A despolitização da Vale

Ao contrário do que foi apregoado exaustivamente pela mídia nos últimos meses, a indicação de Murilo Ferreira para presidente da Vale é o início da despolitização partidária da companhia.

Há tempos Roger Agnelli, tendo como braço político a executiva Carla Grasso, transformara a empresa em um projeto político pessoal. Montado no enorme poder da companhia, cooptou parlamentares, lobistas, jornais e jornalistas tentando se apresentar como a alternativa do setor privado ao próprio presidente da República. Um deslumbrado, sem visão política, sem noção do papel estratégico das multinacionais para com o país.

Não dava satisfações ao Conselho, nem à Bradespar, nem procurava se alinhar com estratégias de país. Não se deu conta de que uma empresa do tamanho da Vale é um ativo nacional, merece ser defendida pelo país em todos os fóruns internacionais, merece apoio em todas as decisões de investimento. É quase uma extensão do poder de Estado – no sentido de alinhamento estratégico, diplomático, não de ingerência na gestão. Se não se alinha com a visão estratégica de país, dança.

Embora estivesse à frente da maior companhia industrial privada brasileira, Agnelli era um CEO de mercado apenas, competente na sua função, mas limitado na sua visão de empresa – ainda mais conduzindo uma locomotiva como a Vale.

NuncNunca teve visão sofisticada dos grandes presidentes de companhia. Poderia ter aprendido com presidentes de grandes multinacionais estrangeiras no Brasil, com um Carlos Salles, da Xerox, um Marcos Magalhães, da Phillips, o próprio Ivan Zurita, da Nestlé, os brasileiros Gerdau e Maurício Botelho, da Embraer, os Odebrecht, cuja visão de empresa e de mundo vai muito além do caixa e da precificação imediata das companhias.

Jamais entendeu a lógica do fortalecimento das grandes multinacionais brasileiras, como extensão do poder nacional, nos seus aspectos de política industrial, diplomática, econômica.

A falta de cultura geral, de visão histórica e o excesso de vaidade o levaram a um deslumbramento sem limites. A ponto de, no evento da Carta Capital, contratar uma claque para tentar conquistar mais aplausos do que Lula – no auge da popularidade. Ou investir em uma campanha nacional de publicidade para rebater críticas de Lula.

Sua visão de cooptação política ou midiática nunca foi das mais sofisticadas. A bancada da Vale no Congresso era composta por políticos do baixo clero, de vários estados, cooptados pela companhia. A tentativa de ideologizar o debate ficou restrita a um grupo de jornalistas brandindo bordões de uso geral. Agnelli nunca teve competência para desenvolver um discurso que legitimasse sua atuação à frente da companhia. O único bordão era o crescimento de valor da companhia.

Queria ser o campeão do setor privado, sem possuir um pingo da grandeza e da visão de país dos grandes empresários brasileiros da Gerdau, Natura, Ultra, Coteminas, Embraer. 

Da Folha.com

Investidores minimizam intervenção estatal na Vale

DA REUTERS, NO RIO E EM SÃO PAULO

O governo da presidente Dilma Rousseff usou a influência do Estado como importante acionista da Vale para pressionar por um novo executivo para a presidência da empresa, como resposta às críticas de que a Vale não estava fazendo o suficiente para estimular a economia no país.

Mas os investidores estão se acostumando a uma maior presença do Estado nos mercados emergentes e ainda veem a economia em expansão e o arrojado setor de commodities do Brasil como motivos para deixar de lado a presença do governo.

“Acho que estão fazendo barulho demais sobre a substituição do presidente-executivo da Vale porque isso não altera nenhuma das razões macro para se investir no Brasil”, disse Marc Fogassa, gerente associado da Hedgefort Capital Management em Pasadena, na Califórnia, Estados Unidos.

AsasAs ações da Vale subiram 0,12%, passando a R$ 48,30 na terça-feira.

Nos últimos anos, o governo brasileiro tem ampliado sua presença na regulamentação da economia por meio de novas normas no setor petrolífero, de restrições à compra de terras por estrangeiros e uma proposta para endurecer as leis de mineração.

O governo tem assumido um papel ativo na condução das políticas da Petrobras. Deu impulso à oferta de ações de US$ 70 bilhões, o que provocou protestos de acionistas minoritários, e tem insistido em que a companhia petrolífera estatal compre equipamentos de fabricantes nacionais.

Mas no Brasil, os encargos da intervenção estatal vêm com um claro benefício: acesso a imensos depósitos de recursos naturais, tais como petróleo e ferro, num momento em que o preço das commodities continua em ascensão.

DISPUTA COM A VALE

O declínio do presidente-executivo Roger Agnelli começou quando ele cortou empregos e reduziu investimentos depois da crise financeira de 2008, indo contra os desejos do governo de que a maior mineradora de ferro do mundo ajudasse o país a enfrentar a turbulência econômica.

A pressão de Dilma para remover Agnelli do cargo culminou na segunda-feira com a indicação de Murilo Ferreira, quem os analistas esperam que seja mais confortável para o governo.

“Temos de ver quais os novos sinais (que Ferreira) nos dará, mas o mercado certamente está vendo a Vale de modo diferente”, disse o analista Pedro Galdi, da SLW Corretora, em São Paulo.

No entanto, Ferreira é também um veterano da indústria e os analistas acreditam que ele poderá manter o forte crescimento de receita da Vale ao mesmo tempo que melhora as relações da empresa com os líderes políticos.

“Para nós, o nome parece ser amigável ao mercado”, disseram analistas do Credit Suisse em nota. “Ele já trabalhou na Vale e liderou importantes iniciativas.”

Enquanto isso, alguns investidores estão se sentindo mais confortáveis em relação ao governo brasileiro.

Mark Mobius, presidente da unidade de mercados emergentes do grupo de investimento Franklin Templeton, disse em 2010 que a oferta de ações da Petrobras violava os direitos dos acionistas minoritários.

Meses depois, porém, ele posicionou a Petrobras como uma de suas cinco principais holdings entre as ações brasileiras, as quais, segundo ele, constituíam o maior percentual de sua carteira de ações das nações em rápida expansão do Bric, que também inclui Rússia, Índia e China.

A saída de Agnelli “é uma outra iniciativa que confirma aquela tendência do governo de não desejar ser um participante passivo no setor privado”, disse Nick Robinson, chefe do departamento de ações brasileiras no Aberdeen Asset Management, o qual administra cerca de 4 bilhões de dólares em ativos brasileiros.

“Este tipo de coisa que aconteceu à Vale não deveria ser uma grande surpresa, considerando que o Brasil é um mercado emergente e também devido ao modo como o governo tem se comportado nos últimos dois anos”, afirmou. 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador