se tornaram ainda mais favoráveis nos últimos meses.

O governo chinês está adotando medidas para evitar o superaquecimento da economia, mas preferiu elevar o compulsório dos bancos em vez de subir os juros. A movimentação fez com os analistas revisassem para cima suas expectativas para o avanço da economia da China em 2011. A maioria aponta um aumento de 9% do PIB.

Graças ao apetite chinês, os termos de troca, que é a diferença entre os preços dos produtos exportados e das mercadorias importadas, estão em níveis recordes no Brasil. Entre janeiro de 2009 e novembro de 2010, os termos de troca subiram 30%. “É um resultado espetacular em qualquer cenário”, disse Fernando Ribeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Ele ressalta que, se não fosse esse resultado, a balança comercial brasileira teria déficit este ano. Os preços de importação, em contrapartida, estão estagnados, em razão da capacidade ociosa nos países ricos, que vendem manufaturados para o Brasil.

Conta corrente. Os analistas ponderam que um dos efeitos positivos do saldo comercial mais forte é aliviar a pressão sobre a conta corrente, que começa a registrar déficits expressivos. Em contrapartida, o aumento dos preços das commodities provoca alta da inflação.

As projeções apontam déficit em conta corrente entre US$ 60 bilhões e US$ 80 bilhões em 2011 – entre 3% e 3,5% do PIB. A conta inclui serviços, viagens e remessas de lucros e dividendos, itens com saldo negativo forte. 

Luis Nassif

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