A demissão de Mansueto de Almeida, o lugar-tenente de Paulo Guedes, por Luis Nassif

Saindo, Mansueto se preserva para um eventual movimento liberal não-fundamentalista,  na companhia da Casa das Garças e de outros templos mais racionais.

A saída do Secretário do Tesouro Nacional Mansueto de Almeida é a mais relevante derrota de Paulo Guedes desde que assumiu o Ministério da Economia.

Mansueto era um economista com cabeça de contador exímio. O contador conhece as contas, os impactos de receitas e despesas sobre os principais indicadores, mas não é de seu universo de conhecimento dos impactos de medidas fiscais e monetárias sobre os agregados econômicos.

Mansueto é o cabeça de planilha típico.

Mesmo assim, era o mais técnico dos assessores de Guedes, um dos poucos que sabia transitar pelos escaninhos da burocracia, viabilizar medidas, definir os procedimentos adequados para encaminhar as determinações, enfim o caminho das pedras no cipoal burocrático da administração pública.

E, louve-se, jamais se meteu em pirações intelectualmente desonestas, como a história de dividir o PIB entre PIB privado e PIB público e tentar convencer um público leigo que a queda do tal PIB público era caminho para a consolidação do PIB privado.

Não são claras as razões do pedido de demissão de Mansueto. A alegação foi a de que pretende trabalhar no setor privado. Ora, este é o destino de dez entre dez burocratas que assumem cargos públicos. Mas, em geral, esperam terminar o mandato para se bandearem para o setor privado.

É evidente que a decisão de Mansueto se prende à quebra de expectativas do mercado em relação ao governo Bolsonaro. De fato, a preocupação maior de Mansueto não é a sua imagem junto ao cidadão comum, mas perante o mercado, seu destino final.

Até agora, o mercado aceitava Bolsonaro em troca da continuidade das tais reformas. Essa lua de mel acabou e não foi propriamente por julgamentos morais: o mercado não se guia para esses valores.

De um lado, no mercado a imagem de Bolsonaro foi comprometida de fora para dentro, a escandalização que seus atos provocaram junto à opinião pública dos países desenvolvidos, com reflexos inevitáveis sobre as decisões de investimento externo – cada vez mais suscetíveis aos julgamentos éticos da opinião pública, ainda mais após a tragédia da Covid-19.

De outro lado, a constatação de que o governo Bolsonaro está entrando na fase terminal. Os sucessivos embates com os demais poderes, a constatação de que Bolsonaro é incapaz de se conter, a desmoralização gradativa das Forças Armadas pela ida de militares ao governo, tudo isso reforça a sensação de que o Tribunal Superior Eleitoral colocará um fim à aventura bolsonarista.

Saindo, Mansueto se preserva para um eventual movimento liberal não-fundamentalista,  na companhia da Casa das Garças e de outros templos mais racionais.

Nos próximos dias, se verá como se dará sua substituição. Há poucas possibilidades de que seu lugar venha a ser ocupado por alguém de peso. E deixará Guedes com muito mais dificuldades para se valer do gogó para criar expectativas que não serão atendidas.

 

 

7 Comentários

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  1. Admiro a fé do Nassif a ponto de acreditar que a CHAPA Bolsonaro-Mourão será cassada pelo TSE. A chance é zero. Sobre esse ponto concordo com a visão do Carlos Alberto Almeida. Os militares voltaram a sentir o gosto afrodisíaco do poder, das vantagens pra si e pros seus ( né Villas Boas? ) e não vão aceitar o fim desse retorno se Mourão não poder assumir em caso de queda do Bolsonaro. O que pode acontecer é o impeachment via congresso. Mas pra isso é necessário que a popularidade de Bolsonaro esteja com 15 por cento e com tendência a cair, pois com esse índice até parte do próprio Centrão, que é tudo menos idiota e ideológico, sai correndo do barco que está pra afundar de vez. Aí sim Rodrigo Maia dará início ao processo de impeachment. E se chegar nesse ponto, creio que a cúpula das FA, que despreza Bolsonaro ( e a recíproca é verdadeira) se juntaria a forças políticas no congresso pra fazer uma proposta irrecusável a la Don Corleone pro boçal = ele renúncia ( e assim o país ganha tempo, pois por mais rápido que seja não vai demorar menos de 6 meses ) e em troca todos os seus filhos e agregados recebem uma anistia da justiça, acionando-se o modo Tartaruga nos processos em que eles estão metidos. Claro que há o risco de o impeachment ser seguido de violência dos setores bolsonaristas armados – como pra mim é claramente as PMS hoje – que não vão aceitar a queda do Micto de forma cordeira e pacífica como o fez a esquerda com a queda de Dilma, que até hoje está esperando o exército do Stédile.

  2. Então Nassifão, obrigado,tava querendo saber o “q pegava nesse caso”me ajudou bastante para iluminar meu cérebro borbulhante,só vc mesmo loucão da informação !!

  3. Saiu dizendo que o desgoverno deve manter o tal ajuste fiscal para os tais investidores terem fé nessa b de desgoverno, ou seja, é o de sempre, o pessoal do governo defendendo os interesses dos abutres do rentismo, seja de dentro ou de fora… o povo que se……

  4. Me lembra da musica”
    Chora doutor, chora/ Eu sei que o medo de ficar pobre lhe apavora/ O senhor tem palacete pra morar/
    Mas eu tenho um barracao e um amor…ai, ai, ai doutor, ai doutor,
    Eu so nao quero ter a vida do senhor/
    Chora doutor”
    Mansueto de Almeida, mulato, com um acompanhamento de espiritos zombeteiros da pesada, vai arrastando sua vida materialistica sem dar conta que todos nos vamos dar conta de nossas acoes, omissoes, meia verdades, mentiras totais, e todas as mortes causadas por essas acoes etc.
    Sinto pena do Mansueto que nao tem nada de Manso. 🙁

  5. A mecânica é simples: nenhum projeto econômico, seja ele de direita ou de esquerda, vai adiante sem um plano político que se traduza na redução das incertezas e na governabilidade.
    Esse (des)governo é uma fábrica de crises com a trupe da extrema direita produzindo desconfianças nos investidores com declarações e atos irracionais.
    Acredito que o posto ipiranga deve “pedir para sair” se os ares de Brasília não se tornarem mais respiráveis…

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