A crise européia

Coluna Econômica 07/05/2010

O parlamento grego aprovou o plano de ajuste fiscal da Grécia em troca de ajuda internacional. Mesmo assim, não conteve os receios de contágio de outras economias européias. Como consequência, o euro caiu para 1,26 dólar – valor mais baixo desde março de 2009.

O ajuste fiscal da Grécia é condição para 110 bilhões de euros de ajuda da Europa e do FMI (Fundo Monetário Internacional) durante três anos – valor expressivo tendo em vista o tamanho da economia grega.

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Houve queda generalizada nas bolsas. O Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, perdeu 3,27%; a Nasdaq, 3,43%. As bolsas européias caíram na mesma proporção. Na Itália o tombo foi maior, de 4,26% na Bolsa de Milão, devido aos rumores sobre a queda na avaliação da dívida italiana pelas agências de risco.

Nem mesmo a declaração do presidente do Banco Central europeu, Jean-Claude Trichet, de que não havia risco de contágio, acalmou os mercados. Mesmo porque, suas declarações visaram explicar sua atitude de não permitir que o BCE adquira títulos do governo grego.

O próprio FMI se manifestou, informando que o pacote de ajuda permitirá à Grécia ficar 18 meses, até 2012, sem precisar recorrer aos mercados internacionais.

Há dúvidas sobre os desdobramentos políticos do plano de ajuda, não necessariamente sobre a solvência da Grécia.

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O ponto central do pânico é a enorme exposição dos bancos europeus na Grécia – isto é, o excesso de empréstimos ao país. Até agora, foram contabilizados 236,2 bilhões de dólares em empréstimos, com os bancos franceses liderando (US$ 53 bi), seguido dos alemães (US$ 45 bi).

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O que está por trás do pânico são os enormes ajustes patrimoniais que ocorrem em cada momento de pânico nos mercados internacionais.

Há uma enorme interligação entre os mercados, tanto nacionais quanto de ativos. O investidor do mercado de ações de Nova York é o mesmo do mercado de títulos públicos na Europa, ou dos mercados futuros de mercadoria.

Nesses mercados, ambas as partes fixam um valor de compra ou de venda futura de determinado ativo. A cada dia, faz-se o ajuste da margem. A parte que estiver perdendo na aposta é obrigada a depositar a variação do ativo na Bolsa correspondente; a parte que está ganhando recebe.

Quando ocorre algum tiroteio pesado em determinado mercado – por exemplo, títulos públicos gregos, ou compra e venda de ações de bancos expostos a créditos de difícil recebimento – os perdedores são obrigados a vender seus ativos em mercados mais líquidos (onde têm mais negociações), para sacar dinheiro e cobrir posição nos mercados em que está perdendo.

Esse movimento contagia o mercado do qual se sacou dinheiro, obrigando a novos ajustes de margem. São esses movimento que estão por trás dos contágios dos diversos mercados.

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No caso do Brasil, os únicos efeitos serão sobre o mercado de ações e sobre o valor do dólar – o real deverá se desvalorizar com a saída súbita de dólares, para cobrir posições lá fora. A economia real só começará a sentir de fato a crise quando impactar as contas externas.

Luis Nassif

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