A aquisição da Diletto por Lemann e Verônica Serra

Por Marco Antonio L.

Do Brasil 247

Por que Lemann e Verônica pagaram tanto pelo picolé?

Tomando como exemplo a compra da gigante americana Heinz, pelo fundo 3G, de Jorge Paulo Lemann, há pouco mais de um mês, o negócio foi fechado por duas vezes o faturamento e 19 vezes o lucro da companhia. No caso da minúscula sorveteria Diletto, adquirida por Verônica Serra, filha de José Serra, e o bilionário Lemann, os parâmetros foram totalmente distintos, numa aquisição precificada em 17 vezes o faturamento de uma sorveteria que talvez ainda nem tenha começado a lucrar. Ou há muita confiança ou algo ainda misterioso na transação

20 DE MARÇO DE 2013 ÀS 08:32

247 – No dia 14 de março deste ano, o fundo 3G, do bilionário Jorge Paulo Lemann, protagonizou a maior aquisição da história da indústria alimentícia. Por US$ 23 bilhões, ele e seus sócios compraram a gigantesca empresa norte-americana Heinz, dono da principal marca de ketchups do mundo.

Negócios desse porte sempre obedecem a critérios claros e objetivos. No caso da Heinz, o 3G pagou o equivalente a duas vezes o faturamento da Heinz, de US$ 11,5 bilhões no ano passado, e 19 vezes o lucro da companhia. Essa relação preço/lucro, o chamado P/E (price/earnings), é o principal parâmetro utilizado em avaliações de empresas. Uma relação de dez vezes o lucro, muitas vezes, é adequada numa aquisição, mas há também casos em que se pagam prêmios, como no caso da Heinz.

Nada, no entanto, é comparável ao negócio fechado por Lemann e Verônica Serra, sócios do fundo Innova, na compra de 20% da minúscula sorveteria Diletto, de Cotia (SP), por R$ 100 milhões. A empresa, que tem dois anos de vida e fatura R$ 30 milhões por ano, foi avaliada em R$ 500 milhões. Ou seja: 17 vezes o faturamento. Se o critério utilizado na Heinz fosse semelhante, a empresa americana valeria US$ 195,5 bilhões, e não os US$ 23 bilhões pagos pelo 3G. A relação preço/lucro da Diletto é desconhecida, uma vez que seus números não são públicos e não se sabe sequer se a companhia começou a lucrar.

Procurados pela reportagem do 247, nem o fundo Innova nem o bilionário Lemann informaram quais foram os critérios que embasaram a aquisição. Por exemplo, quem fez a avaliação e quais foram os parâmetros utilizados?

Verônica, como se sabe, é filha de José Serra e teve seus negócios esquadrinhados no livro “Privataria Tucana”, um best-seller publicado pelo jornalista Amaury Ribeiro Júnior.  Depois de uma bolsa de estudos em Harvard, concedida pelo próprio Jorge Paulo Lemann, ela se tornou gestora de fundos de investimento, ao lado do marido Alexandre Bourgeois.

Lemann, por sua vez, foi diretamente beneficiado no governo FHC, pela decisão mais importante de sua trajetória empresarial: a aprovação, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, da fusão entre Brahma e Antarctica, ocorrida em 1999, que lhe deu 70% do mercado brasileiro e musculatura monopolista para crescer em outros países.

Naquele momento, o Cade era presidido por Gesner Oliveira e José Serra era candidato à sucessão de FHC. Serrista de carteirinha, Gesner se tornou presidente da Sabesp, estatal de saneamento, no governo tucano. E, depois da fusão Brahma-Antarctica, o Cade jamais voltou a permitir a realização de outros atos de concentração de mercado tão intensos. Por exemplo, ao comprar a Sadia, a Perdigão se viu forçada a vender vários ativos.

Leis que restringem monopólios existem nos Estados Unidos desde o início do século para proteger indivíduos e consumidores do poder das grandes corporações. Recentemente, ao tentar comprar a cervejaria mexicana Modelo, Lemann teve suas pretensões barradas por autoridades regulatórias dos Estados Unidos, país onde ele também enfrenta a acusação de aguar a cervejaria Budweiser, prejudicando a qualidade de um ícone americano, em favor do lucro.

Luis Nassif

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Por causa do seu Lehman,

    Por causa do seu Lehman, parei de tomar Brahma, Skol ou qualquer outra marca da Imbev/Ambev. Além de “enganar” o CADE com a história de que a fusão Brahma/Antarctica seria necessária para que eles se defendessem das multinacionais e benéfica para o país, ele e seus capachos fizeram o que agora os americanos reclamam, piorar a qualidade da cerveja. Foi assim: o ciclo de produção da cerveja é de 15 dias? Acelera para 7  e não importa que os ganhos de produtividade massacrarem a qualidade. Além disso, cerveja da Ambev não tem malte, tem cereais malteados (arroz, milho, etc) e um punhado de produtos químicos, como conservantes, antioxidantes e outros antes. É claro que assim é fácil lucrar e comprar empresas mundo afora, né, seu Lehman? Alguém aí enxerga algum mérito nisso?  Alguma ética, ainda mais por que a velha e boa Lei da Pureza, da Baviera, de mil, quinhentos e antigamente, diz que cerveja é água, malte e lúpulo… Pra mim, o que Lehman e seus cupinchas vendem é mijo engarrafado. E isso eu não bebo!

  2. Luis, quem também reclama

    Luis, quem também reclama muito da qualidade da cerveja depois que a Ambev entrou na parada são os argentinos. E eles tem razão: tanto a Cristal quanto a Imperial perderam em muito o sabor que tinham. 

  3. Essa gente paga merreca pela

    Essa gente paga merreca pela água que consomem na SABESP. O mais rico do Brasil paga pela água o menor valor. Um absurdo.Subsídio para produair bebida alcoólica.è o fim do mundo, o fium da picada mesmo. Os falsos moralistas tucanos sempre fizeram esse tipo  de coisa.A livre iniciativa para explorar o povo.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador